“SEMPRE FUI E CONTINUO A SER UM SONHADOR”

Natural de Fafe e a residir, atualmente, na Ilha da Madeira, José Maria Ramada transmite, através da sua escrita e poesia, aqueles que são os seus valores fundamentais. Com seis livros publicados e mais de 40 participações em obras coletivas, para o autor literatura devia ter uma função social. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, José Maria Ramada falou sobre o seu percurso de vida, a sua passagem pela Suíça, a sua profissão enquanto chef de cozinha e a paixão pela escrita, que sente desde muito novo e que já o levou a várias partes do mundo.

 

 

Para quem, eventualmente, não o conhece, quem é o cidadão José Maria Ramada?

José Maria Ramada é o pseudónimo de José Maria Rodrigues Cunha. Nasci em 1958, em Medelo, em Fafe, onde vivi toda a minha infância. Emigrei para a Suíça em 1981, para trabalhar na área da restauração, onde as portas se abriram e pude tirar o curso de chef de cozinha e, posteriormente, o de formador. Cursos que até hoje abraço com toda a motivação e dedicação. Regressei a Portugal em 1998 e retornei novamente à Suíça com um projeto que terminei em 2022, voltando para a Madeira, onde vivo atualmente e continuo a trabalhar no mesmo ramo, considero-me um nómada.

 

Nasceu em Fafe, esteve emigrado na Suíça e, atualmente, vive na Ilha da Madeira. O que o levou a radicar-se nesta região?

Quis a casualidade que conhecesse a minha atual mulher, durante a apresentação do meu primeiro livro, através de amigos em comum. Quando regressei da Suíça em 2022, ponderamos as várias opções, ou ficar na Suíça, ou regressar a Fafe, onde tinha as minhas raízes, ou à Madeira, onde a minha mulher sempre viveu. Então, como eu adoro a ilha e sempre me adaptei com facilidade a novos ambientes, foi mais fácil para mim radicar-me nesta lindíssima região.

 

Com um percurso profissional como chef de cozinha, como e quando surgiu a sua paixão pela poesia?

Sempre trabalhei na restauração. Tudo começou muito cedo, quando ainda andava nos escuteiros, pois eu era o cozinheiro de serviço, mas a escrita começou bem mais cedo, por influência do meu pai, que sempre nos incutiu a leitura e escrita. Contudo, eu escrevia e ia deitando fora, até que, quando emigrei pela primeira vez para a Suíça, os meus tempos livres eram ocupados a ler e a escrever, escritos estes que ia guardando.

 

Entre os inúmeros livros e antologias publicadas, quais destacaria e porquê?

Colaboro assiduamente com a imprensa local, regional e imprensa ligada à diáspora. Sou o coordenador das seis edições de Alma Latina, Vol. 1,2, 3, 4, 5 e 6, editadas anualmente desde 2020. Também publiquei seis livros, nomeadamente “Flauta Partida”, em 2012; “A Viagem – O que os olhos viram e os corações sentiram”, em 2014; “Vagueando em Sonhos”, editado em 2014, com segunda edição lançada em 2016; “45 Anos de História – Biografia do Agrupamento de Escuteiros de Medelo” em 2018; “Constança, viagem na Suíça”, em 2020; e “Livro duplo Trilogia I – Cravos de Poeta”, em 2023. Paralelamente, também participei, em coautoria, em mais de quatro dezenas de antologias poéticas e de contos no mundo lusófono. Também, participo, igualmente, em saraus culturais de leitura e poesia, assim como em diversas palestras sobre o meio ambiente, voluntariado e escutismo. A nível profissional, o meu mais recente desafio está relacionado com a edição de livros de outros autores, através de JMR/Mundo Latino. Mas, sem dúvida que o livro que mais destacaria é “A Viagem – O que os nossos olhos viram e os corações sentiram”, pois é uma narrativa vivida na primeira pessoa, em Moçambique, durante uma ação de solidariedade e voluntariado.

 

Em 2023, lançou a obra intitulada “Cravos de Poeta | Nostalgia – Sinto a Tua Ausência”. O que retrata neste livro?

