A freguesia da Lomba da Maia é desde há muito ligada à agropecuária. É este setor que emprega grande parte da população da freguesia e é por ele que é conhecida na Região. No entanto, Alberto Ponte vê mais potencial no lugar que o viu nascer e quer apostar fortemente no turismo. Em conversa com o AUDIÊNCIA, o presidente da Junta de Freguesia da Lomba da Maia falou sobre as suas ambições e preocupações, mas também sobre os projetos do futuro da freguesia.
Em primeiro lugar pergunto como define a Lomba da Maia
A Lomba da Maia é uma freguesia muito bonita e apelativa, com bonitos trilhos. Temos a Praia da Viola e um dos melhores pores-do-sol nesta encosta porque se consegue avistar a ponta dos Mosteiros. Há aqui muitas pequenas empresas como oficinas, carpintarias e também empresas ligadas à pecuária. Somos a segunda maior bacia leiteira dos Açores e dentro em breve creio que seremos a primeira, muito graças à Cooperativa Agrícola da Costa Norte que está cá sediada na freguesia.
Aqui temos bastantes festas religiosas e culturais. Infelizmente, à semelhança de outras freguesias, os impérios do Espírito Santo estão um pouco mais fracos… mas cada rua ainda faz a sua festa à sua maneira, sendo uma das maiores da ilha no Burguete. Temos também as festas de Nossa Senhora do Rosário e não religiosas temos a Festa da Viola que se faz em junho. É uma festa direcionada à juventude, é um “mini festival”, digamos assim… temos ainda a Festa do Linho, sempre no último fim de semana de agosto, o que coincide com a altura da apanha do linho. Nessa festa mostramos a nossa gastronomia e aquilo que de melhor se faz na Lomba da Maia. Demonstramos também como se apanha o linho e depois fazemos uma espécie de exposição com as tecedeiras.
O linho era uma tradição da Lomba da Maia. Quando entrámos para aqui, essa parte já estava a ser recuperada. Antes de entrar [no primeiro mandato], já se fazia a Festa do Linho há alguns anos, ainda que não com estas dimensões ou características. Posteriormente começámos a fazer protocolos com a Universidade dos Açores para estudos do linho e neste momento já vendemos sementes de linho para fora. Não é nenhum “negócio da China”… mas quero com isto dizer que o linho está a ter uma boa saída. É cultivado todos os anos pelos funcionários da Junta.
Na Lomba da Maia temos diversas instituições que dão vida à freguesia: temos a Casa do Povo, a comissão da paróquia, temos grupos de jovens, a Associação Violas do Linho, a Cooperativa Agrícola Costa Norte e infelizmente neste momento o nosso grupo folclórico não está ativo. Temos também o grupo Movimento Vida e Esperança, que é um grupo de senhoras que trabalham o linho à quarta-feira. Fazemos o transporte das senhoras e elas reúnem-se para trabalhar o linho e fazer produtos de artesanato que são depois vendidos na loja da Junta de Freguesia, a 1936.
Esta é uma loja apenas de artesanato. Foi inaugurada em 1936 e mantém-se igual. Como temos muitas senhoras artesãs, não havia escoamento destes produtos. A ideia passa por aí: a loja fica onde começa o trilho da Viola, no centro da freguesia, e cada artesão vende a sua peça, põe em exposição lá na loja, é vendido pelo preço que o artesão propõe e o dinheiro fica para ele. Na parte de trás da loja há uma casa de chá que vende biscoitos e chá, e essa parte reverte a favor da igreja. A Junta de Freguesia não fica com nada, apenas gerimos o espaço e temos uma funcionária lá responsável pela loja.
É importante referir que todas as receitas, tanto da Festa da Viola como da Festa do Linho, são para ajudar a igreja paroquial. A Junta não tem nenhuma receita com isto… Ou para ajudar os impérios do Espírito Santo, ou para a festa de Nossa Senhora do Rosário… são para ajudar alguma instituição ou causa, dependendo de quem precisa na altura.
A Festa da Viola, também organizada pela Junta de Freguesia, é mais direcionada para os jovens… por outro lado, a Lomba da Maia é uma freguesia que está a ficar envelhecida…
Ainda temos muitos jovens, embora alguns saiam da freguesia. O que acontece na Lomba da Maia acontece em muitas freguesias: os jovens vão estudar fora, muitas vezes para o Continente. Muitos por lá ficam e para cá vem uma quantidade reduzida. Desses, se arranjam emprego em Ponta Delgada, por lá ficam.
