Num misto de surpresa e estufecção, o mundo viu-se confrontado para já com uma nova atitude das autoridades estado unidenses relativamente à geoestratégia parcial, se nos concentrarmos na situação actual da questão ucraniana.
Não podemos alhear-nos da posição dos Estados Unidos quando, em contra-posição, apoiou, monitorizou e alimentou, no mandato da administração Biden, o regime ucraniano na sua ascenção e vontade de pertencer à NATO e posteriormente à União Europeia, contrariando os avisos do presidente Putin que viu nessa atitude, a expansão para leste da referida organização militar, como um perigo para a Paz mundial, conducente até uma uma possível III Guerra Mundial, pois eram esquecidos os compromissos anteriores de que tal expansão não aconteceria sob nenhum pretexto.
Não podemos esquecer que os acordos para cessar o conflito não tiveram êxito, nomeadamente os de Minsk, a celebrar entre Rússia, Ucrânia, Alemanha e França, rejeitados pela presidência ucraniana, pois como afirmou posteriormente a chanceler alemâ Angela Merkel, foram apenas pretexto para dar tempo a armar a Ucrânia.
A decisão da administração Trump de suspender o financiamento da USAID, instituição com tentáculos globalmente disseminados para promoção e ajuda dos ideais hegemónicos estado unidenses, mergulhou centenas de meios de comunicação ditos «independentes» numa crise, expondo assim uma rede mundial de milhares de jornalistas, todos a trabalhar para promover os interesses dos Estados Unidos nos seus países de origem, ou seja, o pensamento único abanou.
No nosso rectângulo à beira mar plantado, o áudio visual entrou e continua a entrar, mas já em doses mais recatadas, pelas nossas casas dentro, para sermos convencidos das boas intenções belicistas ucranianas, nomeadamente pela voz de uma senhora especialista do Instituto Português de Relações Internacionais e de um Major-General Licenciado e Mestre
em Ciências Militares, aos quais se exigiria como comentadores ou analistas um certo distanciamento das suas simpatias pessoais pelo presidente ucraniano ou outro qualquer envolvido no conflito bélico em análise, simpatias essas manifestadas quando são inquiridos pelos jornalistas de serviço e contrariam desrespeitosamente as opiniões contrárias com sorrisos e trejeitos de escárnio ou impaciência.
Na recente 61ª Conferência de Segurança de Munique, assistiu-se ao aparecimento de um novo mundo multipolar em que, segundo alguns opinadores, já se pode mesmo préanunciar o fim da NATO, o fim dos actuais dirigentes da União Europeia e do seu servilismo atlantista aos Estados Unidos e o início de uma nova arquitetura de segurança na Europa.
Torna-se no mínimo caricato que tenha sido preciso um vice-presidente dos Estados Unidos, James David Vance, vir dizer que a ameaça à Europa não vem da Rússia nem da China, mas sim dela própria, pois a ameaça está dentro da Europa, afirmação esta que deixou os vassalos estupefatos e perplexos.
Além disso, Vance colocou em causa a democraticidade da União Europeia, mencionando o não reconhecimento dos resultados nas eleições presidenciais da Roménia, criticou a ausência de liberdade de expressão na UE, caso das medidas censóreas planeadas por Bruxelas e a sua ideologia identitária, mas também criticou os europeus que se mantiveram
calados diante da sabotagem do gasoduto Nord Stream, recusando-se a investigar e afirmando que agora já se pode ter esperança de um retorno a alguma sanidade nas relações internacionais, económicas e energéticas inclusive, pois o comboio já está em marcha.
A ver vamos, pois gostamos de pensar que somos ou vamos ser livres pensadores, no entanto, a revelação de que a USAID ainda financia uma rede de jornalistas em todo o mundo, moldando narrativas favoráveis aos interesses estado unidenses, deveria realçar o facto de estarmos a nadar num oceano de propaganda e a maioria de nós nem sequer se apercebe disso.
Os Estados Unidos continuarão, apesar de uma estratégia que se nos afigura ser mais apaziguadora, por exemplo, a gastar milhares de milhões para promover, embora com abordagem diferente, os seus interesses e enfrentar a China, a Rússia, Cuba, Venezuela e os seus outros inimigos, cabendo-nos portanto possuir capacidade para distinguir o trigo do joio.