“É A PENSAR NAS PESSOAS QUE NÓS ESTAMOS AQUI”

Apaixonada pelo concelho que a viu nascer, Cristina Calisto é, desde 2015, presidente da Câmara Municipal da Lagoa. Honrada pelo trabalho e pelas funções que tem desempenhado, a edil manifestou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, a sua vontade de ajudar os que a rodeiam e de contribuir para o desenvolvimento do seu território. Enfatizando que as pessoas são a sua prioridade, a autarca mencionou a agenda que idealizou para dez anos, tendo em vista a dinamização, valorização e engrandecimento do município, assente em três pilares, que visam a promoção da melhoria da qualidade de vida da população. A causa que abraçou com o coração transformou-a numa mulher na política e o desígnio de trabalhar, todos os dias, em prol dos lagoenses levou-a a ser distinguida, no passado dia 7 de fevereiro, na XVIII Gala deste órgão de comunicação social, com o Troféu Prestígio 2022.

 

 

Para quem não a conhece, quem é a Cristina Calisto?

A Cristina Calisto é uma mulher que se interessou, desde cedo, pela comunicação social, que aos 12 anos decidiu que era esta a sua profissão e que perseguiu o seu objetivo de vida. Na altura, ainda não existia o Curso de Comunicação Social nos Açores, pelo que fui estudar para o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Posteriormente, a minha vida tomou um rumo inesperado e depois de uma curta passagem pelo Açoriano Oriental e pela TSF dos Açores, durante um ano, acabei como assessora de imprensa, na Câmara Municipal da Lagoa e, a partir daí, fiz um percurso como adjunta, como chefe de gabinete e, mais tarde, vice-presidente e presidente de Câmara. Portanto, tantos objetivos traçados, tão nova, mas a vida é mesmo assim, às vezes coloca-nos desafios, perante nós e temos de tomar decisões, mas posso dizer-lhe que não estou arrependida. Gosto do que faço, sou uma pessoa que se entrega a qualquer projeto onde se envolve e faço o melhor que sei, por isso, nessa medida, fosse na comunicação social, ou como presidente da autarquia, o cenário seria o mesmo, com a mesma aplicação e a mesma dedicação.

 

Como descreve a transição de assessora de imprensa, até ingressar na vida política, mais ativamente?

Eu vim para a Câmara da Lagoa, como assessora de imprensa, mas acabei por ficar muito pouco tempo nestas funções, também, porque o presidente da autarquia, na altura, depois nomeou-me sua adjunta, um cargo que me trouxe uma aproximação à vida política, naturalmente, e a assuntos da vida local, da comunidade, um papel que não teria como assessora de imprensa. Portanto, acabei por ter uma ligação a dossiers, que são importantes no desenvolvimento do território, dadas as funções de confiança política que me foram confiadas. Mais tarde, sucedeu-se outro presidente e passei a chefe de gabinete, na altura, que é, mais uma vez, um cargo de confiança política e foram outros os desafios que me foram apresentados, até que, em 2015, assumi a presidência da autarquia. Posso partilhar que, no passado mês de janeiro de 2023, eu fiz 23 anos que estou a trabalhar na Câmara Municipal da Lagoa e que estou ao serviço desta autarquia, porque eu faço parte do quadro desde 2000. Logo, na verdade, foram 23 anos, nos quais tive a oportunidade de me dedicar a diversas áreas e de tocar em praticamente todas, adquirindo conhecimentos sobre aquilo que são os desafios e aquilo que deve ser o nosso papel de melhorar as condições de vida e isto propiciou esta aproximação à vida política, que, mais tarde, levou, também, a um salto para as funções político-partidárias e, portanto, aqui cheguei.

 

Deste modo, podemos depreender que a sua entrada no mundo da política também aconteceu muito naturalmente?