Atualmente o que acontece é que quem não consegue alugar ou comprar casa nos grandes centros, como aqui temos a via rápida com bons acessos, muita gente começa a erradicar-se cá. Para lhe dar um exemplo, no Burguete, que é o primeiro lugar a quem sai da via rápida, se há alguma casa à venda, em pouco tempo está vendida porque é uma zona muito procurada. A via rápida veio dar outra dinâmica à freguesia.
Qual o resumo que faz deste último mandato?
Os dois mandatos correram bem. Este último também tem corrido bem, com algumas obras… para mim é sempre pouco, por mais que se faça. Sou assim por natureza. Os caminhos estão quase todos recuperados. Neste momento só há um caminho que não está asfaltado, que é o do Pico das Vacas. Já estamos em negociações com a Secretaria Regional da Agricultura e Florestas, e segundo as palavras do secretário João Ponte, entrará no orçamento do próximo ano.
As acessibilidades às explorações leiteiras são fundamentais. Tendo aqui a cooperativa agrícola, sediada no Burguete que acaba por ser o centro, tem de ter bons caminhos e acessibilidades para os lavradores. Para ter uma noção, nesta cooperativa estamos a receber entre 80 e 90 mil litros de leite por dia. Desde São Brás até à Achada do Nordeste, vêm cá deixar o leite.
Esta cooperativa é uma mais-valia na Lomba da Maia.
Sim, até para a criação de postos de trabalho.
O desemprego é um problema na Lomba da Maia?
A verdade é que o desemprego não atinge muita gente. Temos bastantes senhoras a trabalhar na Junta, mas homens temos poucos porque quase todos têm explorações e aqueles que não têm são funcionários nessas explorações. As pequenas empresas de construção civil, bate-chapas ou oficinas também têm dois-três funcionários. Tudo isto absorve o sexo masculino.
No sexo feminino, o maior problema está nas senhoras com menos escolaridade, mas mesmo assim não há muito desemprego. No PROSA de maio, havia seis senhoras inscritas no Centro de Emprego. Atualmente, com a pandemia, aumentou um pouco para 10-12 pessoas inscritas.
A Junta de Freguesia tenta dar emprego a essas pessoas ou ajudá-las a conseguir emprego. Algumas na Junta, outras na Santa Casa, na Casa do Povo… tentamos sempre que as instituições acolham os desempregados. Também reencaminhamos para conhecidos. Embora seja um posto de trabalho temporário, é melhor que não receberem.
A falta de acessibilidade à freguesia através de transportes públicos também influencia a vida da freguesia, dos habitantes e até dos turistas?
Esse é um dos grandes problemas na Lomba da Maia. Quando digo que não há muito problema de emprego e que as senhoras têm maior dificuldade em arranjar ocupação, é porque há muitas senhoras que são mulher-a-dias e teriam serviço em Ponta Delgada ou na Ribeira Grande, mas não vão porque os horários não coincidem. Para os turistas este também é um problema. Haver um autocarro de manhã e outro à noite é um problema. Não vejo que se possa resolver isto dentro em breve… os autocarros são grandes e vão praticamente vazios. Temos de ver os dois lados, e não vejo as empresas de autocarros a investir um balúrdio para transportar 10-12 pessoas.
Quanto a problemas sociais relacionados com a habitação. Chegam pedidos de apoio à Junta?
Chegam muitos. Tentamos resolver da melhor forma possível: se são pequenas obras a Junta resolve, se são de média dimensão reencaminhamos para a Câmara Municipal e se são de grande dimensão reencaminhamos para o Governo Regional. Desde que cá estou, tenho-me relacionado bem com qualquer um deles. O Governo tem feito as obras, ainda que não delegue as competências à Junta de Freguesia da Lomba da Maia, embora faça esta delegação com outras juntas de freguesia, como sabemos. O que me preocupa no assunto da habitação, são os casais ou até pessoas singulares que querem ter casa própria: os empregos não são estáveis e a banca pede uma grande quantia como entrada. Qual é o jovem que tem 20% para dar entrada numa casa? O arrendamento está muito caro devido ao turismo… Aqui também começa a ficar mais complicado. Este problema existe também na Lomba da Maia.
