FERNANDO ANDRADE ASSUMIU QUE PRETENDE DEFENDER E DIVULGAR OS AFAMADOS “VELHOTES” GAIENSES

Os originalmente denominados “Velhotes da Braguesa” são um tipo de pão doce, que é feito à base de ovos e açúcar e representa um dos doces mais típicos e tradicionais de Vila Nova de Gaia. Este doce, que é característico de Valadares, é muito procurado durante a festa em honra do Senhor dos Aflitos e levou à criação de uma Confraria para a sua defesa e divulgação. Fernando Andrade, Chanceler da Confraria Gastronómica dos Velhotes, falou, em entrevista ao AUDIÊNCIA, sobre os seus objetivos e ambições enquanto Chanceler e sobre a importância da Confraria Gastronómica dos Velhotes na salvaguarda e na divulgação deste afamado doce gaiense.

 

 

 

Qual é a história da existência da Confraria Gastronómica dos Velhotes?

A Confraria Gastronómica dos Velhotes foi fundada a 27 de dezembro de 2002 e, a partir de 2005, organizou o I Capítulo. O Capítulo é, no fundo, a festa anual da Confraria em conjunto com todas as outras confrarias do país. Portanto, inicialmente esse capítulo realizava-se todos os anos, mas há uns anos esta parte passou a realizar-se de dois em dois anos, porque é uma organização que dá bastante trabalho, uma vez que tem de ter necessariamente a presença de outras confrarias. Todavia, no ano intermédio é feito um capítulo interno, portanto, é uma festa de convívio entre todos os Confrades e Confreiras da Confraria.

 

De que forma é que esta Confraria eterniza, salvaguarda e leva mais longe o nome do doce “Velhote”?

Quando nós vamos aos Capítulos das outras Confrarias, a nossa lembrança é, precisamente, o “Velhote”. Portanto, o “Velhote” é praticamente só fabricado por uma padaria, mas hoje em dia, se calhar não seguindo a receita original, já é fabricado em inúmeras padarias. É claro que nós já pensamos na certificação do “Velhote”, mas como isso é um pouco complicado, nós temos procurado divulgar o “Velhote” levando o doce a cada evento. Nós também tínhamos sido convidados para participar num evento no Mercado do Bolhão, onde nos foi atribuída uma manhã de um sábado, para apresentarmos a nossa Confraria nesse evento, mas entretanto também foi cancelado. Eu quando falo na dinamização e divulgação da Confraria, eu acho que muitas pessoas da União de Freguesias onde nos encontramos veem a Confraria como um grupo de amigos que se juntam para comer e beber, mas nós vamos ter de mudar essa mentalidade, porque a Confraria tem outros fins e, portanto, venham ter connosco.

 

Como referiu, o doce “Velhote” é, atualmente, fabricado em várias padarias e em várias localidades gaienses. Na sua opinião, quais são os melhores “Velhotes”?

Uma das nossas metas era trazer para a Confraria o responsável pelo fabrico dos “Velhotes”, portanto o responsável pelo fabrico dos “Velhotes de Valadares” é nosso Confrade e faz parte da nossa Confraria, mas existem outras freguesias do concelho de Vila Nova de Gaia, como Madalena, Canidelo e Avintes, onde também se fabricam os “Velhotes”. Avintes já esteve connosco no Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, quando foi realizado no Cais de Gaia. A Madalena já esteve connosco em vários momento e penso que nos Capítulos também já chegou a fornecer os “Velhotes”, mas é claro que Valadares é Valadares, é o símbolo, mas, de qualquer maneira, todos os fabricos são bem-vindos.

 

Quantos Confrades tem a Confraria neste momento?

Relativamente aos Confrades Efetivos, nós temos cerca de 50, incluindo as Confreiras. Nós também temos Confrades de Honra, mas contemplam um número bastante alargado.

 

De uma forma sucinta, quais são os marcos mais significativos da vida desta Confraria?

