II NOITE DAS PANTAS: INTEGRAR TRADIÇÃO NOS ROTEIROS TURÍSTICOS DE PORTUGAL E DO ESTRANGEIRO

A II Noite das Pantas aconteceu no Domingo Gordo, no passado dia 3 de março, e juntou algumas dezenas de pessoas durante um desfile pelas ruas da freguesia, tendo culminado no Largo Dr. Fraga Gomes.

Organizada pela Casa do Povo da Maia através da sua Biblioteca Infanto-Juvenil, no âmbito do Plano Estratégico de Literacia Cultural da Maia, a II Noite de Pantas teve início no Largo de Santo António. Numa noite fria, foram algumas dezenas de pessoas que se juntaram pelas ruas para participar no desfile que culminou com um baile no Largo Dr. Fraga Gomes.

Desta festa carnavalesca fazem parte a reconstituição histórica das Pantas que, de acordo com Graça Castanho, vice-presidente da Casa do Povo da Maia, “constituem uma tradição secular única na ilha de São Miguel”, possivelmente trazida pela fundadora da freguesia, Inês da Maia, que veio do norte de Portugal.

Graça Castanho explica que “as pessoas cobriam-se com lençóis brancos durante a noite, deambulando pelas ruas e assustando toda a gente que passava”. Na realidade, eram as pessoas da freguesia que “percorriam as ruas e batiam às portas para recolher malassadas, muitas vezes para levá-las para casa porque não tinham meios para as fazer”.

De forma mais recente, contextualiza Jaime Rita, presidente da Junta de Freguesia e também da Casa do Povo da Maia: “no domingo ou na terça-feira de Carnaval, as pessoas juntavam-se e vestiam-se de branco de forma a só se ver os olhos” com o intuito de visitar as casas mais abastadas, onde lhes eram oferecidas malassadas. “Levava-se uma cana com cerca de 40 centímetros, e no final, os donos da casa enfiavam as malassadas na cana”, sendo estas distribuídas pelo grupo de Pantas. De acordo com Jaime Rita, há também quem diga que “isto é um memorial às almas”.

Apesar da tradição adaptar-se com o passar do tempo, Graça Castanho afirma que é do interesse da freguesia tentar “recuperar esta prática que traz tanta alegria” à localidade. Na mesma linha, e tendo em conta a adesão da população a esta festa, Jaime Rita afirma que “as pessoas de cá são muito apegadas à freguesia da Maia”, sendo que “é interessante ver que os jovens cultivam esta imagem de que a Maia é uma boa freguesia e que temos boas condições para se viver cá”.

Ainda em declarações de Graça Castanho ao AUDIÊNCIA, foi possível saber que o objetivo da organização desta festa que transmite a tradição da Maia é “incluir e integrar esta manifestação carnavalesca única da Maia no cartaz e nos roteiros turísticos quer em Portugal, quer nas nossas comunidades, quer a nível internacional”. A vice-presidente da Casa do Povo afirma que “este é um evento que tende a crescer cada vez mais”, tendo em conta que a adesão das pessoas tem vindo a crescer, e também pelo facto de já se deslocarem emigrantes para assistir a esta festa.

Durante e após o cortejo foram distribuídas malassadas, bem como licores e chá da Gorreana, tudo organizdo por várias famílias da Maia, que se disponibilizaram para preparar os alimentos e as bebidas.

Além das Pantas, o desfile contou também com a presença da Lira do Espírito Santo da Maia, da Associação Tradições, bem como com o apoio do Grupo de Jovens da paróquia e do Grupo de Cantares da Casa do Povo. Pela noite dentro houve Baile de Pantas, com música e animação, também no Largo Dr. Fraga Gomes.

Pedro Beleza, emigrante nos Estados Unidos da América

“Sou de cá de alma e coração. Vivo nos Estados Unidos da América, em Connecticut, mas o meu coração está sempre aqui. Já estou fora há 47 anos mas venho cá anualmente. Vivo sempre a minha freguesia, não interessa onde estou.

Não tenho vindo na época do Carnaval, vim porque vi o programa desta festa divulgado através do Facebook. Aproveitei para dar cá um “pulo” e ver as festas da minha freguesia. Não tinha ideia que faziam esta festa e decidi cá vir à última da hora.

Estou a achar muito interessante e muito engraçado, é um convívio muito agradável que dá muita força à nossa freguesia.

Esta é uma tradição que tem mais de um século. Nasci cá, saí de cá há quase 50 anos e já existia quando era criança, mas não era feita desta forma. Era feita pelas ruas, manifestávamo-nos à porta das pessoas. Era diferente de agora. A tradição mantém-se. A diferença é que agora é feito um tipo de “parada”. É diferente mas dá o “cheirinho” a antigamente.

É muito bom recordar os tempos antigos. Principalmente para quem tem a minha idade e está fora há muitos anos.”