BOAS NOTAS

Os pais têm um grande desejo de que os seus filhos tenham boas notas na escola. A partir de certa altura, esse objetivo relaciona-se diretamente com a qualidade do estudo que é realizado. Estudar bem, no entanto, não parece ser algo que nasça espontaneamente nos jovens; é uma tarefa que depende de algumas coisas mais ou menos importantes e de duas coisas fundamentais.

Ter um método de estudo ajuda, tal como ter um local apropriado, uma iluminação correcta, um ambiente sossegado, o material necessário… Porém, o estudo depende essencialmente de duas coisas: a capacidade de sofrimento e, associada a ela, a motivação.

Como estudar é quase sempre desagradável e difícil, muitos jovens só serão bons alunos se estiverem habituados a fazer coisas desagradáveis e difíceis. Portanto, a melhor forma de os pais ajudarem os seus filhos a serem bons alunos consiste em habituá-los desde muito cedo a fazerem tarefas desagradáveis e difíceis (repito propositadamente estes adjectivos…).

Numa família normal há muitas coisas dessas para fazer todos os dias.

Exercitar-se numa tarefa deste género faz crescer, dá alegria, desenvolve capacidades, aumenta a força de vontade (e, portanto, a liberdade), fomenta a união com as outras pessoas. Estas coisas custosas, constituindo uma base para a capacidade de estudar, são, portanto, ainda mais importantes para a formação da personalidade, do carácter, das virtudes pessoais. Nenhuma pessoa se constrói correctamente sem que faça muitas coisas que não lhe apetecem: sem o hábito de sofrer.

Poucos jovens habituados a facilidades e diversões constantes – jogos de computador, música, televisão, consola, vídeos, festas… – serão bons alunos. Não serão bons, de resto, em outros aspectos bem mais importantes para a sua felicidade. Os pais que deixam os filhos dependerem desse tipo de actividades estão a minar-lhes dramaticamente o caminho da vida e a felicidade.

Conheci uns pais que souberam arrepiar caminho a tempo: quando o filho, lá pelos 13 anos, começou a ter umas notas nada agradáveis e uma atitude de preguiça perante o estudo, não insistiram demasiado em que estudasse, não lhe arranjaram explicadores… O que fizeram foi o que já antes deviam ter feito: dar-lhe uma boa carga de tarefas em casa: fazer a sua cama diariamente, aspirar a casa e outras coisas que já não recordo e lhe ocupavam muito tempo. Uns meses depois as notas tinham melhorado substancialmente…

Um jovem lançar-se-á à difícil tarefa de estudar, se tiver, além de capacidade de sofrimento, motivação para isso. Motivação não significa que encontre gosto em estudar, mas que descubra motivos fortes para estudar: com gosto ou sem ele.

Mesmo não lhe apetecendo estudar, sentar-se-á diante dos livros com a consciência de que há coisas bem mais importantes do que o seu apetite. Saberá que há um preço a pagar por todo o belo objectivo, e estará disposto a pagá-lo com alegria.

Mas o objectivo tem mesmo de ser grande e belo. Verdadeiro e profundo. Do tamanho da alma humana.

Durante algum tempo podes enganar o teu filho: dizer-lhe que vá estudar porque isso é necessário para vir a ter, no futuro, um bom trabalho, um bom salário e, consequentemente, uma vida boa que permita divertimento, prazer e facilidades, uma excelente casa, férias estupendas…

Mas chegará o dia em que ele pergunte a si próprio para que há-de trocar, indo estudar, os divertimentos e os prazeres de agora pelos do futuro… que estão tão longe.

Não tens um motivo maior para lhe dar?