O CEmpA – Centro Empresarial dos Açores comemorou o 2º aniversário da abertura das instalações, que se situam na Ribeira Seca, no concelho da Ribeira Grande.
João Dâmaso Moniz é o principal responsável deste projeto, que tem como principal objetivo disponibilizar recursos e prestar serviços de apoio empresarial para que o cliente consiga gerir, de forma eficiente, a sua empresa.
O que levou um jovem engenheiro a apostar na criação de um Centro Empresarial?
Isto nasce, efetivamente, da identificação de uma necessidade do mercado. Eu reconheci, juntamente com outras pessoas e técnicos, ligados à arquitetura e à contabilidade, que o mercado necessitava de ter um espaço onde vários técnicos, isto é, várias pessoas de áreas distintas, pudessem congregar esforços e juntar-se. Obviamente que, aqui, a palavra de ordem teria de ser de “baixo custo”, ou seja, teria de ser um espaço onde houvesse partilha de recursos, de forma a diminuir os custos fixos deste aluguer, deste arrendamento. Portanto, foi assim que nasceu esta ideia. O conceito começou a ser composto, essencialmente, em 2013 e, em 2014 deu-se a constituição da empresa. Posteriormente concorremos a fundos comunitários e a 22 de agosto de 2015 abrimos aqui o nosso Centro Empresarial. O CEmpA foi inaugurado com seis gabinetes, mas atualmente devemos ter aqui entre 15 a 20 empresas, admito que não sei precisar o número. No entanto posso assegurar que a equipa do Centro Empresarial já esteve em contacto com mais de 30 empresas. Claro que algumas tiveram de sair, uma vez que o Centro já não dava resposta às suas necessidades e outras abandonaram-nos, infelizmente, por não terem sobrevivido à conjuntura, o que as levou a fechar. Contudo a realidade é que, apesar destas situações, que considero normais no mundo dos negócios, podemos dizer que o CEmpA é um projeto de sucesso, mais não seja, por estarmos completamente cheios. Posso dizer também que o futuro próximo, pelo menos, parece-me bastante risonho, no sentido de, as pessoas que estão connosco e que nos acompanham, estão satisfeitas e eu acredito que o projeto tem pernas para andar durante mais uns anos.
Falou em conjuntura, mas a conjuntura neste momento, pelo menos para quem vem de fora, é altamente favorável.
Sim, sem dúvida alguma, principalmente na área do turismo. Nós, aqui, também sentimos que incentivamos o investimento, que não vem só do continente português, mas também de locais da Região. Os interessados tendem a investir em infraestruturas e a investir em serviços ligados à área do turismo. Aliás, eu acredito que é o turismo que tem dinamizado os setores açorianos, porque basta contactar com o ramo da restauração, da hotelaria e da construção civil, para perceber que há, aqui, um conjunto de indicadores que estão, de certa forma, a dar um contributo importante para o desenvolvimento da economia local. As empresas que referi que não resistiram e que acabaram por nos deixar, são empresas que já tinham problemas crónicos, ou seja, eram empresas ou associações que já existiam, algumas das quais ligadas ao poder local. Outras abandonaram-nos porque, simplesmente, tiveram outras necessidades e saíram do concelho da Ribeira Grande para o concelho de Ponta Delgada. A realidade é que isto é, na minha opinião, o movimento normal da população empresarial, que acaba por se aproximar dos locais que têm mais rentabilidade e mais rendimento.
Falou de um conjunto de empresas e da junção de sinergias das empresas aqui sediadas para encararem o mercado açoriano, nomeadamente de São Miguel e da Ribeira Seca, onde fica situado, e para aí desenvolverem as suas potencialidades. Neste momento, quem gostaria de trazer para o CEmpA, no sentido de ajudarem nesta dinamização de esforços? Não há falta, neste Centro Empresarial, de uma empresa, ou várias, que se desenvolvam suficientemente bem dentro da área do estudo de apoios?
Sim, sem dúvida alguma. O Centro Empresarial tem um conjunto de parcerias já por esta razão. Mas, internamente, muitas vezes já não conseguimos dar resposta a um conjunto de necessidades. Por exemplo, nós não possuímos ninguém ligado à parte jurídica, mas temos parcerias com dois gabinetes, a MGRA e com a advogada Célia Leal, que nos dão algum apoio. No que respeita a parte dos espaços comunitários é importante, sem dúvida alguma, termos aqui uma empresa que esteja ligada aos quadros comunitários e à contabilidade, apesar de nós termos uma firma, que nos acompanha desde o início, que é a Ativalor, mas que, infelizmente, fruto do assumir de funções do gerente da empresa, esta acabou por abandonar um bocadinho ou completamente a parte dos sistemas de incentivo e do desenvolvimento dos projetos de investimento. No entanto, nós estamos atentos ao mercado e já temos um conjunto de contactos com outras empresas, caso exista a necessidade de estas se deslocarem às nossas instalações, com o intuito de se reunirem com os nossos clientes, tendo em vista a construção e a ascensão do negócio. Na minha opinião, ainda é importante referir aqui a nossa parceria com o Novo Banco dos Açores, uma vez que somos a única empresa que tem uma ligação com uma entidade bancária. Penso que esta parceria também é muito revelante para dar alguma robustez a projetos, que muitas vezes não têm capacidade de se desenvolverem.