Há muita casa vazia na Lomba da Maia?
Não muitas. Não muitas porque há alojamentos locais. No Burguete, por exemplo, não há nenhuma. Tudo o que for junto à via rápida na zona nascente da ilha, está cheio.
Como encontrou a freguesia quando tomou posse no primeiro mandato?
A nível de infraestruturas e caminhos, a Lomba da Maia estava um pouco esquecida. Talvez porque o interior executivo não ligou à agricultura ou ao turismo. Por exemplo, não se apostava no turismo com a nossa Praia da Viola. Aliás, um dos nossos projetos é eletrificar aquela zona da freguesia, e já vamos para a terceira fase de execução. Quando comecei a fazer campanha, disse que íamos apostar no turismo na Viola. Ninguém dava crédito àquela praia pela difícil acessibilidade.
Também investimos no surf. Em 2017 candidatámo-nos ao “Big Wave Awards”, um concurso de ondas gigantes, ficando em primeiro lugar no país. Foi também o quinto melhor túnel do mundo. Consequência disse trouxemos cá um campeão mundial e outras grandes figuras do surf a nível mundial. Este ano queríamos continuar e fazer algo em grande, mas infelizmente a atual situação não ajudou.
Nos últimos três anos ganhámos dois Orçamentos Participativos camarários e um regional. A população tem sido muito participativa. Quando entrámos para aqui, a Junta era separada da população… foi a primeira coisa que tentámos implementar, a união com o povo. A Junta não está aqui apenas para fazer declarações ou atestados. A prova desta união é que ganhámos um OP regional, que são projetos votados pela população.
Que parte do vosso manifesto foi concluída? O que é que não vão conseguir cumprir?
Espero que nenhuma… a única obra que está atrasada é a Casa dos Amigos da Lomba da Maia. São três fases e estamos na segunda. Esperamos começar na terceira em outubro. A Casa dos Amigos da Lomba da Maia fica a cerca de 100 metros da escola primária, junto à ermida. É um edifício que tem como conceito principal auxiliar os idosos. Este era o conceito inicial, entretanto fomos ampliando a ideia para poder ajudar todas as pessoas. Por exemplo para dar dormida aos Romeiros, para dar dormida aos idosos que têm receio de estar sozinhos em casa e também funcionará como Centro de Dia.
Também queremos ampliar o conceito intergeracional. No ano passado ganhámos um Projeto Participativo regional e a ideia para o futuro é fazer um ATL ao lado. Temos um lá perto, mas queremos fazer um novo para os idosos e as crianças conviverem e partilharem experiências entre gerações. Este espaço também traz a possibilidade da criação de pelo menos quatro postos de emprego. Teremos também um serviço de tele-atendimento: cada idoso que precise terá em sua casa um aparelho para estar em comunicação connosco. Se durante a noite se sentir mal ou necessitar de ajuda, poderá ligar para nós porque haverá sempre alguém a dar esse tipo de apoio 24 horas por dia.
É uma obra de cerca de 350 mil euros investidos no edifício. Contámos com o apoio da Câmara Municipal da Ribeira Grande, com fundos da Junta de Freguesia e ainda com a Associação dos Amigos da Lomba da Maia, daí termos dado este nome à Casa. Esta associação é constituída por emigrantes da Lomba da Maia e tem sede em Toronto. Já contribuíram com cerca de 60 mil euros. Lá fora fazem uma festa anual e o valor reverte a favor desta Casa e desta causa. Da mesma forma, se algum dos emigrantes que cá vier e não tiver onde ficar durante algum tempo, daremos ali guarida. A história da Lomba da Maia é também dos que foram. Não só por aquilo que fizeram lá fora, mas também pelo espaço que deixaram aqui para outros progredirem.
Também temos a obra dos Moinhos da Lomba da Maia. Estamos a recuperá-los e penso que ficará pronto até ao final deste mandato. Esta obra não depende tanto da Junta de Freguesia no sentido em que, como a obra é em pedra e não há muita gente que trabalhe em pedra, temos de esperar para que os trabalhadores estejam disponíveis.
