No decorrer do seu terceiro e último mandato à frente dos destinos da freguesia que o viu nascer, Nuno Fonseca fez, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, uma retrospetiva do que conseguiu conquistar para Rio Tinto. Honrado pelo trabalho e pelas funções que tem desempenhado na Junta de Freguesia, o edil manifestou, ainda, a sua vontade de continuar a concretizar os sonhos dos riotintenses e a proporcionar mais qualidade de vida à população. O autarca abordou, ainda, vários temas da atualidade, relacionados com as polémicas que envolvem a Rua D. Afonso Henriques, na zona da Areosa, assim como a desagregação ou agregação de freguesias e a descentralização de competências, no contexto das funções que exerce, enquanto membro do conselho diretivo da ANAFRE.
Para quem não o conhece, quem é o Nuno Fonseca?
Eu sou um cidadão de Rio Tinto, que esteve sempre ligado à freguesia, a diversas associações e à atividade da juventude partidária, desde o início. Atualmente, sou técnico de emergência médica no INEM, mas, também, já fui bombeiro, na Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Areosa – Rio Tinto. Em 2005, no primeiro mandato do meu antecessor, Marco Martins, fui presidente da Assembleia Freguesia. No segundo mandato, passei para o executivo e fui tesoureiro e estou, desde 2013, a exercer as funções de presidente de Junta.
Tal como mencionou, está, desde 2013, à frente dos destinos da terra que o viu nascer. Enquanto presidente de Junta, qual foi o momento mais importante para si?
Eu acho que o momento é o contínuo. Sinceramente, acho que a freguesia tem mudado muito. A meu ver, os autarcas têm o privilégio de serem os políticos que conseguem ver, no terreno, as suas obras a serem realizadas. Não são decisões abstratas, que depois demoram anos a terem algum efeito. As nossas decisões são imediatas e eu acho que o momento é ver a freguesia a mudar o seu paradigma. Nós passámos de uma freguesia que era considerada um dormitório e que não tinha atividades, para um território que começou a ter vida e identidade. O nosso foco e o nosso principal trabalho, muito mais do que aquilo que é visível e do que as realizações que nós vemos, no dia a dia, a acontecerem, foi mudar, exatamente, a imagem de Rio Tinto. Criámos uma logomarca dedicada à lenda de Rio Tinto, com base na nossa identidade cultural, para perceberem que nós não somos uma freguesia criada há poucos anos, só com uns prédios e umas habitações, mas, sim, uma localidade que até tem uma história, que já tem mais de XI séculos. Concebemos esta aposto e, agora, parece quase que somos condenados pelo nosso sucesso, porque, antes, diziam que nada se passava em Rio Tinto e, agora, dizem que tudo se passa nesta freguesia, o que não é verdade, porque as coisas passam-se, também, nas outras localidades. Agora, nós fazemos coisas bem feitas, tenho a certeza, mas, também, comunicamos muito bem e muito melhor do que muitos outros. Contudo, não deixámos de ser uma freguesia, infelizmente, com o orçamento e as possibilidades de uma freguesia, que, muitas das vezes, é olhada e é vista como um concelho e que, portanto, deveria fazer coisas ao nível de um município, o que não é possível, porque o orçamento não é o de um concelho, é o de uma freguesia.
Rio Tinto é uma freguesia que, ao contrário de muitas, está dotada com inúmeras infraestruturas atrativas de uma grande cidade, como um centro comercial, piscina, parques urbanos e metro. Portanto, não é um dormitório, mas, sim, uma freguesia onde se pode viver, estudar, trabalhar e conviver.
