“É POR ABRIL QUE EU ESTOU AQUI E É POR ABRIL QUE NÓS DEVEMOS LUTAR”

A Junta de Freguesia de Campanhã assinalou os 51 anos da Revolução dos Cravos com as habituais cerimónias. Após o hastear das bandeiras na sede da Junta, seguiu-se uma romagem ao cemitério, que culminou com a realização de uma sessão solene, no Auditório da localidade, que contemplou a homenagem a individualidades e elementos do território. Na ocasião, o autarca campanhense, Paulo Ribeiro, não escondeu a sua vontade de continuar a lutar em prol do seu território.

 

 

A Junta de Freguesia de Campanhã voltou a celebrar o aniversário do 25 de Abril, como tem sido habitual. As comemorações foram inauguradas com o hastear das bandeiras, no edifício-sede da edilidade campanhense, seguindo-se a simbólica largada de pombos, na Praça da Corujeira. Posteriormente, os edis, representantes de entidades civis e a população rumaram ao cemitério, onde depositaram duas coroas de flores, em memória dos autarcas e democratas falecidos, assim como dos combatentes, que deram a vida na Guerra do Ultramar.

As solenidades terminaram no Auditório da localidade, com a tradicional sessão solene, que contou com as intervenções políticas dos eleitos locais, homenagens a figuras ilustres da freguesia e da cidade e um momento musical que foi protagonizado pelos professores da EBS do Cerco do Porto, tendo terminado com um porto de honra.

O momento dos discursos foi inaugurado por Rodrigo Oliveira, presidente da Assembleia de Freguesia de Campanhã, que fez questão de ressaltar que “eu tinha de estar aqui hoje para comemorar convosco este 25 de Abril. (…) Foi uma jornada de muitos anos que eu fiz no PS, na Câmara do Porto, na Junta da nossa freguesia, que eu também tive o gosto de servir e ainda agora estou, dentro do possível, a servir também, foram 20 anos. Acho que temos de estar, enquanto pudermos, a dar a nossa ajuda em prol das causas que abraçamos”.

Neste seguimento, também Rui Vidal, do PAN, foi convidado a intervir, lembrando que “é precisamente esta ideia de democracia viva e em constante renovação que devemos à herança do 25 de Abril. Abril demonstrou que é possível mudar o paradigma e libertar um país sem o destruir, que se pode partilhar sem retirar a ambição, mas, em boa verdade, a Revolução dos Cravos mostrou que se pode ampliar a liberdade, distribuir riqueza, promover saúde, educação e habitação, e ainda assim manter uma estrutura que, aos dias de hoje, ainda cria uma tremenda desigualdade e mantém alguns no privilégio, porque, enfim, envolvidos 51 anos, a verdade é que o jogo continua viciado e mesmo revoluções extraordinárias como o 25 de Abril não conseguem mudar tudo. Mas, o mais surpreendente aos dias de hoje é que mesmo neste jogo de dados viciados, são os que estão a ganhar que estão descontentes”.

Por sua vez, Elisabete Carvalho, do Bloco de Esquerda, começou por “saudar a Freguesia de Campanhã por manter esta tradição do 25 de Abril, que é importante. É a única freguesia da cidade que efetivamente o faz e o faz de forma condigna e que se recusa a esquecer esta data”. Recordando que “há 50 anos foram as primeiras eleições democráticas em Portugal, após quase meio século de regime fascista”, a deputada afirmou que “o ato eleitoral de 25 de Abril de 75, no qual concorreram 14 forças políticas, teve uma extraordinária participação da população. (…) Abril é liberdade, é ter direito a ser e pensar. Há 51 anos, Portugal mudou, passou a ser um Estado de direito democrático. Não nos podemos render ao regresso de ideias e políticas opressoras, que aguilhoaram este país por 48 anos, que nos retiraram direitos e degradaram a vida de todas e todos”.

Já Nuno Silva, da CDU, enfatizou que “ano após ano é redobrado o meu prazer em estar aqui, nesta casa da democracia, para levantar a voz e o punho na luta pela Revolução de Abril, que, como afirmei nas celebrações do ano passado, dos 50 anos, se faz todos os dias. (…) E àqueles que nos últimos quatro anos aqui vêm confundidos no calendário, que curiosamente hoje não estão cá, discorrer agruras sobre a mais bela das revoluções, gabo-lhes a insistência, isto já cá estava antes da falta, mas não lhes gabo a falta de coerência, até porque foram aqueles a quem chamam de derrotados que, em ampla maioria, aprovaram a nossa Constituição da República a 2 de abril de 1976. (…) Em Portugal, a Revolução dos Cravos deu-nos a liberdade para lhes dizer, olhos nos olhos, não passarão. A nossa resistência é a maior das suas fraquezas”.

