Fazendo um excelente balanço da época balnear atípica deste ano, devido à implementação de inúmeras medidas preventivas devido à COVID-19, Miguel Lemos, administrador executivo do conselho de administração das Águas de Gaia, garante que há vários projetos a serem implementados a nível da melhoria da qualidade da água e saneamento em Gaia. Desmistificado o preço da água, que muitos consideram alto, Miguel Lemos destacou ainda a criação da rota da água que em breve irá proporcionar visitas mais especializadas no concelho.
Que balanço faz desta época balnear que terminou recentemente e que foi um pouco diferente das anteriores?
Pois, foi um bocadinho diferente das anteriores tendo em conta o facto de termos sido afetados pela pandemia da COVID-19, mas tentamos que esta época balnear fosse, apesar de tudo, o mais normal possível. Foi para isso que trabalhamos, foi para isso que dedicamos grande parte do tempo da organização da época balnear. Todas as épocas balneares, todos os anos, independentemente da pandemia, carecem de uma grande organização, de várias reuniões de planeamento, de organização dos concessionários de praia e dos nadadores salvadores numa lógica de plano integrado de segurança que temos tido em Vila Nova de Gaia. Portanto, todos os anos, o planeamento existe, é longo e dá trabalho, este ano, ainda tivemos que planear mais, tivemos de colaborar mais e gostava de sublinhar esta palavra colaborar porque acho que, de facto, é o lado positivo da pandemia, se é que existe, mas de facto há aqui um lado positivo que é o da grande colaboração entre as várias entidades, todos percebemos que tínhamos de dar aos mãos, no sentido figurado, para resolver e enfrentar o problema da pandemia e para podermos ter uma época balnear que levasse pessoas às praias, que era o que todos ambicionávamos, mas que levássemos as pessoas às praias de forma segura mantendo as distâncias de segurança e as regras que foram definidas, tentando ter uma postura muito pró-ativa e não tanto reativa, porque a praia é um local de liberdade, não é um local onde queiramos ter uma ação muito restritiva, não faz sentido, estamos ali para descontrair e ter contacto com a natureza de forma livre. E foi isso que sempre defendemos e foi nessa linha que preparamos a época balnear. Reforço a ideia que houve uma grande coordenação entre as entidades, entre os municípios, a Agência Portuguesa do Ambiente, a Capitania, os concessionários de praia, através das diversas associações, das associações de nadadores salvadores, ou seja, de todos os agentes que trabalham esta área que este ano tinha um especial impacto devido a haver muitas expetativas até do ponto de vista económico, por um lado por ser uma resposta a um verão que havia muitos medos, e essa colaboração foi o segredo diria para a época balnear de sucesso que tivemos.
E que tipo de medidas foram implementadas?
Em primeiro lugar, houve um plano de contingência que foi redigido e efetuado com base nas orientações da DGS e da Agência Portuguesa do Ambiente. Com base nesse plano, obviamente, um conjunto de painéis informativos, de regras que foram definidas e que foram colocadas à entrada das praias de forma muito objetiva, muito gráfica, para que fosse de fácil leitura para que as pessoas percebessem de que forma podiam estar na praia de forma segura. Depois, a famosa bandeira de carga em conjunto com a aplicação InfoPraias. Este ano houve esta novidade de termos uma bandeira diferente, nova, à entrada das praias, triangular, de cor verde, amarela e vermelha que indicava a lotação da praia. A verde numa lógica em que a praia estaria em condições de segurança para que qualquer pessoa pudesse entrar, a amarela que indicava já alguma lotação, e a vermelha que indicava que a pessoa deveria procurar outra praia para estar em segurança e a cumprir as regras. Essa informação era dada pela bandeira mas também pela aplicação da Agência Portuguesa do Ambiente, a Info Praia, que estava disponível em qualquer smartphone. Além disso, tivemos cuidados adicionais em Gaia, colocando dispensadores de álcool gel em todas as praias, junto aos chuveiros e lava-pés, tínhamos também sinalética de acesso, ou seja, criamos circuitos de entrada e saída nas praias e nos passadiços, com a regra da circulação à direita, para que as pessoas se cruzassem o menos possível, e também correu extremamente bem.