Rio Tinto tem os equipamentos todos em escala. Eu até digo, às vezes, na brincadeira, que até dois padres tenho, porque Rio Tinto tem duas paróquias, dois centros de saúde, várias unidades de saúde familiar, esquadras da polícia, incluindo a divisão da PSP de Gondomar, vários postos de correios, inúmeros bancos, um centro comercial, efetivamente, tem metro, uma rede imensa de transportes públicos, estações de comboio, várias escolas, nomeadamente uma secundária e duas do ensino básico, diversas escolas do 1º ciclo e escolas privadas. Portanto, Rio Tinto tem infraestruturas de uma grande cidade, claro. Porém, não construímos isto tudo em oito anos, nós passámos foi a dar ênfase àquilo que nós tínhamos, o que não acontecia anteriormente, e criámos esta imagem. Eu acho que, hoje em dia, os riotintenses já dizem que moram em Rio Tinto, quando antigamente muitos eram capazes de dizer que moravam no Porto. Aliás, há uma coisa curiosa e, um dia destes, vou começar a fazer coleção dos vários memes que existem nas redes sociais, pois é tudo Rio Tinto. Nós já temos esta essa imagem e a qualquer lado onde eu vou, no país, digo que sou de Rio Tinto e as pessoas podem não saber muito bem onde fica, mas conhecem o nome.
O Nuno Fonseca está no seu terceiro e último mandato à frente dos destinos de Rio Tinto. Como descreve o caminho percorrido até ao presente?
Na minha opinião, mas eu sou muito tendencioso nisso, foram os melhores nove anos, que eu conheci até hoje, mas isto não é fruto só do presidente, mas, também, do facto de termos um município que tem uma visão diferente das coisas e que investiu muito em Rio Tinto. Nós temos imensas obras que foram construídas, diretamente, pelo município, nestes nove anos, e que, também, trouxeram várias mais-valias, como o Parque Urbano de Rio Tinto, o Passadiço e as obras de reabilitação das redes viárias. Portanto, atualmente, existe uma visão diferente que, também, não existia antes, por isso é que eu digo que estes nove anos foram, na minha opinião, os melhores, mas são fruto da contingência atual, não são fruto só do trabalho de uma pessoa, pois isso não existe.
Depois de dois anos de pandemia, nos quais estes territórios continuaram em constante transformação, como está a decorrer este regresso à normalidade, tanto na autarquia, como nas instituições e ao nível da população?
Com muita vontade, muita ânsia. Nós estivemos parados e vivemos momentos muito difíceis. O primeiro ano foi muito fatigante, pela descoberta, pois não sabíamos os caminhos que percorríamos. Porém, agora, estamos todos com muita ânsia de continuarmos a viver e as pessoas têm muita vontade de que as coisas retomem. Nós, também, temos tido muitas dificuldades em recomeçar, porque têm existido muitos obstáculos no recrutamento de mão-de-obra, para a prestação de serviços e, também, as empresas estão com muitas dificuldades em conseguirem cumprir os prazos e fornecimentos. Todavia, estamos a entrar, rapidamente, na normalidade, se assim podemos dizer, extremamente ansiosos que as coisas aconteçam, claro.
Numa altura em que o país está a regressar ao ativo, a Junta de Freguesia já promoveu um passeio de barco pelo Rio Douro, para os alunos da Universidade Sénior. Qual foi a relevância do retorno desta iniciativa?
Esse passeio foi, especificamente, para os alunos da Universidade Sénior de Rio Tinto, mas, depois, abrimos as vagas disponíveis à população. Posso dizer-lhe que, todas estas iniciativas são de extrema importância, porque se há sítio onde se sentiu a necessidade do projeto foi, efetivamente, com este público-alvo e a Universidade Sénior. Se nós, durante o início do funcionamento da Universidade Sénior, que foi um projeto criado por nós, nestes nove anos, tínhamos a certeza da qualidade da aposta que fizemos, porque fazia falta, a este público muito ativo ainda. A nossa Universidade Sénior tem uma particularidade, não é um centro de convívio, portanto, destina-se a um público com idade superior a 55 anos, mas extremamente ativo, no pleno das suas capacidades físicas e intelectuais, que ainda tem muito para dar e muita ânsia de aprender, tanto que muitos dos nossos alunos, são professores ao mesmo tempo e é um bocadinho isto o que ali se passa. Como tal, devido ao interregno imposto pela proliferação da Covid-19, a Universidade Sénior foi um dos locais onde mais se sentiu a necessidade do retorno, porque os nossos alunos sentiam muito a falta do contacto.
