“PARA MIM, É UM ORGULHO SEMPRE REGRESSAR À MINHA TERRA PARA CANTAR”

Emigrou em 2016 para o Canadá, mas a vida deu-lhe a volta e acabou por se mudar de malas e bagagens para os Estados Unidos da América. Sempre sonhou em viver da música mas as dificuldades fazem que continue a lutar para concretizar esse objetivo. De passagem pela terra que a viu nascer, Tânia Creador não esconde o desagrado de não ter o apoio familiar desejado nem as oportunidades que gostaria para apresentar o seu trabalho.

 

Em maio houve um dia de festa em Rabo de Peixe, como correu?

Sim, da bandeira da caridade do Rúben Correia e eu subi ao palco também. Correu muito bem, é sempre bom estar com as nossas raízes. O público já estava à minha espera, e já tinha recebido muitas mensagens pelo Facebook de terem curiosidade em me ver, porque eu estive cá o ano passado, mas não em concerto, foi apenas de férias. Mas o meu público sempre me quis ver aqui em palco. E, para mim, é um orgulho sempre regressar à minha terra para cantar.

 

Quando subiu ao palco, o que lhe veio ao pensamento?

Senti-me feliz e quis dar tudo de mim, e as pessoas vibraram com isso. É o povo da minha terra.

 

Depois de Rabo de Peixe, atuou também em Porto Formoso…

Sim, e depois parti para o Canadá para o Festival da Lusofonia, do Correio da Manhã, em Brampton, que é a cidade que mais ribeiragrandenses tem.

 

Uma menina que nasceu no Hospital da Ribeira Grande, e que viveu os primeiros anos na Ribeira Seca, pensava já nessa altura em vir a cantar?

A música sempre fez parte da minha vida, desde muito pequenina. Os meus pais andavam sempre em festas de Rabo de Peixe e da Ribeira Grande, aliás, nos Açores existem muitas festas e eu sempre fiz parte delas. Eu comecei a cantar por talento, passei pela escola, tinha a minha professora a Dona Alda Rosa, e fazia muitas festas na escola e nós gostávamos muito de participar. Portanto, a música sempre fez parte da minha vida.

 

A mudança para Rabo de Peixe, como correu?

Eu estudei apenas até ao 5º ano porque nunca gostei muito da escola. Comecei a trabalhar, e trabalhava nas férias, já com 12 anos, os meus pais eram pobres e não podiam-me dar o que lhes pedia. Então comecei a trabalhar, comecei a ver dinheiro e não quis estudar. Trabalhei numa firma de limpeza, a BeClean, depois o Vítor Câmara contratava sempre a BeClean para trabalhar no hotel e foi assim que surgiu o meu conhecimento da empresa. Depois o patrão começou a gostar do meu trabalho, e pedi ajuda porque era mãe solteira, e comecei a gostar da equipa, das pessoas e pedi oportunidade.

 

Que idade tinha quando teve o primeiro filho?

Tive o Alex quando tinha 18 anos. Foi de uma relação que falhou, e bastante, mas dei a volta por cima.

 

Entretanto, a vida dá muitas voltas e foi parar ao Canadá…

Sim. Pensei no meu filho e o Canadá é um país para dar futuro aos filhos. E como fui mãe solteira sempre fui muito apegada a ele, e decidi dar-lhe um futuro melhor. Mas quando me mudei não correu muito bem porque a zona da cidade em que fui viver, Hamilton, ele não podia fazer escola, porque eu estava ilegal. E depois é que conheci o meu atual marido, Nicolau Flor, que é natural de Rabo de Peixe mas que vivia nos EUA, e que deixou os EUA para ir viver comigo seis meses. Mas como estava ilegal, acabamos por ir para os EUA, casamos, fizemos a nossa vida e o meu filho conseguiu uma escola. Já lá estou há quatro anos.

 

E neste período de tempo como estava a música?

Sempre participei nos palcos, mesmo com estes problemas. Nunca desisti. E já fiz alguns concertos também nos EUA.

 

Chegada aos EUA, como foi a sua vida?

Tem sido muito boa, estou feliz, estou com o meu marido, tenho o meu filho Aaron, com três anos de idade e este sai à mãe, também canta.

 

E profissionalmente, o que faz nos EUA?

Trabalho num hospital, no Rhode Island Hospital, em Providence, trabalho lá já vai fazer três anos. Mas a música continua sempre. Tenho o meu irmão Filipe, de 29 anos, no Canadá também, costuma dançar nos meus espetáculos. O Filipe foi depois de mim para o Canadá. Se ele tivesse lá, tínhamos vivido juntos e era mais fácil, sempre nos demos bem. Ele vive em Bradford.

 

Quais os temas musicais que interpreta? São originais?

Tenho 10 originais, tenho o meu CD, mas também gosto de cantar o que o povo gosta. Gosto de por o meu reportório com canções também conhecidas. As letras são da Paula Soares, a minha editora, que é do Porto, e a música do Marco Rafeiro, marido dela. Eles têm uma empresa que gravam as canções aos artistas, e foi lá que gravei o meu CD também, em 2018.

 

E nos EUA, o que fez em termos musicais?

Tenho ideias para fazer videoclips, e já escreveram a canção que, em breve, vou gravar. Tenho ideia de fazer mais um álbum com 8 originais, mas quero escrever as minhas próprias canções. Eu já tenho dois videoclips, o do “Decidi” e “Tu e eu”, e vou fazer mais nos EUA e tinha ideia de fazer também aqui, mas o tempo não está a deixar.

 

Tem algum sonho no campo musical que gostava de concretizar?

Gostava de ter muitos espetáculos e, claro que, se tivesse de escolher, deixava o Hospital e dedicava-me à música, mas como não tenho muitos espetáculos, aguento-me no trabalho.

 

Há algum espetáculo que tenha marcado de forma especial?

Senti-me muito bem no espetáculo no Canadá, na festa do chicharro dos Amigos de Rabo de Peixe e também numa festa na Casa da Madeira, quem me ajudou a ir para lá foi o Décio Gonçalves, que me contratou para fazer a festa à moda de Rabo de Peixe.

 

Durante todo este percurso de vida, alguma vez o desespero chegou a tomar conta?

Prefiro não falar disso. Às vezes é bom aprender coisas na vida, há caminhos que às vezes correm mal, outros bem, mas assim vamos aprendendo. Aprendemos com as desilusões, principalmente com os próprios familiares, o que é muito triste. Há alguma dor de cotovelo do lado materno, mas só alguns, não são todos. Já do lado paterno, tenho de agradecer ao meu tio Carlos Alberto Creador que me pagou dois originais.

 

Então ainda dá um gozo especial atuar em Rabo de Peixe?

Sim. Da maneira que eles são, isso ainda me deixa mais forte em palco. E não foram ver, só tive alguns a ver o espetáculo.

 

Como te sentes como mulher vencedora?

Eu tenho muito orgulho no que sou, e o que as pessoas dizem a mim não me importo. A família tenta-me diminuir mas não conseguem, porque as pessoas gostam de mim. Quando eu estive em baixo, a família não me apoiou, ainda me meteu mais para baixo, e isso não se faz.

 

Qual o seu maior sonho?

O meu sonho é crescer mais como artista. E gostava de fazer mais espetáculos nos EUA, só tive dois ainda, e gostava de divulgar mais o meu trabalho nos EUA. Vou muitas vezes ao Canadá atuar, mas nos EUA não. Gostava de fazer um espetáculo no Porto também. Tenho contactado pessoas para trabalhar na televisão também até agora ainda não tive resposta.