JOSÉ FERNANDO QUER CONSOLIDAR A FREGUESIA DO MURO COMO A CAPITAL DO TEATRO NO CONCELHO DA TROFA

Com vontade de dar continuidade ao projeto iniciado em 2017, José Fernando voltou a assumir os destinos da freguesia do seu coração. Natural de Alvarelhos e murense desde os cinco anos, o autarca garantiu, em entrevista ao AUDIÊNCIA, que vai continuar a lutar pela vinda do metro até ao Muro e pela criação de infraestruturas que proporcionem melhor qualidade de vida à população. Com o sonho de transformar a freguesia na capital do teatro no concelho da Trofa, José Fernando não escondeu a ânsia de dinamizar a sala de espetáculos cinquentenária, presente no Salão Paroquial do Muro, que afirmou ser “única no concelho”.

 

 

 

Qual é a história do seu percurso no mundo da política, nomeadamente desde que tomou posse, como presidente de Junta?

Eu entrei no mundo da política não por qualquer tipo de pretensão, mas foram as circunstâncias que, assim, o determinaram. Eu já fazia parte da vida associativa da Freguesia do Muro e, em termos de participação, fui presidente da Associação de Pais durante cerca de uma década e estava envolvido com a comunidade, nomeadamente, pertencia aos órgãos sociais do Muro de Abrigo, uma instituição de solidariedade social, de apoio à terceira idade. Portanto, lançaram-me o repto para ser, aqui, presidente de Junta e eu acabei por aceitar, embora com pouca disponibilidade, uma vez que tenho uma vida profissional bastante ativa, mas podemos sempre dedicar um pouco do nosso tempo àquilo que é uma causa de servir o próximo e de estarmos, aqui, mais próximos das pessoas, porque, no fundo, a Junta de Freguesia é, digamos, a maior proximidade que um político pode ter com a sua população, uma vez que podemos ouvir as pessoas e levar os seus anseios e as suas necessidades, a quem nos possa ajudar a outro nível.

 

Como é que tem sido abraçar este projeto durante estes últimos anos?

Tem sido desafiante e um prazer. Portanto, nós temos conseguido pôr em prática aquilo que eram as nossas ideias. Eu, também, já pertenci, aqui, à Assembleia de Freguesia em anos anteriores e, estando, aqui, a dirigir os destinos da freguesia, sempre em articulação com a Câmara Municipal da Trofa, que, para nós, é um parceiro fundamental, uma vez que a capacidade financeira da Junta é diminuta, é mais fácil, porque só lançando projetos e desafios à autarquia é que é possível pôr em prática, digamos, esses projetos ao serviço da população e é isso o que nos move.

 

Se tivesse de escolher o momento mais marcante da sua vida autárquica, qual seria e porquê?

Não existe um momento marcante em concreto. Existem, aqui, duas perspetivas deste mandato. Este mandato foi muito marcado pela pandemia, portanto, praticamente, nós tivemos dois anos, digamos, normais e tivemos os últimos dois, determinados pela proliferação da covid-19. Logo, posso dizer-lhe que os mais marcantes positivamente foram nós podermos estar no convívio numa Festa de Rua, por exemplo, que é uma iniciativa que nós temos, aqui, onde juntamos a comunidade e temos grupos musicais, que atuam num palco e as pessoas e as coletividades, também, têm a possibilidade de fazerem vendas, nas chamadas tasquinhas. Portanto, foi algo envolveu toda a comunidade e onde se promoveu muito o convívio. Isto pela positiva, que é o que nos move mais, que é o convívio, a interação entre as pessoas e entre as gerações. Por outro lado, de forma negativa, marcou imenso a questão da pandemia e o impacto que teve na comunidade, pois tivemos, aqui, muitos óbitos, aliás, foi a freguesia do concelho mais afetada pela covid-19. O facto de vermos que as pessoas não se podiam despedir dos seus entes queridos, também foi bastante marcante, pela negativa, e é algo de que nós nunca nos esqueceremos.

 

O que mudou no Muro desde a sua chegada?

