Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, o presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, falou sobre as conquistas alcançadas para o concelho que o viu nascer, ao longo de mais de 11 anos de liderança. Assumindo que foi a vontade de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população que o levou a ingressar no mundo da política, o edil revelou as suas motivações, não escondendo que a sua prioridade sempre foi as pessoas. A poucos meses do fim do seu último mandato, o autarca sublinhou os inúmeros projetos materiais e, sobretudo, imateriais que foram desenvolvidos, em prol dos gaienses e que marcaram o seu ciclo autárquico. Evocando a liderança do Conselho Metropolitano do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues reforçou o trabalho executado, nomeadamente, na área dos transportes, enaltecendo a importância da união dos 17 concelhos que compõem esta área metropolitana, reforçando que “só unidos é que isto faz sentido”.
Como descreve o cidadão Eduardo Vítor Rodrigues?
Sou uma pessoa normal. Ao fim deste tempo todo não adquiri os vícios de um vedetismo bacoco. Sou apaixonado pelo concelho e tento fazer sempre, todos os dias, o melhor que posso e sei, tentando ser o melhor cidadão possível.
Quais são as suas maiores inspirações e motivações?
Depende, porque se estivermos a falar sobre a política, é uma coisa, mas, apesar de tudo, esta dupla vida, política e academia, nem sempre é conciliável e há pessoas que estão na academia e não são da política e que estão na política e não são da academia, porém, eu acho que posso dizer que, numa componente política, eu acredito que há gente como o António Guterres, que são absolutamente marcantes, num panorama nacional e internacional. Também, posso evocar Nelson Mandela, porque acho que é uma vida absolutamente extraordinária. Mas, depois, as referências de vida começam por ser as próprias pessoas que nos marcam desde pequeno, a começar no meu pai e a acabar no núcleo de amigos que ainda hoje se mantém. Não mudei muito de amigos nos últimos 40 anos.
O que o levou a ingressar no mundo da política?
A vontade de contribuir para um projeto, que fosse mobilizador das pessoas, que valorizasse o concelho, que unisse as pessoas e acho que basicamente isso. Não foi um percurso pessoal, profissional, de político de carreira, foi sobretudo uma oportunidade de servir, as pessoas confiaram e o balanço, as pessoas vão fazê-lo com certeza no seu tempo.
A poucos meses do fim deste que é o seu último mandato, qual é o balanço que faz até aqui?
É bom que a gente não esqueça que é um balanço que tem em conta uns três anos iniciais que foram basicamente anos de uma precariedade financeira brutal na Câmara. Quando as coisas começaram a ficar endireitadas, que era ao nível da Câmara, quer ao nível das empresas municipais, também não esquecemos que tivemos quase dois anos de Covid e foi uma resposta que não estava nos livros, ou seja, foi um trabalho que tivemos de fazer, que eu diria que foi quase um trabalho do quotidiano, enquanto as pessoas estavam confinadas, havia um grupo de outras que tinham de descobrir como fazer e isso levou a que tivéssemos atividades absolutamente extraordinárias, que eu acho que ajudaram a salvar vidas. Mas, também que tivéssemos atividades que hoje nos fazem sorrir um bocadinho, como andar a lavar as paragens dos autocarros com água e lixívia, com os bombeiros, coisas que na altura pareciam absolutamente fundamentais e que hoje nos fazem sorrir, mas na verdade foi um tempo muito intenso e muito importante. Portanto, se tivermos em conta este contexto, eu diria que tive metade do ciclo autárquico para o exercício propriamente dito da política e sinto-me muito feliz e satisfeito com os resultados obtidos. Nunca estarei satisfeito com os objetivos, na totalidade, para já porque acho sempre que é possível fazer mais e depois por estas circunstâncias, quer dizer, quando me candidatei não pensei que me iria deparar com uma pandemia, por exemplo, coisa que não tínhamos há 100 anos, mas acho que a obra está à vista e, sobretudo, contenta-me que não seja só obra de betão, mas também algum trabalho do ponto de vista social, da educação, que esse sim é que muda o mundo e que eu acho que, em Vila Nova de Gaia, tem sido muito proveitoso.