Há uns anos foi integrado num Capítulo, o maior “Velhote” a figurar no Guinness. Foi uma festa extraordinária e eu penso que, até agora, foi o maior “Velhote” fabricado. Para além disso, os Capítulos são sempre momentos de festa da Confraria. Existiram Capítulos excecionais e, portanto, o último foi em 2019, precisamente na Alameda do Senhor da Pedra. Agora, para o próximo ano, se tudo permitir, vamos ter um novo Capítulo, que se vai realizar no primeiro sábado do mês de julho, que é sempre coincidente com a festa em honra no Nosso Senhor dos Aflitos de Valadares.

 

O Fernando Andrade tomou posse dos destinos da Confraria Gastronómica dos Velhotes em janeiro deste ano. O que o motivou a candidatar-se?

O Confrade principal e responsável pela fundação da Confraria Gastronómica dos Velhotes, o senhor Armindo Costa, em 2019 era o Chanceler e renunciou ao cargo, portanto, aí foi eleita uma Comissão Administrativa, constituída pelos presidentes de cada órgão e o vice-presidente da Chancelaria. Entretanto, fomos tentando arranjar órgãos sociais para assumir a Confraria. Todavia, atingiu-se o limite e como não havia ninguém e eu já fazia parte da Comissão Administrativa, uma vez que eu já era o presidente do Conselho Fiscal, o Mordomo-Mor da Confraria, eu disse que assumiria a gestão da Confraria, mesmo com dificuldade na minha vida familiar. Assim, propus uma lista, composta, na sua maioria, por elementos da antiga direção, a lista foi aceite e eu fui eleito.

 

Qual é sua missão e quais são os seus objetivos enquanto Chanceler?

Eu quando tomei posse dos destinos da Confraria Gastronómica dos Velhotes, em janeiro, tive o cuidado de dizer a todos que, em primeiro lugar, íamos organizar a Confraria, porque apesar de constituir um grupo de 30 ou 40 amigos, eu acho que deve ser organizada, uma vez que nós temos os órgãos sociais todos e somos compostos por estatutos e regulamentos internos, daí a razão de eu ter dito a todos que a minha primeira missão seria organizar a Confraria. A segunda missão passaria por transformá-la numa Confraria unida, isto é, nós mensalmente realizamos um jantar da Confraria, na última sexta-feira de cada mês, mas, até agora, esses jantares têm acontecido jantares das senhoras e jantares de homens, como tal, uma das minhas metas, e apoiado por muita gente, é que passe a haver um único jantar com os homens, as mulheres e os convidados. A organização é o principal, porque eu quando tomei posse disse «eu organizarei a Confraria, farei, em termos administrativos, o que for necessário e, depois, darei o meu lugar», porque eu acho que o nome da Confraria não tem nada a ver com as pessoas, mas, de qualquer maneira, eu acho que quem deve tomar conta da Confraria deve ser uma pessoa mais jovem, esse é o nosso propósito, e quando assumi referi que organizada e fazia tudo e depois vou entregar. É claro que isto da pandemia veio atrasar tudo. Posso dizer-lhe que a organização está a acontecer, porque, apesar da pandemia, nós tivemos a possibilidade, nos dois primeiros meses do ano, de organizar a Confraria e, nesse aspeto, estamos a conseguir. Agora, há um cunho cultural que eu gostava de introduzir na Confraria e um cunho social também, portanto eu entendo que uma Confraria não deve ser só para comer e nós ainda vamos fazendo mensalmente um encontro entre todos os Confrades, porque a maior parte das Confrarias só se reúnem no Capítulo ou nos Capítulos das outras Confrarias e nós vamos falando todos os meses e reunimo-nos todos os meses, tanto que na nossa primeira reunião acertamos logo que na primeira segunda-feira de cada mês realizar-se-ia uma reunião da Chancelaria alargada aos restantes órgãos, se necessário, e é isso o que tem acontecido. Existe uma agenda, existem atas, existe tudo, portanto, a Confraria está devidamente organizada, mas com esta pandemia não nos podemos juntar. Todavia, vamos juntar-nos brevemente numa reunião da Chancelaria, para decidirmos o que vamos fazer, porque eu acho que está na altura de tomarmos essa decisão. É claro que a Confraria não vai desistir, agora, não havendo segurança nós não vamos organizar convívios.

