“É A MELHOR FORMA DE HONRARMOS E HOMENAGEARMOS OS NOSSOS ANTEPASSADOS”

A Confraria da Carne Guisada da Maia realizou o seu III Capítulo, no passado dia 10 de junho, que contou com a participação de 13 instituições confrádicas, seis das quais oriundas do continente. O evento, que teve como mote preservar e promover os sabores deste prato tradicional maiense, foi inaugurado com um desfile até à Igreja Matriz da Maia, onde decorreu a entronização de nove novos confrades, seguindo-se um banquete na Casa do Povo da Maia. Na ocasião, o confrade-mor, Luís Lindo, anunciou que esta confraria assumirá, no próximo ano, o papel de mordomo das Festas em Honra do Divino Espírito Santo, tão relevantes nesta freguesia.

 

Foi no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que a Confraria da Carne Guisada da Maia realizou o seu III Capítulo, com o intuito de preservar e promover os sabores deste prato tradicional maiense, que contou com a participação da Confraria da Pastinaca (Cherovia) e do Pastel de Molho da Covilhã, Confraria do Ananás dos Açores, Cunfraria de I Canhono Mirandés -DOP- Sabores de la Tierra de Miranda, Confraria da Foda, da Freguesia de Pias, em Monção, Confraria dos Gastrónomos dos Açores, Confraria do Galo de Barcelos, Real Confraria da Amêndoa, Confraria da Caldeirada de Peixe de Rabo de Peixe, Confraria do Leite, Confraria do Queijo de São Jorge, Confraria do Queijo da Serra da Estrela, Confraria Internacional da Canábis Portugal e Confraria do Chá do Porto Formoso.

O evento foi inaugurado com um desfile até à Igreja Matriz da Maia, onde decorreu um momento religioso, conduzido pelo padre Rúben Sousa, que contemplou a entronização de nove novos confrades, entre os quais a Câmara Municipal da Ribeira Grande. Finda esta solenidade, os confrades rumaram até à Casa do Povo da Maia para o banquete, onde tiveram a oportunidade de degustar a tradicional carne guisada desta localidade, assim como o famoso arroz-doce e a massa sovada.

Evocando a história e a importância desta instituição, que foi fundada em 2019, Luís Lindo, confrade-mor da Confraria da Carne Guisada da Maia, afirmou, na ocasião, que “este é um evento muito especial. É sempre um prazer receber-vos nesta freguesia à beira-mar plantada, com a certeza de que a partir de hoje têm também a missão de serem nossos embaixadores. A vossa presença em número confortável é, sem dúvida, uma motivação para esta nossa ainda jovem confraria e este encontro é uma oportunidade de troca de experiências e de aprendizagens gastronómicas, só possível e alcançáveis a quem partilha a mesma paixão”.

Por conseguinte, o confrade-mor fez, também, questão de dirigir uma palavra especial às seis confrarias oriundas do continente português que se deslocaram, propositadamente, à Ilha de São Miguel, para participarem no certame. “As confrarias todas que estão aqui presentes são um marco importante para a Maia e para o concelho da Ribeira Grande, mas, acima de tudo, para as nossas tradições e o mais importante é que saibamos preservar os nossos antepassados, cuidar e passar para quem nos vai suceder”, sublinhou o líder deste movimento confrádico maiense.

Assegurando que, de todas as iguarias da região, a carne guisada é, certamente, uma das mais emblemáticas e apreciadas, Luís Lindo frisou que “neste prato, podemos sentir toda a riqueza e sabor da gastronomia popular dos Açores, pois é confecionado com sapiências, carinho e esse é o significado da partilha. Mais do que uma iguaria local, é uma tradição que deve ser preservada e mantida ao longo do tempo. É uma fonte de orgulho para a nossa localidade e é a melhor forma de honrarmos e homenagearmos os nossos antepassados, que nos deixaram este legado”.