Tem esse feedback que tenha corrido tudo bem nesta época balnear então?
Sim, toda esta sinalética foi colocada da forma mais simples possível para que a praia continuasse a ser um sítio natural e de ar livre. Não fazia sentido colocar equipamentos intrusivos, como semáforos e coisas desse género. Assumimos em Gaia uma medida também que julgo que foi de grande importância, que foi o termos assistentes de praia, uma nova figura que alguns municípios assumiram, não todos, e nós em Gaia fomos os pioneiros a assumir esta medida. Portanto, tivemos assistentes de praia em todas as praias, eles não eram concorrentes obviamente dos nadadores-salvadores, os nadadores-salvadores têm uma missão muito específica, muito nobre e que tinham de manter com total concentração, que é o apoio e socorro a náufragos. Ninguém nos iria perdoar se houvesse uma morte no mar por afogamento, se o nadador-salvador tivesse atento a se as pessoas estavam afastadas no areal, ou se a bandeira estava colocada. Por isso, os assistentes de praia tinham como obrigação ter uma postura pró-ativa e simpática de receber quem ia à praia, de informar, dizer como as pessoas tinham de estar, avisar que para ir à casa de banho ou ao bar de apoio tinha de ir calçado e de máscara, no areal se for um grupo diferente têm de estar afastados dois metros, etc. Por outro lado, estarem atentos aos dispensadores de álcool gel, se tinham sempre produto, tinham também de ter a atenção de hastear as bandeiras de lotação, faziam um percurso no areal para verificar se estava tudo em condições e aconselhavam caso não estivesse, e estavam no fundo para ajudar no que fosse necessário. Portanto, correu extremamente bem, obviamente que no início houve um processo de adaptação, era novidade para todos, mas correu tudo bem e não tivemos nenhum caso em que tivéssemos de acionar a medida mais grave do plano de contingência, que era o isolamento de uma pessoa na praia por sinais de COVID-19, não tivemos de retirar ninguém da praia nem houve nenhum relato de nenhum infetado nem de nenhum surto nas praias de Gaia. O que é extremamente importante e tranquilizador. Correu tão bem que a época acabou por ser prolongada por mais 14 dias. Essa foi uma análise efetuada, mais uma vez, em conjunto por todos os municípios, com a APA, em que assumimos apoiar a iniciativa porque percebemos que as coisas estavam a correr bem, os concessionários estavam com vontade de poder continuar a fazer o seu negócio ligado à praia e era importante para eles em termos económicos esse alargamento, e havia condições para fazer, e também a meteorologia indicava que ia estar bom tempo. Terminou então dia 13 de setembro, obviamente com muito trabalho por trás, com muito esforço, mas para quem nos visitou arriscaria a dizer que não notou diferença nenhuma a não ser uma ou outra sinalética diferente.
Quantos assistentes de praia houve em Gaia?
Tínhamos cerca de 60 assistentes de praia, mas é preciso perceber que eram para todas as praias da orla marítima, mais as quatro zonas fluviais do concelho que também estavam dotadas com assistentes de praia, numa lógica de segunda a domingo, portanto, todos os dias, e o dia todo. Para permitir fazer os turnos e os sete dias da semana, e toda esta zona, que era complexa porque são 19 áreas balneares e 28 concessões de praia, tínhamos de ter de facto muitos assistentes para todos os horários e para podermos cobrir todas as praias e as zonas fluviais.
E têm noção se as praias tiveram mais gente que em anos anteriores?
