A história do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na ilha de São Miguel, começou no Convento da Caloura, em Água de Pau, no concelho de Lagoa. Reza a memória que foi nesse lugar que se erigiu o primeiro convento de religiosas na ilha, cuja fundação se deveu, principalmente, à piedade das filhas de Jorge da Mota, de Vila Franca do Campo. Mas, para que tal comunidade religiosa fosse estabelecida como devia, foi necessário que alguém se deslocasse a Roma, impetrar a respetiva Bula Apostólica. Duas das suas religiosas largaram, então, de São Miguel, a caminho da cidade eterna, onde solicitaram ao Papa o desejado documento. Tão bem se desempenharam desta missão que o Sumo Pontífice não só lhes passou a ambicionada bula como, ainda, lhes ofereceu uma imagem do “Ecce Homo”.
De regresso a vale de Cabaços, a singular imagem foi posta num nicho onde se conservou por poucos anos, porque o lugar era ermo e muito exposto às incursões dos piratas. O pequeno mosteiro ficou, certo dia, deserto, uma vez que, parte das religiosas seguiu para Santo André, em Vila Franca do Campo, e a outra parte se encaminhou para Ponta Delgada, para o Mosteiro da Esperança, acabado de fundar pela viúva do capitão donatário, Rui Gonçalves da Câmara.
A imagem do Senhor Santo Cristo não ficou esquecida em vale de Cabaços, porque a religiosa galega, Madre Inês de Santa Iria, a trouxe para Ponta Delgada.
As Festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres são, hoje, a maior festividade religiosa dos Açores. Todos os anos, este evento, que conta com um extenso programa e diversas celebrações eucarísticas, atrai milhares de visitantes, turistas, residentes açorianos e emigrantes. Muitos participam apenas pela fé, mas muitos são os que também aproveitam para cumprir as suas promessas ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Após um interregno forçado, devido aos dois anos em que o país viveu sobre duras medidas de prevenção à pandemia da Covid-19, e em que a Festa se cingiu ao possível, no caso, à transmissão televisiva da eucaristia, e pouco mais, em 2022, as Festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres regressam com toda a força. As comemorações vão acontecer entre os dias 20 e 26 de maio, sendo que, ao contrário do que acontecia nos anos pré-pandemia, haverá duas noites de vigília e, logo na sexta-feira, dia 21 de maio, a imagem do Santo sairá para o adro da igreja.
Em entrevista exclusiva ao Jornal AUDIÊNCIA, o cónego Adriano Borges, reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, diretor do Serviço Diocesano de Apoio Pastoral Escolar, assistente da Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja e professor convidado do Seminário Episcopal de Angra, falou sobre as expectativas do regresso comemorações, neste ano de 2022, bem como as alterações do programa face a anos anteriores. O, também, presidente do Concelho dos Assuntos Económicos do Senhor Santo Cristo dos Milagres, ainda lembrou o quanto esta festa é querida para os emigrantes, deixando a nota de que, este ano, muitos deles ainda têm medo de viajar até aos Açores, devido à pandemia. O tema da beatificação da Madre Teresa da Anunciada também esteve em destaque durante a entrevista, bem como a situação da Diocese de Angra se encontrar, ainda, sem Bispo.
Cónego Adriano Borges, estamos a poucos dias do regresso das Grandes Festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Enquanto reitor do Santuário, cargo que ocupa desde outubro de 2016, que expectativas tem para as celebrações deste ano?