Neste seguimento, a 19ª edição da Feira de Artesanato, integrada nas Festas de S. Bento das Peras e S. Cristóvão também voltaram a realizar-se. Qual foi a importância deste regresso? Como foi a adesão e o impacto junto da população?
Eu acho que a população aderiu muito bem. Aliás, no final, todos os comerciantes transmitiram, à Junta de Freguesia, que estavam extremamente satisfeitos, pelo simples facto de que, além de estarem muitas pessoas, venderam. O artesanato é sempre algo muito suscetível, pois não é porque há uma feira que as pessoas vendem, ou seja, tem de se conjugar o produto, com a vontade de comprar e, também, muitas das vezes, o artesanato, também, é uma mostra que as pessoas gostam de ver, mas não vão com aquele objetivo de comprar. Mas, na sua grande maioria, os comerciantes transmitiram que estavam, verdadeiramente, satisfeitos, porque tinham vendido, efetivamente, bastante. Estiveram, mesmo, muitas pessoas na festa. Os dois últimos dias, sexta e sábado, foram muito fortes, com muita gente, logo, foi mais uma retoma. Também, foi muito interessante verificar que houve uma mudança neste regresso, isto é, apareceram novos públicos e vendedores, também fruto dos dois anos de interregno impostos pela pandemia. Para além disso, nós conseguimos integrar algumas iniciativas das nossas associações e coletividades nesta iniciativa, porque, aqui, as Festas São Bento e de São Cristóvão são, exatamente, o paradigma daquilo que eu dizia há pouco. Estas são as principais festas de uma freguesia, não são as festas de um concelho e as pessoas olham para as Festas de São Bento e de São Cristóvão e pensam que estão a olhar para umas festas de um município. Eu não tenho dúvidas nenhumas de que foram as melhores festas, dentro da cidade de Rio Tinto, mas, lá está, elas são quase, totalmente, financiadas pela Junta de Freguesia e nós vamos ao limite, do que é possível, dentro de uma freguesia, fazendo um esforço muito grande. Agora, estamos a trabalhar e acredito que foi um regresso para uns e um verdadeiro começo para outros, que correu muitíssimo bem.
Falando sobre a agenda da Freguesia de Rio Tinto, que outras atividades vão regressar brevemente?
Nós estamos, aqui, a preparar algumas atividades e iniciativas, para retomarmos, ainda, até ao final do ano. A Feira Medieval de Rio Tinto vai regressar de 15 a 18 de setembro. Nós já estamos a começar a prepará-la e vai ser um grande desafio, porque o recomeço, depois de uma paragem, é mais difícil, porque quando a máquina já está ligada e a funcionar é muito mais fácil. Também, estamos a preparar algumas iniciativas, que vão decorrer durante o verão e antecederão as nossas tradicionais atividades que, certamente, irão ocorrer em outubro, como a Corrida da República, e, depois, no Natal, como o circo natalício e as Árvores de Natal Solidárias, assim como ponderamos, eventualmente, projetar, este ano, um Mercado de Natal, com inúmeras ações. Portanto, o mês de dezembro vai estar repleto de atividades e iniciativas nossas.
A Junta de Freguesia está a preparar alguma iniciativa especial para os mais velhos?
Nós vamos retomar o nosso passeio mensal, mais reduzido, apenas com um ou duas camionetas, que se deslocarão a locais mais próximos do distrito do Porto e que não obrigue a muitas horas de viagem. Portanto, será mais para estar no local, do que para andar de autocarro. Mas, vamos voltar a realizar estes passeios mensais, com pessoas diferentes, a partir deste mês, uma iniciativa denominada Seniores em Movimento, que sempre se distinguiu dos passeios anuais, onde participam muitas pessoas, que são organizados por outras freguesias.
Quais são as apostas desta Junta de Freguesia nas áreas da cultura, desporto e da ação social, tendo em vista promover uma melhor qualidade de vida para a população?