Eu, nestas coisas, sou muito descontraída. O que tiver de ser, será. O que estiver confiado para mim vai ser. Cada um tem as suas convicções, mas a minha é que nós temos um destino traçado, pesem, embora, as opções que possamos tomar ao longo da vida, mas, existe, aqui qualquer coisa, que já está orientada de início e, portanto, eu tive vários exemplos disto ao longo da minha vida e vou dar este como um deles. Eu vim do Cabouco, uma freguesia rural, aqui do concelho da Lagoa e sempre quis ser jornalista e sempre disse que queria tirar o curso de jornalismo, que só existia no continente português. Estou a falar de 1995, de uma época em que tinham acabado de aparecer os Nokia’s, os primeiros telemóveis, aos quais a maioria da população não tinha acesso, portanto estamos a falar de uma altura em que eu não tinha computador em casa, não havia internet e poucos que tinham essas condições. Acontece que, em vésperas de concorrer à universidade, o meu pai tentou convencer-me a mudar o meu rumo de vida, afirmando que se calhar era melhor ser professora e ficar a estudar na Universidade dos Açores. Depois, apareceu em casa com um carro e disse-me que eu podia ir de carro para a Universidade e tentou fazer-me uma certa chantagem, para eu ceder e ficar cá. Hoje é muito mais fácil os nossos filhos irem estudar para fora, porque temos uma noção completamente diferente, mas, naquela altura, era um mundo novo para nós e para mim, em particular. O meu pai é lavrador e a minha mãe é doméstica, de uma condição que não nos permitia viajar com frequência e, portanto, eu ia estudar para um lugar, onde ia passar alguns anos da minha vida e havia esse receio. Então, eu senti alguma tenção, fiz a vontade aos meus pais e concorri, na minha primeira opção, para professora na Universidade dos Açores e na segunda opção também, mas as terceira, quarta, quinta e sexta opções foi para comunicação social, no continente, e eu entrei na primeira opção de comunicação social. Portanto, o destino estava decidido e eu ia tirar aquele curso. Os meus pais ficaram muito surpreendidos quando fomos ver a colocação e eu tinha entrado naquela que teria sido a minha primeira opção de todo, se não tivesse sido aquela hipótese de ceder à situação deles. Logo, estava destinado. Depois, na universidade, havia três níveis de especialização e eu tirei Gestão dos Meios de Comunicação Social e tinha umas cadeiras de economia, gestão e informática e eu não tinha computador, portanto percebam o contexto em que isso acontece, então eu fiz o teste de informática, havia a componente prática e a componente teórica, e a professora desta componente perguntou um dia, perante uma sala com centenas de alunos: quem é a aluna Cristina Calisto? E eu apresentei-me e ela percebeu pelo sotaque que eu era açoriana e começou a falar sobre isso e perguntou-me, como é que tinha corrido o exame e eu disse-lhe que tinha corrido bem. Posto isto, ela questionou-me: o que é que conta ter? E eu um 13, numa atitude modesta, porque tinha-me corrido bem e ela respondeu-me: não, eu dei-lhe 18 valores, eu nunca dei esta nota na minha vida. Naquela universidade, a partir de 16 valores, nós tínhamos de fazer oral, para comprovar que não era copiado, e eu fiz logo a prova, fui para o quadro, respondi às questões e, a partir daquele dia, era sempre chamada para fazer a revisão da matéria anterior, mas tive, ao longo do ano, sempre 18 e 19 valores nesta disciplina e, um dia, a professora convidou-me para ficar com ela a trabalhar. Na ocasião, eu estava no terceiro ano e queria muito terminar, assim como queria muito regressar à minha terra, mas era um convite que fazia pensar. Todavia, eu tomei a decisão de não aceitar e os meus colegas disseram-me que eu era louca, por recursar, mas aí está, o destino tinha algo para mim. Daí o lema que eu tenho aqui: o que tiver de ser para mim, será no tempo certo e não há que ter pressas na nossa vida, devagarinho e bem. É um bom princípio.

 

Liderar os destinos da Câmara Municipal da Lagoa era um sonho que já foi concretizado. Que apostas é que a autarquia tem feito nas áreas da educação, do desporto, da cultura e da ação social, tendo em vista promover uma melhor qualidade de vida para a sua população?

