“A VIDA NÃO SE CONSTRÓI DE BRAÇOS CRUZADOS”

Eduardo Vítor Rodrigues nasceu a 30 de março de 1971, no Porto, mas cresceu em Oliveira do Douro. Frequentou a Escola Primária do Outeiro, seguindo para a então Escola Preparatória de Gervide e, depois, para a Escola Secundária de Oliveira do Douro, ingressando, posteriormente, no curso de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), onde foi agraciado com o Prémio “Engenheiro António de Almeida”, por se ter licenciado com a classificação mais elevada.

Foi presidente do Conselho Fiscal e da Associação Portuguesa de Sociologia e cofundador da secção temática da “Pobreza, Exclusão Social e Políticas Sociais”. Para além de professor e investigador, Eduardo Vítor Rodrigues também integrou a Direção do Departamento de Sociologia da FLUP, encontrando-se com licença sem vencimento, para o exercício de funções públicas. Também, esteve envolvido em projetos nacionais e internacionais nos domínios da pobreza, desigualdades públicas e (des)emprego, sendo autor de diversas conferências, livros, artigos e outras publicações, nos domínios a que se dedica e membro de várias associações científicas, culturais e de ação social.

O sociólogo foi presidente da Junta de Freguesia de Oliveira do Douro, em regime de voluntariado, entre 2001 e 2009, e vereador sem pelouros da autarquia, entre 2009 e 2013, altura em que assumiu, pela primeira vez, a presidência da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, cargo que ocupa até hoje. Atualmente, preside, também a Área Metropolitana do Porto, sendo o primeiro edil gaiense a assumir esta função.    

O poder local foi uma das maiores conquistas da Revolução dos Cravos. Como vê a evolução desde então até agora?

Foi uma conquista e um instrumento único de desenvolvimento e de reforço das comunidades locais e da participação das pessoas. Num país onde não existem regiões político-administrativas, a distância ao poder central é atenuada pelo poder local e pela capacidade de organização local, sempre num propósito de reforço da democracia. É certo que as “autoridades” locais já existiam, mas faltava-lhes o elemento fundamental, a legitimidade eleitoral e democrática.

Desde o dia 25 de Abril de 1974 até à atualidade, quais foram os marcos mais importantes?

Cada conquista foi uma vitória. Há ainda muito a fazer no combate ao centralismo, mas o ordenamento jurídico de 1976, a participação do poder local na infraestruturação e no crescimento das cidades e freguesias, bem como a participação nos fundos comunitários e nos mais modernos desafios das cidades sustentáveis, entre outras, hão-de ser marcas indeléveis deste processo democrático.

O que o levou a enveredar pelo caminho da política local?

Acreditar que é possível fazer as coisas bem pelas pessoas, fazer crescer a nossa terra e resistir às dinâmicas atuais de degradação da democracia e do poder local, mas, sobretudo, de tentativa de degradação dos seus protagonistas, transformando muitas vezes a política num lodaçal.

De que forma é que acha que tem contribuído para o engrandecimento da democracia?

Fazendo o melhor que posso e sei, de forma correta e honesta.

Qual é que considera que vai ser o legado que vai deixar para as futuras gerações?

Aí está uma boa questão para as futuras gerações! Eu fico-me pelo trabalho, a única avaliação que me envolve é prestar contas e fazer sempre a leitura dos resultados eleitorais.

A seu ver, quais são as principais deficiências da democracia em Portugal? O que é que ainda pode ser feito?

Todos teremos, um destes dias, de fazer um debate aprofundado. Importa que isso se faça sem a inibição de ferirmos suscetibilidades, vivendo numa continuada paz podre, ou por medos de opinião, coisa comum num país dito de brandos costumes. Acho que temos de perguntar pelo papel da família, da escola, pela ação dos órgãos de informação, que se transformam, muitas vezes, em órgãos de comunicação-espetáculo, pela justiça às vezes parecendo ter uma venda de acrílico, pelo papel das novas formas de (des)comunicação, por tantos novos mecanismos de alienação, enfim, pelo balanço destes 50 anos de democracia. E, em vez de atirarmos as culpas aos outros, mais vale mesmo assumir que todos temos algo a fazer.

No seguimento dos últimos resultados eleitorais, como vê o futuro da democracia no nosso país?

As conquistas são muitas. Nestes 50 anos, o país avançou, modernizou-se, está mais moderno e mais justo. Mas, subsistem dificuldades que importa atalhar, sob pena de alimentarmos o discurso fácil, populista e radical. Acredito que as respostas às dificuldades da democracia estão na própria democracia.

Qual é a mensagem que gostaria de transmitir nos 50 anos da liberdade em Portugal?

Acreditar no nosso enorme potencial. O potencial de um país que evoca os 50 anos de Abril, a caminho dos 900 anos de independência. E lutar, porque a vida não se constrói de braços cruzados.