No início, houve algum decréscimo, as pessoas estavam ainda muito receosas, havia muito o cuidado de não sair de casa, de não ir para espaços com muita gente. Ao longo do período notou-se que as praias foram ganhando confiança e houve, não digo enchentes, porque tudo correu com grande civismo, mas houve, de facto, uma grande afluência às praias. As esplanadas felizmente estavam preenchidas, os concessionários, tendo em conta os receios que havia, julgo que a situação não correu assim tão mal porque as pessoas privilegiaram esses locais para ir fazer uma refeição ao ar livre. Estamos todos de parabéns, conseguimos ultrapassar este momento que se previa difícil, mas acabou por ser bastante normalizado.
As praias de Gaia continuam a ter a bandeira azul na sua plenitude…
Sim, é uma bandeira que hasteamos com muito orgulho, e este ano ainda mais orgulho deu porque, de facto, foi o provar que estávamos preparados para abrir as praias, não só em termos de segurança por causa da COVID-19, mas também do ponto de vista ambiental e de condições. É de facto uma bandeira que nos orgulha e que é o sinónimo de muito trabalho, não só no período específico da época balnear. É um trabalho contínuo, do ano inteiro, que envolve uma estrutura multidisciplinar, não só a nossa equipa mas obviamente que a equipa que tem a responsabilidade da gestão da orla marítima das praias tem uma responsabilidade acrescida e um papel fundamental mas depois há todo um trabalho de outras equipas, nomeadamente do saneamento, das águas pluviais, das águas residuais, do controlo e monitorização da água, da recolha dos resíduos sólidos, que faz com que, no verão, possamos hastear a bandeira azul. Portanto, há aqui todo um conjunto de um sistema que funciona ao longo do ano que faz com que as praias não sejam poluídas e tenham condições para serem praias de excelência. Este ano tivemos uma novidade relacionada com a orla marítima que foi a inauguração do que designamos Geosítios de Lavadores, é algo que já existe há milhões de anos naquele território mas que nós decidimos valorizar e classificar. É um conjunto de maciços rochosos, com grande interesse científico e histórico, como digo estava à vista de toda a gente mas nós, em conjunto com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto fizemos a classificação desses conjuntos rochosos, identificamos e sinalizamos, trabalhamos do ponto de vista dos conteúdos científicos essa classificação, e organizamos o que se chama de geosítio, que é no fundo um circuito por uma zona rochosa de interesse histórico e científico. Estamos também inclusive a preparar a classificação a património geoparque, certificado pela UNESCO, e estamos a preparar também com a Universidade do Porto um conjunto de visitas guiadas a quem, nomeadamente jovens e crianças em idade escolar, que queiram visitar o espaço e o possam fazer com pessoas que tenham conhecimento para explicar exatamente o que ali existe. Foi algo que decidimos levar a cabo este ano e que teve um grande impacto porque mais uma vez as pessoas privilegiaram passeios ao ar livre e julgo que o geosítios foi mais um local de visita e uma mais valia.
Passando da água das praias para a água da torneira, a água de Gaia também é considerada boa, apesar de alguns ainda se queixarem do preço, já que Vila Nova de Gaia tem dos preços mais caros a nível de água.
