DIA DE ACÇÃO DE GRAÇAS

À primeira neve desta estação, que este ano veio demasiadamente cedo, seguiu-se-lhe uma semana cheia de graça, que enquanto a claridade do sol iluminava a face da terra fazia-nos sentir tempo de verão. Realmente, por seis dias consecutivos gravaram-se novos recordes de temperaturas altas entre 6 e 11 de Novembro. Para os devotos de São Martinho esta semana foi o seu verão. Mas para aqueles que se sentem livres desta devoção foi simplesmente um lindo “Indian Summer”.

De acordo com as previsões do Almanaque do Camponês, esta semana de temperaturas amenas, mais adiante custar-nos-á cara. Ainda mais? – perguntamos. Sim, mês e meio para 2021 e nada nos admirará com mais surpresas. Olhem que no passado domingo, 8 de Novembro, até sentimos um tremor-de-terra, de grau 4, cujo epicentro foi registado a nove milhas de New Bedford. Exagero à primeira vista, porque os sismógrafos não estão acostumados a trabalhar aqui, por estas bandas. Por isso é que uma hora depois foi ajustado em 3.8, e mais tarde comprovado que tinha sido apenas 3.6 na escala de Richter. Venha mais surpresas. Estamos preparados para o que der e vier. Sempre para a frente porque o Natal está à porta, com o Thanksgiving a dobrar a esquina.

Sabiam que já há luzes multi-cores espalhadas pela cidade? Pois, há! Com o bom tempo que se fez sentir, quem não teve folhas de árvores para remover dos quintais tempo lhes sobrou para decorações natalícias, e achamos que fizeram bem. Luzes são sinais de esperança. O Natal também. E mesmo com tudo o que nos deparou 2020, devemos dar Graças a Deus, e sentir o gosto da vida com todos aqueles que nos rodeiam, respeitando, claro está, a distância social e os outros requisitos decretados pelas autoridades. Se descuidados estamos de dar graças a Deus, eis que o dia 26 de Novembro se aproxima. É o dia dos perus, e das peruas, do jantar de mesa farta com os membros da família. Por enquanto os governantes estão pedindo para se limitar o número de membros nestas celebrações familiares. Deus permita que as contas assustadoras de contágio verificadas nos últimos dias passem ao esquecimento, porque a coisa parece muito ruim.

No Canadá, como não é novidade para ninguém, o dia do “Thanksgiving” assinala-se todos os anos na segunda segunda-feira do mês de outubro, quando nos Estados Unidos se comemora o Dia de Colombo. Outra coisa que pegou moda neste país (EUA) no ano transato foi a destruição de estátuas, e Colombo tem sido uma boa vítima. Muito nos admira ainda ver o almirante Cristóvão com uma laranja na mão, comparando-a com o mundo, no centro de um “boulevard” na vizinha cidade de Newport, enquanto que em outras localidades foi degolado, estrangulado, apedrejado, enfim: derrubado. Ao fim e ao cabo, foi ele quem abriu o caminho para as Américas, facilitando e expandindo, entre outros sectores o tráfego e comércio de escravos, e aqui entra a acção do movimento “Black Lives Matter”, que não dá conta que História é passado e História não podemos mudar. Depois de Colombo vieram tantos outros, trazendo gripes, constipações, e outros males. Mas quem se queixa mais disto não são os índios, mas sim os descendentes dos colonos e imigrantes que trouxeram estas pragas ao mundo novo. O Ser Humano é assim mesmo: perplexo, complexo e ridículo, e por aqui ficamos.