“Cravos de Poeta | Nostalgia – Sinto a Tua Ausência” é o primeiro de uma trilogia. Trata-se de um romance inspirado no amor, sofrimento, perdão, doença, dor e no acreditar em algo superior a nós. Retrata também um pouco a vida dos emigrantes e é totalmente dedicado à minha poesia, uma escrita nostálgica, de quem sofre muitas vezes por alguém que está ausente. Este primeiro livro foi uma passagem entre os Alpes Suíços e Fafe, sendo que para o segundo livro estou a romancear uma vivência entre Fafe e a Madeira, têm de esperar para ler.

 

Através da poesia, já viajou um pouco por todo o mundo. Pode descrever-me algumas das participações em eventos cultuais que mais o marcaram?

Já viajei um pouco por todo um mundo, aliás há dois eventos que nunca esquecerei, um foi em 2012 e contemplou uma atividade de voluntariado e solidariedade de escuteiros de Fafe, Vieira do Minho e Guimarães, coordenada por mim, que dava vida ao meu primeiro livro “Flauta Partida em Moçambique. Além do trabalho solidário, também tivemos partilha de teatro e poesia com jovens de escolas. Outro evento cultural que me marcou imenso, foi o convite para participar no Salão Internacional do Livro de Genebra, em 2017, onde dei a conhecer os meus livros e as minhas histórias aos alunos de escolas portuguesas que nos visitaram.

 

Que mensagens pretende transmitir através das suas palavras?

Quem me lê, diz que eu sou nostálgico, mas eu não penso assim. Através das minhas palavras, tento transmitir, nomeadamente, fraternidade, entreajuda e a proteção do meio ambiente, porque a nossa passagem neste mundo é efémera e nós descuramos tanto o amor pelos outros e a amizade por quem nos rodeia.

 

Para além do segundo livro da trilogia “Cravos de Poeta | Nostalgia”, existem novos livros em carteira?

Também estou a trabalhar no livro “Relatos, Recortes e Retalhos”, contudo não está nada relacionado com os 3R’s, mas sim uma compilação de todos os meus artigos de opinião e poemas, que foram publicados nos diversos órgãos de comunicação.

 

Acha que a escrita, e em especial a poesia, deve ter uma função social?

Claro que sim, a poesia devia ter uma função social. O problema é que muitas instituições são fechadas a este tido de eventos. Eu já levei a poesia a escolas e lares de idosos, quando solicitado, e também me ofereci muitas vezes. Todavia, é pena não haver mais convites e abertura, pois pelas presenças em que estive as pessoas gostaram e mostraram vontade de repetir. Estou habituado a eventos temáticos, seja num jardim ou ao luar e, muitas vezes, as pessoas que aparecem nem são poetas, pois os eventos são abertos para a comunidade em geral, porém, para os mais idosos e pessoas sozinhas, o prazer de ouvir, ler e participar é notória. Como disse anteriormente, tenho seis livros editados, a participei em mais de 40 obras coletivas, já ofereci coleções de livros a diversas bibliotecas, mas o que mais prazer me dá, é todos os anos, disponibilizar livros e parte das receitas das vendas a diversas instituições sociais.

 

Quais são as suas perspetivas para o futuro?

Sempre disse que há cinco pilares fundamentais na sociedade de hoje, nomeadamente, justiça, segurança, saúde, educação e cultura, que infelizmente, em Portugal, andam pelas ruas da amargura. Espero que os nossos políticos pensem nestes assuntos, pois estamos na cauda da Europa e é importante que olhem o futuro de uma forma diferente. A cultura é a parente pobre de todos os orçamentos, os escritores às vezes têm dificuldade em obter apoios e quando digo apoios, não me refiro a nível financeiro, mas sim na cedência de locais para realizarem os seus eventos.

 

Que mensagem gostaria de transmitir aos nossos leitores?

Sempre fui e continuo a ser um sonhador, acredito que se o ser humano quiser podemos mudar o mundo, basta cada um de nós fazer a sua parte.