Há que desmistificar um pouco essa ideia pré concebida que as pessoas têm. Antes de falar de Gaia em concreto e de comparar com outras cidades, gostava de dizer que estranhamente, nós em geral, a população, temos sempre uma perspetiva de olhar para o preço da água e dizer que é muito cara e depois não nos choca nada o preço que pagamos pelos telemóveis, pela tv cabo, pela internet ou pela própria eletricidade. O que é certo é que no final do dia a conta mais baixa é a da água e mesmo assim revolta-nos imenso porque achamos que é um recurso que algumas pessoas achariam até que não devia ser pago. Eu não penso dessa forma, penso que a água deve ser paga, por vários motivos. Primeiro, logo à partida, porque é um recurso escasso, portanto, temos de ter a responsabilidade do consumo e essa responsabilização também se faz pelo pagamento do próprio consumo. Segundo, a água que distribuímos e que chega a casa de todos nós, é água que, por um lado, nós adquirimos, ela não chega gratuitamente à nossa rede, temos de pagar ao nosso “fornecedor”, que é as Águas do Douro e Paiva que também tem um tarifário que nos cobra, tarifário esse que advém da captação da água e do próprio tratamento que é efetuado na ETA, e depois nós revendemos essa água e temos também custos operacionais. Logo à partida no controlo da qualidade, temos uma água 100 por cento segura para consumo humano, com referências de qualidade ao mais alto nível, mantemos um controlo de qualidade muito apertado, com recolhas e análises, temos uma rede que tem que ter manutenção, temos de estar constantemente a fazer obras na nossa rede, e temos um conjunto de funcionários que trabalham para que tudo isto corra em condições e 24 horas por dia. Portanto, temos custos operacionais para que a água chegue a toda a gente. Depois, quando recebemos a fatura da água em casa, não estamos a pagar só a água, estamos a pagar três serviços: a água, o saneamento, porque todos rejeitamos água nas nossas casas, empresas, restaurantes, etc, sendo que quando abrimos a torneira não estamos só a consumir mas também a rejeitar através do sistema de canalização, e essa água precisa de ser por nós drenada e encaminhada para uma ETAR, onde é tratada para que depois possa ir para o mar e de forma não poluída para termos bandeiras azuis, lá está o ciclo. E nós também pagamos esse tratamento porque as ETARs não são geridas por nós e é-nos cobrado esse serviço. Portanto, só aqui já desmistificamos duas questões, o porquê de pagar água e saneamento. Além disso, ainda cobramos o serviço de recolha de resíduos sólidos urbanos, obviamente que podemos considerar que o atual sistema de cobrança poderá não ser o mais justo porque uma pessoa que consuma muita água pode não necessariamente fazer muito lixo. Mas é um sistema geral que foi encontrado para poder haver uma relação e um critério para a cobrança dos resíduos sólidos urbanos. Mas ao contrário do que as pessoas pensam, a água em Gaia não é das mais caras se fizermos um comparativo, e há vários estudos sobre o assunto, isto é um negócio regulado, portanto, não podemos fazer o que queremos, e ainda recentemente houve uma grande reportagem onde se fazia o comparativo mesmo na Área Metropolitana do Porto, nós nem sequer aparecíamos na tabela, ou seja, há muitas outras entidades onde a água é mais cara. Portanto, posso dizer com toda a frontalidade e assumo o que estou a dizer, que a água em Gaia não é das mais caras, pelo contrário. É até mais barata do que muitos dos concelhos vizinhos. Depois temos a componente do saneamento que aí sim, em comparação, é um pouco mais cara do que outros concelhos vizinhos, prende-se também com o facto de termos uma rede muito grande de saneamento, e pelo facto de termos de fazer o pagamento do tratamento do saneamento como expliquei há pouco. E depois há uma terceira componente que tem inflacionado muito a fatura da água que é os resíduos sólidos urbanos. Mas nós desde janeiro que baixamos em cerca de 70 por cento o tarifário dos resíduos sólidos urbanos, quem pagava em média numa lógica de total relacionamento com o consumo de água, se pagássemos 12 euros de água estaríamos a pagar cerca de 13 euros de resíduos sólidos urbanos e neste momento quem pagar 12 euros de água, paga cerca de 2,70 euros de resíduos sólidos urbanos, o que é uma poupança na ordem dos 10 euros, o que é bastante considerável. Esta foi uma medida da Câmara Municipal que compensa o défice tarifário, ou seja, o facto de termos baixado a taxa dos resíduos sólidos urbanos quer dizer que estamos a ter um défice no tarifário, nós temos de pagar ao nosso prestador de serviços o mesmo valor mas a Câmara compensa as Águas de Gaia na ordem dos 6 milhões de euros. Por tudo isto, acho que o tarifário da água é um tarifário que garante a sustentabilidade da empresa municipal Águas de Gaia, que julgo que também deve ser motivo de orgulho para todos os gaienses, e ao mesmo tempo manter os índices de qualidade que temos reconhecidos nacional e internacionalmente.
