O Rotary Club de Vila Nova de Gaia homenageou Luís Alves, fundador e proprietário do Cantinho das Aromáticas, como profissional do ano 2021. No dia 7 de abril, no Hotel Holiday Inn, em Gaia, o agricultor pôde contar a história da descoberta do seu amor pelas plantas, bem como o percurso do Cantinho das Aromáticas. No final da reunião, os presentes ainda puderam provar infusões e tisanas, produzidas em Vila Nova de Gaia.
Foi no dia 7 de abril que o Rotary Club de Vila Nova de Gaia realizou a sua reunião, com um mote especial: homenagear o profissional do ano de 2021. O empresário gaiense escolhido para a homenagem foi o engenheiro Luís Alves, fundador e proprietário do Cantinho das Aromáticas, em Canidelo.
Mercês Ferreira, presidente do Rotary Club de Vila Nova de Gaia, começou a reunião, que aconteceu no Hotel Holiday Inn, em Gaia, por salientar o regresso aos eventos repletos de pessoas, depois dos dois anos complicados que vivemos, devido à pandemia da Covid-19. Quanto à homenagem ao profissional do ano, Mercês Ferreira explicou que o propósito é “distinguir alguém que tenha, de facto, boas práticas em termos empresariais, ou de outra natureza, porque é isso que o movimento rotário também preconiza”.
Sobre Luís Alves, a presidente do Rotary Club Vila Nova de Gaia, também não poupou elogios. Propôs o seu nome ao movimento rotário por acreditar que “à data em que o criou, o Cantinho das Aromáticas, era um projeto audacioso, de um jovem, empreendedor, que arriscou um pouco, com um projeto que tinha riscos, porque não se olhava para estas coisas como hoje se olha, foi andando e com bastante sucesso, e, principalmente, tendo em consideração o sítio onde está, acaba por fazer uma agricultura, uma mini industria agrícola biológica, no seio urbano, o que também não é muito comum”, contou Mercês.
Chegada a vez de Luís Alves intervir, deliciou todos os presentes com a sua história e, principalmente com o humor que foi usando durante toda a sua intervenção. Começou por agradecer a homenagem, brincando que, “qualquer tipo de homenagem, principalmente quando temos 49 anos, já a caminho dos 50, é sempre muito bem-vinda”.
O proprietário do Cantinho das Aromáticas recuou na história, até à sua infância. Nasceu em Massarelos, e não tinha familiares alguns com ligação à agricultura, como o próprio brincou, era um autêntico menino da cidade. As coisas mudaram quando começou a trazer da escola para casa todo o tipo de bichos e plantas. “Os meus pais achavam que eu era um miúdo muito estranho”, brincou Luís Alves, quando contou que foi aí que foi analisado por o psicólogo do banco onde o pai trabalhava. Esse psicólogo, diz o engenheiro, foi fundamental na escola do seu percurso, porque “chegou à conclusão de que, afinal, eu não era uma pessoa especial, era um miúdo como outro qualquer, mas tinha uma pancada muito grande por animais e por plantas”. Assim, Luís Alves foi estudar para a melhor escola agrícola do país, à data, a Escola Conde de São Bento. Foi aluno interno e garante que “mal cheguei ali, nunca mais de lá quis sair”, confessando que foi assim que teve “a imensa sorte e felicidade de encontrar o meu percurso e o meu caminho na vida muito cedo”, contou o engenheiro.
O percurso natural levou a que o seu percurso académico fosse na UTAD, também, à data, a melhor faculdade para ensinar agricultura. Foi também, aí, na faculdade, que começou a desenvolver uma paixão fortíssima pelas plantas aromáticas. “Fascinava-me estas plantas que eu via nos lugares, nas aldeias do país, e que as pessoas ainda sabiam usar, porque herdaram todo um património que foi passando de geração em geração, via oral, sobre estas plantas, como se podiam usar para tratar maleitas, para cozinhar, ou para purificar um sítio, ou até para comunicar com as divindades, porque elas são usadas das mais diversas formas”, contou Luís Alves.
Acabou por ir estagiar para Serralves, que apesar de ser ao lado de sua casa, Luís nunca lá tinha ido. O engenheiro diz que se apaixonou por aquele sítio, e depois do seu estágio de seis meses, ligava para lá todos os dias a perguntar se podia ir para lá trabalhar, dois anos e meio depois, ouviu o sim. “Devem-se ter fartado de me ouvir ligar todos os dias”, brincou. Começou a trabalhar em Serralves em 1997, numa fase de mudança, porque teve o privilégio de chegar na altura em que se faziam obras para o novo museu e para o jardim envolvente. “Vejam o privilégio que foi, pagarem a um miúdo que gosta de plantas, para gerir uma das mais fabulosas coleções botânicas e contruir até a quinta pedagógica, que foi a segunda do pais, e um jardim com a maior coleção de plantas aromáticas da Península Ibérica, que ainda lá está”, disse em tom de brincadeira.