Essa é a nossa grande missão, proporcionar melhor qualidade de vida à população e nós, desde 2015, até à presente data, temos desenvolvido um forte trabalho nas áreas que mencionou, sendo certo que, também, temos de nos ir adaptando aos tempos, enquadrando as nossas medidas à realidade atual. Por exemplo, na área da ação social, temos uma componente muito forte, não só no apoio aos mais idosos, como também no apoio às famílias que carecem de ajuda para o seu dia a dia. A verdade é que a situação que nós estamos a viver, atualmente, com uma crise inflacionista, provocada, também, pela guerra que estamos a vivenciar, cria acrescidas dificuldades à população e, portanto, nós, perante isso, também devemos dar respostas, pelo que aprovámos, para 2023, um pacote de 16 medidas de apoio às empresas e às famílias, para mitigar esta falta ou diminuição do poder de compra, que todos eles estão a desenvolver, e que passa por inúmeras medidas, como por exemplo o Cheque Energia, para compensar as famílias que são beneficiárias do Cartão Lagoa + Saúde, que é a população idosa, que tenha quatro ou mais pessoas no seu agregado familiar e que, naturalmente, vai sofrer com o acréscimo dos custos da energia. Também, reforçamos o nosso Fundo Social de Emergência às instituições que prestam apoio direto à população, nomeadamente às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), com um acréscimo de 120 mil euros e reduzimos as taxas, para as empresas, nos licenciamentos e nas taxas de edificação.  Posso dizer-lhe que este conjunto de 16 medidas representa um acréscimo no investimento da Câmara Municipal no valor de 500 mil euros, para além daquilo que já era normal fazermos, isto para dizer que vamos ajustando as nossas políticas às necessidades. Os Açores, na realidade, sofrem de tudo o que o país todo atravessa, porque há, de facto, uma diminuição do poder de compra das famílias e, depois, sofre, igualmente, do problema da falta de habitação, porque o turismo trouxe, aqui, a realidade nova dos alojamentos locais e, também, da subida dos preços dos imóveis para arrendamento, que estão fora da capacidade que a maioria dos agregados pode suportar. São valores muito avultados, atualmente, e são escassos os imóveis para arrendamento e, portanto, a autarquia também apoia essas famílias, no pagamento das rendas, quando aparece a oportunidade de uma casa, que reúna as condições necessárias, para aquele agregado familiar, porque, neste momento, não dá para termos segundas ou terceiras opções. Quando aparece uma oportunidade, não se pode perder, porque não tende a ser mais fácil, mas a ser mais difícil e, como tal, existe esta preocupação, da nossa parte. Na área da cultura, nós criamos o conceito do Museu da Lagoa Açores, que é como se fosse a mãe de toda a orientação, nesta matéria, e acoplámos, a este museu, todos aqueles que são os núcleos museológicos da autarquia, assim como os núcleos museológicos privados, como a Tenda do Ferreiro Ferrador, o Centro Cultural da Caloura, que são privados, mas também entram aqui, assim como a Igreja Matriz de Santa Cruz, que tem a coleção visitável, e isto forma, no seu conjunto, o nosso Museu da Lagoa, que sofreu inúmeras reabilitações, nos últimos anos, e vai continuar a sofrer, porque este é um trabalho que ainda não terminou, pois nós temos vindo a intervencionar, cada um dos núcleos museológicos, para garantir não só a sua modernidade, como também a atualização dos descritores e a transformação das mensagens em bilíngue, para permitir a visita de públicos estrangeiros, que nos têm procurado, naturalmente, em maior número, nos últimos anos. Portanto, nós estamos a terminar, aqui, a reformulação dos museus
