O equinócio da Primavera instalou-se entre nós e em todo o hemisfério norte no passado dia 20 de março, dando agora início a dias amenos, em que o sol começa a querer aquecer-nos corpo e alma, e as nossas magníficas praias de mar, ou mesmo de rio, são o mais comum destino dos gaienses. Mas Gaia tem muitos outros encantos que também nos orgulham e devemos privilegiar quando é nossa intenção gozar o tempo livre para lazer com amigos ou em família. São disso exemplo os parques verdes, espaços que nos permitem uma relação próxima com a natureza e nos remetem para as nossas memórias pessoais e coletivas.
Quantos de nós viveram nesses locais tempos inesquecíveis de convívio e brincadeira na infância, por entre risos e outras manifestações de alegria, no meio de várias espécies arbóreas seculares, algumas de tal porte que só os braços de uma família inteira conseguem abraçar. E quantos de nós não passam por lá há muito tempo? Diria até que alguns não o fazem há uma “eternidade”. Os dias primaveris que se avizinham são propícios a um regresso a esses locais, hoje mais cuidados, reabilitados e equipados com novas valências de apoio. E quem sabe se um dia não veremos por lá um grupo de teatro a surpreender-nos com um espetáculo? Sim, quem sabe se o futuro presidente da Câmara não pega um dia na ideia?!
Venham daí! (e aproveitem para refletir sobre as razões de mais uma crise política, que nos leva pela terceira vez, em três anos, às urnas, para escolher os nossos representantes na Assembleia da República, na esperança da criação de um equilíbrio de forças partidárias que permita a criação de uma maioria de deputados que garanta a estabilidade governativa!)
No Parque da Lavadeira, por exemplo, que foi recentemente ampliado, encontramos vários percursos pedestres, zonas de merendas, aparelhos para exercícios físicos, espaços destinados às crianças e jardins temáticos, um antigo lago romântico de grande dimensão e uma cafetaria. No Parque de São Caetano, em Vilar do Paraíso, beneficiamos de uma pista de karting e de vários espaços destinados a atividades ao ar livre, envolvidos por uma grande mata que em breve será reconvertida numa imensa mancha verde constituída por espécies autóctones, servida por uma rede de passadiços e por uma área de lazer e recreio. No parque da Quinta das Devesas, em Santa Marinha, nascido dos jardins envolventes do Solar do Conde das Devesas, e tornado espaço público no início da última década, podemos apreciar uma variedade enorme de camélias e um antigo e monumental tulipeiro. No Parque Botânico do Castelo, em Crestuma, que resultou da aquisição pelo município de uma velha quinta abandonada, estamos perante um belo espaço verde de feição botânica, com freixos, sobreiros, carvalhos autóctones e medronheiros, que nos serve uma paisagem deslumbrante. E no Parque Biológico, uma das joias da natureza do território gaiense, temos 35 hectares de diversos tipos de bosques, quintas, espigueiros e eiras, vizinhos do rio Febros, animais em liberdade e outros em cativeiro, para nosso usufruto pleno nos seus 3 quilómetros de percurso pedestre, outra alternativa às praias oceânicas e fluviais que tanto nos enchem de orgulho.
Podemos ainda aproveitar os próximos dias amenos para fazer como os turistas que nos visitam, sendo normal vê-los aos magotes entre o Mosteiro da Serra do Pilar e o Jardim do Morro, antes de mergulharem no coração da cidade velha. Muitos deles procuram ali, no miolo do Centro Histórico, conhecer as raízes da fundação da cidade, percorrendo as ruas e vielas velhinhas e convivendo com os homens e mulheres que dão alma ao lugar. Por sugestão destes, é quase obrigatória uma visita à Igreja de Santa Marinha, construída no século XV e restaurada em 1745, pelo arquiteto Nicolau Nasoni, onde sobressai um altar em talha dourada, com pinturas do século XVIII. Ainda por sugestão destes verdadeiros embaixadores do Centro Histórico, alguns dos turistas não perdem uma passagem pelo emblemático Convento Corpus Christi, de 1345, onde jazem Leonor de Alvim, esposa de Nuno Álvares Pereira, e sua avó, Maria Mendes Aboim, fundadora do monumento, que acolhe também a arca tumular de Álvaro Anes de Cernache, primeiro Senhor de Gaia. Deste modo, os turistas levam consigo ricos pedaços do nosso passado e também um derradeiro conselho: o uso do passadiço que nasce junto ao Cais de Gaia, que permite alcançar todas as praias de mar, a pé ou de bicicleta, em vez do automóvel que ficara de os levar a banhos.
E lá vão eles, à descoberta do desconhecido, não perdendo quase nunca um almoço de peixe grelhado na pitoresca zona piscatória da Afurada. De volta ao passadiço, junto à Reserva Natural do Estuário do Douro, onde se concentra um elevado número de diversas espécies de aves, poisam o olhar na beleza deslumbrante da foz do Douro, um santuário de fauna e vegetação. E lá continuam o caminho ao longo da marginal, até avistarem as nossas extensas praias, que os deixam tão enamorados delas quanto nós. Mas há uma que mais os encanta: a praia do Senhor da Pedra, onde foi construída, em 1686, sobre um rochedo junto ao mar, a mítica Capela que lhe dá o nome. Sigamos, pois, este exemplo, e nos quentes dias do próximo verão façamos como eles, em vez de procurar lá fora o que também cá temos: mergulhemos na nossa história e nas águas límpidas das nossas praias! E brindemos com um cálice de vinho do Porto, ao pôr do sol, a um amanhã renovado e luminoso, construído com políticas fortes e disruptivas nascidas das reflexões e debates da próxima campanha eleitoral autárquica que se avizinha, que mitiguem os erros do passado e desenhem um futuro radioso.