Por conseguinte, Pedro Mendes, do PSD, sublinhou que “Há 51 anos, Portugal acordava para a liberdade. Os cravos erguiam-se nos canos das espingardas e com eles florescia a esperança de uma nação. Foi o fim de um regime de medo e silêncio. Foi o começo de um país que se queria livre, democrático e justo. Hoje, aqui em Campanhã, não nos limitamos a comemorar esse momento. Celebramos o valor da liberdade, mas também fazemos dela um compromisso. Um compromisso com a verdade, com a justiça social e com a dignidade das pessoas. Para honrar verdadeiramente Abril, é preciso ter a coragem de olhar para o presente. É preciso olhar para Campanhã e dizer: esta freguesia merece mais. Campanhã é, infelizmente, há demasiado tempo, um exemplo daquilo que o poder local não pode nem deve ser. Ausência de ambição, falta de estratégia e incapacidade de liderar com a visão. Temos um executivo que governa ao sabor do improviso, redundante, preso à rotina e incapaz de ajustar e promover a mudança que os tempos atuais indicam”.

Ulteriormente, António Mira de Sousa, do PS, reiterou que “ouvem-se algumas vozes e leu-se em alguma imprensa dizendo-se que o 25 de Abril já fez tudo o que havia a fazer. Ideia que encerra em si mesma uma tentativa de cristalizar um processo que, pela sua natureza transformadora e profundamente humana, está e deve estar em permanente construção. O 25 de Abril não foi um ponto de chegada, mas sim um ponto de partida. Marcou um dos momentos mais significativos da história contemporânea portuguesa. Derrubou um regime autoritário que durante 48 anos censurou, reprimiu, exilou, empobreceu e matou. Abriu caminho à liberdade de expressão, ao sufrágio universal, à liberdade de associação e organização partidária, à dignidade do trabalho, à educação pública universal e ao acesso à saúde. Contudo, reduzir o 25 de Abril a um conjunto fechado de conquistas realizadas no imediato pós-revolução, é desvirtuar o seu verdadeiro significado histórico, o de um processo de democratização contínuo e inacabado. (…) A realidade social mostra-nos que ainda estamos longe de concretizar plenamente os ideais de Abril. Persistem desigualdades gritantes em múltiplas dimensões”.

Presente na sessão, o cónego Fernando Milheiro também foi convidado a dirigir algumas palavras aos presentes, referindo que “tenho um apreço especial por esta sessão, que honra o 25 de Abril. Saibamos nós mantê-la e continuá-la sempre com mais vida, para ser um belo testemunho de liberdade e de convivência democrática. Para isso se fez o 25 de Abril. Uma segunda palavra, para mim obrigatória. Faleceu o Papa Francisco, um homem de todo o mundo. Curiosamente, no domingo passado, que era dia de Páscoa, antes da bênção à cidade e ao mundo, o Papa Francisco, por outra pessoa que leu o texto que ele fez, disse: caros irmãos e irmãs, não é possível a paz sem um verdadeiro desarmamento. A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa, não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento. Gostaria que voltássemos a ter esperança de que a paz é possível. (..) Estes valores evidentes, transmitidos como sendo a última palavra de um homem que soube alargar o coração à dimensão do mundo, são valores do 25 de Abril”.

Por fim, foi Paulo Ribeiro, presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, quem encerrou os discursos. Sustentando que “eu venho aqui falar de Abril, não venho aqui fazer discursos políticos”, o edil afiançou que “hoje é o Dia da Liberdade. É o dia pelo qual os nossos pais e nós lutamos. É por Abril que eu estou aqui e é por Abril que nós devemos lutar. Hoje devemos falar de Campanhã, sim, mas devemos falar de Abril em primeiro lugar. Campanhã tem a honra de ser a única freguesia, como já foi dito aqui, que comemora o 25 de Abril e não é há 4 anos, não é há 8, não é há 12, não é há 16, mas é há cerca de 36 anos. Por isso, esta Junta tem dado o seu apoio em tudo o que é necessário, na ação social, na educação, no desporto, por isso é que toda a gente reconhece esta Junta de Freguesia. Eu não gostava de falar de política, hoje gostava de falar de liberdade e de Abril. Mas, obrigaram-me a mudar o meu discurso, porque vieram para uma comemoração do 25 de Abril com discursos políticos”.

A tradicional sessão solene culminou com a atribuição de distinções a figuras ilustres da freguesia e da cidade. Neste contexto, José Moreira, Luís Ramos e Sónia Alves foram homenageados com a Medalha de Mérito – Grau de Ouro, por uma década de dedicação às rusgas de São João. Por fim, as professoras Maria Luísa Costa e Elisa Alves foram agraciadas com a Medalha de Mérito – Grau de Ouro, por uma vida de dedicação à educação.

Assim, as comemorações dos 51 anos do Dia da Liberdade encerraram com um momento musical, protagonizado pelos professores da EBS do Cerco do Porto, que antecedeu, o habitual cântico, em uníssono, de “Grândola Vila Morena” e do “Hino Nacional”.

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