CÉSAR GOMES DE PINA RECEBEU VISITA DE MARCELO REBELO DE SOUSA PELA DEDICAÇÃO E ENTREGA A UM “PORTUGUESÍSSIMO MOVIMENTO UNIVERSAL”

As Academias do Bacalhau foram fundadas há 50 anos, em Joanesburgo, em África do Sul, por um grupo de quatro amigos, com o objetivo de nesse país se comemorar, pela primeira vez, o dia 10 de Junho, Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, e de se desenvolver ações filantrópicas. César Gomes de Pina está a concluir um mandato de 15 anos como Presidente da Academia do Bacalhau do Porto e falou, em entrevista ao AUDIÊNCIA, sobre a visita que recebeu de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, sobre os seus anseios para a nova direção da Academia e sobre as ações de solidariedade realizadas em prol de pessoas e instituições mais carenciadas.

 

 

 

Dr. César Gomes de Pina, como encarou a visita que o Presidente da República lhe fez, em sua casa, no dia 23 de setembro: um ato de amizade para com o cidadão ou um reconhecimento pelo seu trabalho como Presidente da Academia do Bacalhau do Porto?

Para responder corretamente à sua pergunta, permita-me recordar a sequência de alguns acontecimentos bastante significativos e penso que tudo justificam. Quando escrevi a “I Edição do Livro de Prestígio”, na comemoração do 25º aniversário da Academia do Bacalhau do Porto, solicitei, pessoalmente, ao senhor Presidente da República, professor doutor Marcelo Rebelo de Sousa, uma mensagem para inserir na “I Edição do Livro de Prestígio”, juntamente com outras de ilustres individualidades governamentais, autárquicas, empresariais e culturais, que logo no dia seguinte me enviou. Anos volvidos, quando em outubro de 2019 realizei o 48º Congresso Mundial das Academias do Bacalhau que juntou, para além individualidades convidadas, mais de cinco centenas de associados de outras Academias dos “quatro cantos do mundo”, oriundos da Europa, América, África e Oceânia, que foram recebidos de coração aberto e com a distinta fidalguia e elegante hospitalidade da nossa “Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto” e das suas gentes. Neste seguimento, eu convidei o senhor Presidente da República, que conhece bem este movimento, para nos honrar com a sua presença no “Jantar de Gala”, que teve lugar no Palácio da Alfândega, no passado dia 19 de outubro, e o qual, oficialmente, encerrava este memorável Congresso, convite esse que, sem hesitação, aceitou. Porém, por motivos imprevistos no último momento, teve de cancelar a sua presença, enviando-me uma significativa mensagem. Neste contexto, o Governo Português, pela mão do ex-secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, doutor José Luís Carneiro, agraciou-me com a Medalha de Mérito – Grau Ouro, pelo testemunho e reconhecimento, o que emocionalmente agradeci e logo partilhei com a minha família, amigos, comadres e compadres de todas as Academias no mundo. Em contactos posteriores com a Casa Civil da Presidência, tive conhecimento de que o senhor Presidente da República manifestou vontade de um dia me vir visitar, pessoalmente, sabendo do meu fragilizado estado de saúde, o que não me impediu de continuar como Presidente da Academia, tendo inclusive realizado, com total empenho e determinação, o referido 48º Congresso Mundial das Academias do Bacalhau, e a verdade é que a tal visita aconteceu, no dia 23 de setembro, perto das 16 horas. Confesso que fiquei deveras comovido com tão surpreendente e significativo gesto de estima, afeto e consideração, que bem revela a sua personalidade profundamente humanista, assim como pelas encorajadoras palavras que gentilmente me dirigiu, as quais muito me animaram e me ajudarão no dia-a-dia da minha vida, tendo a certa altura afirmado: “este incansável Presidente César, para além de uma força de vida, como a sua filha orgulhosamente lhe chama, é também uma força da natureza e, para o ajudar, a fortalecer, tome lá o meu Fortimel”, oferecendo-me duas embalagens deste fortificante, que, obviamente, passei a tomar. Nós tivemos, pois, uma agradável conversa, de cerca de vinte minutos, e até falámos da nossa “tripeira” Academia, do Congresso Mundial, das ações de solidariedade que concretizámos e que eram do seu conhecimento, e ficou a promessa do seu regresso para me ver com renovadas forças físicas e anímicas. Sem dúvida que, com tão calorosa visita pessoal, o senhor Presidente da República honrou, igualmente, a nossa Academia do Bacalhau, bem como este portuguesíssimo movimento universal. Foi um momento que jamais esquecerei e que emocionalmente agradeci e o qual, pelo seu afetivo significado, ficará para sempre gravado bem no fundo do meu coração e será, igualmente, motivo de orgulho da minha família e amigos. Considero pois que, para além de tudo, foi um gesto de amizade para comigo e um reconhecimento quer pelo dedicado trabalho em prol da Academia do Bacalhau do Porto, quer, igualmente, de uma forma generalizada, em prol deste movimento universal que ele bem conhece.

 

Perante tão importante e inédita atenção e tendo também em consideração de que é por todos os compadres visto como âncora desta sua Academia, não equaciona a hipótese de se recandidatar a um novo mandato?