Em 2002 já não se sentia desafiado em Serralves, foi quando decidiu alugar uma parte da Quinta do Paço e ir trabalhar de forma braçal. “Começamos como viveiristas, fazendo vasos de plantas aromáticas. Perdemos muito do conhecimento sobre estas plantas, porque a maioria não foi registado, e então, nos hortos, não havia muito mais do que loureiro, alfazema e alecrim. Eu tinha 200 plantas do mundo inteiro, que reuni trocando com franciscanos, jesuítas, com bruxos, com jardins botânicos. Reunimos esta coleção e disponibilizamo-la para que as pessoas pudessem construir os seus próprios cantinhos das aromáticas. O nome veio daí”, esclareceu Luís Alves. Ao longo dos anos, a empresa foi crescendo, no entanto, as dificuldades são muitas. “Não basta querermos ser agricultor, temos de gostar muito, porque temos um sócio, um tipo chamado São Pedro, que às vezes muda tudo. Eu decido que amanhã vou colher, se o meu sócio disser ‘não que vai chover’, pronto, ele é que manda sempre”, brincou o engenheiro, sobre o facto de ser uma profissão muito dependente da meteorologia.
“Dos vasinhos, abrimos a quinta ao público, e isso terá sido a coisa mais inteligente do nosso percurso”, garantiu o proprietário do Cantinho das Aromáticas, que explicou que o facto de terem as portas abertas e qualquer pessoa poder entrar, ver e ouvir, mostra honestidade. Além disso, há já 12 anos que a propriedade está aberta ao voluntariado da comunidade que pode, inclusive, participar na apanha de algumas colheitas. Luís Alves salientou, ainda, o facto de terem sido pioneiros, uma vez que “inauguramos uma loja online, em 2005, que foi a primeira a vender plantas vivas!”
“Os produtos que propomos não são nada de novo, as nossas avós e bisavós já usavam, nós temos é que os aprender a utilizar sob uma nova ótica. Duas maiores causas de morte são o excesso de consumo de açúcar e sal. As ervas aromáticas estão na primeira linha para combater o excesso de consumo de sal, por exemplo”, referiu o agricultor sobre os benefícios das ervas aromáticas.
Para finalizar a sua intervenção e a história do seu percurso, Luís Alves, disse que a imagem que o público tem do agricultor, ainda não é a correta. Está quase sempre ligada a alguém acabado e massacrado pelo tempo e pelo trabalho. Explicou que, hoje, os agricultores são modernos, licenciados, na sua maioria, com fluência em línguas, como em qualquer outra profissão. “Por isso, gosto de dizer que sou agricultor, para ajudar a desconstruir a imagem que existe”, disse.
Luís Alves anunciou, ainda, que o contrato de arrendamento do Cantinho das Aromáticas termina em 2024 e, aí, deve mudar-se com a família para terras de Bastos e deixar o projeto de Canidelo, que foi, várias vezes na reunião, chamado de “pulmão no meio da cidade”.
Terminada a apresentação da sua história e percurso, foi tempo para uma breve explicação da diferença entre chá, tisana e infusão, bem como, um momento de degustação.
Chá, tisanas e infusões: quais as diferenças?
“Só devíamos chamar chá quando estamos a fazer uma infusão com a planta do chá, e como eu já referi, a planta do chá (…) é uma camélia, mas não como as que têm no jardim, ela é arbustiva, mas tem um segredo tremendo, produz cafeína, e a cafeína que a planta produz como uma espécie de inseticida, para se ver livre dos seus inimigos, vai-se lá saber porquê, numa dose pequenina, para nós, resulta num estimulante. Portanto, só se devia designar chá, quando tem essa planta. Todos os chás vêm desta planta. É a segunda bebida mais consumida do mundo”, explicou Luís.
“Deve, então, dizer-se infusão quando, por exemplo, eu estou a usar uma planta como a erva-príncipe, ou a cidreira, a tília, a camomila. Quando coloco água, estou a tomar uma infusão daquela planta, não chá, porque o chá não está lá”, explicou o agricultor.
“Por último, dizemos tisana quando fazemos uma infusão com blend de ervas, quando misturamos mais do que uma erva, ou com frutas desidratadas, ou especiarias. As tisanas são isso mesmo, mistura de várias ervas”, esclareceu.
No fim, o agricultou deixou ainda vários conselhos: nunca se ferve a água, “assim que cria bolhinhas no fundo, desliga-se, e é entre 85 e 95 graus que se deve usar a água para fazer uma infusão”; respeita-se, escrupulosamente, a dose recomendada porque “as plantas numa dose servem para dar prazer, noutra dose a seguir podem ser um medicamento, é preciso ter cuidado”; e, por fim, deve respeitar-se o tempo, porque se a planta estiver muito tempo na água, torna-se “tão adstringente que se torna amarga”.
“Escolhemos bem. É uma humilde homenagem a nossa, mas é uma homenagem, precisamente, porque achamos que devíamos destacar, também da nossa parte, a atividade de Luís Alves, porque é bastante interessante, rica e diversificada”, finalizou Mercês Ferreira.
Ficou, no ar, a possibilidade do Rotary Club de Vila Nova de Gaia organizar uma visita guiado, para todos os seus companheiros, ao Cantinho das Aromáticas. Luís Alves garantiu que lhes vai mostrar cada cantinho, com muito gosto e amor.