CONTRASTES A CONSIDERAR

Um ano político decorrido e duas visões nos saltam ao pensamento, uma de quem pretende retratar a realidade com cosmética e outra que nos mostra  essa mesma realidade nua e crua, se analisarmos o debate sobre o Estado da Nação há dias realizado.

A guerra, com inegáveis impactos reais em Portugal, constituiu a justificação para intensificar o empobrecimento, os ritmos de exploração, a degradação de vida e a transferência de rendimentos do trabalho para o capital.

O Governo conhece esta realidade, mas opta por seguir uma política que continua a prejudicar quem trabalha, quem se encontra reformado e as micro, pequenas e médias empresas, dando assim uma imagem de falta de interesse pelo bem estar da população nacional, que se verifica no dia a dia, ou seja e parafraseando, o País está bem, mas os portugueses estão mal.

Fora do nosso rectângulo à beira mar plantado e viajando para o Parlamento Europeu, fértil em acontecimentos polémicos, no programa da Antena 2  Eurodeputados, os principais partidos políticos portugueses representados no Parlamento Europeu, a partir da sede da instituição em Estrasburgo, abordam periodicamente as grandes questões que preocupam os europeus, num programa moderado por Fernanda Gabriel e recentemente sobre a questão da guerra na Ucrânia, no painel de debate tivemos ocasião de observar a deputada Lídia Pereira ostentando orgulhosamente na sua tshirt o símbolo nazi do gancho do lobo, assim contrastando com os outros intervenientes que não precisaram de símbolos para sabermos quais são as suas opções políticas.

Agora, surge mais uma provocação através de resolução adoptada há dias em sessão plenária contra Cuba num inaceitável exercício de falsificação e despudoradas considerações, procurando abrir caminho a mais uma descarada ingerência e promoção de acção desestabilizadora, assim obstaculizando o necessário desenvolvimento de relações profícuas entre União Europeia e Cuba.

A referida resolução, ignora propositadamente os princípios da Carta das Nações Unidas e as constantes medidas agressivas dos Estados Unidos com um bloqueio económico que perdura há mais de sessenta anos, prejudicando a economia, o desenvolvimento do País e as condições de vida do povo cubano  e tem sido condenado pela esmagadora maioria dos países, a nível global.

A resolução encobre ainda a insistência dos Estados Unidos  em manter Cuba na ilegítima e hipócrita «lista de países patrocinadores do terrorismo», constituindo mais uma forma de agravar o bloqueio, apesar das promessas em contrário do actual Presidente Biden.

Curiosamente e dando continuidade ao internacionalismo cubano sempre presente nas piores condições de catástrofes naturais, guerras e apoio humanitário,  centenas de médicos cubanos irão exercer a sua profissão no nosso País, assim procurando minimizar constrangimentos estruturais no nosso Serviço Nacional de Saúde, facto este que, pasme-se, causou a maior indignação nas hostes neoliberais portuguesas que de imediato consideraram esta acção meritória como atentatória dos direitos humanos, ignorando o es­pan­toso in­ves­ti­mento na me­di­cina cu­bana, de­sig­na­da­mente na área da in­ves­ti­gação, per­mitindo a este País apoiar de forma so­li­dária outros países com dificulades nesta área.

Entretanto, milhares de pes­soas ex­pres­saram há dias em iniciativa na Voz do Ope­rário, a sua firme so­li­da­ri­e­dade a Cuba e ao seu povo, contra o blo­queio e a in­gerência, em de­fesa da so­be­rania e pelo di­reito ao de­sen­vol­vi­mento, em re­co­nhe­ci­mento pelo exemplo de re­sis­tência e in­ter­na­ci­o­na­lismo que dá aos povos do mundo.

Ali ficou uma vez mais evi­dente que, como citou o pró­prio Pre­si­dente da Re­pú­blica de Cuba, Mi­guel Diaz-Canel, convidado para a iniciativa, assim como o ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodriguez e a embaixadora em Portugal, Yusmary Diaz, «a so­li­da­ri­e­dade é a ter­nura dos povos, nunca es­que­ce­remos este en­contro entre ir­mãos e amigos».

Os contrastes vão assim fazendo parte do nosso quotidiano, lembrando quão díspares são as sociedades actuais no seu pensamento sobre as opções que pretendem seguir para um futuro mais justo, solidário e fraterno, com respeito mútuo pela soberania de cada um.

A Cimeira dos Povos que decorreu no Campus da ULB-Universidade Livre de Bruxelas, com a presença da deputada do PCP no Parlamento Europeu, Sandra Pereira, constitui um inestimável contributo para esse desiderato.