A ação social é uma área que sempre foi uma marca nossa. Nestes últimos nove anos, criámos, aqui, projetos muito interessantes, principalmente o nosso Banco de Emergência Social, que engloba os Bancos de Mobiliário, de Ajudas Técnicas, Alimentar, de Roupas e de Apoio Financeiro, assim como os projetos de economia circular, que estão sempre associados à parte da solidariedade. Neste momento, infelizmente, notamos, outra vez, um acréscimo da necessidade de apoios sociais. A Junta de Freguesia vai estar sempre presente, como tem sido marca, quer com apoios alimentares e financeiros, quer com apoios em géneros variadíssimos, mesmo que isso seja, para nós, um esforço acrescido, pois nós sabemos a diferença entre a necessidade de alimentar uma família e a necessidade de tapar um buraco na rua.
Que obras materiais e imateriais estão em curso, ou pretende concluir até ao final do seu mandato?
Nós, neste momento, por exemplo, a nível de infraestruturas públicas, estamos, desde o ano passado, a fazer a requalificação dos nossos espaços verdes, dotando-os de outra qualidade, design e arquitetura, com a redução dos consumos de água e com plantas de baixa manutenção, mas que, também, reabilitem os espaços. Ainda recentemente, terminámos a requalificação de toda a área envolvente à Igreja de Rio Tinto, o que, para a Junta de Freguesia, foi um esforço financeiro de quase 30 mil euros, só nos espaços verdes. Neste momento, nós já vamos em mais de 20 espaços de grande dimensão, que foram requalificados no último ano e meio e vamos, muito brevemente, reabilitar outro espaço verde. Portanto, vamos fazendo, assim, progressivamente, a requalificação da grande maioria dos espaços verdes, com sistemas de rega, plantação de relvas em tapetes, ornamentação de plantas e jardins de manutenção mais reduzida, mas que não percam, por si, a beleza, até pelo contrário. Como tal, temos, aqui, o equilíbrio entre a nossa vontade de sustentabilidade e a necessidade, também, de termos uma cidade aprazível e mais requalificada. Durante o ano passado fizemos o mesmo no recinto da Quinta das Freiras, com um investimento muito grande para nós, ao nível da gestão do sistema de rega e é isso o que temos andado a fazer, principalmente ao nível de investimentos em espaços públicos. Ainda agora, em parceria com a Junta Freguesia de Baguim, construímos o espaço Jardim da Cidade de Rio Tinto, no aniversário da freguesia, que contemplou a requalificação e a transformação de um jardim, não só num espaço melhor, mas, também, num jardim com equipamentos públicos. Esta obra contou, na sua grande maioria, com o financiamento da Câmara Municipal de Gondomar e, depois, as Juntas fizeram uns apontamentos de qualidade, pelo que temos mais um espaço requalificado.
Quais são os seus maiores sonhos, tendo em vista o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida da população?
Os meus maiores sonhos são que as pessoas gostem de viver em Rio Tinto, assim como deixar, aqui, não uma marca pessoal, até porque estou no meu último mandato, mas bases, suficientemente, sólidas em alguns projetos, para que eles, depois, se mantenham, porque se fizermos coisas que não se sustentem por si próprias, depois, elas acabam por não se aguentarem no futuro. Logo, o meu objetivo é este, que a aposta em determinadas áreas seja tão forte e uma marca tão patente, que, depois, seja difícil de a mudar ou findar. Nós estamos, perfeitamente, de acordo de que há coisas que têm de perdurar, por exemplo, os projetos de apoio à área sénior, como a Universidade Sénior, o Espaço Sénior que nós estamos a fundar, o projeto Seniores em Movimento, a questão da sustentabilidade da freguesia na gestão de resíduos e a aposta na economia circular, no âmbito da qual nós já temos dois projetos financiados pelo Fundo Ambiental. É, igualmente, importante manter o facto de Rio Tinto ter sido distinguido com o Galardão de Ouro do Eco-Freguesias, continuar a apostar nessa área e fazer com que toda a estrutura perceba que o caminho é esse. Portanto, estes não são os meus sonhos, são os meus objetivos, que passam por tornar a estrutura de tal forma sólida, de modo que, quem vier a seguir, faça o seu trabalho, a sua gestão e a sua marca, mas perceba que existem caminhos que fazem a diferença entre uma freguesia de exceção e uma freguesia de qualidade, ou boa e nós queremos ser uma freguesia de exceção.
