O Memorial a Madre Teresa da Anunciada, da autoria do escultor Rui Goulart, surgiu de um sonho do, então, pároco da Ribeira Seca, Norberto Pacheco. Assim, mais de dez anos depois, o monumento em homenagem à clarissa devota e responsável pela implementação do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres foi inaugurado, no passado dia 20 de agosto, junto à Igreja Paroquial de São Pedro, na Ribeira Seca, freguesia onde nasceu, a 25 de novembro de 1658. Com o processo de beatificação em curso, os crentes nesta religiosa anseiam que este Memorial represente mais um passo, para a conclusão do mesmo, com a maior brevidade possível.
Madre Teresa da Anunciada nasceu a 25 de novembro de 1658, na Ribeira Seca, e foi a fundadora do culto e da Festa de adoração ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, aquela que é, hoje, a maior festividade religiosa dos Açores e uma das maiores de Portugal continental.
Devoto desta freira clarissa e dos seus feitos, o então pároco da Ribeira Seca, Norberto Pacheco, aliou, há mais de dez anos, o seu sonho à arte do escultor açoriano Rui Goulart, com o intuito de se edificar um Memorial a Madre Teresa da Anunciada.
O monumento, instalado junto à Igreja Paroquial de São Pedro, na Ribeira Seca, foi inaugurado no passado dia 20 de agosto, na véspera da festividade do Coração de Jesus, com o intuito de contribuir para o impulsionamento da causa de beatificação da religiosa, da Ribeira Grande.
A cerimónia, que contou com a presença de Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, vereadores da autarquia, José Manuel Aguiar, presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca, Gisela Paz, presidente da Junta de Freguesia da Conceição, entre inúmeras entidades civis e militares, começou com o desfile da Charanga dos Bombeiros da Ribeira Grande, que antecedeu a bênção do memorial, oferecido pelo padre Norberto Pacheco, que representa Madre Teresa da Anunciada a orar, perante a venerada imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, sendo a obra da autoria do escultor Rui Goulart e o projeto do arquiteto André Franco. Posteriormente, a cerimónia prosseguiu com um momento musical, protagonizado pelo coro interparoquial, com elementos do Coro de São José, que foi dirigido por Imaculada Gaudêncio, seguindo-se o momento das intervenções, que foi estreado pelo promotor desta iniciativa, Mário Frade, que sublinhou que “devemos fazer tudo o que a cada um de nós cabe ou compete, para que a Madre Teresa seja reconhecida, beatificada em breve, conforme o desejo de todos os seus devotos. Este foi, também, um desejo do anterior padre desta paróquia, o senhor Norberto Cunha Pacheco. Foi, igualmente, a vontade de todos os que colaboraram com ele, para promover a construção de um memorial, onde melhor se possa compreender a ligação de Madre Teresa ao culto do Senhor Santo Cristo e desta à sua terra Natal. Se assim foi o desejo, assim se concretizou”.
Ressaltando que “este magnífico memorial representa, certamente, um dos mais reconhecidos ícones da nossa cultura religiosa, a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, com a Madre Teresa a orar, ajoelhada aos seus pés”, Mário Frade dirigiu algumas palavras ao antigo padre, Norberto Pacheco, afirmando que “estamos todos de coração mais cheio pela sua iniciativa, que irá perpetuar, ainda mais, a ligação do culto ao Senhor Santo Cristo a esta freguesia e melhor despertar o reconhecimento de Madre Teresa”.
Em jeito de conclusão, o promotor da iniciativa demonstrou a sua ânsia de que, um dia, Madre Teresa da Anunciada “suba aos altares, para receber a merecida homenagem dos fiéis e interceder por todos nós. Espero que, a partir de hoje, todos fiquemos mais inspirados com ideias, animo e, principalmente, com muita vontade, para que tal se possa realizar”.
Posteriormente, António Pedro Costa, vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, foi convidado a discursar, aproveitando a ocasião para evocar a vida, a obra e “a memória de uma filha desta terra, Madre Teresa da Anunciada, (…) que foi um exemplo de virtudes heroicas, atingiu vida interior profunda, alto grau de fé a Deus e ao próximo, (…) uma mulher de fibra, vigorosa e assertiva. Ela tinha plena convicção de que aquilo que defendia era a vontade do Senhor Santo Cristo e afrontava toda a gente, inclusive o rei de Portugal”.
Destacando que, a 25 de novembro deste ano, o Santuário dará início às comemorações dos 365 anos do nascimento da “benfeitora do povo açoriano” e que estão a ser preparados diversos eventos, “que poderão constituir um importante impulso para o processo de beatificação”, o vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande salientou, ainda, que “acredito que este memorial irá contribuir para fortificar a lembrança desta distinta clarissa e esperamos que este seja o sopro de esperança, que acalentamos, para que o processo de beatificação ganhe um novo curso e possamos ter, brevemente, um postulador para esta causa”.
