“NÃO SOU UM HOMEM DE PROMESSAS, SOU UM HOMEM DE COMPROMISSOS”

Filipe Lopes rumou até à ilha de São Miguel para acompanhar o Rancho Folclórico e Cultural de Nossa Senhora do Monte na sua participação no Festival de Folclore Ilha Verde (organizado pelo Grupo Folclórico Ilha Verde), mas também para assinar o protocolo de intenção de geminação com a Ribeira Seca (Ribeira Grande). O AUDIÊNCIA aproveitou a ocasião para ter uma conversa sem filtros com o Presidente da Junta de Freguesia de Pedroso e Seixezelo.

 Esta viagem aos Açores teve como ponto principal o acompanhamento do Rancho Folclórico e Cultural de Nossa Senhora do Monte ao festival de folclore organizado pelo Grupo Folclórico Ilha Verde, mas também a assinatura do protocolo de geminação com a freguesia da Ribeira Seca, do concelho da Ribeira Grande. Quais são as pontes que se podem criar entre esta ilha e Vila Nova de Gaia?

 Acho que isso tem-se vindo a desenvolver desde que o AUDIÊNCIA veio para os Açores. Têm-se aberto um conjunto de pontes e de ligações, têm-se feito vários intercâmbios, quer entre municípios (Vila Nova de Gaia e Ribeira Grande), quer entre freguesias. Este protocolo de intenção de geminação tem vindo a ser trabalhado há alguns anos entre Pedroso e Seixezelo e Ribeira Seca. Foi possível encontrar um princípio de acordo, um princípio de ‘pontes’ que se podem desenvolver. Estamos a falar de freguesias completamente diferentes quer a nível de dimensão, de população, ou de dinâmicas, mas sou daquele tipo de pessoa que entende que todos temos a aprender com toda a gente, por isso acho que esta ligação será benéfica para Pedroso e Seixezelo, tal como penso que também será benéfica para a Ribeira Seca em vários âmbitos: social, desportivo, educacional, cultural… há um conjunto de várias vertentes que temos que trabalhar. Demos o ‘pontapé de saída’ e estou certo que terá resultados nos próximos tempos.

 Uma das pontes que o concelho da Ribeira Grande e, por consequência a freguesia da Ribeira Seca tem procurado é um acompanhamento aos estudantes que vão da Ribeira Grande estudar para as universidades do Porto. Acha que nesse campo a União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo pode ser uma casa de acolhimento para os jovens que vão da Ribeira Grande?

Acho que sim. Neste momento é cedo falar em que moldes é que podemos trabalhar as duas comunidades e esta ligação que pretendemos que tenha elevado sucesso, mas claramente esse é um dos pontos a explorar com esta geminação.

 Está à frente da autarquia há seis anos. Muitas contrariedades, muitas promessas… ao fim de quatro anos já tinha ultrapassado as promessas feitas. Continua a velocidade de cruzeiro ou tem havido obstáculos não previstos?

Contrariedades encontrámos… já as prevíamos, por isso em 2013 o que fomos encontrando não foi surpresa para nós. Promessas, nenhuma. Aí tenho que contrariar. Não sou um homem de promessas, sou um homem de compromissos. Penso que essa é a palavra mais adequada à minha forma de estar. A única promessa que me lembro de fazer foi o arranjo da Rua Tabosa, que foi realizado em 2014/2015. Que me lembre, foi a única promessa que fiz quer enquanto candidato, quer enquanto presidente de junta. Tudo o resto foi o que fomos sentindo durante o nosso mandato. Entendemos que a freguesia era parada, não era dinâmica… era uma freguesia caloteira, sem vida e sem rumo. O que nós pretendemos fazer, e foi isso que me fez abraçar um projeto político (nunca pensei na minha vida fazê-lo, não foi para isso que estudei), foi a forma de ver para onde a freguesia caminhava. Eu e um conjunto de pessoas (com a vida estável, realizada e com provas dadas na vida profissional em vários ramos), de várias ideologias, decidimos criar um projeto para Pedroso e Seixezelo. Um projeto que fosse para além de um partido e desse resposta a um conjunto de necessidades que fomos sentindo enquanto pessoas ativas na freguesia.

Penso que hoje, olhando para estes seis anos, não ultrapassámos os compromissos assumidos em falta. Há uma grande obra que me falta fazer, para além de outras, que é o Centro de Saúde dos Carvalhos. É um compromisso que tenho para mim mesmo e para a comunidade de Pedroso e Seixezelo porque é aquela obra que todas as pessoas anseiam. Acho que hoje somos uma freguesia com imensos projetos e imensas respostas de âmbito social, desportivo e cultural. Crescemos muito nestes seis anos. Acima de tudo tornámo-nos numa freguesia credível. Aquilo que diz que faz, faz, aquilo que não pode, diz que não pode.