Que obras ainda gostaria de ver erguidas até ao final do seu mandato?
Ora bem, há uma obra que nos foi prometida pela Câmara Municipal e que eu espero ainda ver a ser erguida, se não for terminada, que é o Fórum de Rio Tinto. Esta freguesia precisa de uma sala de espetáculos, porque não tem nenhum local, fechado, com condições, que permita sentar mais de 200 pessoas, para que possamos realizar várias iniciativas. Portanto, Rio Tinto precisa desta sala de espetáculos e eu espero ver a sua inauguração a acontecer, se não for como presidente, como cidadão, porque eu acho que será uma mais-valia para a freguesia.
Rio Tinto é uma freguesia com muitas infraestruturas, como já mencionou. Porém, existe alguma carência?
Existe, porque quanto mais pessoas somos, mais necessidades temos. Nós não temos, por exemplo, um pavilhão desportivo, que é uma grande lacuna da freguesia, aliás, nós temos dificuldades em equipamentos desse género. Falei-lhe do equipamento cultural, mas posso falar-lhe, igualmente, do equipamento desportivo. Eu já não falo na construção de um multiusos, não estou a falar desse patamar, mas de um pavilhão, para que os clubes desportivos da freguesia possam realizar a sua atividade normal, que possua o mínimo de condições, que são exigíveis para a organização de campeonatos, torneios e jogos oficiais dos mais variadíssimos escalões, podendo, até, ascender aos principais escalões, por exemplo, no futsal, futsal feminino, onde temos já uma marca muito grande, e no andebol. Eu acho que se nós conseguirmos resolver esta lacuna desportiva e esta lacuna cultural, aí, sim, já passámos a estar num outro patamar.
O futuro da Rua D. Afonso Henriques, em Rio Tinto, tem feito correr muita tinta nos órgãos de comunicação social. A seu ver, depois de muitas queixas, descontentamentos e com um novo projeto-piloto em vista, qual seria a melhor solução para esta artéria da zona da Areosa?
Se nós soubéssemos o que é que seria melhor para aquela rua, isso seria feito. Agora, nós temos de ser muito claros e muito transparentes na forma como avaliamos as coisas. A zona da Areosa não estava bem e se fizéssemos lá uma sondagem, 100% das pessoas diriam isso. Agora, o problema está no que vamos fazer para mudar a zona da Areosa, porque não afetou apenas a D. Afonso Henriques, que ficou com um sentido, mas também a Rua Heróis da Pátria, que passou a ter veículos de transporte de passageiros, o que não tinha. Portanto, a zona envolvente ao Mercado da Areosa passou a ter circulação à sua volta, que era algo que, também, não tinha. Portanto, algumas mudanças foram feitas. Claro que, quando se provocam mudanças, às vezes, catapultamos algumas coisas da nossa opinião pessoal, para um problema global, porque se nós chamarmos toda a gente para tomarmos uma decisão, seja em que assunto for, e não me estou a referir à Areosa, eu tenho a certeza de que não chegámos à melhor solução, chegámos é a solução nenhuma, porque ninguém se consegue entender. A Câmara Municipal fez uma sondagem junto dos moradores e dos comerciantes com três opções e todas elas ficaram com 1/3 da votação, ou seja, nem eles conseguem entender qual é a melhor solução. E mesmo a opção de ficar tudo como estava só teve 1/3 dos votos, porque 70% optou pela mudança, só que destes 35% querem a opção A e os outros 35% a opção B. É um problema. Agora, a autarquia inseriu o transporte público à mudança, por isso, vamos ver, mas temos de ser claros, porque nunca poderemos ter tudo. Nós poderemos ter a D. Afonso Henriques com autocarros nos dois sentidos, mas, se isso acontecer, nós nunca teremos esta rua com passeios que permitam a passagem de cadeiras de rodas, a circulação de muitas pessoas, com qualidade, ou passeios com mais de um