O que mudou foi, essencialmente, aquilo que era um dos desafios que nós tínhamos que era devolver o orgulho aos murenses, fazendo com que as pessoas se sentissem mais próximas da sua terra e sentissem que têm, agora, aqui, uma comunidade muito mais disponível e, obviamente, mais virada uns para os outros. Ao nível, também, de infraestruturas, nós conseguimos resolver, aqui, algumas situações que estavam pendentes. Portanto, criar melhores infraestruturas para a freguesia e um dos exemplos foi o Parque da Camélia, que é um parque infantil, que está no meio de uma zona habitacional e alavancou aquela zona com a construção de mais habitações, cerca de 40 habitações. Logo, é esse tipo de infraestruturas que nós procuramos para, realmente, fixar, aqui, mais pessoas, porque a Freguesia do Muro, nos últimos dez anos, perdeu população, porque os óbitos foram muito superiores à chegada de novas pessoas. Sabendo nós que estamos, aqui, na periferia do concelho da Trofa e que o Muro é uma freguesia que está a ser muito procurada por quem vem do Porto e das redondezas, nós estamos a criar condições, quer em termos de acessibilidades, quer em termos de habitação, para que, realmente, as pessoas se possam fixar e tenham o prazer de estar, aqui, a viver. A Estrada Nacional 14, também era um problema que tínhamos aqui, pois era uma estrada com muitos buracos e, neste contexto, nós lutamos e conseguimos, aqui, a reabilitação e, em termos de segurança, colocamos mais passadeiras e mais sinalização, para protegermos as pessoas que circulam pela Nacional 14. Colocamos, também, semáforos e temos em perspetiva colocar outros junto ao edifício sede da Junta. Como tal, nós estamos a fazer tudo para que, realmente, as pessoas se sintam mais seguras e com outras condições de habitabilidade. Também fizemos a construção de passeios e requalificamos algumas ruas, porque as pessoas, hoje em dia, andam muito a pé e a segurança das pessoas, para nós, é muito importante. Por conseguinte, foi isto o que nós fizemos e foi por isto que nós, essencialmente, lutamos nestes primeiros quatro anos, sendo que, obviamente, a nossa grande luta é a vinda do metro e é algo pelo que nós vamos continuar a debater-nos até que a voz nos doa, por assim dizer, e até conseguirmos esse objetivo. Por isso, nós vamos continuar a lutar, embora não tenhamos conseguido até à data. Não se trata só de trazer um meio de transporte, mas, também, da requalificação do edifício da estação, que está completamente abandonado. O nosso sonho é requalificar aquela zona toda, que vai desde o edifício da estação até à ponte e ao campo de jogos, para termos a nossa alameda, à semelhança da Alameda da Estação da Trofa. Assim, a Alameda do Muro, representaria a requalificação de todo este espaço e permitiria termos, aqui, a possibilidade de, depois, fazermos um espaço de lazer, onde as pessoas mais idosas, também, se possam encontrar, com uns bancos e uns cestos de basquetebol, para os mais novos, também, praticarem desporto. É esse o nosso desejo, porque nós queremos trazer o metro não só até ao Muro, mas até à Serra, porque vai permitir a possibilidade de existir um meio de transporte para as pessoas que vêm de Alvarelhos e Guidões, assim como da zona de Lantemil, que é uma zona industrial e, também, vai permitir que seja requalificada toda a zona e toda a Freguesia do Muro. Obviamente que, reconhecemos que a vinda do metro até à Trofa, em meio de transporte, será difícil, mas, pelo menos, até ao Muro acreditamos que seja possível e, depois, através de metrobus, do Muro para a Trofa. Claro que, também a rotunda da Carriça é imprescindível para a vinda do metro. Acho que, para já, é por isso que devemos lutar, para que, realmente, seja possível. É, efetivamente, um direito que nos foi retirado há 20 anos, pois vai fazer 20 anos em março de 2022 que ficamos sem o comboio, algo que nós não pedimos e, portanto, é um direito que nós achamos que deve ser readquirido pela Freguesia do Muro e pelo concelho da Trofa.

