“NÃO SÃO BIOGRAFIAS FEITAS SEM QUALQUER SENTIMENTO, HÁ MUITO AMOR NAQUELAS PALAVRAS”

O produtor e gestor cultural, Salvador Santos, lançou o livro intitulado “Os Meus Queridos Atores – Volume I”, no Teatro Nacional São João. Editado pela Húmus, esta obra foi apresentada pelo encenador, dramaturgo e professor Luís Mestre, tendo contado com a presença de Roberto Merino, dramaturgo e encenador, entre inúmeros representantes de entidades culturais.

 

Salvador Santos nasceu em 1949, em Lisboa, tendo sido animador cultural, ator e encenador entre meados dos anos 60 e início de 70, no Vitória Clube de Lisboa, no Bairro da Picheleira. Assumindo que foi na Companhia Teatral de Angola, em Luanda, entre 1971 e 1973, que começou no teatro amador, durante o serviço militar obrigatório, o produtor e gestor cultural acabou por se profissionalizar, tendo exercido as funções de ator, ponto, técnico de som e luz e diretor de cena em diversas companhias e grupos teatrais lisboetas, até ao início da década de 80, altura em que ingressou no Teatro Nacional D. Maria II, onde desempenhou vários cargos, até chegar a diretor de produção, atividade que desenvolveu até 1997, período em que foi nomeado subdiretor geral do Teatro Nacional São João (TNSJ). Em 2007, com a integração do TNSJ no Setor Empresarial do Estado, com o estatuto de Entidade Pública Empresarial, foi nomeado vogal do seu Conselho de Administração, cargo que ocupou até 2014. Já reformado, programou e dirigiu o Festival de Teatro José Guimarães, em Vila Nova de Gaia, e colaborou com os jornais Audiência Grande Porto e Gaia Semanário. Em 22 de outubro de 2021, foi agraciado pelo Ministério da Cultura com a Medalha de Mérito Cultural.

Definindo-se como sendo um “fazedor de teatro”, o também professor reuniu informações e escreveu, ao longo de mais de 50 anos de amor de dedicação às artes cénicas, biografias dos atores com os quais se cruzou e teve o prazer de trabalhar, que resultaram na edição do livro intitulado “Os Meus Queridos Atores – Volume I”, que foi lançado no Teatro Nacional São João e apresentado pelo encenador e professor Luís Mestre, que frisou que “a força das duas palavras, Salvador, convoca o sonho, a memória e o corpo, os do ator, mas também os nossos”.

Assegurando que “Os Meus Queridos Atores” é “uma leitura absolutamente imprescindível nas escolas artísticas”, o também dramaturgo sublinhou a importância de “conhecer estes nomes, o seu passado, as suas histórias, as suas experiências de vida e as personagens que interpretaram e que, hoje em dia, parecem estar em vias de extinção. (…) Foram tantos o que nos abriram caminho e que permanecem connosco, estas 475 páginas fazem isso”.

Na ocasião, Luís Mestre salientou, ainda, que “a estrutura que o Salvador tão inteligentemente desenvolveu, permite-nos voltar à sua obra sempre que quisermos, seja numa relação contínua e longa, ou espaçada no tempo, ou até pontualmente como consulta. A forma deste livro com 70 capítulos sobrevive a todo o tipo de relações”.

Por conseguinte, o autor Salvador Santos dirigiu-se aos presentes, recordando que se encontra numa casa onde viveu 18 anos. Evocando o seu percurso de ator a gestor, mas também na produção de festivais, como o FIT – Festival Internacional de Teatro, em Lisboa, e do Festival PoNTI, no Porto, espetáculos de ópera, televisão e exposições de artes plásticas, o produtor e gestor cultural foi conduzindo os presentes até germinação deste livro. “Durante muitos anos, eu fiz pequenas biografias dos atores com quem trabalhei e tomei de tal forma o gosto que, mesmo depois de ter saído do sindicato, porque, entretanto, assumi mais responsabilidades no Teatro D. Maria II, mantive uma ligação trabalhando nestas biografias no D. Maria II, onde havia muita informação, porque tinha, e tem, uma biblioteca extraordinária e muito pouco se perdeu no incêndio de 1964 e ainda por cima tinha a informação de grandes atores com quem trabalhei de 1981 em diante”.

Recordando que conviveu e trabalhou com atores extraordinários, falou sobre a relevância das conversas no Bar do Artista, garantindo que “mesmo, aqui, no Teatro Nacional São João, com os festivais, as peças e as saídas por todo o lado, em que andamos por toda a Europa, eu continuei a escrever as biografias, até que, em 2003, falei com o diretor do Jornal AUDIÊNCIA e, a partir daí, comecei a enviar textos para este órgão de comunicação que eram muito apreciados”.

Ao longo do seu percurso, muitas pessoas o incentivaram a publicar as biografias em livro, como foi o caso do dramaturgo e encenador Roberto Merino, contudo “o tempo passou e eu fui reunindo todos estes textos e ainda há imensos por publicar, porque eu continuo a escrever biografias, pois dá-me imenso prazer pesquisar sobre o trabalho árduo, e pelo qual eu tenho muito respeito, realizado pelos grandes atores e atrizes que nós tivemos”. “Um dia, eu estava à conversa com a Paula Braga e ela perguntou-me pelas biografias e eu disse-lhe que continuava a fazê-las. O Luís Mestre assistiu à conversa e eu disse que não conhecia nenhum editor e que não acreditava que alguém estivesse interessado nas biografias. A verdade é que o Luís contactou o Rui Magalhães, da editora Húmus, que passadas poucas semanas enviou-me um e-mail e eu enviei-lhe 40 ou 50 páginas e ele mostrou-se muito interessado, então eu comecei a trabalhar com textos de introdução para juntar todas as biografias, contando pequenos pedaços da minha história de vida no teatro, fazendo, assim, ligação com estes atores e foi assim que nasceu o livro, que agora está nas vossas mãos e que eu espero que vos dê tanto prazer a ler como me deu a escrever”.

Neste primeiro volume, Salvador Santos reuniu um conjunto de biografias de atores e atrizes com quem trabalhou, como Laura Alves, Mariana Rey Monteiro, Canto e Castro, José de Castro, Fernanda Alves, Camilo de Oliveira e Eunice Muñoz. “Não são biografias feitas sem qualquer sentimento, há muito amor naquelas palavras”, frisou o autor, adiantando que, “no próximo volume, teremos várias atrizes e atores brasileiros, com quem tivemos o grande prazer de trabalhar, desde o Raul Cortez a Fernanda Montenegro, etc. e ainda há muitos atores portugueses por mostrar”.