MILHARES DE PESSOAS PRESTAM HOMENAGEM A SÃO PEDRO

As tradicionais Festas de São Pedro na Ribeira Seca da Ribeira Grande fazem parte do roteiro cultural de São Miguel. Em semana de festa o povo sai à rua para ver e/ou participar nas tradicionais Cavalhadas, nas Marchas de São Pedro e também na missa e procissão em honra de São Pedro. Este ano o restante programa profano contou com a presença de Lucas e Mateus e também de Sérgio Rossi, além de cantigas ao desafio, e grupos musicais micaelenses.

Cavalhadas de São Pedro

Em 1564 o vulcão do Pico do Sapateiro (depois Pico Queimado) entrou em atividade. A Ribeira Seca ficou quase totalmente subterrada e a ribeira ficou seca. No entanto, a lava rodeou a ermida de São Pedro e a imagem ficou intacta, o que foi considerado por muitos um milagre.

Anos mais tarde, outro vulcão entrou em erupção. O Governador da ilha, que habitava em Vila Franca do Campo, lembrou-se do milagre ocorrido na Ribeira Seca e prometeu que se o seu palácio e a sua esposa (que estava grávida) sobrevivessem, havia de visitar São Pedro todos os anos, enquanto tivesse vida, no seu dia (29 de junho).

Apesar da grande destruição causada pelo vulcão, a família e o palácio do Governador foram poupados, pelo que a 29 de junho dirigiu-se em longa procissão com os seus vassalos, mordomos do Espírito Santo e simples peões, envergando os seus melhores trajes.

Chegados à ermida, o fidalgo declamou em quadras a vida do Santo, deu sete voltas ao adro (representando os sete dons do Espírito Santo) e dirigiu-se para a Ribeira Grande, onde deu três voltas à igreja do Espírito Santo e três à ermida de Santo André, irmão de São Pedro.

Anos passados, cada vez mais o povo se juntava a este cortejo. O Governador morreu, mas a devoção já era grande e por isso continuou-se a celebrar esta festa.

Atualmente as Cavalhadas concentram-se durante a manhã do dia 29 junto ao Solar da Mafoma, saindo em desfile até à igreja de São Pedro. O percurso continua indo até à cidade da Ribeira Grande, continuando a haver as três voltas à igreja do Espírito Santo e à ermida de Santo André.

Este ano o desfile incorporou 130 cavaleiros, dos quais dos lanceiros à cabeça, seguindo-se em duas filas ordenadas os cavaleiros. À frente, entre as filas, segue o Rei seguido de três corneteiros. O final do cortejo volta a ser fechado por dois lanceiros.

Hoje em dia as Cavalhadas estenderam-se até às crianças, havendo as Cavalhadas Infantis, que também prestam a sua homenagem a São Pedro e junto à Câmara Municipal.

 Alampadas de São Pedro

As alampadas são arranjos florais que incorporam hortênsias azuis e bordões de São José juntamente com frutos e legumes da terra: ananás, pepino, ameixa e milho. Este arranjo tradicional é uma forma de agradecimento pelo renascer da terra depois das crises vulcânicas, e representam as primeiras frutas que a terra deu depois das erupções.

 Atualmente são da responsabilidade dos mordomos das Festas de São Pedro e são postas na fachada das casas que contribuíram para as festas, sendo esse o motivo por que podem ser vistas por toda a ilha de São Miguel.

 Marchas de São Pedro

 Este ano, no dia 28 de junho, ocorreu a 28.ª edição das Marchas de São Pedro. Milhares de pessoas encheram as ruas da Ribeira Seca para verem passar os 1500 marchantes que prestaram homenagem ao santo padroeiro da freguesia.

 Do concelho de Ribeira Grande estiveram presentes a Marcha dos Cabidinhos, a Marcha de Santa Bárbara, a Marcha Coral de São Pedro, a Marcha Popular de São Pedro, a Marcha de São Brás, a Marcha da Matriz, a Marcha Amigos de São Pedro e a Marcha Popular da Ribeirinha, enquanto que o único grupo vindo de fora do concelho foi a Marcha Água de Pau, de Vila Franca do Campo.

Os mordomos de São Pedro

 Os mordomos das Festas de São Pedro são uma parte importante desta iniciativa. São eles quem organiza todo o programa das festas: a parte religiosa e a profana. Recolhem, durante o ano, o nome dos que pretendem receber as alampadas de São Pedro, fazem contactos para que a animação seja uma constante no arraial das festas e tratam de toda a parte logística que o evento exige.