A formação é também uma das áreas em que o CEmpA está vocacionado.
Sem dúvida, aliás, nós possuímos o CAE, Código de Atividades Económicas, de Formação, desde a nossa constituição. Este ano demos início a um conjunto de parcerias, inclusivamente, com empresas do continente português, com o objetivo de estas desenvolverem a sua formação no Centro Empresarial. Neste momento, estamos a certificar o CEmpA no âmbito formativo, em parceria com a empresa B-Training. Logo, prevemos que, em meados de outubro, este processo, que tem a duração de seis meses, já esteja concluído. Na minha opinião, este procedimento vai ter alguma importância, na medida em que, a Ribeira Grande só possui uma entidade com formação certificada, falo da Escola Profissional, e não existe mais nenhuma. Portanto, o Centro Empresarial poderá dar aqui um contributo, não concorrendo diretamente com aquilo que é a formação da Escola, uma vez que a nossa formação vai dirigir-se a pessoas que já têm alguma formação de base, ou a técnicos superiores de empresas, muito ligados á parte da engenharia, arquitetura e contabilidade, que são também as nossas áreas de atuação como Centro Empresarial.
Mas para tudo isso é preciso espaço. O CEmpA tem, neste momento, espaço suficiente para deitar a mão a essas iniciativas de formação?
Efetivamente nós já estamos a trabalhar nessa parte, tendo em vista efetuar uma ampliação das nossas instalações. O intuito é que a nossa sala, que normalmente é utilizada para coworking, passe a ser utilizada como uma sala de formação e que todo o espaço de coworking passe, posteriormente, para o piso superior.
Isto está a ser desenvolvido, juntamente com a nossa equipa de arquitetos, para que seja possível termos aqui um espaço que, de certa forma, seja a continuidade daquilo que já é o espaço atual e exatamente com a mesma linguagem, é este o nosso objetivo. No entanto, tenho a perfeita noção que não é essencial a existência de uma sala de formação nas nossas instalações, para que o Centro seja certificado ou tenha a necessidade de desenvolver certificações. Podemos procurar, e é isso que temos feito, parcerias com outras entidades, nomeadamente, com a Associação de Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande ou com a própria Associação Agrícola de São Miguel, que no fundo têm instalações belíssimas, com imensas salas, para que, por um determinado valor, nós possamos utilizar esses locais, que possuem condições perfeitas para o desenvolvimento de atividades formativas.
Houve também no passado, a assinatura de protocolos com o município da Ribeira Grande. Como está neste momento o relacionamento com o Município e, caso tenha conhecimento, qual é a aposta do mesmo relativamente a este tipo de iniciativa empresarial?
Em 2014, Alexandre Gaudêncio, atual presidente da Câmara da Ribeira Grande, mostrou-se disponível, aquando da constituição da empresa, para apoiar estas iniciativas empreendedoras e assinamos um protocolo, tendo em vista o apoio na cedência de um espaço empresarial ou empreendedor para ideias de negócio consideradas interessantes.
Outros Municípios, não têm adotado essa postura, uma vez são os próprios Municípios que adaptam um conjunto de espaços e que esses espaços são geridos pelas próprias Câmaras Municipais, é o caso, por exemplo, do Município de Ponta Delgada e do Município de Nordeste. Ou seja, há aqui um conjunto de Municípios que não têm apostado na iniciativa privada e que se têm sobreposto à mesma. Isto acaba por barrar um bocadinho na própria ideologia, mas a verdade é que as Câmaras Municipais que são apoiadas pelo mesmo partido têm visões diferentes sobre o mesmo assunto, por exemplo, a Ribeira Grande e a Ponta Delgada. A realidade é que só existem dois espaços de iniciativa privada nos Açores, o nosso CEmpA e um espaço em Ponta Delgada. A meu ver, o Governo Regional tem de ter a preocupação de apoiar estes espaços ou de dar condições para que estes espaços também possam acolher os empreendedores. Ainda recentemente, surgiu, por parte do Governo Regional, um diploma muito interessante, diga-se, em que o mesmo apoia em 10 mil euros os empreendedores que estão em espaços Municipais, numa chamada rede de incubadoras. Acontece que, os espaços privados, por sua vez, não têm a possibilidade de ingressar nesta rede de incubadoras. Ou seja, os nossos empresários e empreendedores acabam por ficar limitados ao acesso a este crédito de 10 mil euros, que é, a meu ver, um prémio bastante interessante para quem está a desenvolver a sua atividade, dado que, estes 10 mil euros seriam investidos em marketing, em apoio jurídico, em desenvolvimento de ideias, em propriedade intelectual, enfim, há aqui um conjunto de valências nas quais este dinheiro poderia ser incorporado. Obviamente que nós, acabamos por ficar excluídos deste apoio. Eu já tive a oportunidade de falar com algumas pessoas com responsabilidade na matéria, com o intuito de que estes espaços privados também fossem incorporados na rede de incubadoras. Assim, as pessoas que cá estão também seriam apoiadas. Falando na Ribeira Grande em particular, como já disse, Alexandre Gaudêncio fez um protocolo connosco, no qual está associado um conjunto de empresas que se encontram no CEmpA. Penso que, atualmente, estamos com 4 empresas que possuem protocolos ativos, que contemplam um apoio aos empreendedores, para o desenvolvimento da sua atividade.