Neste seguimento, o cónego Adriano Borges, reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, dirigiu algumas palavras à plateia presente, evidenciando que “com ou sem milagre, a verdadeira prova de fé é aceitarmos a vontade de Deus. Por isso, é de fundamental importância que continuemos a rezar por um milagre, que torne possível o sonho de vermos a nossa Madre Teresa nos altares. Nós queremos que, até aos 365 anos do nascimento de Madre Teresa, sejam dados passos consequentes e firmes”.
Asseverando que, “sem um milagre, não há beatificação e, portanto, esta é que é a primeira preocupação que nós devemos ter”, o religioso terminou a sua intervenção dizendo que “por isso, continuemos a rezar pela sua beatificação, unidos a Deus, para que permita que tal aconteça”.
Mais tarde, o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio, deu início ao seu discurso, aludindo que “o verdadeiro milagre, se calhar, é aquele a que estamos a assistir hoje, que é, 400 anos depois, estarmos em torno da Madre Teresa, a falar dela”.
Por conseguinte, o edil reforçou que “estas manifestações populares são importantes, também, do nosso ponto de vista, para que não se perca este processo de beatificação, que todos nós almejamos”, usufruindo do momento para enaltecer a ânsia da autarquia, de ver concluída, “provavelmente, a primeira beatificação de uma pessoa do nosso concelho e, por isso mesmo, para nós, é um motivo para não querermos deixar este processo. Mas folgo em saber, sinceramente, senhor reitor do Santuário do Santo Cristo dos Milagres, que este processo não está esquecido”.
O autarca fez, ainda, questão de referir que a Câmara Municipal da Ribeira Grande, “à semelhança deste, tem cultivado outros eventos, como por exemplo, durante a Festa da Flor, já connosco no executivo camarário, quisemos, também, associar uma vertente religiosa àquela festa profana, fazendo uma procissão em honra do Santo Cristo dos Terceiros, precisamente para retomar este culto à Madre Teresa que, para nós, é importante”, dirigindo-se, no final, uma vez mais, ao cónego Adriano Borges, atestando que “vamos rezar pelo milagre, senhor padre, mas tenho a impressão de que o milagre está presente, perante todos nós, todos os dias da nossa vida e que a Madre Teresa seja um exemplo, para todos nós”.
Por outro lado, Rui Goulart, escultor e autor deste Memorial a Madre Teresa da Anunciada, não escondeu, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, a felicidade que sentiu, aquando do descerramento do monumento. “Este momento diz-me muito, pela temática em si e por ser um objetivo do senhor padre Norberto e é uma felicidade minha ter ajudado a construir e a concluir este sonho”, sustentou o artista, afiançando que, “no fundo, esta obra não foi só mais uma, foi diferente. Pois, trata-se de uma questão sensível e não se pode abordar um tema destes de ânimo leve, é preciso sentir, o que se está a fazer. Sinceramente, houve uma mistura entre a arte e a espiritualidade durante a criação desta escultura, que conta a verdadeira história da Madre Teresa e eu estou muito satisfeito”.
Também, o presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca, José Manuel Aguiar, fez questão de revelar, a este órgão de comunicação social, que “foi com grande alegria que nos encontramos na inauguração do monumento em honra da Madre Teresa da Anunciada, uma obra que foi oferecida à Ribeira Seca pelo anterior pároco, Norberto Pacheco, por ser um grande devoto desta freira clarissa. Eu sou um pouco suspeito para falar sobre o padre Norberto, porque convivi com dele durante os 18 anos em que esteve, aqui, na paróquia da Ribeira Seca, por isso não podia deixar de dar o meu testemunho pela pessoa que ele é. O padre Norberto, enquanto pároco da freguesia, foi uma pessoa que se dedicou de corpo e alma à Ribeira Seca, interagia com todos, era amigo, estava sempre disponível, via os anseios das pessoas e estava sempre bem disposto. Como sabemos, a Madre Teresa nasceu na Freguesia da Ribeira Seca a 25 de novembro de 1658 e faleceu no dia 16 de maio de 1738, com fama de santidade. A ela se deve o grande amor e devoção, que o povo dos Açores tem ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Infelizmente, por motivos de saúde, o padre Norberto não pôde estar presenta na inauguração, mas ele sempre acreditou, e eu enquanto presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca também acredito, na beatificação da Madre Teresa, porque, hoje, a grande dimensão das Festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres deve-se a ela, pois foi ela quem deu origem à primeira procissão”.
A inauguração do Memorial a Madre Teresa da Anunciada terminou com uma missa campal, que se realizou no adro da Igreja de São Pedro e foi presidida pelo cónego Adriano Borges.