Para esta qualidade, há vários projetos implementados por detrás. Fale-nos um pouco disso.
Temos uma empresa que é bastante eclética porque gere todo o ciclo urbano da água, desde a distribuição de água, a recolha do saneamento, a gestão da rede de águas pluviais, os resíduos sólidos urbanos e ainda a componente praias, rios e ribeiras. No fundo, isto é uma história de 20 anos de empresa que foi evoluindo, hoje temos uma empresa que é classificada como uma das melhores do setor, e estamos agora na fase em que já temos praticamente uma cobertura total em termos de água no concelho, temos uma cobertura bastante significativa de saneamento, embora ambicionamos ter agora um plano plurianual de vários anos para complementar e puder levar o saneamento a 100 por cento do concelho, um investimento bastante considerável. Para podermos totalizar o concelho com saneamento, no projeto que estamos a fazer, é algo que ronda os 10 milhões de euros de investimento. Estamos neste momento com um projeto muito ambicioso, a cinco anos, mais uma vez estamos a pensar a empresa muito numa lógica de médio longo prazo, porque é assim que temos de gerir uma empresa como esta, se queremos dar sustentabilidade à mesma, e é um projeto de redução de perdas de água, um projeto muito ambicioso, também um investimento considerável, mas que esse investimento prevemos que daqui a cinco anos possamos poupar na água que não faturamos ou que perdemos por ineficiência de rede, ambicionamos poupar 2 milhões de euros que irá promover por um lado uma maior eficiência de gestão da empresa mas também poder reinvestir em outros investimentos, nomeadamente no saneamento. Já avançamos com a adjudicação, este ano, com as primeiras zonas piloto com telemetria, isto é, com contadores inteligentes, vamos passar a ter contadores inteligentes em algumas zonas do concelho com esse projeto piloto, para depois poder alargar aos restantes clientes. Estes contadores inteligentes têm a vantagem de, por um lado, ter uma comunicação quase em tempo real do consumo, deixa de ser necessário ler o contador, deixa de ser necessário que as pessoas comuniquem a sua leitura, torna-se muito mais prático e com a vantagem adicional que é conseguirmos inclusive detetar se houver algum problema de fuga de água na casa das pessoas porque conseguimos detetar quase em tempo real que aquela habitação está a ter um consumo anormal face ao padrão de consumo. E isso poderá ser, no futuro, colocado numa aplicação em que o próprio cliente pode receber uma notificação no telemóvel. Estes são alguns dos projetos que estamos a desenvolver, no âmbito das perdas fomos em Portugal a primeira empresa e a empresa pioneira a utilizar um sistema de deteção de fugas por satélite, e foi algo que também nos deu muito gozo pela novidade que foi mas também pelos resultados obtidos, é uma tecnologia israelita que passamos a utilizar em que através da captação de uma imagem por satélite, depois correndo um algoritmo, identifica zonas onde há potenciais fugas. Depois, obviamente que depois carece de, no terreno, ir verificar se existe mesmo uma fuga ou se é uma piscina por exemplo. Mas já é uma forma de irmos mais diretamente ao local, porque o tradicional é usar mecanismos radiofónicos mas que temos de andar quase às escuras a tentar verificar fugas, e com isto vamos diretamente ao local. Foi algo que teve um sucesso imenso, quer do ponto de vista da operação desse sistema mas também em termos de despertar o interesse de outras empresas que nos ligavam para saber como funcionava. Portanto, estamos a caminhar para uma empresa que quer continuar a ser uma referência do ponto de vista da qualidade do seu serviço mas que se quer tornar cada vez mais tecnológica, mais inovadora, e sempre amiga do ambiente porque é a nossa identidade.
Em termos financeiros, quando chegou há cerca de 4 anos, não encontrou a empresa desta forma.