É um ano especial, um ano de regresso. Temos tido, aos poucos, muitos regressos, na vida civil, na vida profissional e, também, na vida religiosa, da nossa vida de fé, e este ano regressam, em grande, com certeza, as Festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Após dois anos em que ficamos limitados apenas àquilo que foi possível transmitir, sobretudo pela televisão, e destaco aqui o excelente serviço que foi feito pela RTP Açores, e pela RTP Internacional, mas destaco, sobretudo, os profissionais da RTP Açores que tiveram um empenho muito grande na transmissão daquilo que foi possível realizar das Festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, nomeadamente a celebração da eucaristia, aqui, dentro do Santuário. Este ano vamos para a rua, vamos todos para a rua, e pensamos que, talvez, só dois dias de festa fosse poucos, então, aumentamos, um dia. Portanto, o Senhor Santo Cristo dos Milagres, que sairia, normalmente, no sábado à tarde, este ano sairá mais cedo. Já na sexta-feira, às 21h, o Senhor Santo Cristo dos Milagres sai e vai para o adro do Santuário, onde ficará, em veneração dos fiéis, até às 22h, e depois segue para a Igreja de São José. Normalmente, nós fazíamos só uma virgília, que era de sábado para domingo, onde contávamos sempre com muita gente, durante toda a noite, em oração ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Este ano decidimos, também, aumentar para duas virgílias porque, de facto, existe muita gente que quer vir passar a noite com o Senhor, como o nosso povo costuma dizer. A imagem, no sábado de manhã, permanecerá sempre no adro da Igreja, porque é o dia em que, normalmente, as pessoas fazem ou acabam as suas promessas, seja à volta do Campo, de joelhos, ou com cílios, terminam sempre aos pés do Senhor, à frente do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Como o nosso Santuário é pequeno, é exíguo, para o número grande de fiéis e peregrinos que, com certeza, virão, optamos por fazer a imagem ficar no adro aqueles dias, aquelas horas todas. Durante a tarde de sábado teremos a procissão à volta do Campo, como também é tradicional, e a imagem ficará, outra vez, pelo menos até às dez horas no adro do Santuário. Às dez horas desloca-se, novamente, para a Igreja de São José, onde haverá uma missa e a imagem ficará lá, também, toda a noite. No domingo, vai ser como, normalmente, costuma ser, portanto, o Senhor Santo Cristo dos Milagres vem para o adro da igreja, para a eucaristia, que é celebrada às 10h. Este ano, temos a honra e o privilégio de ter connosco, o Cardeal Dom José Tolentino, que é natural do nosso arquipélago irmão e vizinho, da Madeira, e que estará connosco estes dias, a alimentar a nossa sede, também, do Evangelho e da Sua palavra. À tarde, depois, haverá a procissão, que correrá as ruas da cidade, como é costume fazer-se todos os anos.
Há dias atrás falava-se que haveriam algumas restrições ou, pelo menos, contaríamos com uma redução de participação. Isso já está ultrapassado?
Isso está ultrapassado. Naturalmente, e quando nós fizemos o anúncio das festas, ainda estávamos preocupados com a situação que vivíamos e fomos sempre dizendo que o programa que havia era, ainda, um programa provisório, ou seja, sujeito a algumas alterações, como era natural, conforme a evolução da pandemia. Graças a Deus, a pandemia deu-nos, ou está a dar-nos, uma certa folga, não sabemos, à data, como estará, mas, por enquanto, ainda temos alguma folga da pandemia e isso permitirá com que, naturalmente, não haja restrição no número de pessoas. No entanto, nós aconselhamos a que as pessoas com mais fragilidade usem máscara, sobretudo, durante as virgílias porque haverá, com certeza, um grande aglomerado de gente. Aí, aconselhamos, não obrigamos, nem será obrigatório. Na procissão, estamos ao ar livre, também não será obrigatório, mas quem achar que deve usar, pode, mas não será obrigatório, nem haverá limitação de pessoas.
Após dois anos, digamos, de interregno, em termos de exposição pública, esta é uma ocasião em que os emigrantes aproveitam para vir aos Açores e para estar com o Senhor Santo Cristo dos Milagres. Tem alguma perspetiva, para este ano, do que é que pode suceder-se em relação à diáspora?
Relativamente à diáspora, em primeiro lugar, nós estamos a ser, ou estivemos a ser, até há bem pouco tempo, constantemente, bombardeados, vamos dizer assim, com perguntas dos nossos emigrantes, com a saudade que eles têm de cá vir e, portanto, recebemos cartas, emails e telefonemas, a perguntar se sempre ia haver festa, se ia haver procissão e até, inclusive, contactos de agências de viagens, que queriam publicitar isso junto da nossa diáspora. Eu suponho que este ano vai ser muito bom a nível de participação dos nossos fiéis e dos nossos emigrantes, contudo, não sei, porque, falando, também, com algumas pessoas, percebi que elas ainda têm um pouco de receio de viajar, de saírem do seu espaço de conforto, porque este lhes traz alguma segurança a nível de saúde. Portanto, creio que alguns dos nossos emigrantes, que vinham sempre, todos os anos, e sobretudo alguns com mais idade ou com doenças, poderão ainda não vir este ano. Por outro lado, já se vai vendo por aí muitos emigrantes, até mesmo nas nossas eucaristias aqui no Santuário, já se nota a presença de muitos dos nossos emigrantes e é sempre uma alegria muito grande ver os filhos a regressarem à sua terra, com saudades de estarem com os seus familiares, os seus amigos, mas, também, com certeza, deste grande amigo que é o Senhor Santo Cristo dos Milagres. Uma coisa muito interessante é que muitos dos nossos emigrantes, para não dizer mesmo a totalidade, quando chegam de fora à ilha, ainda, muitas vezes, com as malas no carro, o primeiro lugar onde vêm, é sempre ao Santuário do Senhor Santo Cristo. Tal como na partida, também costuma haver sempre uma passagem aqui no Santuário, pronto, para depositarem aos pés do Senhor, não só a sua viagem, com certeza, mas também aquilo que lhes fez vir aqui e que os faz sempre vir aqui ao Santuário.
