“MARGARIDA SANTOS É E SERÁ SEMPRE UMA MULHER DE VANGUARDA, DA PALAVRA, DA ESCULTURA E UM SER HUMANO SEM IGUAL”

A escritora Manuela Bulcão aliou-se a Odete e Rui Caldeira, proprietários do restaurante Alma & Mar e da Quinta da Boucinha, para criar o projeto “Sabor das Palavras”, que foi apadrinhado por Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Gaia. A primeira tertúlia poética esteve à mesa no restaurante Alma & Mar, que se situa no Complexo das Piscinas da Granja, e teve como convidada a poetisa e escultora Margarida Santos, cujas obras foram declamadas, ao sabor da gastronomia, por inúmeros dizedores de poesia.

 

 

A primeira tertúlia poética do ciclo “Sabor das Palavras” juntou cerca de 40 pessoas no restaurante Alma & Mar, sito no Complexo das Piscinas da Granja. Entre a música e a voz de Francisco Xavier Rosário, os presentes declamaram e revelaram a alma de Margarida Santos à mesa, ao jeito do Botequim de Natália Correia.

Assim, a poesia invadiu o espaço, o ambiente, as conversas, os sabores e, também, fez parte da decoração. Foi tudo pensado para, como revelou em entrevista ao AUDIÊNCIA a coordenadora da iniciativa, Manuela Bulcão, “a primeira de muitas tertúlias que nós iremos fazer”.

“Este projeto, digamos assim, já vinha a ser costurado há algum tempo. Só que agora, após pandemia, eu acho que está na altura de nós voltarmos a dar à luz os projetos que estavam na gaveta e começamos, hoje, um ciclo de tertúlias, que creio que fará a diferença, neste momento que estamos a atravessar”, sublinhou a escritora e poetisa Manuela Bulcão, explicando que “nós vamos fazer as tertúlias por dois ciclos, umas serão tertúlias poéticas e as outras serão tertúlias temáticas. Hoje começamos, precisamente, pelas tertúlias poéticas, onde foi convidada a Margarida Santos, como é do conhecimento do público, eu poderia considerá-la um monstro da arte, porque ela é uma mulher com uma abrangência total, quer na arte das letras, quer na arte da escultura”.

Por sua vez, Odete Caldeira, proprietária do restaurante Alma & Mar e da Quinta da Boucinha, assegurou ao AUDIÊNCIA que “é uma iniciativa, ao nível da restauração, muito importante para nós, porque nós não queremos só partilhar, propriamente, sabores, queremos, também, transmitir os sabores das palavras, porque é muito importante, hoje em dia, sentirmos o significado das palavras que nós gostamos que sejam transmitidas, o amor, o carinho, a amizade, o partilhar, o estar presente com os amigos, com a família e isso faz parte da restauração também. A restauração teve um período muito grave, no qual deixamos de partilhar, deixamos de estar e eu acho que valorizarmos estas iniciativas é importante para todos nós”, asseverando que “nós vamos sempre elevar a nossa gastronomia ao nível das palavras e portanto vamos começar sempre com pratos que nos digam algo e que tenham alma”.

A responsável pelo espaço aproveitou, ainda, a ocasião para convidar Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Gaia, para ser padrinho destas tertúlias poéticas e temáticas, relembrando que o sociólogo e autarca “inaugurará as tertúlias temáticas, no dia 17 de junho, na Quinta da Boucinha, e vai transmitir-nos não só a sua vivência como sociólogo, mas todo o empenho que tem feito pelo nosso concelho e pela sociedade”.

