É talvez um dos formadores mais jovens do IEFP de Gaia, já com uma vasta experiência de trabalho e organização de eventos, relacionados com empreendedorismo em Portugal. Estudou na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Traz na sua bagagem, a experiência como diretor, manager, gerente, vice-presidente, em institutos como a Gulbenkian, BEST e a Associação Acredita Portugal como Diretor de Operações. Dá palestras de TED-talks onde incentiva e inspira, pessoas que querem criar o seu próprio negócio, sendo ele um empreendedor e motivador. Falamos de Fernando Fraga.
Com que idade se mudou para Gaia e como surgiu a ideia de dar formação na área de empreendedorismo?
Vim para Gaia com 26 anos. Quanto a dar formação, foi sugestão de um parceiro da Acredita Portugal, por haver poucos formadores nessa área, e foi uma boa sugestão.
Enquanto estudante universitário, abriu a primeira papelaria, tudo porque a sua caneta quebrou, foi o mote para abrir a papelaria Solução? Viu uma lacuna ou uma oportunidade?
Um pouco de ambas na realidade. Na altura estava a estudar e achei incrível como é que uma faculdade com mais de 8.000 alunos não tinha uma única papelaria. Como estava à procura de um part-time e sabia que o meu padrasto estava desempregado e a minha mãe numa empresa ligada à construção civil (que devido à crise económica mais cedo ou mais tarde ia ter de despedir pessoal) acabei por desenhar o projeto e abrir com eles a Papelaria Solução. Foi um desafio porque não tinha experiência nenhuma em empreendedorismo (o meu curso era Engenharia Química) mas depois dos vários altos e baixos pelos quais todos os projetos passam, acabou por correr bastante bem. Entretanto expandimos e além da papelaria criámos o Espaço Solução, uma loja de conveniência que segue o espírito da papelaria e que fornece aos estudantes vários dos artigos que têm de comprar enquanto estão na faculdade.
Na faculdade, uma professora perguntou-lhe sobre viver como a média.
Hoje vive ou não na média?
Essa é uma pergunta complicada, mas quero acreditar que vivo acima da média. Não me refiro ao nível económico, mas sim na dedicação que ponho nos meus projetos e no prazer que me dá ver o impacto que isso tem nos empreendedores. Só que para isso também tenho de trabalhar acima da média, dedicar-me acima da média, e o resto tudo acima da média. Mas vale a pena considerando o resultado.
Contar uma história e inspirar as pessoas… ainda é possível?
Ainda, claro. Não há melhor forma de inspirar do que contar uma história e mostrar que resulta.
Como jovem empreendedor e com esta vasta experiência, espera
arriscar em mais um projeto empreendedor?
Espero arriscar em projetos empreendedores o resto da vida. Nem todos têm de ser apenas para mim. Existem muitas formas de empreender. Uma menos óbvia é através da inovação de processos dentro das grandes empresas e outra é através do apoio a outros empreendedores que estão a arrancar com os projetos deles. Seja de que forma for não me vejo a deixar de ser empreendedor tão cedo.
É de Lisboa, mas veio para o Norte. Escolheu a cidade de Gaia para viver. Esta cidade tem potencial para criar uma empresa?
Muito potencial. A cidade está de braços abertos para o empreendedorismo e o Norte tem muito conhecimento que pode ser utilizado na inovação. Está a ser fenomenal.
Hoje é Diretor de Inovação da Acredita Portugal. A Associação
Acredita Portugal é “uma guardiã” dos sonhos e objetivos de empreendedores?
Nunca lhe tinha chamado isso, mas sim, é uma guardiã. Todos os anos mais de 10.000 empreendedores se inscrevem no concurso Banco Montepio Acredita Portugal e utilizam as ferramentas que lhes damos para construir o seu projeto. Confiam em nós os seus sonhos e objetivos. Somos mesmo guardiões deles.
Agora dá aulas de formação para possíveis empreendedores.
Que conselhos pode dar a alguém que quer ser empreendedor?
O maior conselho que posso dar é não se esquecerem de validar a sua ideia de negócio. É muito fácil apaixonarmo-nos pela nossa ideia e não chegar a validar junto dos utilizadores se é ou não mesmo necessária. Em segundo lugar, a equipa. Não é necessária sempre, mas é importante lembrar que não temos de estar sozinhos e que estatisticamente os projetos com mais do que uns fundadores têm uma maior probabilidade de sucesso.
Um jovem empreendedor desempregado, é sinal de fracasso?
Não. É sinal que tentou e não resultou. As únicas pessoas que não falham são as que não tentam. O projeto não resultar e o empreendedor ficar desempregado faz parte do processo de tentar. O verdadeiro fracasso é nunca saber se a ideia que tínhamos poderia ou não ter resultado.
Criar uma empresa nos dias de hoje é risco, um desafio ou motivação?
É os três. Apesar de todas as mudanças que o COVID-19 trouxe, essa não foi uma delas. Não existem projetos que de certeza que correm bem por isso é sempre um risco. Por muito que o empreendedor conheça a indústria há sempre variáveis que não consegue controlar por isso também é um desafio. De qualquer forma estar a desenvolver um projeto novo, seu, e estar “a mudar o mundo” continua (ou deve continuar) a ser sempre uma motivação.
Portugal é um país de empreendedores. São os jovens ou pessoas já
com uma vida de trabalho e idade madura que são mais empreendedores?
Ambos. A média de idades dos participantes nos concursos da Acredita Portugal está à volta dos 35 anos, mas é apenas porque efetivamente temos vários projetos nessa idade, mas também temos muitos jovens que decidem empreender assim que terminam os estudos porque veem o empreendedorismo como uma forma alternativa de carreira e vários empreendedores mais velhos que só arrancam com o projeto depois de terem uma vasta experiência profissional. É importante lembrar que o coronel Sanders só fundou a KFC com 62 anos e a empresa hoje é uma das maiores marcas do mundo no sector do fast-food. É a prova de que é possível.
Com tantas PMEs a crescer em Portugal, o nosso país tem potencial,
ou somos um país de empreendedores?
Eu acredito que somos e sempre fomos um país de empreendedores. Se pensarmos bem os descobrimentos foram na altura um grande projeto de empreendedorismo. Essa cultura dura até aos dias de hoje e vê-se em coisas tão simples como a forma tipicamente portuguesa de conseguir arranjar formas para resolver quase qualquer problema mesmo quando temos poucos recursos.
Uma palavra do género de TED Talks, para os empreendedores.
Coragem. Empreender não é fácil, mas, tal como diz a expressão, são as maiores luzes que trazem as maiores sombras. Quando tudo parece perdido podemos lembrar-nos disto e ganhar coragem porque “a luz está ali ao lado”.
Se um projeto seu fosse criar uma máquina de sonhos, que sonhos
essa máquina faria?
Sem querer parecer altruísta, provavelmente seria uma máquina que criasse novas máquinas de sonhos. Assim todos poderíamos ter os nossos sonhos criados.