metro em frente aos locais de comércio. Existem pessoas que não se importam de andarem aos encontrões em passeios de um metro, mas há outras que, também, já se preocupam, não querem e não andam, então preferem ir para outros sítios. Portanto, é um problema. Todas as mudanças são, sempre, momentos de ansiedade. Infelizmente, há uns que só opinião e há outros que têm de tomar as decisões, que são sempre muito difíceis. Portanto, enquanto autarca, na minha opinião, devemos potenciar a circulação dos peões e esta questão, aqui, não tem a ver com Areosa, tem a ver com o facto de nós, hoje em dia, termos de mudar o paradigma que construímos, nos últimos anos. Como tal, nós temos que favorecer o peão, em detrimento do carro, por todas as questões. Nós estamos a passar por um fenómeno climatérico extremo, que tem a ver, exatamente, com as questões ambientais. Logo, nós temos de deixar de ter os carros a circularem, temos de andar mais a pé, utilizar mais os transportes públicos e mudar os nossos paradigmas. Neste seguimento, o que eu acho é que, quando se projeta qualquer obra, seja ela em que zona do território for, entre termos um passeio de um metro e um carro estacionado, ou entre não termos o carro estacionado e um passeio de dois metros, se calhar, a opção deverá ser pelo favorecimento do peão, em detrimento do carro, porque, aliás, isto é o que está a acontecer em todo o lado. Não há nenhum sítio, que eu conheça, onde, quando se realiza uma obra, o passeio seja reduzido, isto não existe e, portanto, nós temos de perceber isto. Claro que custa e muda realidades, mas, certamente que, quando os carros foram retirados de Santa Catarina, os comerciantes devem ter reclamado imenso, na altura. Porém, hoje em dia, isso não acontece e quando nós estamos no meio da rua de Santa Catarina e um carro passa e apita para nós sairmos da frente, achamos aquilo estranho, porque, a nosso ver, o carro é que está mal, não somos nós. Portanto, é esta questão que temos de entender, que é o papel dos comerciantes, que têm, ali, a sua fonte de rendimento e que investiram a sua vida naquilo e que nós, agora, não podemos chegar lá com um estalar de dedos e mudar tudo, pelo que é isto, o que eu acho que é preciso, também, entendermos. As mudanças têm de ser graduais. Nós temos de saber para onde queremos ir, mas escusamos de ir a correr, para que as pessoas se habituem, adaptem e reajustem. Tendo apenas uma faixa de rodagem na D. Afonso Henriques, certamente que, agora, existem fornecedores e comerciantes que podem parar à porta dos estabelecimentos, para fazerem cargas e descargas, quando antigamente não podiam. Por outro lado, os moradores, que nunca puderam ter o carro perto de casa, nem descarregar coisas durante o dia, por causa do transito, agora, também viram que, afinal, era possível haver outro equilíbrio. Eu acho que a questão, aqui, é delinear-se um projeto, em vez de andarmos de projeto-piloto, em projeto-piloto, assumido, claramente, qual é o projeto, discutindo-o com os comerciantes, para chegarmos ao final com os acertos todos, tando para os que gostam, como para os que não gostam, de modo a definirmos uma linha temporal, para que o plano seja implementado e, assim, as pessoas tenham tempo, para se adaptarem. Eu acho que esta será a solução, mais clara, mais participativa, para que, depois, todos conheçam as mudanças e elas não aconteçam de um dia para o outro.
Para além de presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto, o Nuno Fonseca integra o conselho diretivo da ANAFRE. Por conseguinte, qual é a sua visão acerca da descentralização de competências, assim como da desagregação de freguesias que, apesar de não afetar o seu território, impactará outros tantos do país?