Neste seguimento, Eduardo Vítor Rodrigues agradeceu o convite e garantiu que “estou aqui com muito gosto e, até devo dizer, com uma pequena pitada de emoção. Em primeiro lugar, porque é um primeiro momento de encontro, quase, em família, depois destes meses, de mais de um ano de confinamento, e organizado por pessoas como a dona Odete e o arquiteto Rui Caldeira, que passaram este tempo, como muitos outros restaurantes de Gaia e do país, numa situação difícil e depois porque o mote é a cultura e a Margarida Santos, que é uma personalidade da cultura e das artes em Vila Nova de Gaia e, portanto, é uma oportunidade para nos revermos. Há tanto tempo que só nos vemos na internet. Eu acho que começa a ser, aos bocadinhos e com muito cuidado, a altura de nos encontrarmos neste tipo de espaços”, explicando, no que concerne à tertúlia temática que conduzirá, que “quando a dona Odete me falou, na perspetiva de juntar pessoas e de progressivamente nos encontrarmos, falou-me como pessoa, como cidadão e não como presidente de Câmara e, portanto, eu acho que vai ser mais uma abordagem a coisas que não têm muito a ver com política, mas que, se calhar, são as coisas mais importantes que marcam as pessoas e o indivíduo”.

A tertúlia poética começou e encerrou com a escultora e poetisa Margarida Santos e, ao longo da noite, foram inúmeras as surpresas preparadas por Manuela Bulcão para agraciar a autora convidada.

“É professora, é escultora, é poeta, é crítica de arte, é produtora de eventos, desenhadora, ilustradora. Os seus temas prediletos são o amor, a mulher, a beleza e as relações humanas. Todas as suas expressões artísticas têm uma raiz figurativa do corpo humano, onde a razão é vencida pela emoção e pelos sentimentos”, enalteceu a coordenadora da iniciativa, salientando que “Margarida Santos é e será sempre uma mulher de vanguarda, uma mulher da palavra, uma mulher da escultura, um ser humano sem igual”.

David Cardoso, Libânia, Carlos Revez, Natália Rocha, Miguel Vieira Duque e Delfim Sousa, que se encontrava nos Açores, mas fez questão de participar, foram algumas das personalidades que, através das obras “eu amo tu”, “Fragmentos de uma biografia roída” e “Luz íntima”, apresentaram Margarida Santos.

A convidada foi, ainda, desafiada por Manuela Bulcão, que lhe apresentou um baú dos afetos, do qual “a Margarida vai tirar um papelinho e vai dizer-nos o que é aquelas palavras significam para ela”, destacando que “com este baú conseguimos perceber a essência da nossa homenageada, da nossa convidada de hoje” e que “o baú vai continuar repleto de afetos para todos vós”.

Depois da poesia e dos afetos, Margarida Santos afirmou que “todas as pessoas que me conhecem sabem que eu sou uma pessoa de afetos e eu acho que não há cultura sem afetos. Não há vida sem afetos. Os afetos são a base da sustentação das relações humanas. Sempre fui alguém que pugnou por atos de humanidade, por tentar retratar as pessoas que se distinguiram ao longo da vida, em diferentes momentos, pela sua forma genuína de estar. Para mim, ser pessoa, ser humana e ser humilde é, absolutamente, essencial e é nessa qualidade de humildade, que não é em mim qualquer coisa construída, eu sou uma pessoa assim”, frisando que “é neste momento que eu penso que todos querem elevar-me a um patamar no qual eu não me sinto, nesse patamar coloco eu as minhas estátuas”.

“Eu sou vocês, vocês são eu. Eu sou suficientemente humilde para reconhecer que tudo aquilo que aqui foi dito e quis, como vocês todos têm consciência, homenagear-me de alguma forma. Eu penso que todos nós, cada um de nós, tem motivos fortes para ser também distinguido”, evidenciou a escultora e poetisa, declarando que “eu não quero ser diferente, sendo diferente”.

Manuela Bulcão divulgou, ainda, que “nós hoje temos, aqui, entre nós, uma senhora, Lurdes Vilaça, que veio assistir, mas na próxima ficará bem juntinha a nós, porque ela viu o nosso evento no Facebook, perguntou se podia vir e cá está. E não é que ela me confidencia que também escreve muito timidamente e acha que o que escreve não tem valor, mas tem sim senhora, porque toda a escrita são verdadeiros rascunhos da alma” e seguidamente fez questão de ler um poema da autora.

A noite terminou, assim, entre o mar e a poesia, com a verdadeira tertúlia.