da Freguesia da Ribeira Chã, temos os da vila de Água de Pau para depois iniciarmos e outros que temos desenvolvido, para irmos, passo a passo, modernizando. Ao nível da juventude, nós temos, também, uma série de atividades ligadas ao desporto, assim como o Orçamento Participativo Jovem que, este ano, vai ter, igualmente, uma componente geral colocando, assim, os jovens a apresentarem propostas ao município, daquilo que querem ver no seu concelho, para que possamos, também, perceber aquilo que falta no nosso território e que é vontade e desejo destes jovens, entre outras políticas que desenvolvemos, nesta matéria. Felizmente, em matéria de ambiente, temos dado passos muito importantes, uma vez que temos uma forte e insistente campanha de sensibilização ambiental neste concelho e tomamos a decisão arrojada de retirar todos os ecopontos da via pública, pelo que não há ecopontos pela rua, excecionalmente no caso de alguma obra que precise, provisoriamente, de um contentor e dotamos todas as habitações do concelho com mini ecopontos individuais e a recolha é, unicamente, seletiva porta a porta, com os dias da semana dedicados a cada uma das matérias. A verdade é que isto não permite uma acumulação grande, poderá acumular se a pessoa não respeitar os dias de recolha, mas respeitando, essa acumulação não irá acontecer e vamos começar, em meados de abril, a distribuir o ecoponto orgânico, também, que é uma outra área de reciclagem, que nós ainda não fazemos, mas vamos começar a fazer em junho, que é a reciclagem dos materiais orgânicos, para compostagem. Nós começamos esta medida há três anos atrás e, no início, sentimos alguns constrangimentos, pois a tendência para juntar tudo no saco do lixo e colocar nos indiferenciados é um hábito que está enraizado na população, mas com todas as campanhas que temos feito e a insistência que temos mantido, este comportamento tem-se alterado e, hoje, é muito agradável verificar que o ecoponto amarelo está na rua todas as segundas-feiras, sinal de que as pessoas estão a cumprir. Portanto, não há desculpas para não se fazer reciclagem, é sempre o que eu digo. A par disto tudo, existe aquela mensagem que podemos proporcionar aos nossos jovens, nas escolas, de aposta, também, na formação de melhores comportamentos, nessa matéria, isto para me levar a um outro ponto, que tem a ver com a educação, que é, então, um pilar essencial da nossa atuação, no Município da Lagoa, até porque nos temos afirmado, muito, no caminho da ciência e da tecnologia. É, aqui, neste concelho, que nós temos o único Parque de Ciência e Tecnologia de São Miguel, onde estão sediadas empresas na área das novas tecnologias, que requerem recursos humanos muito qualificados. Nós temos, neste concelho, o único hospital privado dos Açores e vamos ter o único hotel da cadeia Hilton, nos Açores e tudo isto requer mão de obra qualificada, o que é importante, mas eu gostava que os lagoenses pudessem encontrar, aqui, o seu posto de trabalho, todavia, para isso, precisamos de apostar na educação, pelo que temos feito um trabalho muito intenso com as escolas, premiando o sucesso escolar e o comportamento cívico, porque nem todos os alunos serão, naturalmente, excelentes, mas não podemos colocar, no ponto de partida, que uns são melhores do que os outros, pois existem aqueles que, não sendo os melhores, do ponto de vista académico, desportivo, na adoção de um comportamento de apoio cívico e comunitário, e estes também devem ser distinguidos, para que todos estejam no mesmo nível, pelo que este é, igualmente, um trabalho de encorajamento na sua formação académica, possibilitando que a vida destes alunos possa, efetivamente, ser diferente no futuro e que possamos alavancar, aqui, o nosso concelho, nesta matéria, porque o desenvolvimento económico é um pilar essencial em qualquer território e vem acompanhado da necessidade de recursos humanos, que são cada vez mais qualificados. A exigência do mercado é cada vez mais qualificada, porém, naturalmente, nós vamos ter lavradores, pescadores e precisamos de todas as pessoas, em todas as áreas, pois elas são essenciais, mas sabemos que se há uma vertente da nossa vida, que pode fazer a diferença, é a formação e, portanto, espero que estes jovens todos, no futuro, possam perceber isto e encarar esta situação como algo que, efetivamente, promove o sucesso e a sua independência, também, económica, assim como do seu agregado familiar.

