Maria José Gamboa, uma das poucas mulheres a ocupar o cargo de presidente de Junta, falou com o AUDIÊNCIA sobre as dificuldades encontradas aquando do início de funções, as maiores recompensas, os projetos que tem para Canidelo e a situação da mulher em Portugal.
Como é que surgiu a oportunidade de entrar no mundo da política?
Entrei no mundo da política, há muitos anos, desde muito jovem. A oportunidade foi a de sempre: vontade de contribuir para as mudanças sociais no nosso país.
Qual foi o motivo que a levou a candidatar-se à presidência da Junta?
A candidatura à Junta de Freguesia, surgiu no contexto e com a vontade de contribuir para influenciar as mudanças possíveis e desejáveis numa comunidade, concretamente na freguesia de Canidelo. O poder local tem a vantagem da proximidade, que é muito motivadora para os compromissos com as vidas e as necessidades das pessoas, concretamente situados num território.
Quando chegou ao poder, quais foram as maiores dificuldades encontradas?
As dificuldades que se encontram são sempre identificadas nos diagnósticos sociais que representam fotografias dos territórios. As dificuldades são sempre desafios a vencer. O desemprego, as variadas pobrezas, a exposição e a vivência das situações de violência doméstica, entre outras, foram algumas das fotografias com que iniciamos o nosso trabalho político, nesta freguesia.
Como é que as superou?
Os problemas sociais vão-se encadeando com soluções várias, criadas pela Junta de Freguesia e/ou na Rede Social de Serviços, procurando que se adaptem às pessoas que os vivem.
Sendo presidente, qual é a sua maior recompensa?
A minha maior recompensa é servir e cuidar da vida das pessoas que vivem na freguesia.
Até ao momento, quais foram os maiores projetos desenvolvidos?
Os maiores projetos têm acontecido nas áreas sociais e de Reabilitação Urbana, com o apoio da Câmara Municipal. Assim, na área social, projetos de trabalho como o “Cantinho do Estudo”, em colaboração com a Câmara e a Fundação Manuel António da Mota, abrangendo os alunos das escolas básicas do Agrupamento D. Pedro I. O gai@prende+, programa municipal que assumimos, integrando-o na freguesia, através do Centro Social e Paroquial de Santo André de Canidelo, dirigindo-se às famílias e às suas crianças, favorecendo a conciliação da vida familiar, com a vida profissional, e oferecendo às crianças um conjunto de atividades pedagógicas, que reforçam o seu crescimento e educação. Na área da ação social local, desenvolvemos um programa de apoio e reforço alimentar das famílias, organizando o cabaz de alimentos frescos escolhidos por aquelas. O apoio a medicamentos, ao Programa de Vacinas para crianças e jovens, oriundo da Câmara Municipal é também uma resposta significativa para estes grupos. Organizamos a Loja Solidária, no Hipermercado Jumbo de Canidelo (cedida por esta empresa) e que se dirige a toda a população, sendo que os que precisam de roupas para si e para os seus filhos, aí encontram resposta. Os outros podem adquirir as mesmas através das trocas por alimentos que são depois distribuídas pelas famílias mais frágeis. Não há lugar ao dinheiro, mas sim a alimentos. Durante 4 anos, organizamos com o IEFP de Vila Nova de Gaia, vários cursos de formação, em áreas como a geriatria: acompanhante de crianças, contabilidade, Línguas estrangeiras, entre outros, capacitando 300 pessoas para a procura de trabalho nestes mercados. Na área de Reabilitação Urbana, as nossas ruas, tem sido recuperadas pela intervenção Municipal e várias escolas foram alvo de requalificação.
Passados 4 anos, deixou a sua marca na freguesia?
Nunca sabemos, como e quanto marcamos as pessoas e as comunidades, mas acredito que todos temos estado a viver um experiência diferente na partilha do poder democrático.
Apesar de todos os projetos desenvolvidos, o que é que ainda falta fazer?
Há sempre muitos projetos em marcha, e as tarefas do desenvolvimento local nunca estarão concluídas.
Nos próximos 4 anos, Canidelo pode contar consigo?
Canidelo, pode sempre contar comigo!
Sentiu algumas barreiras a exercer o seu cargo pelo facto de ser uma mulher?
Nunca senti barreiras no exercício profissional, nem nos cargos políticos em que estive, só pelo facto de ser mulher.
Com todas as conversas sobre feminismo atualmente, como vê a situação da mulher em Portugal?
Estamos ainda muito longe de vivermos uma situação de representação democrática paritária, assegurando-nos órgãos políticos fundamentais ao governo do país. Um grande e permanente combate às desigualdades na participação, na organização do nosso país tem de ser feito, sendo certo que em certas áreas se procura já esses incentivos e alguns ganhos. Toda a gente tem consciência destas desigualdades, mas o reconhecimento da partilha do poder em termos igualitários, tem de ser uma tarefa e um compromisso profundo, assumido por todos. Mudar mentalidades, só se consegue através das práticas de igualdade de género e de não discriminação, é o primeiro passo para se vencerem resistências e medos que ainda hoje dominam homens e mulheres.
Enquanto Maria Gamboa, o que é que a motiva na vida?
O que mais me motiva é a VIDA, o gosto pela vida tal como ela é e se me apresenta todos os dias.
Ainda tem sonhos para concretizar?
Há sempre muitos sonhos, que crescem á medida que o tempo passa por nós e nos produz um efeito interessante: Amadurecer.
O seu lema de vida…
Servir e Cuidar das Pessoas.