“A PROMOÇÃO DA NOSSA LENDA É UMA FORMA DE FOMENTARMOS A NOSSA IDENTIDADE”

Depois de dois anos de interregno, a Medieval de Rio Tinto regressou entre os passados dias 15 e 18 de setembro, à Quinta das Freiras. Organizada pela Junta de Freguesia, com o apoio da Câmara Municipal de Gondomar e de inúmeros patrocinadores, a 11ª edição deste evento, que se assumiu como sendo a primeira iniciativa no âmbito das comemorações dos 1100 anos da lenda desta localidade, proporcionou uma viagem no tempo, com recriações históricas, espetáculos, tabernas e mercados, que deliciaram, ao longo de quatro dias, cerca de 40 mil pessoas.

 

A XI Medieval de Rio Tinto foi promovida pela Junta de Freguesia, com o apoio da Câmara Municipal de Gondomar e de inúmeros patrocinadores e assinalou o regresso desta iniciativa, que decorreu entre os passados dias 15 e 18 de setembro, na Quinta das Freiras, depois de dois anos em que o evento não se concretizou, devido à pandemia da Covid-19. “Eu acho que a importância do regresso desta iniciativa é enorme e é tão relevante para nós, como é para toda a gente, o facto de podermos estar aqui, reunidos em festa, sem receio das enchentes, sem máscaras, sem afastamento. Eu acho que este é o passo em que dizemos que acabou a pandemia e é um evento realmente fundamental para as pessoas”, ressaltou Nuno Fonseca, autarca riotintense, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA.

Também, Marco Martins, presidente da Câmara Municipal de Gondomar, revelou, a este órgão de comunicação, que “isto reflete aquilo que é o regresso à normalidade, este verão, em Gondomar, com os festivais e as festas populares, a Medieval de Rio Tinto, a Noite Branca, assim como com as festas do concelho. Esta é, de facto, uma retoma de que todos estávamos à espera e é importante para o nosso bem-estar, para nosso espírito e, também, para a economia local, é fundamental”.

Tendo como tema a lenda da freguesia, este evento permitiu uma viagem através da história e da identidade desta localidade, segundo a qual, no longínquo ano de 920 terá ocorrido, neste território, uma batalha entre o Rei Cristão Ordonho II e o Califa Mouro Abd al Rahamn III que, segundo a memória do povo, foi travada nas margens de um límpido ribeiro, mas, de tão sangrenta que terá sido, tingiu de sangue as cristalinas águas, o que terá levado o povoado a denominar-se Rio Tinto. “Nós estamos numa cidade que, muitas vezes, foi identificada como sendo um dormitório e apostamos na lenda, uma lenda antiga, com mais de 11 séculos, e isto é apostar na identidade, o que é fundamental para nós”, sublinhou o edil.

Assim, 1100 anos depois, o pequeno povoado transformou-se naquela que é uma das maiores freguesias do país, que é valorizada pela riqueza da sua comunidade, nas mais diversas áreas. “O historiador Joel Cleto fez uma nova adaptação da lenda, que foi interpretada durante estes quatro dias. O livro, que conta com ilustrações da Marisa Silva, vai sair em breve, no âmbito das comemorações dos 1100 anos da lenda. São 11 séculos e, por isso, vamos realizar onze iniciativas, sendo que a primeira foi a Medieval de Rio Tino”, ressaltou o presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto.

Esta edição, que foi repleta de emoção, ficou igualmente marcada por uma novidade. Depois de dez anos de reinado, Onofre Varela e Isabel Andrade decidiram passar o seu testemunho. Neste seguimento, a Junta de Freguesia de Rio Tinto lançou um casting, para encontrar riotintenses, com mais de 18 anos, interessados em assumir a coroa, na XI Medieval e encontrou dois residentes nesta localidade, para representarem o papel de rei e rainha, congratulando-os com um voucher, no valor de 250 euros.

Por conseguinte, aquando da abertura deste evento, os visitantes tiveram a oportunidade de assistir à investidura real, mais concretamente à despedida de Onofre Varela e Isabel Andrade, que foram agraciados por Nuno Fonseca, com uma ilustração da autoria de Marisa Silva, que retratou “as suas passagens pela Medieval de Rio Tinto”, e à coração de D. Joaquim Almeida e D. Ana, que foram os monarcas da 11ª edição deste evento. “O nosso objetivo não foi substituir o Onofre e a Isabel, que são umas figuras muito típicas, pitorescas e reconhecidas da Medieval, mas encontrar um novo modelo, uma nova marca, ao escolhermos, anualmente, entre os riotintenses, dois reis e realizar esta cerimónia da passagem da coroa, que foi muito bonita, que toda a gente gostou e que elevou as expectativas para a próxima edição. Foi uma aposta ganha, recebemos muitas candidaturas e tenho a certeza de que, no próximo ano, mais riotintenses vão querer ser monarcas da nossa Medieval”, asseverou o edil.

Deste modo, durante quatro dias, os visitantes da XI Medieval de Rio Tinto, também tiveram a oportunidade de assistir ao cortejo real, rondas militares e rixas, mais de 100 espetáculos, protagonizados pelo Bobo Tosta Mista, bailias do tempo, fazenda dos animais, Quadra José Ferreira, sons de Santa Maria, Vilão do Burgo, Al Raqs, Beatriz Tecelã, Bons Homens, sala de armas, Dança Virgílio Cardoso, Ac. de Arte do Colégio, contos e fábulas, parada medieval, espetáculo de fogo, festividades para petizes e petizas, falcoaria e cavalaria, cortejo pelas ruas da cidade, torneios a cavalo e esconjuro, que traduziram a lenda desta localidade, em vários momentos históricos. Paralelamente, também se deliciaram no mercado, onde estiveram presentes mais de 100 tabernas de comes e bebes e de artesanato. “Nós estamos muito satisfeitos com a forma como correu o evento, que foi organizado em tempo recorde e sob imensas limitações, devido à intempérie daqueles dias, mas conseguimos com muito esforço. Também, fomos favorecidos pelo facto de ter estado um fim de semana de calor e tivemos casa cheia, ao ponto de no sábado termos de encerrar a bilheteira e as portas e não deixar mais ninguém entrar no recinto, uma vez que a lotação máxima do espaço é de dez mil pessoas. Portanto, a nível de bilhética, por exemplo, foi o nosso recorde”, enalteceu o presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto.

Assegurando que “o balanço só pode ser extremamente positivo”, Nuno Fonseca evidenciou que “a promoção da nossa lenda é uma forma de fomentarmos a nossa identidade e isso, para nós, é fundamental”.

Neste contexto, Marco Martins salientou que “quando, há 13 ou 14 anos, começamos com esta Medieval, nunca imaginamos que podia transformar-se no que é hoje e ainda bem que o é, ainda bem que a freguesia continua com esta motivação e dedicação, para o evento, de ano para ano, ser cada vez melhor”, destacando que “nós estamos a falar de uma freguesia muito ligada às suas origens e com uma lenda, com 11 séculos e quanto mais o território marcar a sua identidade, mais popular ele pode ser e, acima de tudo, consegue passar às gerações seguintes aquilo que é uma mensagem muito forte do sentimento de pertença, que há cada vez menos, infelizmente”.