“AMAR É A ÚNICA CERTEZA DE QUE A VIDA VALE A PENA”

Manuela Bulcão é natural de Feteira, na Horta, na Ilha do Faial, e é uma escritora e poetisa que está a viver um momento que nunca viveu na vida.

 

 

Manuela, os últimos meses têm sido de uma azáfama fora do comum. Eu sei que no campo pessoal viveu um momento muito marcante e queria que me falasse sobre ele.
Sem dúvida que a minha vida deu uma volta de 180º. Tenho dois filhos, mas o meu filho homem foi ordenado padre, precisamente no dia 9 de julho e eu acompanhei muito de perto esta sua decisão. Inicialmente, não apoiei, mas depois cheguei à conclusão que a felicidade do meu filho estava acima de qualquer coisa. Estive ao lado dele e tenho estado ao lado dele sempre, nesta sua caminhada, e creio que ele é um homem jovem, com ideias jovens e dará um bom padre.

 

Como é que uma poetisa descreve o sentimento que este momento proporcionou para uma mãe?
É uma tranquilidade inquieta. Inquieta porque ele tem quatro paróquias, é uma azáfama muito grande, é uma prova de fogo para ele, e é de inquietude nesse aspeto. Mas depois vem a tranquilidade, por ver a felicidade estampada no rosto dele. Posso dizer que, talvez, há uns 20 anos que eu não o via tão feliz.

 

Como é que a mãe poetisa consegue condensar num poema o sentimento que lhe vai na alma ao ver o seu filho padre?
Eu acredito em Deus. Só lhe digo a ele “faz o que o teu coração manda e seja o que Deus quiser”. Sinto uma felicidade enorme é lógico que sinto uma felicidade enorme, por ver que o meu filho está feliz. Sinto-me feliz.

 

A mãe poetisa deixou tudo para acompanhar o seu filho nesta caminhada.
Exato, neste momento dedico-me, essencialmente, aos meus dois filhos. Posso dizer que estou a viver num estado de graça por poder estar ao lado da minha filha e do meu filho e estou a viver um momento muito feliz, pois tenho muito tempo para escrever. Estou a viver um momento que nunca vivi na minha vida.

 

Então posso dizer que o seu automóvel já conhece o trajeto entre Vila do Conde e Vila Nova de Gaia.
Exatamente, já sabe, já está formatado. Não vou todos os dias a Vila Nova de Gaia, mas pelo menos de dois em dois dias, e depois volto para Vila do Conde. Estou-me a sentir muito bem neste meu papel de 100% mãe.

 

Quem acompanha a Manuela através das redes sociais às vezes depara-se com uns salpicos de ansiedade, de tristeza, de preocupação. Isso tem a ver com o quê, com o estado da alma quando esquece o que citou anteriormente?
Não, tem a ver com um momento menos bom de saúde que eu atravessei e que ainda estou a atravessar. Mas tenho fé, porque eu sou uma mulher de fé. Tudo isto vai ultrapassar, mas não tem sido muito bom, a nível de saúde. Contudo tenho a certeza que tudo isto passará.

 

Mas aqueles que a seguem têm de ficar preocupados?
Não, porque eu acho que sou eterna. Eu acho que, mesmo se eu partir, eles ficarão com uma boa lembrança minha. Mas não queria partir já.

 

“Ai madrugada pálida e sombria/ Em que deixei a terra de meus pais…/ E aquele adeus que a voz do mar trazia/ Dum lenço branco, a acenar no cais…”, o que lhe diz Natália Correia?
Diz-me saudade, porque eu sou uma melhor muito feliz, como afirmei anteriormente, exceto este meu problema de saúde, mas que não invalida que eu tenha grandes momentos de felicidade. É verdade que a nível de saúde atormenta-me um pouco.

 

“O meu veleiro – era de espuma fria -/ Levava-o o furor dos vendavais./ À passagem gritavam: onde vais?/ Mas só o meu veleiro respondia” (Natália Correia). Isto encaixa-se de alguma forma, neste momento, com o seu estado de alma?
Sim, porque eu vim aos Açores. Eu, enquanto pessoa, estou num momento feliz, mas sinto a falta da minha ilha.

 

É a poesia que a faz viver, para além dos filhos?
Sim.

 

O que é que quer da vida?
Ser feliz, sempre.

 

Continua à procura dessa felicidade ou já a abraçou?
Eu já encontrei essa felicidade, mas não a felicidade plena e eu acho que um dia se eu encontrar a felicidade deixo de ter motivo.

 

Mesmo que isso custe uma eternidade?
Mesmo que isso custe uma eternidade, continuarei sempre à procura. Serei uma eterna insatisfeita.

 

No que respeita a escrita, que projetos tem em mãos?
Tenho o livro de sobre cartas de amor, que em breve nascerá. Tenho outra obra que estou a escrever em parceria com uma escritora angolana, vai ser um livro escrito a duas mãos e será o preto no branco e o branco no preto. Para já tenho estes dois projetos.

 

Acabamos de atravessar, no continente, um período extremamente difícil com os fogos. Antes de eles acontecerem ouve uma poetisa, nascida no Faial e a viver em Vila Nova de Gaia, que ofertou a uma instituição de Vila Nova de Gaia, com muito impacto neste momento, algo de muito importante.
Sim, foi um conto de natal, aliás, o meu primeiro conto de natal, que se chama “O Natal de Noélia”, que foi editado há um ano, e escrevi com muito carinho e muito amor para os Bombeiros Voluntários de Valadares.

 

Diga-me o que lhe vai na alma.
Amar é a única certeza de que a vida vale a pena.