Estamos num tempo onde, de uma forma muito fácil, uma pessoa diz hoje uma coisa e amanhã o seu contrário. A sociedade tende a aceitar isso e as pessoas começam a interiorizar uma certa normalidade. Perdem-se princípios e valores, conquista-se o princípio do “olha para o que digo, não olhes para o que eu faço”.
O acesso à informação e a memória ajudam-nos a perceber o surgimento e as intenções de vedetas de última hora ou paladinos da verdade. Compreendo que alguns acontecimentos que nos envergonham como sociedade permitam a criação de uma onda de expectativa com esse tipo de gente. No entanto, o tempo continua a ser o nosso melhor professor, e basta um pouco de atenção para percebermos de onde vêm, o que diziam e o que dizem, o que dizem versus o que fazem, etc…, e rapidamente percebemos ao que vêm e quais as motivações para o que dizem e o que fazem.
Vejamos dois exemplos. Primeiro, numa esfera municipal.
Alguém com boa fé ou memória percebe que um partido que esteve à frente da gestão da Câmara Municipal de Gaia durante 16 anos e que sempre aplicou a taxa máxima de IMI tenha votado contra mais uma proposta de redução de taxa de IMI para 2021? Em 2013 a taxa de IMI em Gaia era de 0,475%. Para 2021 será de 0,38%. Os gaienses pagam, efetivamente, menos IMI. Para um imóvel avaliado em 100.000 euros, em 2013 pagavam 475 euros e em 2021 vão pagar 380 euros.
A juntar ao voto contra a redução da taxa de IMI para 2021, o PSD manteve o mesmo sentido de voto para a redução da taxa de derrama e para a redução da participação variável no IRS das pessoas com domicílio fiscal no concelho de Vila Nova de Gaia.
É verdade que o PSD/Gaia pode sempre dizer que votou contra pois queria uma redução maior… Mas alguém entenderá que um partido que esteve 16 anos na gestão da Câmara, exigindo sempre aos Gaienses o pagamento da taxa máxima de impostos agora venha exigir uma redução maior… ainda para mais quando esse mesmo partido teve a ideia de obrigar os Gaienses a pagaram a famosa taxa das rampas?!?!?!
Um segundo exemplo, numa esfera nacional.
Alguém com memória e boa fé entende que uma personagem que militou durante 17 anos num partido do dito sistema, seja agora o maior anti-sistema?
Alguém compreende que essa mesma personagem que em 2017 foi candidato a uma câmara municipal por um partido do sistema, tenha em 2019 criado um partido anti-sistema? Se tivesse ganho as eleições em 2017, hoje em dia seria presidente de câmara por um partido do sistema!
Como se classifica uma pessoa que em outubro de 2017 afirmava estar preparado para se candidatar à liderança de um partido dito do sistema e em abril de 2019 tenha criado um partido anti-sistema?
Que credibilidade merece uma pessoa que sempre afirmou que seria deputado em regime de exclusividade e durante meses acumulou essas funções com as de comentador e consultor?
A sociedade precisa, na política como em tudo, de pessoas sérias, dedicadas, com uma relação clara do que dizem com o que fazem, independentemente dos partidos com que se identificam. Em todos os partidos existem pessoas sérias e competentes. O importante é estarmos informados e termos memória para que não nos deixemos iludir por uma qualquer vedeta de reality show.