AS PEQUENAS VIRTUDES/NATALIA GINZBURG

Alguém me alerta para esta obra singular cujo ponto de partida é inquietante…o que é uma virtude, é importante um homem ser virtuoso ?! Associamos a virtude na arte ao (desculpem) virtuosismo, ao brilho, ao engenho, ao musical, ao bel canto…Mozart era um virtuoso nato, um génio de nascença alegre e risonho, o virtuosismo em Beethoven foi um virtuosismo de sofrimento conquistado com dor em silêncio à lei trágica de uma natureza austera que o privou do sentido mais necessário para a sua arte… Ainda está fresca na minha memória a primeira cena do nosso espetáculo Woyzeck (*) apresentado recentemente no Mosteiro de São Bento da Vitória, e o diálogo entre o Capitão e o soldado Woyzeck..

 

“Um pequeno grande livro, editado este ano pela  Companhia das Letras
Um livro de não ficção, uma joia da literatura italiana. Há tempos queria ler um dos livros da Natalia, e após a finalização deste livro, coloquei todos os seus livros na minha lista de livros desejados. A autora discorre sobre amizades, sobre os lugares que a marcaram, sobre filhos e amores. Este é um daqueles livros que valem a pena voltar de tempos em tempos e abri-lo ao caso. Assim se permitir degustar de um texto bonito e muito bem construído. O livro é divido em duas partes, na primeira temos artigos sobre lugares e sobre duas figuras importantes na sua vida, o poeta Cesare Pavese e Gabriele Baldini, seu segundo marido. A segunda parte traz ensaios atuais, lúcidos e muito bem construídos. São onze textos, escritos entre 1944 e 1962.


O último ensaio é o que dá nome ao livro é o meu preferido, embora todos sejam ótimos. Nele, Natalia reflete sobre valores, sobre o que ensinamos aos nossos filhos, o que realmente importa. Eu adoraria ter escrito um texto tão forte e ao mesmo tempo tão claro e bonito.”

“Costumamos dar uma importância ao rendimento escolar de nossos filhos que é totalmente infundada. E também isso não é senão respeito pela pequena virtude do sucesso. Deveria bastar-nos que não ficassem muito atrás dos outros, que não fossem reprovados nos exames; mas não nos contentamos com isso; deles queremos o sucesso, queremos que satisfaçam nosso orgulho…” https://www.maeliteratura.com/2021/01/resenha-as-pequenas-virtudes-natalia.html

Natalia Ginzburg (nascida Natalia Levi) (1916-1991) escritora e traductora italiana nasceu na capital da Sicilia, Palermo, ainda que sua família tenha mudado diversas vezes de cidade durante sua infância e adolescência. Com a ascensão do movimento de extrema-direita na Itália, a família engajou-se na luta antifascista. O pai, Giuseppe Levi, professor universitário, e seus três irmãos foram presos pelo totalitarismo de Mussolini e a ditadura fascista.  Pertenceu a um grupo intelectual da maior expressão da literatura e crítica italiana, do qual fazia parte Cesare Pavese, Italo Calvino, Elio Vittorini, Giulio Einaudi e Eugenio Montale. Seu primeiro marido, Leone Ginzburg, foi morto numa prisão romana em 1944.. Integrou o Partido Comunista, foi ativista política e deputada. Notas (*) 1º cena de Woyzeck de George Büchner, tradução de Orlando Neves.