Quando chegou encontrou um município extremamente endividado, mas ao longo de quase 12 anos, conseguiu não só passar as contas para o verde, como alcançar valores históricos do orçamento municipal. A seu ver, qual é o segredo da sua boa gestão, uma vez que falamos de finanças saudáveis e, simultaneamente, obra feita e apoios a projetos e instituições concedidos. Qual é o segredo desta gestão?
Não há propriamente um segredo. O que há é um conjunto de opções, quer dizer, apesar de tudo, não esqueço que tivemos um crescimento contínuo, mas isto também já tinha acontecido no passado, tem havido um crescimento contínuo, nos últimos 20 anos, dos orçamentos municipais. O tema aqui é saber se nós temos que pegar nos recursos e estourá-los como nos dá na inspiração no início do dia, ou se temos de ter um trabalho planeado e em que a bitola tem que ser a bitola da sustentabilidade e de um conjunto de recursos que têm de ser postos ao serviço direto das pessoas, ou por políticas sociais, municipais, nas escolas ou na ação social em geral, temos coisas que ainda hoje são únicas no país, e essa é que é uma verdade. Ou então, para além das políticas sociais, na própria ida ao bolso dos cidadãos, porque a verdade é que nunca, antes de nós termos assumido a Câmara, tivemos nenhuma redução de IMI ou nenhuma redução da participação municipal no IRS e, apesar de tudo, comigo isso aconteceu e isso está à vista. Portanto, eu acho que a sustentabilidade não é só para apresentar boas contas, é também para sermos um pouco mais ciosos dos impostos que se aplicam. Agora, há coisas que são inultrapassáveis, é evidente. Hoje, o nível de exigência das pessoas sobre isto é também completamente diferente. As pessoas, felizmente, hoje, já não valorizam aquele armanço tradicional do vedetismo bacoco de um presidente de Câmara que se evidencia pelas vulgaridades que faz, independentemente de quanto é que isso custa. Hoje as pessoas são mais exigentes, ainda bem, estamos num novo tempo, também houve uma nova geração de autarcas e eu espero que assim continue, que as pessoas sejam cada vez mais exigentes e cada vez mais participativas.
Ao longo do seu percurso muito foi feito, mas quais diria que foram as maiores conquistas materiais e imateriais que alcançou para o município?
Neste momento, porque às vezes aquilo que nós valorizamos também depende um bocadinho dos momentos em concreto, eu destacaria a resiliência que temos tido para aguentar tudo isto, para aguentar uma gestão que, durante três anos, foi basicamente uma gestão de pagamentos de processos judiciais que vinham do passado, de resistência às cartas anónimas, aos processos que foram sendo abertos e que acabaram todos arquivados, mas que enquanto estão abertos servem para chicotear as pessoas e para denegrir as pessoas e, como eu tenho dito, isto toca a todos, veja-se o primeiro-ministro, mas, sobretudo, isto afugenta cada vez mais as pessoas. E eu acho que essa resistência é importante, numa altura em que se está a assistir ao julgamento da Operação Babel e, no fundo, está-se a assistir ao desfazer de todo um conjunto de acusações que pendiam sobre alguém que estava há 22 meses na cadeia, por coisas que pelos visto não fez, mas pelas quais ficará marcado para toda a vida. Essa resistência é importante porque, como cada vez menos vai haver pessoas resistentes. Neste momento, o balanço que eu faço é ter conseguido chegar até aqui, depois de toda a perseguição e de todo este frenesim, que basicamente só existe em Gaia, quer dizer, você vai a sítios decentes, onde a oposição é decente e não existem plataformas do maldizer, nem existem vereadores ressabiados, que hão de estar com um pé na cova e continuam a dizer disparates e a tentar vir para aqui, retomar um poder que acham que é deles, pelo sangue ou pelo nascimento. Isso, eu acho que, neste momento, é aquilo que mais me orgulha, é resistir todos os dias e resistir contra ventos e marés e contra coisas absurdas, que não deveriam fazer parte da política. Agora, é evidente que se pensarmos nos programas imateriais, dez anos do Gaia Aprende+ diz muita coisa, já estamos a falar de dezenas de milhares e não de milhares, de crianças que