Em maio de 1979 José Alberto Simões Cunha, conhecido por “chefe” entre os ribeiragrandenses, chegou a São Miguel, vindo de Coimbra, ilha onde se apaixonou e onde resolveu viver. Após uma longa carreira como polícia, reformou-se e atualmente ocupa o seu tempo entre a cozinha, o quintal e a Retrosaria Arco-Íris. O AUDIÊNCIA conversou com José para melhor perceber o seu percurso e escolhas de vida.
Nasceu e cresceu no distrito de Coimbra. Que percurso teve até vir para os Açores.
Sou natural da freguesia de São Martinho da Cortiça, Arganil. Vivi lá até à minha juventude, até cerca de 23 anos, tendo depois vindo para os Açores. Vim para cá em maio de 1979, tinha acabado o curso de formação de guardas da PSP, antigo nome que se dava aos agentes da Segurança Pública. Em 1985 voltei a Coimbra, onde concorri ao posto de subchefe, tendo frequentado o curso desde outubro desse ano até junho do ano seguinte. Estagiei um mês em Coimbra e dali voltei para os Açores como subchefe. Ao fim de três anos fui promovido a chefe de polícia, posto com o qual me reformei em junho de 2012. Entretanto frequentei a escola primária na minha freguesia, ingressei na Escola Secundária Avelar Botelho, onde fiz o curso industrial que finalizei em 1972. Em julho fui para Lisboa estagiar num entreposto industrial de automóveis.
Quando é que soube que queria ser agente?
Não havia empregos… posso dizer que como tinha acabado o curso industrial com 16 anos, optei pela carreira de policial. Fiquei classificado em 14.º lugar em cerca de 380 homens. Poderia ter evoluído mais, chegar a subcomissário, mas dediquei-me à família.
Sente-se feliz com essa escolha?
Sinto. Tive as medalhas todas de comportamento exemplar, assiduidade… todas as medalhas que são atribuídas aos polícias em geral e chefes.
Veio para os Açores e voltou a Coimbra. Como surgiu a oportunidade de voltar para cá de vez?
Quando vim para cá em 1979, tínhamos uma garantia do Comando Geral da Polícia, hoje Direção Nacional, que ao fim de um ano íamos para o nosso comando pretendido, no meu caso Coimbra. As coisas não decorreram assim… ao fim de 15 dias de cá estar já tinha uma namorada, a minha mulher Filomena. Mais tarde voltei a Coimbra, mas entretanto faleceu o pai do senhor padre Edmundo Pacheco [proprietário da atual moradia onde José e Filomena Cunha vivem], e nós optámos por residir aqui, eu gostava disto. Mais tarde fui promovido, tendo vindo para cá. Fiz a minha carreira na Ribeira Grande, cerca de 13 anos e estive mais 11 no aeroporto de Ponta Delgada, onde era supervisor. A minha filha Cláudia é a mais nova, nasceu e foi criada cá, já o Hugo e a Madalena em Coimbra. Mas todos os meus filhos estudaram cá.
Como é que se lembra da sua infância?
Muito boa. Íamos para a catequese… tivemos um rancho folclórico onde me divertia… eram outros tempos. Não havia computadores nem telemóveis. Até os meus netos não passam sem estar no ‘tablet’. Para mim as brincadeiras eram mais saudáveis. Fazíamos carrinhos de cortiça, os brinquedos eram mais primários. A juventude era muito diferente… Hoje em dia não há aquela amizade ou amor verdadeiros. E cada vez fica pior. Sempre respeitei muito o meu trabalho, mas a família tinha o seu lugar muito importante no dia-a-dia.
Quando é que surge o Arco-Íris?
Havia aqui os Armazéns do Chiado. O senhor Cipriano, pai do Padre Edmundo, encerrou portas em 1985. Reabrimos em março de 1988, já vamos fazer 31 anos. A minha esposa é que toma conta da loja. Já tivemos altos e baixos. Este negócio de retrosaria não é fácil, mas temos conseguido. Agora, aposentado, ela não precisaria de ter o negócio, mas está-lhe no sangue e ela não passa sem aquilo. A minha filha Cláudia também já está na empresa, apesar de termos uma funcionária e uma estagiária. Ultimamente a loja tem estado cheia, mas as vendas baixam no inverno.
Também tiveram que apostar no artesanato.
Sim. Condizia com a retrosaria.
O que é que faz agora? Que passatempos tem?
Tenho um quintal onde tenho uvas e outras miudezas. Também tomo conta de uma quinta onde costumo fazer churrascos e reunir os amigos. Ajudo na loja, vou a Ponta Delgada buscar encomendas, entre outras coisas.
E também gosta de cozinhar…
É verdade… gosto muito. A minha mãe teve cinco filhos, não havia raparigas. Sendo eu o mais velho fui puxado para aprender com ela. Lembro-me de um prato que ela fazia, a ‘chanfana’, que é carne de cabra velha assada no forno de lenha com vinho tinto. Ainda o faço. Tenho muito gosto pela culinária.
Não se arrepende da escolha que fez ao vir para cá?
Olhando para trás, não. Apesar de um problema de saúde que tive no passado mês de fevereiro, mas isso aconteceria em qualquer lado. Sou muito feliz com os meus netos… tenho um em Braga e dois no Canadá. Tive a grande felicidade de juntá-los cá todos.