O concurso “Um Caso Policial em Gaia” prossegue hoje com um conto assinado por mais um nome em estreia na nossa secção, que tem por protagonista um cidadão residente no centro histórico de Gaia. Mas antes de proceder à sua publicação, queremos saudar os concorrentes e habituais participantes das nossas iniciativas, a equipa do jornal AUDIÊNCIA GP e todos os nossos leitores, desejando que o novo ano seja verdadeiramente novo. O ano que agora se avizinha tem de ser uma porta aberta à concretização dos nossos sonhos, à renovação das nossas vidas e ao fim de todas vicissitudes. E para que tal seja possível, ficam aqui os votos de que a pandemia do Covid-19 seja de vez dominada, com vacinas fiáveis e medicamentos eficazes de combate à doença. Só assim poderemos recuperar a normalidade dos nossos afetos e viver sem medo do maldito vírus que nos tem atormentado. Posto isto, aqui fica o décimo conto do nosso concurso:
CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM GAIA”
Conto nº. 10
“Apenas Um Sonho”, de Detetive Agrafa Dor
Foi andando até ao centro histórico de Gaia, onde residia. Meteu a chave à porta e entrou para a sala de estar. Olhou com aborrecimento a desarrumação generalizada, ali, e nas outras divisões. A empregada com o receio justificado de ele deixar de pagar os ordenados despedira-se, quando num pico da crise, uns anos atrás, ele fora engrossar as fileiras da multidão desempregada.
Ouvira dizer a alguns camaradas que na conjetura atual a agricultura é que estava a dar, atraindo para a atividade produtiva uma faixa considerável da força de trabalho. A mecanização do trabalho rural, já lhe retira parte da dureza que lhe era intrínseca.
As lides agrícolas e a sua característica sazonal começaram a proporcionar-lhe o recebimento de alguns cobres, providenciais para assegurar a sobrevivência.
Fez entretanto formação profissional em novas atividades, ficando apto para várias funções, tendo possibilidades de trabalhar num leque de vastas áreas económicas.
Explorara a adversa informática, tudo o que antes era difuso e enevoado, recortava-se agora com nitidez. Passara o “cabo” da óptica do utilizador. Outras tarefas de que apenas conhecia alguma coisa, foram devidamente estudadas.
Trabalhos temporários, no setor industrial, foram surgindo, ali e acolá ao sabor da lei da oferta e da procura, excelentes para adestramento e experiência, da arte laboral.
De anúncio em anúncio, de entrevista em entrevista e corajosas candidaturas espontâneas, no topo da procura de emprego, não houve um momento de desânimo, nenhuma retirada estratégica, porfiou-se um exemplar estoicismo.
Finalmente, aparecera uma fábrica a precisar de pessoal.
Recebera o primeiro ordenado.
A realidade iria captar, lentamente, novas facetas favoráveis à concretização do sonho: viver em paz.
Dedicara-se ao trabalho, dia após dia, e a sua prestação era rentável, a coordenação de tarefas entre grupos, eficaz e com uma dinâmica própria que se auto-renovava de acordo com as vicissitudes do processo de produção, criava a mais-valia diária digna de apreço e consideração. Estava a pensar deste modo, quando resolveu abrir ao acaso o livro de bolso de temática policiária, que trazia quase sempre consigo e foi lendo:
“Os estampidos soaram do lado direito, porém o Mago da Finança, de visita ao país, fora atingido pelo flanco esquerdo. Seriam dois atiradores, um com arma normal a fazer barulho, manobra de distração, e outro de arma com silenciador, a matar? O hotel foi rapidamente cercado pela polícia, as entradas e saídas encerradas, de maneira que ninguém saísse ou entrasse. Foi seguida a trajetória das balas e a origem dos estrondos. Os hóspedes foram conduzidos para uma sala de reuniões. O comissário, estava de folga, mas resolvera entrar de serviço, e tomar as medidas necessárias, para identificar o autor do crime e o seu cúmplice. Certificara-se que os hóspedes estavam todos presentes. Foram de imediato revistados. Duas senhoras sentiram-se mal e precisaram de cuidados. Os socorristas trataram-nas bem.
O motivo seria alguma obscura tramóia de espionagem? Gerou-se a confusão entre os presentes apanhados de surpresa e a verem o fim-de-semana estragado.”
Uma buzinadela de automóvel fê-lo levantar a cabeça, fechar o livro e sair da frente do veículo. Não se justificava que tendo ele tempo para ler em casa, na biblioteca ou no café, o fizesse enquanto andavana rua, arriscando-se a ser atropelado.
Lembrou-se da renda, água e luz para pagar. Saciada a sede numa pausa rápida no bar, foi ao banco levantar dinheiro. Pela quantidade de clientes, e o anseio estampado nos rostos, via-se prontamente que era fim do mês.
Andava algo, um zum-zum pouco percetível e admoestador no ar. Ainda estava a contar o dinheiro, quando um grupo de assaltantes entrou de armas na mão. Caramba! (Há dias em que não se pode sair de casa).
O ambiente ficou dramático e tenso. Uma pequena distração é a morte do artista. Neste ínterim, um dos clientes recebe uma chamada, e o toque estridente de sirene, que escolhera para o telemóvel, imprevisto, desconcentrou e baralhou os bandoleiros. Entreolharam-se espantados e fugiram em debandada.
É neste momento que sente uma sacudidela no ombro. E ouve um dos porteiros dizer-lhe:
─ Acorde. O filme já acabou. O cinema vai fechar.
CONVITE AO LEITOR
E pronto, caro leitor. Agora o passo seguinte é seu. Para tal, repetimos o nosso convite à sua participação na escolha dos melhores contos. O processo é simples. A partir de hoje, tem trinta (30) dias para fazer a avaliação, em função da sua qualidade e originalidade, do décimo conto do nosso concurso, da autoria de Detetive Agrafador, e enviar a respetiva pontuação, numa escala de 5 a 10 pontos, para o email do orientador da secção (salvadorpereirasantos@hotmail.com).