O confrade-mor terminou a sua intervenção, anunciando que a Confraria da Carne Guisada da Maia assumirá, no próximo ano, o papel de mordomo da Festa em honra do Espírito Santo. “É uma missão para a qual contamos com a participação de todos os confrades. Vamos construir um evento que nos dignifique e à nossa terra. O nosso IV Capítulo, em 2024, está agendado para o dia 18 de maio e integrará o programa da Festa do Pentecostes. Queremos um Capítulo marcante nos Açores e esperamos contar com um número máximo de confrarias, para darmos um colorido diferente a esta magnífica terra de cultura e tradições”.

Por conseguinte, Jaime Rita, presidente da Casa do Povo da Maia e membro desta confraria, também foi convidado a intervir, agradecendo a este movimento confrádico por “ter optado realizar, aqui, este evento”, assim como “aos meus colegas de direção, em especial ao senhor Manuel Feleja. Também, não podia deixar de referir os funcionários e colaboradores desta instituição, que têm realizado, nos últimos dias, um trabalho de excelência e dedicação, demonstrando um imenso amor e carinho pela Casa do Povo da Maia”.

Usufruindo do momento para convidar os presentes para participarem nas festividades do Império das Crianças, cujo papel de mordomo, este ano, foi desempenhado pela Casa do Povo da Maia, o dirigente associativo asseverou que “é uma oportunidade para verem o que fazemos aqui, em comparação com o que é realizado noutras partes do mundo, pois nós somos muito ligados ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade também. Acredito que seja uma experiência talvez única para a vida de alguns, porque a Maia sabe fazer diferente e melhor”.

Presente no almoço, Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, que também foi entronizado confrade, em nome da autarquia, também tomou a palavra, congratulando a Confraria da Carne Guisada da Maia pela iniciativa. “As confrarias são importantes para o preservação e divulgação das nossas tradições. É por isso, com muita honra, que a autarquia aceitou o convite para ser, a partir de hoje, membro da Confraria da Carne Guisada da Maia, assumindo o compromisso de apoiar e divulgar um dos principais pratos gastronómicos do concelho”, referiu o autarca.

Enaltecendo o facto de estarem três confrarias ribeiragrandenses presentes, o edil convidou os presentes para estarem presentes, no passado dia 12 de junho, numa receção na Câmara Municipal, seguida de um almoço oferecido pela autarquia. “Esta é uma excelente oportunidade para nos darmos a conhecer e perceberem um bocadinho melhor a nossa terra. É, também, sem sombra de dúvida, um grande momento de confraternização e de divulgação daquilo que de melhor temos para oferecer”.

Seguidamente, foi a vez da presidente da Junta de Freguesia da Maia, Suzana Ferreira, intervir, momento que aproveitou para enaltecer a relevância que a Confraria da Carne Guisada da Maia tem para a divulgação, promoção e preservação deste território.

Não escondendo que foi uma tarde bem passada, a autarca também convidou os presentes para participarem na apresentação do livro da escritora e poetisa Manuela Bulcão, também entronizada neste dia, que seria apresentado no dia 13 de junho, na edilidade maiense.

Por fim, os discursos foram encerrados por António Cavaco, vice-presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas e confrade-mor da Confraria dos Gastrónomos dos Açores, que fez questão de reforçar que a Confraria da Carne Guisada da Maia “dado um inigualável contributo à cultura do concelho da Ribeira Grande”.

Ressaltando o papel social e dinamizador das confrarias, o confrade-mor da Confraria dos Gastrónomos dos Açores evidenciou que “têm de ser reconhecidas pelo poder mais próximo do exercício social. As Câmaras Municipais são o parceiro mais identitário e mais fiel ao objetivo das autarquias, como é o de pertença na cultura, na atividade turística e na gastronomia”, reforçando que “a Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas está empenhada em restaurar uma outra dimensão e comportamento confrádico, dando voz e poder às confrarias, (…) para que todos contribuam para um modelo de gestão uniformizado, criativo e de valor para o movimento e se sintam de pertença”.

Assim, o III Capítulo da Confraria da Carne Guisada da Maia terminou com a habitual troca de lembranças e com um brinde à preservação desta iguaria e das traições maienses.