 

Uma luta pelo metro de mãos dadas com a Câmara Municipal da Trofa…

Sempre, sempre, porque, no fundo, eles são o nosso parceiro estratégico e, também, financeiro, pois só com a ajuda da autarquia é que nós conseguimos pôr em prática estes projetos, como por exemplo a requalificação do Cemitério, que é um projeto que a freguesia estava a necessitar muito, digamos, de ter lugares disponíveis. Quando nós cá chegamos não existiam lugares disponíveis para as pessoas serem enterradas e fizemos uma requalificação, na qual ampliamos o Cemitério, que foi uma obra que já era uma necessidade há muitos anos e com o apoio da Câmara Municipal conseguimos fazer esse investimento. Nós construímos esta ampliação, cem anos depois da construção do primeiro Cemitério e, curiosamente, há cem anos, também, se vivia, aqui, uma pandemia, que era a gripe espanhola e, portanto, foi, aqui, uma coincidência e isso acabou por facilitar esta pressão que nós tínhamos e, também, por dignificar, um pouco, aquele espaço, que diz muito às pessoas, para que realmente o fim da vida das pessoas fosse feito com a maior dignidade possível.

 

Na sua opinião, quais são as grandes valências deste território?

As maiores valências têm a ver muito com as pessoas e com o espírito de solidariedade que as pessoas têm, aqui, no Muro, que, obviamente, tem de ser potenciado. Nós somos uma freguesia que é atravessada pela Estrada Nacional 14, portanto, em termos de localização, estamos muito bem situados e temos, aqui, uma freguesia com muita história, porque é uma freguesia de grandes famílias. Logo, aquilo que nós temos de potenciar é essa capacidade das pessoas se entreajudarem, é esse espírito de entreajuda que nós temos de promover, porque se assim não fizermos, cada uma está envolvida em si mesma e quando nós conseguimos alavancar esse espírito de comunidade é tudo mais interessante. A Freguesia do Muro tem muito para dar, quer a nível dos jovens, pois nós temos um grupo de jovens fantástico, como tal, nós, também, procuramos alavancar aquilo que é o seu espírito empreendedor e dar todas as condições, quer à Associação Recreativa Juventude do Muro, que já viveu tempos mais áureos, mas que, ainda hoje, tem um grande potencial, como também ao Muro de Abrigo, que também é Centro de Dia e faz apoio às pessoas mais idosas, com o apoio domiciliário e, portanto, nós tentamos articular com eles tudo o que é necessário para que, realmente, a ajuda aos mais necessitados esteja sempre presente.

 

Que obras materiais e imateriais concluiu durante o seu desempenho de funções? Quais ainda sonha conquistar para a freguesia?