passaram pelo programa, estamos a falar de um modelo que ainda hoje é o único no país, mas tenho de me lembrar do hospital, porque quando eu tomei posse discutia-se o encerramento das urgências polivalentes e, hoje, o Hospital de Gaia é um hospital de referência, mas depois também o investimento na mobilidade, pois nunca se fez tanta obra de metro como neste ciclo autárquico. Nunca tivemos um pacote financeiro ao nível do Portugal 2030, como temos neste momento até 2028, que é um legado que já agora também fica. Os cofres vão ficar cheios, as pessoas estão motivadas, a Câmara tem novas competências na área das escolas e da ação social que estão a ser exercitadas sem stresses. Os equipamentos desportivos e culturais do concelho estão à vista, por isso não há propriamente uma hierarquia de coisas importantes, porque cada coisa, no seu momento, é importante. Para mim, foi muito importante o lançamento do cercado para os linces no Parque Biológico, ou o Auditório do Parque Biológico, como é o Multiusos. Claro que, depois, na hierarquia do dia a dia das pessoas, o hospital é o hospital, e não há tradição sequer, nem havia tradição em Gaia, nem no país, de ser a Câmara a cofinanciar significativamente as obras. Normalmente a Câmara evoca este tipo de serviços, que são do Governo. Aqui não, aqui nós pagamos, como pagamos as esquadras da PSP, como estamos a pagar as obras do quartel da GNR, por aí fora, quer dizer, no fundo, estas parcerias o que significam é a Câmara a pôr dinheiro e acho que, no fim, prefiro isso, e ter as coisas a funcionar como têm funcionado, do que vaidades e aparências.
O que ficará, ainda, por concretizar?
Tanta coisa. Então, para já, ainda ficará por acabar o muito que está em curso, a começar na Linha Rubi e na ponte, que está neste momento em obra, e que evidentemente não ficará pronta até ao final do mandato. O próprio hospital tem num faseamento de obra, enfim, teremos agora julgo que o heliporto pronto e mais um serviço de internamento, mas o projeto integrado de reabilitação do hospital ainda não terminou e vai exigir até da parte do município um empenho. Temos unidades de cuidados continuados a arrancar, que não vão ficar prontas este mandato, isso não interessa, o que interessa é que ficam lançados os desígnios e ficam lançados os grandes desafios. Também, há coisas que não são intencionalmente fechadas, por intenção própria, dou-lhe o exemplo do processo de revisão do PDM, porque ele foi interrompido pela Covid e isso fez com que ele se arrastasse até o ano das eleições e eu acho sinceramente que seria muito esquisito que se fechasse um PDM a meses de eleições. Portanto, acho que tem de ficar um trabalho feito, mas de maneira que, depois, haja ainda margem para uma discussão de um novo ciclo autárquico. Acho que é assim que tem de ser. O concelho tinha uma história que tinha sido construída ao longo de anos, que era “depois de mim, o dilúvio”, dizia-se. E a verdade é que, depois do ciclo autárquico anterior, veio um ciclo autárquico que eu liderei, em que ganhei todas as Juntas, todas as mesas de voto, a maioria que nunca a Câmara teve, fizemos obras como nunca a Câmara fez e não tive que andar a fazer aqueles espalhafatos tradicionais de quem se quer exibir e chego ao fim com, pelo menos, a minha consciência tranquila e a certeza de que fiz tudo o que podia. Sobre isso não há dúvidas. Nem sempre é tudo o que a gente quer, mas é, seguramente, tudo o que a gente pode.
Portanto, foram seguramente 12 anos a pensar nas pessoas.
Sim, a pensar nas pessoas, no concelho, na melhoria da qualidade de vida, aliás, na Covid foi mesmo a pensar nas pessoas, no seu sentido absoluto, mas também a pensar nas instituições do concelho, quando tivemos que lidar com os fundos comunitários, a pensar em equipamentos, em que nós nem sequer tínhamos tradição, como por exemplo as Unidades de Cuidados Continuados e Convalescenças. Nós somos o concelho do país que tem o maior volume de investimento do PRR em equipamentos sociais, por isso, sim, a pensar nas pessoas, porque eu acho que isto tudo só faz sentido se for para termos melhores escolas, melhores centros de saúde, melhor hospital, isso é o que faz sentido.
