Amar. Amor. Eu amo. Tantas vezes ouvimos esta expressão, que até parece perder-se no seu significado. Mas, eu amo esta terra!
Conversar uma hora com o grande escritor Joel Neto e ser acompanhado por milhares de pessoas online, não era bem o que tínhamos em mente quando se planeou esse momento. Mesmo assim, a conversa foi desenrolando e dos quatro cantos do mundo chegaram os comentários, os gostos e os coraçõezinhos que todos adoram colocar na rede social do Facebook.
O mês de junho foi repleto desses momentos de milhares de mensagens, gostos e coraçõezinhos porque foi assim que se apresentou a oitava edição do maior festival de artes dos Açores para o mundo, o Azores Fringe. De suas casas, escritórios e oficinas, até aos jardins, matas e outros cenários da bela natureza açoriana, mais de 200 artistas se expressaram, como nunca antes tinha acontecido. E, ainda, alguns tiveram o privilégio de atuarem na Miratecarts Galeria Costa, com o mar infinito de um lado e a montanha majestosa do outro, e seu trabalho a ser transmitido através da www (world-wide-web). Não há nestas ilhas, neste país, uma propriedade como a Galeria Costa com o seu Cantinho das Suculentas, o Palco LUX, a Floresta Musical ou a Quinta da Lusofonia, cenários naturais para músicos e outros artistas multidisciplinares oferecerem concertos, recitais, instalações e muito mais.
Adaptar o festival internacional de artes, de dezenas de momentos ao vivo, para as plataformas online, não foi assim tão fácil. Muitos dos participantes elogiaram a mudança, alguns declinaram a participação, outros estranharam a sua presença e todos expressaram a saudade de estarem a trabalhar, a mostrar, a conversar, em pessoa. Pois, na verdade, não só na arte, mas na vida dos humanos, necessitamos de tocar, de cheirar, de ouvir, de ver, de sentir uns aos outros e assim nos incentivar para mais criação. Mas aconteceu e está previsto que volte a acontecer, em alguma da programação que se pretende continuar a ter presença online. Mas, esperamos que ao-vivo, frente-a-frente, também volte em breve, porque quer dizer que estamos bem, estamos livres da pandemia que é o COVID-19, ou pelo menos que a conseguimos conter. E quem é que já não tem saudades de pôr pé no Auditório do Museu dos Baleeiros, ou descer até à Gruta das Torres?
A edição do Azores Fringe online deu a oportunidade de entre música, álbuns de arte de artistas açorianos para mostra e venda, arte inspirada pela era do COVID-19, vídeos de visitas a oficinas de artistas, conhecer um pouco mais do que acontece por “detrás da cortina”. E, ainda, debates e conversas, muitas conversas. Conversas que nos levaram às 9 ilhas dos Açores e ainda mais além. Conversas que me levaram a “pôr a conversa em dia” com artistas que têm participado desde a fundação da associação MiratecArts e o primeiro Fringe. Os sorrisos, as gaitadas e o lembrar de momentos que já passamos juntos, que já produzimos para audiências em auditórios, nas grutas, nos jardins, nas piscinas naturais e até no topo da montanha mais alta de Portugal, o Pico.
A Carolina Cordeiro e o seu primeiro workshop de escrita na Câmara da Madalena; a Nina do Valzinho das Flores que começou sua participação com guitarra na mão nas ruas do Pico; a Maria Simões com a sua palhaça Luna que já viajou entre ilhas e se apresentou desde o Caldeirão do Corvo à maior cidade, mas é na ilha montanha que volta anualmente, este sendo o primeiro ano que cá não conseguiu pôr pé, mas deu-nos muito “pés por manga” com seus contos online; o João da Ilha que colocou a Terceira neste Fringe, porque tem de haver sempre alguém que lidere para outros seguirem; a Rosa Mendonça com sua nova marca registada, Corvino; o Rafael Carvalho que é incansável na promoção do mais distinto e tradicional instrumento açoriano, a Viola da Terra; o micaelense Pedro Almeida Maia que desta vez moderou quatro sessões das conversas mais interessantes de sempre… conversas e mais conversas, e que quem tem interesse pode rever, visitando as páginas no Facebook de MiratecArts e do Azores Fringe Festival. Vamos ao Fringe!
E o resto? Pois é, há muito mais para pesquisar. Quando vejo jovens da minha ilha a chegar-se à frente e a participar neste certame inigualável, a lágrima vem ao rosto. Não por estar triste. Muito pelo contrário. Por perceber que, afinal, vale a pena. Vale a pena lutar pelas nossas paixões. Vale a pena lutar pelo nosso bairro, pela nossa ilha, pela nossa região. E nós fazemo-lo através da cultura artística. Temos muito mais para lutar. Aqui, do meio do Oceano Atlântico, conseguimos fazer muito. Durante o Fringe conseguiu-se um alcance orgânico de mais de 750 mil visualizadores. E como o ditado popular diz: “A procissão ainda vai no adro.”
Dia Mundial do Fringe é a 11 de julho e os Açores fazem parte do movimento internacional que inclui cerca de 300 cidades e regiões no mundo – viva “World Fringe Day” com o Azores Fringe.
Eu amo ESTA terra!