TORNEIO DE DECIFRAÇÃO “SOLUÇÃO À VISTA! – 2024” ADIADO

Antes de publicar a primeira parte do quinto conto do concurso “Um Caso Policial no Natal”, cumpre-nos informar que o torneio de decifração “Solução à Vista!” (e consequentemente o concurso de produção “Mãos à Escrita!”), anunciado para este ano, será adiado para data a anunciar brevemente, em virtude do sucesso alcançado pela iniciativa em curso, que reúne 19 (dezanove!) obras, determinando que a sua realização se prolongue até meados do próximo ano.

Informamos, entretanto, os leitores amantes da decifração e produção de enigmas policiários, que os blogues Local do Crime (localdocrime.blogspot.com), Repórter de Ocasião (reporterdeocasiao.blogspot.com) e A Página dos Enigmas (a paginadosenigmas.blogspot.com), vão realizar no próximo ano, a partir de 1 de janeiro, um concurso que assinala os 50 anos do “Mistério…Policiário”, do saudoso Sete de Espadas, iniciativa que será acompanhada em permanência do site Clube de Detectives (clubededetectives.pt). Voltaremos em breve ao assunto.

Posto isto, regressamos ao concurso “Um Caso Policial no Natal”, com a publicação da primeira parte do quinto conto, da autoria do confrade visiense Paulo, que tem por principal protagonista uma menina de cinco anos, de bochechas gorduchas e muito curiosa, a… Martinha.

 

“Um Caso Policial no Natal” – QUINTO CONTO

A PRENDA DE NATAL DA MARTINHA, de Paulo

I – PARTE

A Martinha tinha cinco anos. Possuía cabelos castanhos encaracolados, que combinavam com os olhos da mesma cor, e a cara era redonda, enfeitada com duas bochechas gorduchas que alargavam o rosto sempre que um sorriso o enfeitava.

Martinha vivia numa casa que tinha um pequeno quintal. Morava com a mãe, o pai e o Pedro, o irmão que tinha doze anos. No seu quarto de paredes verdes, tinha a cama, os brinquedos e todos os materiais usados para recortar, moldar e pintar: cartolinas; folhas de papel verdes, vermelhas, azuis, amarelas, brancas e pretas; plasticina e boiões de tintas de quase todas as cores. Num dos cantos do quarto, havia uma mesa baixinha para ela poder usar. Estava coberta com uma capa plástica, também de cor verde, onde podia fazer todas as atividades que quisesse e que pudessem sujar mais, como, por exemplo, pintar.

A Martinha tinha um gato que se chamava Malaquias. Tinha o pelo todo branquinho e era muito brincalhão. Fora-lhe oferecido ainda muito pequeno, quando ela fizera três anos. Gostara tanto do bichano, e este dela, que estavam quase sempre juntos. O Malaquias até dormia no quarto verde.

A Martinha era uma menina muito curiosa. Todos os dias o pai ou a mãe levavam–na para o infantário, onde ela, com as perguntas que fazia, deixava em dificuldades a educadora responsável pela sala que frequentava com mais outros dezoito meninas e meninos, todos vestindo um bibe verde com um canário do lado esquerdo e uma margarida violeta do lado direito.

— De que é feita a Lua?

— As estrelas podem cair?

— Os gatos entendem o que nós dizemos?

— De onde vêm as pessoas?

­— Se os peixes andarem fora de água morrem? Porquê?

­— Como é que os elefantes podem crescer tanto e os gatos não?

— Quem inventou o mundo?

Estas eram algumas das perguntas que a Martinha gostava de fazer, obrigando a que lhe fossem dadas respostas pelas quais os outros meninos e meninas não mostravam grande interesse. Só ela escutava a educadora.

Tantas tinham sido as perguntas que já fizera, que estas haviam destruído parte da magia do Natal que é oferecida à grande maioria das crianças. Para a Martinha não havia Menino Jesus nem Pai Natal a fazerem visitas a desoras nas casas onde habitavam crianças. Ela já sabia que as prendas lhe eram oferecidas pelo pai e pela mãe.

Mas não se pense que era só no infantário que a Martinha fazia perguntas. Em casa não se calava; estava sempre a tagarelar. O Pedro dizia que ela era a Buzina, o que não arreliava nada a pequenita, que atendia sempre pela alcunha quando o irmão a chamava. As perguntas que fazia eram tantas, que o pai e a mãe já não tinham palavras nem ideias que pudessem satisfazer a curiosidade da filha.

Martinha ainda não sabia ler, mas esse não era um impedimento para folhear os livros que havia lá em casa e que estivessem em pouso onde ela chegasse facilmente. Claro que livros só com texto não lhe interessavam. Virava as folhas cheias de letras, mas como não entendia nenhuma palavra, rapidamente os colocava em sossego. Se os livros tivessem imagens, já era outro o procedimento: via e revia vezes sem conta.

Adorava as enciclopédias ilustradas que o seu irmão já lera: sobre carros, estrelas, pedras, países, planetas, animais e muitas outras coisas. Não entendia as palavras, mas mergulhava nas imagens e decorava todos os pormenores. Depois, após ter devorado as figuras, fazia imensas perguntas à mãe, ao pai e ao irmão.

— Como se chama este animal?

— Onde é que vive?

­— O que é que come?

— Qual é este planeta?

— Está muito longe?

— Qual é capital deste país?

—- Há lá muita gente?

Eram perguntas sobre perguntas, que alimentavam uma enorme vontade de conhecer e saber tudo.

Mas, uma tarde, dez dias antes do Natal que se aproximava, a Martinha deixou de apenas fazer perguntas. Declarou, simplesmente:

— Eu quero uma zebra!

(continua na próxima edição)