 

Poucos meses após a sua tomada de posse, Portugal foi afetado por uma pandemia, que está relacionada com a proliferação da covid-19 pelo mundo. De que forma é que a Confraria tem sobrevivido e tem continuado a levar mais longe e a dignificar o nome dos “Velhotes” durante este período?

A divulgação e a afirmação do doce Velhote está interrompida, porque os Capítulos foram anulados. Em março eu tive a oportunidade de participar num Capítulo, no qual já existiam medidas de controlo na sequência da covid-19. Na semana seguinte os Capítulos foram todos anulados, algo que ainda hoje continua a acontecer, dado ao facto de todos os que têm vindo a ser marcados, têm sido anulados. Nós somos sócios da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas e, portanto, vamos tendo conhecimento daquilo que vai acontecendo por todo o país.

 

O Fernando Andrade referiu a vontade que tem de atribuir um cunho social e cultural à Confraria Gastronómica dos Velhotes. De que forma pretende concretizar esse objetivo?

A nível cultural, se calhar, ao chamarmos, até aos nossos convívios, pessoas que se vão destacando a nível cultural. Lembro-me, até, da possibilidade de darmos um apoio aos melhores alunos das escolas, entre outros. A nível social, pretendemos ajudar, através da Confraria, as pessoas mais desfavorecidas da Freguesia. É claro que nós estamos sediados em Gulpilhares e Valadares, portanto essa será a primeira localidade a ser apoiada pela Confraria.

 

Qual é o papel desta Confraria junto da comunidade?

O município de Vila Nova de Gaia entende como principal, como um apoio indispensável, quer o município quer a Junta de Freguesia, por isso, têm-nos apoiado em diversas iniciativas. Hoje em dia, um dos nossos objetivos é ter uma sede e temos vindo a falar com a Câmara sobre a sede, onde nos pudéssemos reunir, porque até agora temo-nos reunido, por favor, na Associação Miramar Império de Vila Chã, em Valadares. A Associação Miramar Império de Vila Chã tem sido espetacular connosco e, no fundo, tem assumido o papel que eu acho que uma associação deve ter, que é de ajudar os outros e tem acontecido isso e temos vindo a falar com eles na tentativa de conseguirmos um espaço nas instalações antigas e penso que isso vai ser possível. A Câmara está recetiva ao nosso pedido. A Câmara entende que nós somos um parceiro social importante para a comunidade, o mesmo parecer tem a Junta de Freguesia de Gulpilhares e Valadares. Portanto, temos de desenvolver a Confraria, tomar um rumo social e cultural, porque depois será mais fácil surgirem órgãos sociais para assumirem o cargo.

 

Relativamente ao futuro, quais são as suas perspetivas? O que espera do amanhã?

A minha perspetiva é que esta situação termine rapidamente e que consigamos prosseguir o nosso trabalho na Confraria. Eu sou uma pessoa que tem conseguido levar até ao fim tudo o que idealiza, portanto eu pretendo dar um cunho muito pessoal à Confraria e era isso o que eu estava a fazer. As pessoas faziam anos e eu enviava um e-mail, eu se recebia qualquer documento dava o conhecimento a todos. Como tal, havia muita proximidade, porque eu acho que nós não podemos estar dependentes de um encontro mensal. Eu acho que somos Confrades e temos de estar, durante o mês, abertos a falarmos uns com os outros e essa foi uma das pequenas iniciativas, através das quais, às vezes, se consegue construir um espírito de união e de fraternidade, que é o importante numa Confraria. Eu acho que numa Confraria, a amizade e a fraternidade são importantes e se isso não existir, não vale a pena haver uma Confraria. Depois, também houve o problema do antigo Chanceler, porque o senhor Armindo esteve muitos anos à frente da Confraria, teve um papel importante, porque, no fundo, fundou a Confraria, mas quis sair e nós conseguimos dar a volta. Eu estou esperançado de que a nossa Confraria vai longe.