 Este ano, os mordomos foram José Aguiar, Luís Silva, Bruno Pacheco e Rafael Medeiros. Em 2020 as festas estão a cargo de Roberto Martins, Pedro Silvestre, Ricardo Raposo e Rafael Anestor.

 Festas religiosas

 Da responsabilidade do grupo de mordomos, da parte religiosa das Festas de São Pedro fazem parte a missa, que acontece a 29 de junho, e a procissão, que apenas acontece quando o dia de São Pedro coincide com o domingo.

 Este ano, ainda que tenha havido procissão no domingo, o dia 29 aconteceu no sábado. No entanto, como o próximo ano é bissexto, o São Pedro apenas sairia à rua em 2025. Por isso mesmo os mordomos trabalharam em conjunto com a Diocese para que a procissão de realizasse este ano.

Fernando Maré, antigo Rei e principal fomentador das Cavalhadas de São Pedro

Estou nas Cavalhadas, suponho, há 59 anos. Isto está no meu sangue. Vivo muito isto. Fui Rei 25 anos, passou para o meu irmão que já faleceu e depois para o meu sobrinho. As Cavalhadas cresceram muito.

Quando comecei com isto, não me lembro se em 1959 ou 1960, só havia 20 e tal cavaleiros, mas com o apoio que fui dando, cresceu muito. Chegou uma altura em que, como o Rei vai na frente do cortejo, aconteciam algumas coisas para trás que eu não sabia. O facto de o grupo crescer, começou a criar dificuldades. Quando pus o meu irmão no meu lugar, fiquei no chão a coordenar.

É bonito ver o cortejo a andar, mas para pô-lo a andar, dá muito trabalho… para manter a dignidade e o espírito das origens daquele cortejo, custa um bocadinho. É difícil ir reduzindo no número de cavaleiros, mas isso também lhes está no sangue. As pessoas é que se oferecem para ir, eu só tenho que os apoiar. É quase tudo juventude, eles vão aguentar isto.

João Dâmaso Moniz, presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca

Este ano contámos com mais uma edição das festividades de São Pedro. É um ano especial, uma vez que se trata de um ano em que São Pedro sai à rua.

A Junta de Freguesia participa naquilo que é possível, com um orçamento reduzido. Dentro das nossas possibilidades, acabamos por ajudar as festas. O que tem sido usual ao longo dos anos, é a Junta de Freguesia ficar responsável por custear uma das noites do programa das festas, para além de todo o apoio logístico com a nossa equipa de colaboradores.

Estas festas dão-nos muito orgulho, mas também nos dão responsabilidade de continuar a trabalhar para que as pessoas continuem a vir às Festas de São Pedro que, na minha opinião e na opinião de quem anda nestas lides, são as maiores festas de São Pedro nos Açores.

Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional dos Açores

Esta é uma altura em que as nossas comunidades, por todas as ilhas da nossa Região, vivem de forma muito expressiva e evidente aquela que é uma marca forte da sua identidade quer na componente religiosa, quer na componente profana.

Estas festas têm as suas particularidades, nomeadamente o facto de não se realizarem todos os anos, e desse ponto de vista, têm aspetos que marcam de forma bastante impressiva a sua realização.

Berto Messias, Secretário Regional Adjunto da Presidência para os Assuntos Parlamentares

Estes momentos são sempre muito relevantes, quer pelo simbolismo que têm para a sua comunidade, mas também para aquilo que representam: para a nossa entidade cultural e social, neste caso específico para a freguesia da Ribeira seca e para o concelho da Ribeira Grande, mas obviamente que qualquer festa desta dimensão é muito importante para a Região, e, portanto, os ribeiragrandenses e os habitantes da Ribeira Seca estão de parabéns.

Manter e reforçar a nossa entidade cultural e histórica é uma parte muito importante. Nós só teremos condições para preparar o futuro se respeitarmos o passado, e com base nisso percebermos o presente.

José Aguiar, mordomo das Festas de São Pedro

Cada vez mais a escolha dos mordomos é muito importante, para que haja uma comissão em que cada membro dos quatro tenha o seu ramo. Isso é importante porque a dimensão e a projeção das Festas de São Pedro estão a aumentar.

Tem havido muita colaboração por parte de toda a população em geral, seja na Ribeira Seca, no concelho de Ribeira Grande ou nos outros concelhos. Este é um trabalho que se faz com alguma dedicação ao longo de um ano.