Em 2017, foi o primeiro autarca gaiense a ser eleito presidente do Conselho Metropolitano do Porto, cargo que desempenha atualmente. No desempenho das suas funções foram diversas as conquistas alcançadas, nomeadamente ao nível dos transportes, com a criação da Rede UNIR e do passe único. É importante que os 17 concelhos que constituem a Área Metropolitana do Porto estejam cada vez mais unidos?
Sim, o facto de eu ter sido o primeiro autarca, isso vale por lado simbólico, mais nada do que isso. Apesar de tudo, teve consequências. Eu acho que a participação do município na Área Metropolitana do Porto teve, por exemplo, como consequências que nós tivemos um papel distintivo na negociação dos fundos comunitários, que nos trouxe o maior pacote financeiro de sempre. Acho que tivemos um papel importante na negociação da rede de metro, que não foi propriamente uma dádiva, foi uma luta, foi uma conquista, num quadro em que outros municípios estavam a jogo para esse objetivo e eu diria que, desse lado, o trabalho foi conseguido. Depois houve um conjunto de novos desígnios que foram trazidos às áreas metropolitanas, como a videovigilância florestal, a gestão da proteção civil, alguns aspetos da educação, o apoio às comunidades desfavorecidas e, depois, claro, os transportes. Nos transportes, o desígnio foi fortalecer a rede de transporte público semipesado, nomeadamente o metro ligeiro, fortalecer o transporte público que era um problema muito sério e que não ficou resolvido com a UNIR, acho que foi um contributo, mas tem que ser um contributo aprofundado, não se resolve um problema destes de um dia para o outro e, sobretudo, quando ainda por cima há tantos anticorpos e tantas dificuldades, tantos pneus rebentados, tantos autocarros grafitados, o que mostra que, se calhar, a operação correria melhor se todos estivessem a rumar para o mesmo lado. Mas, acho que foi uma conquista importante e continuará a ser, mas para chegarmos a isso foi preciso, previamente, termos conquistado o passe único, que nos custa um milhão e tal de euros por ano para ser financiado, para que, ao fim de seis anos de implementação, as pessoas nunca tenham pagado um cêntimo a mais do que aquilo que foi o preço inicial. É das poucas coisas que nunca aumentou, porque os municípios suportam a diferença disso, já agora, também é importante, porque isso também significa que do lado da Câmara Municipal e do lado da Área Metropolitana do Porto há uma aposta efetiva, não é só um discurso, é também colocar dinheiro, colocar meios neste domínio e, por isso, acho que temos de estar unidos, porque de facto só unidos é que isto faz sentido, em termos de rede de transporte. A mim não me interessa apenas a rede de transporte cá dentro, é o cruzamento de tudo isto no contexto metropolitano.
Considerando o atual clima de instabilidade política que vivemos e as eleições autárquicas que se avizinham, quais são as suas perspetivas para o futuro tanto do município como das suas freguesias, que agora se irão desagregar?
As eleições legislativas que temos agora e que não eram expectáveis só têm um efeito de alguma perturbação no mandato que está em curso. É mais um fator. Nós tínhamos uma série de coisas que estavam em curso e dou-lhe um exemplo de uma coisa que está neste momento suspensa, o posto da GNR de Arcozelo, que estava pronto para ser assinado com o Governo, o Governo caiu, entrou em gestão, não pode assinar o protocolo e era uma coisa que era muito importante e ainda por cima era uma coisa que iria ser assinada, mais uma vez, com o envolvimento financeiro da Câmara Municipal, para ser viável o posto da GNR, uma coisa que se ansiava há anos. Portanto, isto perturbou, parou muita coisa, aliás tínhamos em curso negociações diversas em áreas também diversas, como o TGV. Isto é uma perturbação, é evidente, é mais uma perturbação. Agora, eu não sou de me queixar, é arranjar maneira de seguir em frente e ultrapassar as dificuldades. A questão das freguesias só vai repercutir-se a partir do novo mandato e o meu papel, aqui, é deixar tudo preparado, até em termos financeiros, para que as 24 freguesias possam arrancar tranquilamente e é isso que vamos fazer, nós, nesse domínio, só temos uma responsabilidade, que é deixar os protocolos prontos para que quem é arrancar na Câmara e nas Juntas de Freguesia possa arrancar com os primeiros meses garantidos e depois tomam as decisões que entenderem, aumentam os dinheiros, diminuem os dinheiros, isso depois já é no novo mandato. Agora, tudo ficará direitinho para que as coisas corram bem no arranque de mandato, que é o que se exige.