Quando cheguei à administração das Águas de Gaia já encontrei a empresa num processo de recuperação e de reestruturação, portanto, também devo muito a quem me antecedeu aqui e que fez um trabalho excelente desde 2013 até agora, nomeadamente o engenheiro Tiago Braga que estava na administração da empresa e que eu vim substituir, um conjunto de pessoas cujo trabalho, quando eu cheguei, já estava em curso, não estava concluído mas já estava em curso. De facto, a empresa tinha uma situação financeira débil, julgo que houve aqui um momento muito importante para ultrapassar essa problemática que foi a saída do Parque Biológico das Águas de Gaia e ser internalizada na Câmara Municipal, foi uma decisão importante do presidente da Câmara para equilibrar o balanço e os resultados da empresa. Depois, todo o processo de reestruturação financeira que fizemos com consolidação de crédito, com apoio dos nossos parceiros financeiros e da banca para consolidar a dívida e renegociar essa divida, e depois ao longo deste tempo, e aí julgo que é justo já assumir uma certa paternidade desse processo, a gestão que tem sido feita no dia a dia que é uma gestão muito rigorosa, controlada, sem perdermos de vista os investimentos necessários e os nossos colaboradores que queremos tratar bem e que queremos continuar a valorizar como temos vindo a fazer, mas nesta perspetiva de que temos de tomar decisões de gestão, não podemos fazer tudo em simultâneo, temos que equilibrar as contas e ter uma gestão rigorosa que não nos permite fugir muito ao que está planeado e que definimos em sede de orçamentos. Estamos a falar numa altura em que passamos por um momento muito difícil, a sociedade e o país em geral com a COVID-19, e ao contrário do que se possa pensar empresas como a nossa não foi um mar de rosas porque o facto de as pessoas estarem cerca de três meses em casa confinadas cria-se a ideia que nós, e outras empresas de água do país, que fomos as únicas empresas que beneficiamos com a pandemia porque as pessoas estavam mais em casa e consumiam mais. Mas é uma falácia porque se pensarmos bem, e julgo que é fácil de perceber, é certo que as pessoas estavam em casa mas estivemos os grandes consumidores fechados três meses, os restaurantes, os ginásios, os cabeleireiros, as piscinas, os hotéis, etc. Por isso, tivemos uma quebra muito considerável.
Mas as finanças estão equilibradas na mesma?
As finanças estão equilibradas temos que gerir com muita responsabilidade e cautela. A única coisa que estou a referir é que houve uma quebra muito significativa da receita neste período que nos vai obrigar a tomar outras medidas, eventualmente, poder ter de atrasar algum investimento ou poder ter outra opção relativamente a outra ação de gestão porque temos de compensar a quebra de receita. E julgo que é importante, na base da transparência, que se saiba isto que de facto fomos afetados, e bastante afetados, com a quebra de receita pelo facto de os negócios estarem fechados.
Há algum projeto ou investimento que vá ser adiado por causa dessa quebra de receitas?
Ainda estamos em fase de avaliação, podemos ter de dilatar no prazo algum tipo de investimento mas não vamos deixar de fazer nenhum tipo de investimento. Estamos a reorganizar, fazer algumas alterações daquilo que tínhamos previsto em orçamento, logo à partida pelo facto de termos uma quebra de receita, mas tencionamos manter o nosso plano de investimento, podemos ter é que, em alguns casos, dilatar um pouco no tempo, adiar um ano, mas a nossa intenção é continuar o nosso plano de investimento logo à partida com um grande projeto que temos em curso e que vamos lançar que é a construção do novo edifício sede, que vai ser no mesmo local, mas que no fundo será obras no edifício técnico, que é um pré-fabricado provisório há 30 anos, e queremos que deixe de ser provisório e vamos substituir aquele pré-fabricado por um edifício de raiz que vamos construir no mesmo local, mas vamos fazer uma autentica revolução urbanística, porque o projeto é de abrir este espaço à cidade.
E quando é que esse projeto vai arrancar?
Nós estamos a terminar os projetos de arquitetura e especialidades, tencionamos lançar o concurso público no início do próximo ano, em janeiro ou fevereiro, e depois julgo que daqui a um ano e uns meses, talvez em novembro de 2021 estaremos em condições de dar início à obra.