 

Desde 2015 até aos dias de hoje, que obras materiais e imateriais destacaria?

O Parque de Ciência e Tecnologia de São Miguel, com a abertura do primeiro edifício do Nonagon, que tem já mais de 100 pessoas a trabalhar. Depois, a abertura do Hospital Internacional dos Açores, que é um hospital privado que, não sendo propriedade
da Câmara Municipal, a verdade é que fica nos terrenos da autarquia, no âmbito do projeto TecnoParque, que visa a integração de iniciativas de base tecnológica e científica e é um serviço diferenciador, no contexto não só do concelho, como da Região Autónoma dos Açores. Do ponto de vista autárquico, o nosso passeio marítimo da cidade da Lagoa, que é a valorização da frente-mar, mas posta à disposição do lazer e da prática de estilos de vida saudáveis. Também, estamos, neste momento, a finalizar a recuperação do Auditório Ferreira da Silva, que será a maior casa de espetáculos do concelho da Lagoa, sem qualquer apoio comunitário, porque não há fundos comunitários para isso, devolvendo, à população, uma casa que tem toda a memória coletiva envolvida e que há muitos anos era ansiada pelos lagoenses. Paralelamente, temos obras para a valorização de praças e jardins e um Plano de Mobilidade, que permitirá, também, repensar tudo o que tem a ver com os transportes coletivos, circulação rodoviária, passeios pedonais, ciclovias e parques de estacionamento, pois tem sido uma política nossa acrescentar espaços, neste âmbito. Depois, temos a questão do empreendedorismo e, aqui, criámos um Gabinete de Desenvolvimento Económico, que diferencia o atendimento do empresário, em relação aos demais, porque para um empresário, o tempo é dinheiro, daí ter sido importante apostarmos num atendimento, que é único e exclusivo, que o coloca numa fila que é diferenciada e permite acompanhar todo o processo de licenciamento, dando respostas de proximidade ao empresário, o que também gera a captação de investimento, que vai, com isto, impulsionar a riqueza do concelho.

 

Sendo assim, podemos depreender que a Lagoa é um concelho de portas abertas para o futuro?

Sim e temos trabalhado neste sentido, voltando-nos um bocadinho mais para o mar, uma vez que vivemos, muitos anos, de costas para o mesmo. Agora, finalmente, acordamos para a dimensão e importância do mar, sendo que o turismo também nos ajudou a isso, nomeadamente, à valorização do nosso espaço natural e, depois, temos uma rede de trilhos, que permite percorrer o nosso concelho por dentro, no meio do mato, digamos assim, para aqueles que gostam do silêncio e de apreciar a natureza e, ao mesmo tempo, através do Plano Diretor Municipal, está a ser revista, neste momento, a possibilidade de  potenciar as áreas de crescimento, nas várias freguesias, quer do ponto de vista da fixação de populações, quer do ponto de vista do investimento local.

 

Considerando o futuro que se avizinha, quais são os seus maiores sonhos? Que projetos ainda anseia concretizar?