Acredita que a sua liderança à frente dos destinos da Câmara Municipal de Gaia terminará com o sentimento de dever cumprido?
Isso é garantido, sem dúvida. Temos sempre muito mais ambição do que aquilo que muitas vezes conseguimos cumprir. Tenho, por um lado, o lamento dos atropelos que surgiram, como a pandemia, como agora estas eleições, que eram bem evitáveis, mas no sentido da dedicação e da seriedade com que pus o meu empenho ao serviço do concelho. Eu e a minha equipa temos muitas razões para sair com orgulho e com o sentido do serviço público, isso parece-me evidente.
A pensar no futuro, quais são os seus anseios tanto a nível pessoal, como político-partidário?
O meu objetivo é encerrar este ciclo, e encerrá-lo bem, e no limite ter a certeza de que há um lugar de recuo, que é um lugar que eu gosto muito, um bocadinho até menos pesado do que este que se vive agora, que é a universidade e voltar e continuar a carreira que ficou suspensa lá atrás há 12 anos. É evidente que entro depois de 12 anos fora e, portanto, é retomar uma carreira que estava em curso. Não tenho, neste momento, nenhuma perspetiva de continuar na vida política no imediato, porque a minha lógica nunca foi de carreira. Não é uma coisa que eu exclua, mas não é, neste momento, uma preocupação que tenha, porque já tivemos outros momentos onde, como outros colegas fizeram, podia ter saído e isso não se verificou e mesmo neste contexto eleitoral era para muitos evidente que podia ser uma oportunidade para ir para Lisboa, para o parlamento e, por muito que eu até ache motivador, este é um momento político absolutamente extraordinário desse ponto de vista, quer em termos nacionais, quer em termos internacionais, mas não é o meu desígnio.
Quais são os seus maiores sonhos?
Não tenho. Materialmente, eu não tenho grandes sonhos. O meu sonho mais relevante é estar bem, é ser feliz, é estar bem com as pessoas que me rodeiam, não tenho nenhum sonho extraordinário. Acho que tinha o sonho de fazer as coisas bem nos sítios onde estava, acho que o fiz na faculdade, foram 17 anos. Acho que o fiz aqui, com as contingências que são conhecidas e o meu sonho é todos os dias continuar a trabalhar, a lutar e a fazer com que os meus filhos tenham orgulho em mim. Não tenho nenhum sonho especial. Gostava um dia de ter possibilidades de fazer uma viagem de sonho, nomeadamente um safari no Quénia, mas pode ser que um dia consiga.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?
Continuamos a trabalhar, mas numa fase já muito final, é uma mensagem sobretudo de agradecimento, porque é uma honra ter passado por aqui e da forma como passei, com a confiança que tive das pessoas e que tentei retribuir com o máximo de trabalho. Se algumas coisas não correram bem, eu tenho muita pena e espero que a vida os faça cumprir, aí sim, todos os sonhos de cada um dos cidadãos. Isto não é uma vida perfeita, mas tenho a certeza absoluta de que o tempo também ajudará a mostrar que foi um mandato, um ciclo autárquico, também muito atravessado pelo pior que há na espécie humana e no caráter dos políticos, sobretudo aqueles políticos que ainda funcionam à moda antiga. De resto, as pessoas sabem, no dia a dia e se não houvesse limitação de mandatos e eu decidisse ser de novo candidato, tenho a certeza absoluta de que as pessoas responderiam a todas essas tropelias com a forma como têm para responder, que é a cruzinha nas urnas. O resto não. É um ciclo que se fecha com muito orgulho, com as pessoas seguramente a perceber que o concelho, hoje, não tem nada a ver com o que era há 12 anos atrás, que não tiveram, é verdade, um presidente de Câmara que se tentasse pôr em bicos de pés à custa da Câmara, mas tiveram alguém que se dedicou a eles de corpo e alma e que o tempo talvez venha a mostrar que, para além do mais, ainda foi vítima, e não falo em termos pessoais, falo em termos coletivos, ainda por cima fomos vítimas deste novo modo de fazer política, que hoje está em voga, e em que a justiça trata de participar, direta ou indiretamente, em todos estes processos políticos e isso é uma pena.