“APROXIMAR, CADA VEZ MAIS, AS DUAS MARGENS DO OCEANO ATLÂNTICO”

A Região Autónoma dos Açores marcou presença nas comemorações dos 270 anos do povoamento açoriano do Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, e 250 anos da fundação da cidade de Porto Alegre, como Porto dos Casais. José Andrade, diretor Regional das Comunidades, António Ventura, secretário Regional da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, e Carlos Ferreira, presidente da Câmara Municipal da Horta, foram algumas individualidades que visitaram, entre os passados dias 23 e 30 de março, o extremo-sul do país, com o intuito de estreitar, cada vez mais, as relações e reforçar as raízes açorianas.

 

 

 

A cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, é, de facto, a maior cidade do mundo fundada por açorianos. A sua criação remonta a 1752, ano em que um grupo de 60 casais foram enviados, pela coroa portuguesa, do arquipélago açoriano para o sul do Brasil. Inicialmente, para Santa Catarina, mas depois desceram para o Rio Grande do Sul, fixando-se em Porto Alegre, daí a sua designação inicial de Porto dos Casais. Esta capital conta, atualmente, com cerca de 1,5 milhões de habitantes e lidera um estado com 11 milhões de habitantes.

A comemoração dos 250 anos da fundação de Porto Alegre e 270 anos do povoamento do Estado do Rio Grande do Sul, por açorianos, contou com a presença e participação de uma comitiva da Região Autónoma dos Açores, composta, nomeadamente, por António Ventura, secretário Regional da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, em representação do presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, José Andrade, diretor Regional das Comunidades, Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Carlos Ferreira, presidente da Câmara Municipal da Horta, entre vários elementos do Parlamento açoriano, que esteve no sul do Brasil entre os passados dias 23 e 30 de março.

Segundo afirmou José Andrade, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, esta visita teve quatro propósitos históricos. Para além da participação nas comemorações oficiais dos 270 anos do povoamento açoriano do Estado do Rio Grande do Sul e 250 anos da fundação de Porto Alegre, a comitiva “lançou as celebrações dos 275 anos do povoamento açoriano do Estado de Santa Catarina e os 350 anos da fundação da sua capital, que é Florianópolis, que vão decorrer em 2023. Neste seguimento, o grupo de media ND, de Santa Catarina, no Brasil, lançou, com a nossa presença, um projeto de promoção dos Açores e da história dos antepassados açorianos, que será, ao longo deste ano, a maior campanha promocional dos Açores alguma vez realizada pelo Brasil. Também tivemos a oportunidade de assinar os 40 anos de geminação entre as cidades da Ribeira Grande e de Porto Alegre”.

Garantindo a ânsia de “recuperar, afirmar e potenciar um legado que nos orgulha”, o diretor Regional das Comunidades assegurou que “ficou, aqui, de parte a parte, a vontade comum de podermos trabalhar a partir dos dois lados, para haver uma aproximação, cada vez maior, entre a Região Autónoma dos Açores e o Estado do Rio Grande do Sul”.

Demonstrando o desejo de estreitar, cada vez mais, as relações, José Andrade reforçou, ainda, que “temos todas as razões para celebrar a açorianidade no sul do Brasil. Nós encontramos quer no Estado do Rio Grande do Sul, quer no Estado de Santa Catarina, importantíssimas comunidades descendentes dos Açores, que têm um orgulho imenso na sua identidade cultural açoriana e isso é uma circunstância que nos honra muito. Nós cada vez que lá vamos, exatamente por isso, saímos de lá de coração cheio, de alma preenchida, porque, de facto, são açorianos que se sentem açorianos como nós e isso, para nós é, além da questão emocional, um ativo estratégico que a Região não pode deixar de aproveitar”.

No dia 26 de março, data em que se celebraram os 250 anos da fundação de Porto Alegre, o perfeito da capital do Estado do Rio Grande do Sul, Sebastião Melo, anunciou a decisão de destinar “um espaço especialíssimo”, no segundo piso do Mercado Público da Cidade de Porto Alegre, aos produtos dos Açores, em ambiente gourmet.

Afiançando que “as sementes foram lançadas e vão começar a dar frutos brevemente”, o diretor Regional das Comunidades revelou que o Governo dos Açores patrocinou uma publicação elaborada pela Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul, que é uma cartilha infantil, que se destina a fazer pedagogia junto das crianças, adolescentes e jovens desta região, relativamente à identidade cultural açoriana. Estamos a falar de crianças que correspondem à 12ª geração dos primeiros açorianos que foram, há 270 anos, para o Rio Grande do Sul e, por via dessa publicação que nós agora patrocinamos e que já está a ser utilizada nas escolas do ensino básico, será possível chegarmos às futuras gerações e mantermos perene esta marca identitária da cultura açoriana, que já orgulha os mais velhos e deve chegar aos mais novos. Eu creio que estamos, aqui, no bom caminho. para podermos, como eu referi, cumprir o objetivo estratégico de aproximar, cada vez mais, as duas margens do oceano Atlântico”.