Nós, também, tivemos uma intervenção importante na Rua da Igreja, que estava com os passeios bastante danificados, porque a arborização não era a mais adequada, portanto as pessoas para se deslocarem para a Igreja tinham algumas dificuldades. Logo, nós requalificamos aquela rua, também construímos passeios na Estrada Nacional 14, na Rua Fernando Pessoa, que é uma zona mais comercial, requalificamos a Rua da Serra e, também, algumas ruas mais no interior da freguesia, nomeadamente para permitir a ligação de Gueidãos a Vilares, para que, realmente, as pessoas possam transitar e termos aqui uma alternativa à Nacional 14, no fundo. E foram estas as maiores obras que realizamos na freguesia. Obviamente que, temos projetos para o futuro, que passam, no fundo, por dar continuidade à obra de ampliação do cemitério, que é a construção de um parque de estacionamento entre o cemitério e a escola básica, que vai permitir quer estacionamento para os professores, quer para os pais que vão levar os filhos à escola, quer quando houver alguma festividade no salão paroquial. Como tal, vai ajudar-nos a aliviar aquela zona, que é de grande congestionamento. Depois, também, temos desenvolvido, a nível cultural, algumas atividades, nomeadamente a Festa de Rua, que eu referi anteriormente, a Desfolhada, o Estendal da Poesia e a Festa de Natal. Nós temos, sempre, o espírito de envolver a comunidade e, no fundo, nós, aqui, conseguimos fazer a festa, envolvendo todos. É um encontro intergeracional. Nós temos outro projeto, pois almejamos ser a capital do teatro no concelho da Trofa. Nós temos, no Salão Paroquial do Muro, uma sala de espetáculos com 50 anos, é cinquentenária, e temos, também, um grupo de teatro amador, mas que tem muito potencial. Portanto, nós temos desenvolvido, aqui, algumas peças de teatro e temos apoiado bastante o Teatro Experimental do Muro e já fizemos, inclusive neste tempo de pandemia e na impossibilidade de podermos assistir ao vivo, uma iniciativa, que foi uma peça de teatro via Zoom, em que as pessoas estavam no conforto de suas casas e acabou por ser bastante interessante, porque as pessoas, mesmo estando fechadas, conseguiram ver-se umas às outras e falar umas com as outras. Este ano, possivelmente, ainda vamos ter outra peça de teatro e é algo que nós queremos muito dinamizar, pois o objetivo é que o Muro seja reconhecido como a capital do teatro no concelho da Trofa, não só pelas valências dos seus atores, mas, também, pelas valências da sala de espetáculos que nós temos, que é única no concelho, digamos, apesar de não ser uma grande sala, mas é uma sala cinquentenária, que dignifica, também, esse lado cultural do teatro. Nós temos outro projeto que é Revista Murense, é uma revista na qual nós fazemos publicações anuais com um tema sobre a Freguesia do Muro. Este ano, em 2021, o tema é a inauguração do comboio em 1932, faz 90 anos em março de 2022 da vinda do comboio e 20 anos que ficamos sem ele. Esta é uma publicação na qual nós comunicamos com a população e onde damos, também, espaço às associações, para falarem sobre os seus projetos. Neste seguimento, nós temos outro projeto, que contempla a criação de um trilho, de um percurso pedestre para valorizar aquilo que é a história de alguns edifícios e de alguns locais, aqui, na Freguesia do Muro. Como tal, o nosso intuito é criar vários percursos, para que, realmente, as pessoas possam circular, não só na Estrada Nacional, mas por caminhos mais interiores. Este é um projeto que nós temos para desenvolver nos próximos anos, tal como requalificar este edifício da Junta de Freguesia, que vai fazer 110 anos em 2022. No fundo, este edifício serviu de escola primária no início do século passado, portanto é um edifício que tem muita história e vai ser o tema da revista do próximo ano.

 

Complete a frase: Um dia que abandone as funções de presidente de Junta sairia feliz se…

Deixasse a Freguesia do Muro mais próxima daquilo que as pessoas desejam, como uma freguesia onde as pessoas queiram, efetivamente, viver, um lugar apetecível para residir, com condições de habitabilidade, acessibilidade e convivência social entre as pessoas. Por isso, anseio que o Muro seja uma freguesia de referência para as pessoas viverem, é isso o que eu gostaria de deixar.

 

Qual é a mensagem que gostaria de deixar à população?

Uma mensagem de esperança, de que efetivamente os tempos difíceis em termos desta pandemia, em breve, deverão passar e será tempo de voltarmos a viver uma vida normal e voltarmos a interagir com as pessoas. Espero que as pessoas não percam a capacidade de entreajuda, porque, hoje em dia, é cada vez mais importante nós olharmos ao próximo e estarmos atentos àquilo que nos rodeia. A população pode contar com a Junta de Freguesia e com este executivo para a ajudar naquilo que necessitar. Para nós, nenhuma pessoa, nenhuma família, deve ficar para trás e passar necessidades, pois deve ter uma vida com as condições mínimas, que lhe permita frequentar e usufruir, com prazer, dos espaços públicos e de lazer que a freguesia tem a proporcionar. Também, anseio que nunca desistam daquilo que é o nosso grande desejo, que é a vinda do metro, pela qual nós vamos continuar a lutar, até conseguirmos concretizar.