Em 1620 os passageiros do navio Mayflower que sobreviveram a viagem da Inglaterra chegaram em Novembro ao Cabo dos Bacalhaus (Cape Cod), acabando por se assentar em Plymouth por ser uma zona mais abrigada e a área lhes oferecer melhores condições. Mesmo assim, aquele inverno cifrou uma grande parte deles. No ano seguinte os sobreviventes lançaram sementes à terra, que lhes foi generosa. O governador da colónia, William Bradford (1590-1657)resolveu organizar uma grande festa para celebrar o sucesso alcançado e, ao mesmo tempo  dar graças a Deus por todos os bens concedidos. Nela participaram os colonos e os indígenas. Patos, perus, peixes, veados, milho, abóboras e outros manjares fizeram parte deste banquete que durou alguns dias. A partir de então depois da colheita de cada ano passou-se a fazer uma festa de gratidão a Deus aqui, na Nova Inglaterra. A divulgação foi rápida e espalhou-se depressa pelos estados. O presidente Lincoln, em 1863 determinou que a última quinta-feira do mês de novembro fosse o dia de acção de graças. Mas, em  1941 Franklin Roosevelt retificou esta determinação, assinalando a quarta quinta feira do mesmo mês, que nem sempre é a última de novembro. É feriado nacional por excelência. Santificado por gratidão. É dia de se dizer OBRIGADO!

A este dia se prenderam outras tradições para além do banquete, que variam com a localização geográfica. No nordeste fala-se mais no “football” e na parada do Macy’s, que segundo várias opiniões é o maior desfile alegórico do mundo, com um percurso de duas milhas e meia, numa duração de três horas, das nove da manhã até ao meio-dia. Realizou-se pela primeira vez em 1924. Teve a sua primeira aparição televisiva ao vivo em 1948, e desde 1953 a NBC se tem encarregado de lhe dar vida com comentários na sua transmissão integral. A primeira parte do dia de ação de graças em Manhattan tem um colorido fenomenal, não só pelos balões, personalidades e marchas desfilantes, mas também pela grande massa de espectadores à mistura dos shows ao vivo, incençados com os cheiros das castanhas assadas, do “hot-chocolate”, do açúcar queimado, e do hot-dog esfolado, que são os excelsos perfumes das ruas da cidade de Nova Iorque em tempos fresquinhos.

As manhãs do thanksgiving são diferentes de todas as outras, mas um pouco parecidas às natalinas: ruas desertas, chaminés a fumegar, panelas a estalar e mulheres a resmungar. São doces. Não como diziam as DOCE, nos anos oitenta, mas sim como opinia o meu bom amigo Thomas Ostingy: Consola sair da cama às oito; vir à porta de pijama, para fazer o cachorro mijar; recolher o papel (jornal) que o ardina, ainda de noite, escuro, ao passar ali de bicicleta o atirou para o relvado, dentro de um saco de plástico; voltar ao interior; ler o jornal na mesa da cozinha, saboreando o café com bolachas; às nove, a bendita instalação no sofá, para ver a parada do Macy’s. Depois a refeição com a família e o football. Mas isso já vai longe da manhã, e daria uma outra “estória”.

Algumas empresas suprimiram um feriado do calendário anual e acharam por bem repô-lo na sexta-feira, dia seguinte ao Thanksgiving, fazendo assim um fim-de-semana de quatro dias. Por isso é que faz muito sentido a quadra natalícia se iniciar com o Dia de Acção de Graças. Há tempo para as decorações, para uma bebedeira furtiva, e para as compras de Natal, visto que o “black Friday”, é aquele que mais dinheiro movimenta. Há retalhistas que só neste dia fazem um terço do seu lucro anual.

Mas este ano tudo será diferente. A parada será reduzida no número de gente. Desfilantes e espectadores. Mais balões e robots, e a Trump Tower da Avenida 25 não terá o seu brilho habitual. Mas entre estas e as outras diferenças a maior será notória na oração, em casa, com a família, em que os corações em sintonia, mesmo  silenciosos, falarão mais alto do que as vozes, implorando ao Senhor do universo remédio para a nossa aflição deste ano para esquecer, que nunca esquecido será.

God bless America, and every country in the world.

Com esta nos despedimos. Pelo amor de Deus, cuidem bem de si, e dos seus, e do próximo. Haja saúde.

 

Mil graças se deve dar

Ao Pai, nosso criador

P’ra que possa perdoar

Este mundo pecador.

 

Senhor, nós vos damos graças

Em tão boa companhia

Libertai todas as raças

Desta grande pandemia

 

Mil graças damos, Senhor

Pelo sol e pela lua,

Pelo frio, pelo calor

E pela bondade Tua.

 

Padre Nosso, Avé-Maria,

Nosso Deus, tende piedade,

Livrai-nos da pandemia

Que afectou a humanidade.