 

Ribeira Grande e Porto Alegre: cidades irmãs desde 1982

Durante esta visita histórica, a comitiva açoriana teve a oportunidade de assinalar as festividades dos 40 anos da geminação entre o município da Ribeira Grande e a cidade de Porto Alegre, um momento que foi agraciado pelo presidente a autarquia açoriana Alexandre Gaudêncio e pelo perfeito Sebastião Melo.

Neste contexto, o autarca ribeiragrandense explicou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, que foi “na comitiva para tentar reforçar e estreitar esta ligação que nós com Porto Alegre e que queremos que seja cada vez mais profícua”.

Salientando a hospitalidade e a forma amigável como foi recebido, Alexandre Gaudêncio sublinhou que “é muito curioso ver que há muitas tradições que continuam a persistir na cultura local de Porto Alegre, como as Cavalhadas de São Pedro, o Espírito Santo e o facto de diversas ruas terem muita afinidade com a nossa cultura local. Portanto, nós ficamos muito bem impressionados, pela forma como aquelas gentes vivem os Açores e, também, foi curioso perceber, que quase ninguém desta geração de Porto Alegre conhece os Açores e isto denota, por um lado, que há aqui uma oportunidade a explorar, porque estamos a falar de uma cidade que tem 1,5 milhões de pessoas, é a maior cidade do mundo fundada por açorianos e, agora, temos de tirar proveito e potenciar”.

O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande anunciou, ainda, que aproveitou a ocasião da celebração dos 250 anos da fundação de Porto Alegre por açorianos, para convidar o perfeito Sebastião Melo a visitar a Ribeira Grande e a participar nas comemorações do feriado municipal, que se assinala a 29 de junho, dia em que o concelho celebra o seu aniversário, para que se pudesse, efetivamente, levar as potencialidades da cidade brasileira para o município da costa norte da Ilha de São Miguel.

Para Alexandre Gaudêncio, “esta ligação pode trazer muitos frutos, desde que haja vontade de ambas as partes. Na vertente turística, foi muito curioso perceber que Porto Alegre está muito virada para as novas tecnologias e que, inclusivamente, há um grande trabalho feito pela prefeitura, que passa por atrair jovens talentos, ao nível do empreendedorismo, e isto é uma área que nós, também, queremos aproveitar. Por outro lado, ao nível do ensino, algumas das maiores e melhores universidades do Brasil ficam localizadas, precisamente, em Porto Alegre e há, aqui, uma ligação que nós queremos reportar, através de intercâmbios, o que pode ser muito bem aproveitado, por ambas as partes. Há, ainda, outra área, que tem a ver com o setor da saúde, porque Porto Alegre tem dos melhores hospitais do país, e do mundo até, e com esta ligação com a Ribeira Grande e com os Açores, também pode haver, aqui, algum intercâmbio nessa área”.

No seguimento desta passagem pelo sul do Brasil, a comitiva teve, ainda, a oportunidade de participar nas festividades dos 19 anos da Casa dos Açores do Rio Grande do Sul, que é presidida por Viviane Peixoto Hunter. Neste âmbito, a advogada sublinhou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, que “foi uma visita histórica à nossa sede e ao nosso Estado do Rio Grande do Sul, não pelo número de autoridades, mas pela sua grande representatividade. (…) Além disso, a presença da Ribeira Grande, neste momento, certamente será um marco de aproximação entre as cidades, no que toca ao intercâmbio económico, cultural e turístico. Queremos estreitar as relações e colocar em prática o protocolo existente entre as coirmãs. (…) Certamente, será um ano de fortalecimento dos elos de reconhecimento das nossas origens, através de projetos que gerem conhecimento, resgate e preservação da cultura açoriana no Estado. (…) É possível estabelecer elos de ligação entre a Região Autónoma dos Açores e a Casa dos Açores do Rio Grande do Sul, que tem o papel fundamental, também, de auxiliar e intermediar, sendo um canal de comunicação entre estas cidades irmãs, com o intuito de aproximar e aperfeiçoar estas ações propostas”.

Este momento simbólico e notável ficou, também, marcado pela assinatura do protocolo de intenções entre a Câmara Municipal da Horta e a cidade de Gravataí, que foi fundada por faialenses, para, num futuro próximo, formalizarem um acordo de geminação.