“A GASTRONOMIA TEM DE SAIR DE PORTAS FECHADAS E PASSEAR-SE NAS RUAS”

Depois de ter sido desafiado pela Nova Gráfica, António Cavaco, autor do livro “Gastronomia dos Açores”, promoveu, no passado dia 20 de agosto, um showcooking, em frente à Livraria Letras Lavadas, em Ponta Delgada. Durante esta demonstração da gastronomia açoriana, que contou com a presença de Pedro Nascimento Cabral, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, e da esposa, o público teve a oportunidade de degustar inúmeros apontamentos, que foram confecionados pelo icónico gastrónomo.

 

Após ter lançado, em 2013, o seu primeiro livro, intitulado “Sabores das Ilhas – Gastronomia tradicional açoriana – Um roteiro de afetos”, António Cavaco apresentou, em abril do corrente ano, a obra “Gastronomia dos Açores”, que conta com uma versão em inglês, e resultou do programa gastronómico, que realizou na RTP/Açores, denominado “Sabores das Ilhas”, tendo sido editado pela Letras Lavadas.

“A equipa que trabalho comigo, composta por Emanuel Carreiro, José Serra e Rui Machado, incentivou-me à criação da obra, comprometendo-me com o que prometia às pessoas, que me questionavam, sobre as receitas”, salientou o autor, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, assumindo que “de facto, o meu desejo era escrever um livro de gastronomia, que não fosse um mero reportório de receitas, mas que abordasse a cultura, a história e a identidade cultural açoriana”.

No contexto do lançamento da sua última publicação, o gastrónomo foi desafiado pela Nova Gráfica, para confecionar pequenos apontamentos, em modo showcooking, para a degustação do público em geral. O evento decorreu no passado dia 20 de agosto, em frente à Livraria Letras Lavadas, em Ponta Delgada, e contou com a presença de Pedro Nascimento Cabral, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, e da esposa, assim como de muitas outras pessoas, que não resistiram aos aromas que se faziam sentir. Todos os produtos utilizados eram de origem regional, como o tradicional bolo levedo, do Bolos do Vale, a morcela micaelense, o ananás dos Açores, da Boa Fruta, o atum, da Corretora, o vinho licoroso Lagido do Pico e os produtos da Fábrica de Licores Eduardo Ferreira & Filhos Lda., aguardente e rum.

Garantindo que “as obras têm de ser, também, conhecidas pelo lado prático do conteúdo”, António Cavaco enalteceu que “a gastronomia tem de sair de portas fechadas e passear-se nas ruas, para se dar a conhecer, de forma simples e pedagógica”.

Durante a iniciativa, o gastrónomo foi interpelado pelo público sobre as iguarias utilizadas e o modo de confeção, enquanto materializava várias receitas presentes no seu livro “Gastronomia dos Açores”, que valoriza o “património da cozinha regional, que está espelhado no receituário, que foi pesquisado nas fontes, com registos históricos comprovados, com base nos produtos endógenos locais, dando destaque para a qualidade e propriedades funcionais e benéficas para a saúde alimentar”.

Afirmando que o balanço do evento foi extremamente positivo, o escritor e apresentador de programas de gastronomia ressaltou que, “foi transmitida uma mensagem de verdade, simplicidade e, sobretudo, de afeto, o que só se consegue se acreditarmos no que fazemos”, asseverando que “o balanço é positivo, mas deve ser repetido, não só nas livrarias, mas junto de outros equipamentos, relacionados com a gastronomia, e não só”.

O autor da obra “Gastronomia dos Açores” aproveitou, também, a ocasião para salientar a importância da aproximação à diáspora, que, no seu livro, “é fortalecida pela edição bilingue, na perspetiva de quem nos lê hoje, mas, também, de quem nos quiser ler no futuro, nomeadamente as segundas e terceiras gerações. Por outro lado, dar aos países de acolhimento da diáspora, uma prova notória da nossa realidade. Internamente, para os visitantes, é algo que levam, identitário, e um sinal de que não foram esquecidos”.

Relativamente ao futuro, António Cavaco sublinhou, ainda, que “sonharei, até, clandestinamente, com a concretização da verdade gastronómica, isto é, que as pessoas entendam o objeto, na sua vertente cultural e promotora, sem ser pelo prisma, eminentemente, redutor, de saciar uma necessidade fisiológica. Também, desejo que, com a gastronomia, um produto turístico, os empresários percebam a necessidade de investir nestas ações”.