Uma das maiores curiosidades que existe sempre é relativamente à capa do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Como será a capa deste ano?
Este ano temos uma capa nova que foi oferecida por um emigrante nosso, natural da Ribeira Grande. Ele ofereceu-nos esta capa, que já devia ter saído o ano passado, mas como não houve procissão, passou para este ano. É uma capa muito bonita, foi feita cá em São Miguel, como 99%, para não dizer que totalidade delas, que são feitas cá, em São Miguel, sobretudo em Vila Franca, na Casa de Trabalho da Vila Franca. Essa empresa tem um grupo extraordinário de senhoras que confecionam este tipo de coisas, e uma delas é, sempre, com grande orgulho para elas, também, a capa do Senhor Santo Cristo. Aproveito para lhes endereçar uma saudação muito viva relativamente ao trabalho excelente que, normalmente, fazem. Portanto, teremos uma estreia absoluta no que diz respeito à capa do Senhor Santo Cristo.
Em anos anteriores, em tempos pré-covid, era também salientado o trabalho desenvolvido pela Congregação que estava aqui instalada. Este ano, essas tarefas serão desempenhadas por quem?
Bem, nós já temos uma nova Congregação cá, já temos três irmãs que já estão cá connosco desde janeiro, são da Congregação do Bom Pastor. Tivemos, sensivelmente, quatro ou cinco meses sem irmãs, e, graças a Deus e ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, conseguimos ter esta Congregação que já está connosco há alguns meses. Está cada vez mais difícil, mas pronto, estas nossas irmãs, uma é do Brasil, outra é do Equador, portanto, são latino-americanas e nunca tiveram contacto, porque não são açorianas, não são micaelenses, e não têm sequer a perceção da dimensão desta festa e, naturalmente, não têm, também, o know how, não sabem como é que se organiza, como é que se prepara uma festa. Claro que nós temos aqui um conjunto de colaboradores, dentro do Santuário, alguns já trabalham cá há mais de 20 anos e, portanto, conhecem bem, não só os meandros, como os preparativos, aquilo que é preciso fazer, e eles é que estão mais diretamente ligados às irmãs, para que elas entrem nesse espírito. Temos, também, mesmo que não sejam colaboradores, voluntários, sobretudo uma senhora voluntária, que desde há muitos anos que, juntamente com as irmãs, era ela que preparava o Senhor Santo Cristo, a capa, as joias e tudo isso, para saírem nas procissões, portanto, nós temos aqui um fio de ligação entre as religiosas e os laicos que colaboram connosco. E, claro, em última análise, também estou sempre eu cá, que faço a divisão de tarefas e que tento estar a par de tudo, aliás, eu quero mesmo estar a par de tudo, não quero que nada se passe sem eu saber, porque, assim, é a melhor forma de os ajudar a resolver o que for preciso, e há coisas que têm de ser resolvidas na hora, logo, eu estou sempre empenhado na preparação e nas vivências das festas.
Falar do Senhor Santo Cristo dos Milagres é, também, falar do nome de Madre Teresa da Anunciada. Esse é um processo moroso que está esquecido lá por Roma?
