“NÃO SÃO SÓ GUARDIÃS DE MEMÓRIAS COMO TAMBÉM PROJETAM OS AÇORES NO MUNDO”

A Confraria Gastrónomos dos Açores realizou o seu XII Capítulo, no passado dia 30 de outubro, com a entronização dos novos confrades e a receção dos aspirantes a esse posto. O programa completo da festa confrádica aconteceu entre 28 de outubro e 1 de novembro, com rotas culturais, gastronómicas e muito convívio. Sérgio Rezendes, vereador da Câmara Municipal de Ponta Delgada, marcou presença no Capítulo e enalteceu o papel das confrarias para guardar memórias, transmiti-las aos mais novos e projetar os Açores no mundo.

 

 

 

Depois do período pandémico que o país viveu, nos últimos dois anos, e que impediu a realização de muitos eventos, a Confraria Gastrónomos dos Açores voltou, este ano, a realizar a sua festa e aproveitou para o fazer em grande, com um programa entre 28 de outubro e 1 de novembro, preenchido com rotas culturais, gastronómicas e muito convívio.

O AUDIÊNCIA acompanhou o dia 30 de outubro, data em que se realizou, efetivamente, o XII Capítulo da instituição. O dia teve início com uma missa de louvor, sufragando os confrades falecidos. Depois, as confrarias presentes foram, em cortejo, para a Câmara Municipal de Ponta Delgada e foi no anfiteatro da mesma que se realizou a cerimónia de entronização.

A celebração iniciou-se com um minuto de silêncio pelo falecimento recente do confrade José Nunes. Logo após esse momento, e à salva de palmas que o seguiu, foram chamados nomes como Eduardo Carreiro, João Gonçalves, Luís Lindo, Rúben Farias e Paulo Mota. António Cavaco, confrade-mor da Confraria Gastrónomos dos Açores, depois de lhes perguntar se estavam conscientes da responsabilidade que teriam a partir daquele momento e de receber uma resposta positiva de todos, consagrou-os confrades de número efetivo.

Seguidamente, foram chamados sete “aspirantes a confrades” para receberem a insígnia: Sónia Melo, Mónica Silva, José Camarinha, Carlos Morais, José Machado, Ricardo Jordão e Henrique Schanderl. Todos juntos, tiveram de prestar à Confraria Gastrónomos dos Açores um juramento e, para finalizar o ritual, beberam vinho.

António Cavaco, também representante da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, dirigiu algumas palavras aos presentes. “Cada confraria suporta, em si, a palavra amor, tão rica e tão bonita, porque é aquilo que trazemos, é o pão, o vinho, o amor, a partilha, o afeto e é, sobretudo, a nossa identidade cultural”, disse, admitindo que a mudança está, também, neles e no seu objeto, a comida, que “vai muito mais além disso, mais fundo, vai à cultura, ao tal amor que vos falei, à identidade cultural, à afirmação que levamos connosco e que transportamos de cada vez que saímos de nossa casa para a confraria, seja ela qual for”.

Além de agradecer a presença de todas as confrarias presentes, o confrade-mor da entidade que comemorava o seu XII Capítulo, aproveitou para deixar uma palavra ao vereador Sérgio Rezendes e, nele, à Câmara Municipal de Ponta Delgada. “Agradecer, em nome da Confraria dos Gastrónomos, a disponibilidade com que nos acolheu, a forma como olha e colabora com as confrarias, porque o poder mais próximo de nós, é o da Câmara Municipal. Sempre defendi, e defendemos, que uma mão lava a outra, as duas lavam a cara, mas mais do que duas mãos podem projetar mais este objeto, que é a gastronomia”, terminou.

Por sua vez, o edil, aproveitou o momento que lhe foi dado para dirigir uma mensagem aos presentes, para lembrar a história da gastronomia, evocando 35 mil anos, desde que o Homem descobriu o fogo e começou a cozinhar os animais, “o que revolucionou a dieta alimentar e faz ponte com o que vivemos hoje”. Sérgio Rezendes também referiu as conquistas de Portugal como um reforço desta vertente culinária, de sabores fortes e marcantes. “As ilhas, a começar pelos Açores, acabaram por absorver toda essa primeira globalização, que nos leva ao Japão, por exemplo. Por cá vai passar a pimenta, mais conhecida por malagueta, o vinho americano, que vai começar a fazer parte da nossa dieta alimentar, o pinhão e, mais tarde, o ananás e o chá”, referiu.

O autarca lembrou o facto de existirem muitas receitas, nomeadamente de fome, que se estão a perder e atribuiu às confrarias o poder de fazer com que estas fiquem para memória futura, enaltecendo o projeto entre a confraria e a Câmara Municipal de Ponta Delgada. “Nas nossas 24 freguesias, fazemos, não o levantamento, mas o registo, neste momento, de receitas que se estão a perder. Sempre que morre uma pessoa idosa, fecha-se um livro e perde-se esse livro. Temos, com a Confraria Gastrónomos dos Açores, um projeto, ao longo deste mandato, para fazer o registo dessas receitas, antes que elas desapareçam, independentemente da sua origem, e não se trata apenas dos ingredientes, é preciso saber a técnica, a maneira como os elementos são combinados e misturados, a maneira como são cozinhados”, explicou.

Sérgio Rezendes também aproveitou a ocasião para “homenagear todas as confrarias, enquanto defensoras da memória coletiva, deste rico saber milenar, (…) agradeço a atenção que dão aos nossos produtos, porque não só são guardiãs dessas memórias e transmissoras às novas gerações e a quem nos visitam, como também projetam os Açores no mundo”, destacando o facto de serem “o único arquipélago do mundo com a certificação de destino turístico sustentável”, atribuindo peso desse título à gastronomia.

Depois das intervenções, foi tempo da oração de sapiência e a cerimónia terminou com a entrega de uma pequena lembrança a cada uma das confrarias presentes, tendo-se seguido o almoço.

Após o momento de convívio e refeição, a Confraria Gastrónomos dos Açores aproveitou a presença de tantos amigos para inaugurar, oficialmente, a sua sede. “Esta obra, não é de um homem só, é de muitos e foi feita com o contributo de muitas pessoas que até são externas à confraria e outras, que sendo externas, quiseram, agora, integrá-la. Ter uma inauguração oficial desta sede pequenina, simbólica, mas com muita projeção, com tantas confrarias presentes, e com algum peso naquilo que chamamos de mundo confrádico, é muito importante”, aludiu António Cavaco, antes de descerrar da placa.