Os projetos estão condicionados, obviamente, aos fundos comunitários e nós sabemos que as orientações comunitárias estão muito para as questões da educação, da exclusão da pobreza e da segurança, que é um tema novo, na Europa. Eu não fiz um manifesto eleitoral normal para este mandato, no qual constaria aquilo que nos comprometíamos a fazer, em quatro anos, eu fiz uma agenda de trabalho, para dez anos e acho que, se nós queremos fazer um bom trabalho, não podemos ter horizontes curtos, porque, depois de mim, virão outros e quem quiser tem, nesta agenda, um manual de investimentos e de áreas, em que deve apostar. Uma coisa é certa, nós precisamos de trabalhar as questões da demografia na Lagoa e nos Açores. Fomos o concelho que menos decresceu, em termos populacionais e só houve um concelho, nos Açores, que aumentou a sua população, todos os outros diminuíram. Isto é uma realidade e estamos a falar na infância. Nós temos de construir o futuro daqueles que, neste momento, se preparam para entrar no mercado de trabalho e que devem apostar na sua formação e não nos podemos esquecer daqueles que já fizeram e já trabalharam pela nossa terra e que o maior drama que vivem, nem sequer é a pobreza, é a solidão. Portanto, nós temos um programa de envelhecimento ativo, no nosso concelho, que não permite que estes nossos idosos se sintam sozinhos, pelo que eu acredito que se conseguirmos, em todos os objetivos que traçamos para dez anos, agregar estes três pilares, teremos, seguramente, uma Lagoa melhor. Neste momento, o projeto do Auditório Ferreira da Silva está prestes a ser concluído. Nós temos, aqui, a segunda fase da Ciclovia da Lagoa, que terminou no Portinho de São Pedro e queremos trazê-la até à zona da Baía de Santa Cruz. Temos toda a frente marítima, entre Santa Cruz e Água de Pau, que precisa de ser valorizada, é reserva agrícola, mas tem potencial, do ponto de vista turístico, que, nesta visão de Plano Diretor Municipal, tem de ser alterada, sem dúvida. E, depois, a grande missão que temos, neste momento, é mais do que uma obra física, é mesmo sermos capazes, do ponto de vista do nosso comportamento, das nossas mentalidades e do nosso nível cultural, de fazermos o salto que é preciso fazermos, pois não podemos falar dos Açores, como a região do país que mais recebe RSI, isto tem de acabar e não se acaba fazendo a Ciclovia da Lagoa, nem se acaba construindo o Auditório Ferreira da Silva, por isso é que eu mencionei aqueles três pilares, porque na realização das ações, estes três pilares é que vão fazer a diferença, num horizonte de dez anos, não é um horizonte de mais três anos, que temos pela frente, e eu já estou aqui desde 2015 e ainda posso fazer mais um mandato, mas enquanto no primeiro mandato defini objetivos para quatro anos, acho que, agora, no exercício destas funções, as coisas mudaram na atualidade, as pessoas estão diferentes, as exigências são outras e nós temos de, também, ver que há coisas que têm de ser mais importantes, do que a obra física. Felizmente, acho que somos ilhas bem-dotadas de equipamentos, o concelho da Lagoa, com a falta de mais uma coisa ou outra coisa, tem uma realidade que é moderna e atrativa. Agora, existe a parte do nível de elevação cultural e educacional, em que temos de apostar fortemente, para fazer realmente o concelho prosperar, mas as pessoas, também, prosperarem, juntamente com o concelho.

 

Porque, efetivamente, é sempre a pensar nas pessoas.

É a pensar nas pessoas que nós estamos aqui, diariamente, a resolver os problemas. Para um autarca do poder local, um problema que, aos olhos de muitos, é, provavelmente, insignificante, para a vida das pessoas tem muita importância e é desse problema que, muitas vezes, estamos a tratar e a gastar horas do nosso dia, a resolver um pequeno problema, mas aquele problema vai fazer a diferença na vida da pessoa e nós não podemos desvalorizar isso.

 

Qual é a mensagem que gostaria de transmitir aos lagoenses?

Uma mensagem de confiança, que sejam positivos, que sejam resilientes, no ano de 2023, que está carregado de desafios complicados. Há desafios bons, mas nós estamos perante desafios muito adversos, pelo que não vai ser um ano fácil, mas deixava a mensagem de que sejam resistentes e capazes de pedir ajuda, quando precisarem. Não desesperem, porque existem portas abertas e disponíveis para vos ajudar. Temos de pensar positivo e que as coisas vão melhorar, mas estamos a viver algo que nós não pensávamos que iríamos viver, que é uma guerra na Europa, que pode ter uma dimensão ainda maior e que está a afetar a vida de todas as pessoas, direta e indiretamente, o que causa um amedrontamento nas pessoas, portanto, não desesperem, sejam confiantes e procurem onde acharem que têm a solução, mas não deixem de pedir ajuda.