Bem, é um processo muito moroso, porque, quando cá cheguei, uma das incumbências que me deu o Bispo Diocesano da altura, D. João Lavrador, foi, precisamente, avançar com o processo de beatificação. Nós temos de ver, e às vezes torna-se difícil explicar isso às pessoas, que se perguntam como é que é possível há tantos anos e ainda não se ter conseguido, mas não se fazem santos assim. Os santos não são feitos numa fábrica. A Congregação para a Causa dos Santos, que está em Roma, e que teremos também a oportunidade de ter cá um dos seus responsáveis, o Monsenhor António Saldanha, natural dos Açores, que trabalha na Causa dos Santos, e que nos tem ajudado. Por um lado, para a beatificação, e em primeiro lugar será beata e apenas depois será Santa, se assim acontecer, tem de haver, realmente, um milagre e é aqui o busílis da questão, um milagre que a ciência não explique e que a Igreja aceite como sendo um ato extraordinário por interceção de alguém. Muitas vezes as pessoas dizem coisas como: “eu rezei muito à Madre Teresa e o meu neto passou de ano na escola”. Passou porque tinha de passar. Estas pequenas coisas não são milagres. Milagre é algo que a ciência não consegue explicar. Coisas como: ontem tinha um cancro, hoje já não tenho, e o médico olha para aquilo e diz “isso é impossível”. O que é impossível aos Homens, é possível a Deus, aí sim, dá-se a atribuição de um milagre. Ainda não tivemos nenhum milagre que fosse mesmo efetivo, de qualquer das formas, o segundo problema com o processo da Madre Teresa tem a ver com as chamadas causas históricas. Ou seja, a Madre Teresa já morreu há muitos anos, há mais de 200 anos, e, portanto, logo depois do seu falecimento, cerca dois ou três anos depois, foram feitos dois processos para a beatificação: um processo mandado instaurar pelo Bispo daquela altura e feito pela Diocese de Angra, e outro processo que foi feito pelos Franciscanos, mandado instaurar pelo Superior dos Franciscanos. E porquê os Franciscanos? Porque as freiras, nomeadamente a Madre Teresa, estavam ligadas à Ordem Franciscana e deviam-lhe obediência. Depois disso, há um branco, um vazio, e foi esse trabalho que nós fizemos até agora. Primeiro investigamos se algum desses processos chegou a Roma. Não chegou. Investigamos no arquivo, e o Cardeal Tolentino, que vem cá na festa, é o responsável do arquivo, fizemos-lhe o pedido para saber, foi investigado e nunca deu entrada. Na Congregação para a Causa dos Santos, também não. Na Nunciatura Portuguesa, que tem toda essa correspondência, porque o processo normal é ser entregue na Nunciatura, normalmente pelo o Bispo Diocesano ou pelo Superior de uma Congregação, e a Nunciatura, através da mala diplomática, envia para Roma o processo. Também não se encontra na Nunciatura Portuguesa. Fizemos uma investigação no arquivo das Nunciaturas do Mundo, que se encontra em Roma, porque de 50 em 50 anos eles mandam os arquivos do país onde está a Nunciatura, para Roma. Fizemos investigação lá, também não se encontra. Depois, recomeçamos o processo, que esteve parado estes dois anos, confesso, também porque, em Roma, ninguém estava a trabalhar. O que é que nós estamos a fazer agora, que foi o que nos foi pedido? Estamos a fazer uma tentativa de explicação histórica de porque é que o processo não foi para Roma, o que é que aconteceu no ano 1700 e não sei o quê, para o processo, ou os processos, não terem seguido. Houve algum conflito entre a Diocese e os Franciscanos? Não há memória, nem há escritos sobre isso. Logo a seguir apareceu o Liberalismo, terá havido algum impedimento, mesmo pelas autoridades civis, e esse processo ficou esquecido, ou ambos os processos ficaram esquecidos? Também não sabemos. Descobriu-se alguma coisa sobre a Madre Teresa e disseram assim: “pronto, se calhar é melhor não avançar porque ela tem aqui um calcanhar de Aquiles”? Também não sabemos, porque não há registos. Então está a ser feito por uma professora da Universidade dos Açores, doutorada em História, uma tentativa de explicação, com estas fases todas, dizendo que não há memória disto, não há memória daquilo, e, então, a explicação provável, mais lógica, é ter havido um problema por causa do Liberalismo, ou seja, a nível político, e isso pode ter entravado o processo, sendo que, mais tarde, ninguém o recomeçou. Depois dessa justificação histórica podemos entregar o processo em Roma. Claro que não é uma explicação tão simplista como eu estou a dizer, é um processo moroso, e só aí, quando der entrada em Roma, a Madre Teresa, que o povo já chama de venerável, é que passará a ter, efetivamente, esse título. Quando o processo é aceite e veem que há motivos para ela ser, um dia, beatificada ou canonizada, ela é logo proclamada venerável. Quando o processo inicial, mesmo antes dos milagres, é apresentado ao Papa e o Papa aceita, através dos Cardeais, obviamente, porque o Papa não está a ler as vidas de todos os possíveis santos, mas quando é aceite, então ela, além de venerável, é proclamada Serva de Deus, e fica nesta, vamos dizer assim, posição, até haver um milagre que se possa atribuir à Madre Teresa, para a sua beatificação.
Foi bom este esclarecimento, porque a opinião pública era de que isto se tinha perdido lá por Roma, e afinal, Roma, neste caso, não tem culpa nenhuma.