Esta obra consiste em cinco moinhos abandonados que eram de um privado, privado este que teve problemas judiciais com o antigo executivo. A Junta de Freguesia abonou-se dos moinhos para fazer as escadas de acesso à praia. Quando vim para a Junta de Freguesia, por acaso conhecia o dono e após alguma insistência, após o senhor ver que a nossa intenção era boa, conseguimos adquirir os moinhos, aliás, a Câmara Municipal adquiriu-os porque a Junta de Freguesia não tem capacidade para adquirir um imóvel daqueles. Foi a primeira fase e também a mais complicada…
A partir daí fizemos um projeto para o +2020, o qual foi aprovado, para recuperar um dos moinhos na totalidade, num investimento de 50 mil euros. Para outro concorremos a um Orçamento Participativo, para requalificar um dos moinhos e transformá-lo em bar de apoio à praia, num montante de 70 mil euros. Como ali há um trilho extenso, o objetivo é ter lá à venda produtos para servir quem faz o trilho e quem vai à praia, com produtos feitos cá na Lomba da Maia e também servirá de “posto de turismo” no sentido em que haverá apoio para dar a quem por ali passa.
No que toca aos outros três moinhos, à medida que formos tendo dinheiro, vamos avançando. São contas avolumadas e não dispomos do dinheiro que é necessário. Também construímos o polidesportivo na Lomba da Maia, que tem três fases. A primeira foi durante o primeiro mandato, na segunda fase construiu-se o parque de estacionamento e em setembro vamos começar o parque de merendas e lazer.
De resto está tudo em andamento ou já foi feito. A única coisa que se prometeu e que ainda não está feita é o aumento do cemitério da Lomba da Maia, mas vamos continuar a insistir junto do executivo da Câmara Municipal até ao final do mandato. Esta é a última promessa que falta cumprir deste executivo, o resto está a ser realizado ou em fase de conclusão.
Um dos principais desafios, transversal em todas as Juntas de Freguesia são os orçamentos reduzidos. Este é um problema também na Lomba da Maia?
Eu penso que este é um problema que tem de ser repensado. Em todas as freguesias, sejam citadinas ou rurais, o problema é o mesmo: orçamentos pequenos. Os problemas das pessoas vão sempre ter à Junta de Freguesia, depois para a Câmara Municipal e por fim para o Governo Regional. Quando o problema começa, a Junta não consegue dar resposta e há que haver forma de conseguirmos dar essa resposta aos problemas, porque muitos deles não chegam lá a cima. Vão-se diluindo pelo caminho.
Quantos funcionários tem a Junta de Freguesia da Lomba da Maia?
Temos 19. Todos através de programas, exceto um que é cedido pela Câmara Municipal da Ribeira Grande.
Outra dificuldade transversal em todas as juntas de freguesia é não poderem colocar pessoas no quadro, por muita boa vontade que haja. Aqui na Junta de Freguesia da Lomba da Maia acontece o mesmo?
Sim. Se acabarem os programas de emprego, não sei o que será das juntas de freguesia. Um presidente de junta não pode estar a tempo inteiro na junta porque precisa do seu emprego para viver; se não houvesse esses programas, não haveria ninguém e hoje em dias temos de estar abertos todos os dias. Hoje em dia muita gente vem às juntas de freguesia pedir documentos, por exemplo. No que toca à limpeza da freguesia, acontece o mesmo, e todos gostamos de ver a nossa freguesia limpa. Não se pode contratar ninguém. Quando acabarem estes programas de emprego… não sei.
Aqui na Lomba da Maia temos aqui um posto de atendimento agrícola, sediado na Junta de Freguesia. Antigamente, quando para aqui entrámos, havia uma senhora que prestava alguns serviços, mas os documentos tinham sempre de ir para Ponta Delgada, o que demorava mais tempo. Como sou ligado à pecuária (tenho uma exploração agrícola), comecei a pensar que nesta zona fazia muita falta haver um posto de atendimento agrícola. Comecei em conversações com o Secretário Regional da Agricultura e Florestas, mandei-lhe os números daquilo que fazíamos cá em cima, proporcionei-lhe um documento com os números exatos… para ter a noção, na segunda-feira passada [10 de agosto] fizemos 51 passaportes de vitelos. A única coisa que não fazemos aqui mas que temos a promessa do Secretário de passarmos a fazer, é tratar dos subsídios, de resto fazemos tudo: passaportes, guias de venda, guias de transporte… só de abates, no ano passado ultrapassámos os 10 mil neste posto. Temos tido uma boa colaboração com esta secretaria e tenho-me dado bem com o secretário João Ponte. Há quem veja dados e não queira ver, mas aquele senhor vê os dados. Tem colaborado connosco e estamos no bom caminho. Recentemente prometeu que as duas pessoas que trabalham no posto de atendimento agrícola ficarão efetivas em breve, o que nos agrada porque são postos de trabalho cujas funções são muito específicas e não podemos estar a dar formação de pouco a pouco, da mesma forma que não havendo ninguém qualificado suficientemente para o cargo, corre-se o risco do posto fechar.