Obviamente que não me recandidatarei, decisão esta que já há muito tinha tomado. Permita-me acrescentar que há quatro anos, logo após a minha cirurgia no IPO do Porto, pensei em demitir-me de Presidente e convocar eleições para uma nova liderança. No entanto, não o fiz e pela simples razão de, por unanimidade, terem solicitado a minha continuidade na presidência, com a preciosa ajuda de quem há tantos anos me acompanha, apesar de debilitado devido às sequelas resultantes da cirurgia e da radioterapia. E reconheço que, em boa hora, tomei tal decisão, porque consegui escrever e publicar a “II Edição do Livro de Prestígio”, agora retificada, com cerca de 500 páginas e dezenas de ilustrações, que foi distribuída nas 60 Academias, que estão espalhadas um pouco pela diáspora portuguesa, bem como em algumas Embaixadas e Corpos Consulares e por muitas “comadres e compadres” deste portuguesíssimo movimento universal, o que também constituiu uma significativa fonte de receita para a Academia. Por outro lado, consegui tornar real um sonho, “daqueles que se agarram à pele e acabam por tomar conta de nós”, que há muitos anos, obcecadamente, perseguia com determinação e que passou por trazer um Congresso Mundial para a nossa “antiga, Mui Nobre, Leal e Invicta Cidade do Porto”. Reconhecido como um memorável Congresso, que foi por unanimidade batizado de “Congresso Força de Vida”, que se saldou num indiscutível sucesso e cuja receita permitiu à Academia concretizar, face a esta dramática pandemia, uma inédita “Operação de Solidariedade”, que contemplou Instituições Sociais carenciadas, nomeadamente Lares de Crianças e da Terceira Idade, num valor total de 32500 euros. E, assim, vou concluir o meu mandato de 15 anos, que foi de total dedicação, entrega e direi mesmo de verdadeira paixão a uma causa e à nossa “mui briosa” Academia, pelo que, orgulhosamente, posso afirmar: “missão cumprida”. Embora, graças a Deus e ainda bem, tenha consciência de, como qualquer outro mortal, não ter agradado simultaneamente a «gregos e troianos», mas considerando a minha presidência, como uma das mais honrosas e prestigiantes missões da minha vida.

 

Sempre e desde que foi considerado como tal, assinou as Convocatórias e Convites da Academia do Bacalhau do Porto como “Presidente Honorário”. Está no seu pensamento continuar a exercer estas funções, continuando o Dr. César Gomes de Pina como o grande aglutinador e alma deste projeto da Academia do Bacalhau do Porto, independentemente da Direção que for eleita para o papel de suporte à sua atividade?

Na sequência da resposta anterior e da minha inabalável decisão, vou enviar uma Convocatória para eleições, a realizar no dia 27 do corrente mês, a fim de, democraticamente, serem eleitos os novos Órgãos Sociais, como determinado pelas normas que, universalmente, nos regem. Confio plenamente na Direção que for eleita, cujo novo “piloto e tripulação” deste nosso “barco rabelo”, saberá navegar, mesmo nas águas infestadas de perigosos vírus, com a mesma, senão ainda maior, dedicação e empenho, continuando num bom e seguro rumo, não permitindo que o mesmo possa um dia naufragar, como já, infelizmente, aconteceu noutras Academias do Bacalhau. Quanto a mim que, desde dezembro de 2011, acumulo, simultaneamente, como acontece noutras Academias, o cargo de Presidente da Direção e de Presidente Honorário, eleito por unanimidade e aclamação. Continuarei, assim Deus me ajude, a estar presente, quer nos eventos da Academia do Porto, como compadre fundador e Presidente Honorário, quer nos eventos de outras Academias no nosso ou noutros países, como sempre fiz ao longo de 30 anos, não deixando de dar a minha melhor colaboração à nova Direção, somente e se para tal for solicitado. E quero deixar muito claro que, a partir do final do corrente ano, em mais nada desejo interferir, mantendo-me nessa honrosa função como “guardião” dos nossos dignos valores e princípios que são a principal razão de ser deste portuguesíssimo movimento universal: “Amizade, Solidariedade e Portugalidade”. Permitam-me terminar expressando, uma vez mais, a minha justa gratidão e sincera amizade a todos aqueles que, durante 15 anos, motivados e desinteressadamente, me acompanharam nesta longa maratona e generosamente tanto me ajudaram nas horas mais difíceis e incertas da minha vida, amigos esses que jamais esquecerei e que para sempre guardarei no meu coração.

E foi mercê deste trabalho coletivo, que consegui que a nossa “tripeira” e “mui briosa” Academia do Bacalhau do Porto fosse hoje reconhecida como sendo exemplar no país e cimeira entre as suas congéneres espalhadas um pouco por todo o mundo. É, pois, este legado, que orgulhosamente deixo à nova Direção, que tem o meu incondicional apoio e à qual desejo muitas e muitas felicidades e sucesso. Bem hajam e até sempre, meus queridos amigos comadres e compadres. Iniciei o meu mandato de Presidente da Academia do Porto ao longo de 15 anos com o AUDIÊNCIA, que me honrou com dezenas de entrevistas, tendo assim contribuído de uma forma significativa e importante na divulgação desta Academia no país e na diáspora portuguesa e é com este prestigiado Jornal que “dá voz a quem não a tem”, que o terminarei com um abraço de estima e sincera gratidão.