Após o início da guerra na Ucrânia, a Câmara Municipal da Trofa reuniu todos os esforços necessários, para ajudar quem mais precisa. Inúmeras missões humanitárias depois, este concelho acolhe, atualmente, mais de 130 refugiados, que têm sido apoiados pela edilidade na integração escolar, acesso à saúde e regularização, para poderem integrar o mercado de trabalho. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Sérgio Humberto, presidente da autarquia trofense, enalteceu o coração, genuinidade e solidariedade da população, empresas e instituições, que se uniram, para salvarem vidas.
Cinco dias depois da Rússia ter invadido a Ucrânia, saíram da Trofa três carrinhas repletas de doações que, no regresso, trouxeram 27 ucranianos. O que levou a autarquia a mobilizar-se para cumprir esta missão “Trofa-Ucrânia-Trofa”?
A 27 de fevereiro, iniciamos na Trofa, uma longa campanha alargada de apoio à população ucraniana, que envolveu várias áreas de atuação, centenas de voluntários, dezenas de beneméritos e mecenas, a quem agradecemos do fundo do coração, que foram inexcedíveis e a quem devemos o sucesso de mais esta causa, em que nos empenhamos unidos. Depois do início da guerra, reagimos imediatamente e, em poucos dias, conseguimos levar, com motoristas voluntários, para a fronteira entre a Polónia e a Ucrânia, três carrinhas carregadas de bens prioritários, entregando essa ajuda humanitária, em mãos, a instituições fidedignas locais. No regresso, a nossa comitiva de “heróis”, que se voluntariaram para irem aos campos de refugiados “salvar” vidas, trouxeram 27 mulheres e crianças, para serem acolhidas, em Portugal. Foram oito homens anónimos, que se disponibilizaram com coragem, altruísmo e abnegação, no primeiro minuto, depois de lançarmos um apelo público, para conseguirmos motoristas para irem à Polónia. Esta comitiva fantástica, regressou à Trofa a 8 de março, trazendo, então, 27 mulheres, jovens e crianças, dos 2 meses aos 65 anos. Os que se instalaram no nosso concelho, foram apoiados pela nossa Câmara Municipal, desde o primeiro dia. Neste momento, são já mais de 130, os refugiados acolhidos, que têm tido apoio na integração escolar, no acesso à saúde e na sua regularização, para terem possibilidade de integrar o mercado de trabalho. Em paralelo, todas as suas necessidades de alimentação, vestuário e outros bens, estão a ser salvaguardadas, incluindo aulas de iniciação ao português e disponibilização de atividades desportivas.
Com base na solidariedade e na boa vontade da comunidade luso-ucraniana residente no concelho, trofenses, empresas, mecenas e do município, foi possível, em poucas horas, mobilizar os esforços necessários para ajudar quem mais precisa. Qual foi o plano de ajuda, criado pela Câmara Municipal, para auxiliar os ucranianos que chegam à Trofa?
O nosso papel, enquanto Câmara Municipal, foi de agente facilitador e desbloqueador de processos, criando plataformas e pontes de entendimento entre todos, ou seja, mobilizamos instituições, mecenas, voluntários, beneméritos, empresas, agrupamentos de escolas e o Consulado da Ucrânia no Porto, para criarmos uma verdadeira rede de apoios e de integração articulada e integradora. A APPACDM da Trofa disponibilizou as suas instalações para algumas famílias, outras ficaram, logo, alojadas em casa de familiares residentes na Trofa e contamos, também, com a generosidade de alguns trofenses, que disponibilizaram casas particulares, para acolher algumas famílias de refugiados. Os nossos serviços municipais fizeram uma avaliação completa destes cidadãos recém-chegados: acompanhamento psicológico, integração das crianças nas escolas, criamos uma rede de professores e intérpretes voluntários, que ensinam a língua portuguesa aos cidadãos que chegam à Trofa, facilitando a sua integração, avaliamos as suas competências profissionais e falamos com os nossos empresários, para perceber como podiam ajudar a integrar as pessoas no mercado de trabalho.
Contudo, a missão “Trofa-Ucrânia-Trofa” não ficou por aqui. O município continuou a realizar um recrutamento massivo de voluntários para o apoio logístico no Centro da Câmara Municipal. Neste seguimento, no passado dia 7 de março, partiu um camião com 22 toneladas de ajuda humanitária, rumo à Polónia. Que tipo de bens foram transportados? De que forma vão beneficiar os ucranianos?
Percebemos, com o início da fuga dos refugiados, que neste momento são já mais de 5 milhões, distribuídos por vários países, e com as notícias veiculadas na comunicação social, que existia, cada vez mais, escassez de bens essenciais e de primeira necessidade, quer na Ucrânia, quer nos países fronteiriços. Por isso, o nosso centro de recolha de bens nasceu quase de forma espontânea, da vontade imensa da população da Trofa, em querer ajudar. Assim, abrimos o nosso Centro Logístico Municipal, para receber donativos da Trofa e da região, que passou a estar aberto das 7 horas às 22 horas, para receber e organizar os bens. Posteriormente, o horário de abertura reajustou-se. Quanto às toneladas de donativos angariadas no nosso centro de recolha, separados, embalados e identificados, durante semanas, por centenas de voluntários, parte, foram encaminhadas diretamente para a Polónia. Da Trofa, partiu um camião com 22 toneladas de bens, camião esse disponibilizado gratuitamente por uma empresa localizada em Vila do Conde, sendo o seu proprietário natural da Freguesia de Covelas, no concelho da Trofa, e o combustível da viagem foi suportado por um grupo de dez amigos, que angariaram a verba necessária para o efeito. Na carga, levou 22 toneladas de ajuda humanitária, designadamente medicamentos, alimentos, produtos de higiene e outros bens prioritários, que foram entregues na Polónia, em locais previamente identificados, com interlocutores devidamente definidos e sempre em articulação com o Consulado da Ucrânia no Porto, que nos indicou, também, a Cáritas, como a entidade competente, para receber mais 48 toneladas de ajuda humanitária angariada no nosso centro de recolha, que, entretanto, fez chegar a quem mais precisa, na Ucrânia e na Polónia.
A autarquia trofense lidera uma verdadeira operação de ajuda humanitária. Que ações e iniciativas serão, brevemente, levadas para o terreno, tendo em vista dar continuidade a esta missão?
Neste momento são mais de 130 ucranianos que já vivem na Trofa. Continuamos a prestar apoio psicológico, a ensinar a língua portuguesa, para que a sua integração seja mais rápida, e, no início do mês de abril, criamos uma conta solidária tutelada pela APPACDM da Trofa, para o apoio nas despesas do dia-a-dia, até que consigam recuperar a sua autonomia financeira. O apoio que prestamos é, e será, continuo, até que toda a comunidade esteja, totalmente, integrada na sociedade trofense.
Quais são as suas perspetivas para o futuro da comunidade ucraniana, no município da Trofa?
No que depender da autarquia, tudo faremos para continuar a ajudar e a integrar a comunidade ucraniana, no nosso quotidiano. Os nossos serviços municipais continuam a fazer o acompanhamento e monitorização destes cidadãos. As crianças e jovens estão a ser acolhidos nas escolas, e os adultos, logo que tenham a documentação necessária, serão integrados nas empresas locais, que já demonstraram interesse em receber estes trabalhadores. Como já se provou, os trofenses são um povo com um coração enorme e com uma solidariedade genuína. É um orgulho liderar um concelho, com este sentimento de partilha e generosidade.