O facto de ser agricultor também faz com que tenha esta boa relação com o secretário João Ponte?
Acredito que sim. Tenho quase a certeza que seja por aí. Sei do que falo e sinto os problemas [dos agricultores] na pele, sei explicá-los e isso ajuda. Provavelmente, como somos a segunda maior baía leiteira dos Açores, e também por sermos uma zona que participa e ganha nos concursos de vacas, como é exemplo da raça Holstein Frísia pela Associação Agrícola. Por outro lado, o maior posto de recolha nos Açores atualmente é a nossa cooperativa, e vai ser o primeiro posto nos Açores a ter três tipos de recolha de leite: biológico, “vacas felizes” e o comum.
O Secretário Regional da Agricultura e Florestas é sensível a todas estas questões, é uma pessoa empenhada, aplicada e vê “fora da caixa”. Para ter uma ideia, já o levei a caminhos que nunca nenhum governante foi. Ele vai ao terreno. Mas se me perguntar se há mais algum governante ou deputado que seja assim, respondo-lhe que não.
A Lomba da Maia também tem uma bandeira “eco-freguesia”.
A “eco-freguesia” foi mais uma grande conquista. Para mim as grandes conquistas podem não ser uma grande obra mas sim um grande feito. A Lomba da Maia nunca tinha ganho um prémio neste âmbito. Ouvi falar nisso e informei-me. Não estavam à espera que ganhássemos porque na altura éramos a segunda freguesia da costa norte com mais problemas de abandono de lixo. Desde 2014 até hoje, temos ganho a bandeira e o galardão “Freguesia Limpa”.
Ganhamos com muito esforço e com o apoio da população. É complicado mudar as mentalidades de um dia para o outro, mas agora as pessoas já separam os lixos. Foi uma das nossas grandes conquistas porque ninguém acreditava nisto. Por estar ligado à agricultura, contactei uma empresa que fazia a limpeza dos resíduos plásticos ligados à agricultura e também conseguimos fazer com que aumentassem os postos de recolha. Claro que ainda fazemos limpeza de algumas zonas onde as pessoas se descuidam um pouco, mas estamos aqui para resolver esses problemas.
O presidente da Junta de Freguesia da Lomba da Maia está incluído nas listas do PSD para as eleições legislativas regionais. Isto representa uma conquista para esta zona nascente da Ribeira Grande?
Do meu ponto de vista sim, é uma conquista. E como disse, por esta zona nascente, não por ser eu. Que eu me lembre, nenhum partido tem um candidato da Ribeirinha para cima. Isto quer dizer que o PSD começa a olhar para as pessoas pelas suas capacidades e não pela população que a freguesia representa. É uma conquista porque começaram a olhar para a zona nascente da ilha, começaram a olhar para as pessoas e não para números. Penso que a política perdeu-se e depois queixamo-nos de que as pessoas estão a abandonar a política. Se calhar porque a política apenas olha para números e não para as pessoas. Depois começamos a ver partidos mais pequenos a “injetar” opiniões nas consciências dos eleitores e nem sempre da melhor maneira. Ninguém olha para as pessoas e esses partidos com intenções menos boas até acabam por adquirir alguns votos porque os cidadãos se sentem acarinhadas por eles.
Ser presidente de junta é um trabalho fácil?
Quem menos ganha é quem mais trabalha. Não estou a defender os presidentes de junta apenas por também ser. Não estou aqui por dinheiro e duvido que algum presidente de junta seja presidente por dinheiro. Se os presidentes de junta fossem mais bem remunerados, haveria mais candidatos, mais capacidade e mais interesse político. Um deputado regional não precisa fazer muita coisa porque durante quatro anos não precisa provar nada… aqui na Junta nós precisamos de provar todos os dias que somos bons. Hoje se formos menos bons, alguém nos encara mal na rua amanhã. Mas um deputado regional que ganha aquilo que ganha, durante quatro anos nem precisa de passar pelos seus eleitores.