Ora bem, relativamente à desagregação ou agregação de freguesias, a ANAFRE não é nem a favor, nem contra. A Associação Nacional de Freguesias é a favor de que as freguesias tenham o poder e o direito de serem ouvidas e de decidirem sobre o seu futuro. É este o nosso papel e isso nós conseguimos, não na totalidade, mas numa parte, ou seja, existe uma nova lei de criação de freguesias, que permite, durante o período de um ano, de uma forma excecional, correções ao mapa de 2013. Está na hora daqueles que pediram, serem ouvidos, o que é muito difícil. É muito custoso nós termos a responsabilidade de decidirmos. Nós temos sempre uma particularidade que é queremos ser ouvidos, mas, depois, quando passam a responsabilidade para nós, depois, temos medo de decidir. Eu tenho feito várias conferências sobre este tema, em vários locais, e tenho tido sempre o cuidado de dizer isto: pois é, meus amigos, decidir é difícil e quer a gente decida que vamos manter-nos agregados, quer a gente decida que vamos desagregar as freguesias, as duas situações são passíveis de assumir responsabilidades e de haver pessoas tanto a favor, como contra. Algumas freguesias têm de se pronunciar até ao dia 21 de dezembro, porque nem todas poderão fazê-lo, uma vez que esta lei não é para reverter o processo de 2013, mas para permitir, mediante alguns critérios, retroceder aquelas situações que são, manifestamente, prejudiciais para a população e é isto o que vai acontecer. Relativamente à descentralização de competências, é um problema, porque existe a polémica, que todos sabemos, em torno do processo de descentralizado do Estado central para os municípios e alguns deles têm andado muito ocupados com isto e têm-se esquecido de que, também, é preciso fazerem o processo de descentralização das autarquias para as freguesias. Este é um processo que, neste momento, já está numa fase de grande dinâmica. Ainda recentemente, assinamos, em Gondomar, o Auto de Transferência de Competências, neste caso, da limpeza urbana, mas faltarão as outras. A meu ver, a partir do próximo mandato, todos os municípios vão ter de assinar Autos de Transferência de Competências com as freguesias, porque não o poderão fazer de outra forma. Portanto, os acordos de execução, que estão em vigor, vão extinguir-se e as autarquias não vão poder assiná-los. Eu acredito que, relativamente à grande maioria, durante os três anos que faltam, estes assuntos serão resolvidos, para que, no próximo mandato autárquico, as coisas comecem com outra dinâmica. Mas, o processo municípios-freguesias tem sido um bocadinho ofuscado, pela polémica do processo Estado central-municípios, pois, efetivamente, a descentralização de competências do Estado para as autarquias é muito grande, com uma dinâmica muito forte para alguns sítios e mudança nas dinâmicas internas dos municípios. Todavia, acredito que tudo vai acabar por se resolver, a bem, em todo o país.
No final do seu mandato, sairá feliz?
No final do meu mandato, eu acho que sairei feliz e com o sentimento de dever cumprido, porque acho que acho que executei o dever e a missão que me foi entregue. Sairei, igualmente, feliz se vir o meu trabalho ser entregue a alguém, que partilhe as mesmas visões que eu e que vá melhorando e construindo a sua visão, sobre aquilo que já foi feito, e que olhe para Rio Tinto e deseje ainda mais, do que aquilo que eu desejei. Lá está, que leve Rio Tinto para uma outra realidade e para um outro estado, que, neste momento, não é possível, mas que será, no futuro.
Quais são as suas expectativas para o futuro?
As minhas expectativas para o futuro, até 2025, é ser presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto. Depois, relativamente ao resto, posso responder-lhe que, “o futuro a Deus pertence”, que é uma boa frase. Mas, vamos ser claros, também acho que granjeei reconhecimento, aprendizagem e know-how suficiente, para poder contribuir para a vida pública, noutras funções, claro que sim, mas, sinceramente, com toda a honestidade e não é nenhuma falácia o que lhe vou dizer, acho que ainda é muito cedo para esta discussão.
Que mensagem gostaria de transmitir à população?
A mensagem é de confiança, pois têm uma autarquia que, desde o presidente até ao elemento mais recente que começou a trabalhar na Junta, e hoje são muitos, trabalha durante sete dias, por semana, tentado fazer o melhor possível, em prol da Freguesia de Rio Tinto.