Roma não tem culpa nenhuma. Não sabemos se a culpa foi da Diocese ou dos Franciscanos. Nós temos os processos aqui no Santuário, os dois processos que forma feitos após a morte da Madre. Não há dúvida nenhuma, há relatos das religiosas daquela altura, que conviveram com a Madre Teresa, nós temos os processos em si, mas eles têm de ser acompanhados por esta tal justificação histórica, a explicar porque é que estivemos quase 300 anos sem avançar com isto.
Uma das situações que, também, marca este ano, é o facto da Diocese de Angra, não ter, no momento, Bispo. Este processo está a demorar muito tempo. É normal tirar-se um Bispo e não ter já uma carta na manga para o substituir? E sendo muito direto, o senhor cónego foi sondado para essa possibilidade?
Vamos ver aqui várias coisas. Em primeiro lugar, não acho que esteja a ser um processo assim tão moroso, porque outras Dioceses, como Viana do Castelo, para onde foi o nosso Bispo, já estava à espera há um ano, nós ainda não chegamos a um ano, ainda temos seis meses.
É um processo um bocadinho moroso porque exige muitas consultas e, depois dessas consultas todas que são feitas, sigilosas, naturalmente, são apontados três nomes. Só depois é que esses três nomes são apresentados ao Santo Padre e ele decide. Novamente, um parênteses, não é Santo Padre, porque se não ele não fazia outra coisa que não ler candidatos a Bispos. É-lhe apresentado uma terna, nome que se dá a essa lista de três nomes possíveis, através dos Cardeais, neste caso, do Cardeal responsável pela Congregação dos Bispos. Portanto, em primeiro lugar é preciso chegar a uma terna, três hipóteses. Em segundo lugar, relativamente à pergunta de se é normal tirar um Bispo e não ter outro para pôr. É normal, acontece sempre. Usa-se muitas vezes a expressão: “só se toma conta da viúva, quando o marido morrer”. Quando ele está moribundo, não se vai já arranjar logo outro marido. Agora estamos a aguardar. O senhor Núncio apostólico esteve cá nos Açores, esteve connosco na Semana Santa, claro que as únicas notícias que ele nos trouxe foi que continuemos a rezar e esperarmos que venha um Bom Pastor, mas ainda não há. Contamos que, antes de fazer um ano, deve ser para o fim do verão, provavelmente, já venha.
Que já venha ou que já cá esteja.
Sim, pode ser de qualquer uma das formas. Pode ser um açoriano que esteja cá, pode ser um açoriano que esteja fora e pode ser um continental. Qualquer sacerdote do país pode ser designado, e depois tem de aceitar, naturalmente. Quanto à outra pergunta que me fez, se eu fui sondado, lá está, mesmo que eu tivesse sido, é sigiloso, a primeira coisa que se lê na carta da Nunciatura, é mesmo sobre isso.
Para terminar, que mensagem gostaria de deixar para todas os milhares de pessoas que vêm às Festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres?
Uma mensagem mais direta para todos os peregrinos e devotos do Senhor Santo Cristo dos Milagres é, precisamente, de que se perca os medos que tivemos até agora. Já é altura de nós darmos Graças a Deus por estarmos vivos e rezarmos por aqueles que, infelizmente, foram vítimas dessa pandemia. Também um apelo muito grande da minha parte, e que eu queria que, durante as Festas do Senhor de Santo Cristo dos Milagres, fosse um eco partilhado por todos: uma oração muito grande pela situação que se vive na Ucrânia, pelos milhares de pessoas que estão a sofrer neste momento, pelas famílias que estão separadas, pelas mães que veem os seus filhos a combater ou a morrer, pelas mulheres que perderam os seus maridos e pelos filhos que perderam os seus pais. Isto é um drama tão grande que nós não podemos ficar alheios a isto. Dizemos que a Festa do Senhor Santo Cristo vai acontecer e a preocupação é se vai haver barracas ou não, tascas ou não, e temos tantos problemas sérios no mundo que, nós, pessoas de fé, faremos uma oração muito especial. Será um momento muito intenso, de oração pela paz. E que essa paz que queremos para a Ucrânia, esteja também entre nós, que toda a gente viva estas Festas de forma tranquila, serena e em paz uns com os outros. Não há necessidade de haver qualquer tipo de desacatos, e que a harmonia reine, aqui, no Campo do Senhor, no nosso Santuário, e que o Senhor Santo Cristo, a todos, ponha o seu manto de misericórdia. É isso que nós desejamos e esperemos que aconteça.