Quase todos os presidentes de junta são amigos das pessoas, vão tomar café com os eleitores… há alguma classe que faça isso? Esta gente [presidentes de junta de freguesia] tem de ser olhada de outra forma. Não estou a dizer isto para benefício próprio, até porque apenas posso ser eleito mais um mandato. Toda a gente quer ser deputado, mas presidente de junta ninguém quer. Para já as responsabilidades de um presidente são imensas, sem contar com responsabilidades jurídicas e tudo o mais. Um presidente de junta cai aqui de paraquedas e leva um ou dois anos a aprender.
Como é que é ser presidente da Junta de Freguesia da Lomba da Maia?
Tudo tem corrido bem. Sou uma pessoa que fala com toda a gente. Já passei por várias instituições e sou assim. Não é fazer política porque antes da política sempre fui assim. Qualquer pessoa fala comigo sobre qualquer problema e eu também tenho a frontalidade e o à vontade para tentar resolver sem ser necessário durante o atendimento na Junta. Às vezes basta uma pequena palavra para o resolver, ou para indicar como se pode resolvê-lo. Não sei ser de outra maneira. Se me disserem para fazer política de outra maneira, com distanciamento das pessoas, eu não a faço porque não a sei fazer dessa forma. Mais importante que inaugurar obras ou distribuir bandeiras, a minha maneira de ser autarca é diferente. É para as pessoas. Prefiro fazer menos uma obra e as pessoas estarem mais felizes.
Haverá candidatura para o próximo ano?
Tudo depende do que acontecer até lá. Se eu notar que as pessoas continuam comigo – e penso que estão -, há condições. Mas também depende do que estiver finalizado a nível dos projetos. Por onde quer que tenha passado, sou contra cargos nos quais as pessoas ficam muito tempo, e quando eu sentir que está na altura de dar a vez a alguém, que já não consigo dar mais, ou que aquilo que eu dou pode ser suficiente para as outras pessoas mas para mim já não porque não me sinto realizado ou porque as minhas ideias estão a acabar, eu saio sem problema. Sou contra estar-se muito tempo no mesmo sítio. Há sempre gente com ideias melhores, gente nova e projetos novos.
Se achar que tenho uma boa equipa, bons projetos e possibilidade de os concluir… mas não falta gente com capacidade nesta freguesia para levar este barco a bom porto. Quando me candidatei, a mensagem que passei foi “eu posso ser presidente de junta”. Qualquer pessoa pode ser presidente de junta. Quando se vê que são sempre as mesmas pessoas nas mesmas listas e nos mesmos cargos, a imagem que passa é que as restantes pessoas não podem ser presidente de junta, por exemplo. Eu passei a mensagem do “se eu posso, porque é que tu não podes ser?”
Vou contar uma pequena história que se passou durante a campanha em 2013. Passei numa rua e ao abordar um indivíduo com alguns problemas, ele disse-me que não ia votar porque o seu voto não contava nada, que não sabia ler nem escrever… Eu deixei passar os meus colegas e fui sozinho ter com ele. Perguntei-lhe por que não votava e ele diz que nem o cartão de cidadão tinha. Não tinha um documento válido nem nada. Eu disse que ele tinha que organizar isso e que se não soubesse, alguém o ia ajudar.
Perguntei-lhe porque não votava e ele responde que o voto é para ou doutores e para aqueles que têm escola. Eu respondi “o teu voto conta tanto como o de um doutor ou advogado. É a única vez na vida que vais ser igual a qualquer pessoa. Desta vez, não há doutor nenhum cujo voto valha mais que o teu. Deves votar e deves escolher quem tu quiseres.” No dia das eleições, vi-o ir votar e disse ao meu colega “já ganhámos isto”, porque naquele momento soube que tinha chegado às pessoas. No primeiro mandato ganhámos por dois votos e no segundo por 200, isto numa freguesia que antes ganhava por 200 contra o PSD. A proximidade com as pessoas faz diferença. Eu não duvido que haja gente com mais capacidade que eu, mas na política é preciso chegar às pessoas e falar com toda a gente.