Além desse projeto, há mais algum que queira destacar?
Além do novo edifício, do projeto integrado de gestão de perdas, que julgo que é de grande importância, do alargamento do saneamento que vai ser faseado e é um projeto para 10 anos, a componente dos contadores inteligentes julgo que estes são os grandes projetos das Águas de Gaia, sabendo porém que esta empresa nunca para portanto há outros projetos que vão acontecendo, mesmo na área da educação ambiental devido à nova situação em que nos encontramos de pandemia mas que também já percebemos que há coisas que vão ficar para lá da pandemia, estamos a transformar alguns conteúdos de educação ambiental em conteúdos digitais para que possamos disponibilizar às escolas de forma menos presencial e mais digital. Estamos a criar também aquilo que designamos de rota da água que é o nosso contributo para o turismo do concelho. tudo o que tem a ver com água no concelho estamos a classificar como rota turística para que as pessoas possam percorrer, seja a água salgada do nosso mar, seja a água doce do nosso rio e das nossas ribeiras, sejam os nossos equipamentos de distribuição de água, um reservatório, um equipamento que seja interessante de visitar, estamos a classificar como rota para que as pessoas possam em breve fazer a rota da água que é algo que também vamos apostar em termos mais intangíveis. Temos também o novo reservatório de Gulpilhares, que está a ser construído e está quase terminado, em que vai aumentar a capacidade de reserva em mais de 10 vezes a que atualmente tem, com melhorias substanciais para o fornecimento de uma zona importante e em crescimento do concelho. reservatório esse que para além de aumentar a capacidade de reserva vai ser dotado da mais recente tecnologia de telegestão, com a possibilidade de tomar decisões à distância, poder abrir e fechar a água à distância, podermos tomar uma serie de medidas que já temos nos outros equipamentos e na nossa rede mas aquele reservatório vai ser de facto o mais recente porque foi construído de raiz. Para além de ter um enquadramento arquitetónico interessante porque nem parece um reservatório de água.
Para quando será a inauguração do novo reservatório?
A obra está prestes a terminar portanto diria que em novembro está em condições de ser inaugurada.
Que mensagem gostaria de deixar aos gaienses a nível ambiental e de cuidados ou dicas que possa dar?
O primeiro apelo e conselho que daria, por razões óbvias, é que bebam água da torneira. Como já referi ao longo da entrevista, a água é de extrema qualidade, é segura, podemos beber à vontade e tem a vantagem de ser mais barata que a água engarrafada, é cerca de mil vezes mais barata que a água engarrafada, é mais ecológica porque não é necessária a garrafa de plástico, para ser transportada para os supermercados não vai de camiões, basta abrir a torneira e está lá. Depois, algumas práticas que devem ser tidas em conta, apesar do apelo ao consumo da água da torneira, esse consumo deve ser racional, não devemos ter torneiras abertas desnecessariamente, devemos ter cuidado a tomar banho com o consumo que fazemos porque a água é um bem escasso e temos de cuidar desse recurso, e por outro lado ter atenção à forma até como muitas vezes, por desconhecimento, utilizamos erradamente a nossa rede de saneamento, deitando para a sanita objetos ou produtos ou resíduos que não devemos, alguns porque podem inclusive seguir para reciclagem, outros obviamente que aquele não é o local próprio porque depois vai afetar imenso a rede de saneamento e as próprias ETARs criando avarias. Por isso é que tantas vezes vemos na rua tampas de saneamento a saltar e a transbordar água é devido a esse facto. O terceiro conselho, para cobrir toda a área da empresa, é que façamos também uma separação de resíduos, utilizando os ecopontos, e que possam contribuir connosco para uma política de melhoria ambiental do concelho. E por fim, que utilizem as praias de Gaia, mesmo fora da época balnear, é sempre agradável fazer um passeio pelo passadiço, faz bem à saúde e é relaxante.