É uma freguesia “credível”, mas, o início do seu anterior mandato foi marcado por convulsões de alguma dimensão. Foram anunciados na altura uma série de processos-crime contra o anterior presidente de junta, António Tavares, e o que os pedrosenses e seixezelenses querem perceber neste momento, é se aquilo foi apenas ‘fogo de vista’ para limpar uma entrada, ou se a Junta quer mesmo que isto vá até às últimas consequências.

 Na minha opinião, e digo-o sem qualquer tipo de receio, não houve um crime mas sim vários. A queixa-crime entrou em abril de 2014 por decisão da Assembleia de Freguesia, após um relatório de uma auditoria externa que adjudicámos à KPMG, em que foram anunciadas várias práticas irregulares. Isso entrou no Mistério Público e está a decorrer. Já fui ouvido várias vezes, já todos ou quase todos os funcionários da Junta também já foram ouvidos. A última informação que tive do inspetor que está com o processo, é que este está numa fase de constituição de arguidos.

Não acha que cinco anos depois é tempo a mais?

 Infelizmente vivemos num país onde a justiça é lenta, mas sou daqueles que acredita na justiça. Tanto acredito que uma queixa-crime que fiz em nome individual contra o anterior presidente me foi dada vitória há um mês Neste momento há 30 dias para contestar. Não anunciei ainda a decisão, estou a anunciar publicamente agora. Sou daqueles que acredita que para uma sociedade funcionar, é preciso justiça mais que políticos e empresas… acredito que a justiça pode tardar (e está a tardar neste processo), mas irá chegar.

Cinco anos depois não há arguidos…

Não sei se neste momento já existem… não sou pessoa de fazer apostas. Nem promessas nem apostas, mas irá haver fumo branco, arguidos, decisões e condenações, porque terá que haver condenações para o bem de todos. Isto não é a política do vale-tudo.

A ser verdade as acusações que foram feitas na altura, a freguesia saiu lesada. É importante que esta situação se esclareça.

Eu posso esclarecer aquilo que consigo esclarecer: a freguesia foi lesada independentemente de ser verdade ou não. Há práticas de gestão que podem não ser crime, mas são práticas de gestão irresponsável.

Como por exemplo?

Uma freguesia sai lesada quando a Junta de Freguesia gasta mais de 5.000€ por ano em vinhos, quando paga mais de 20.000€ em quilómetros ao presidente, quando paga mais de 15.000€ por ano em refeições ao presidente, quando a Junta de Freguesia tem um contrato com a Vodafone completamente desprovido de bom senso… daí a ser crime é diferente. Posso ter uma empresa privada e gastar 10.000€ em vinho que não irei preso, mas como gestor, como sócio ou como acionista, estou a cometer má gestão. Para quem está numa função pública, para mim isso é crime. Agora compete aos tribunais decidir isso. Mas que não tenho dúvidas nenhumas que a freguesia foi lesada, foi. Um presidente de junta que manda fazer, a dois ou três meses de eleições, um porta-chaves com o nome próprio, isso é irresponsabilidade. Se o tribunal condena ou não, a eles compete e às leis. Se eu fizesse isso, teria vergonha de sair de casa no dia a seguir.

Cinco anos depois do processo ter entrado, continua-se à espera. Mas a freguesia não parou.

Pelo contrário, começou a andar. Continua muito viva, com muitos projetos (quer materiais quer imateriais), e acima de tudo continua com um presidente de junta com muita vontade de continuar o seu trabalho em prol de Pedroso e Seixezelo.

Numa altura em que, por exemplo, o seu companheiro/colega de funções da União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares advoga o fim da união, em Pedroso e Seixezelo, parece que o Presidente de junta acha que a união de freguesias é mais útil para as comunidades do que a sua separação.

Eu nunca disse isso. Eu disse, enquanto deputado da Assembleia de Freguesia, que era contra o modelo que se estava a fazer na altura. Disse, digo e direi amanhã em qualquer situação. O arranjo que se fez em Pedroso e Seixezelo foi para que o anterior presidente pudesse ser candidato porque estaria no limite de mandatos. Não quer dizer que depois de analisar todos os prós e contras, efetivamente, para o bem da comunidade de ambas as freguesias, que o ideal fosse agregar Pedroso e Seixezelo. O que discuti foi o modelo usado. Neste momento o que digo é que não podemos brincar às freguesias. É importante que a lei saia, que a Assembleia da República legisle, e quando a lei sair ver em que é que nos enquadramos.

A União de Freguesias que o senhor preside terá sido das poucas que abraçou de tal maneira essa união que até mandou fazer um brasão comum às duas freguesias, tentando acabar com todas as hipóteses de voltar ao passado.

Não foi com esse intuito que fizemos o brasão. O brasão foi feito por dois motivos: em primeiro lugar porque o brasão de Pedroso era ilegal. Não podíamos usar num papel timbrado de uma Junta de Freguesia uma coisa que era ilegal, que não tinha o parecer da comissão de heráldica, que era obrigatório; em segundo lugar, visto que havia uma união de freguesias, por que não haver um brasão que mostrasse essa união? Aliás, não fizemos isso apenas no brasão. Em abril, quando fizemos a caminhada solidária (que revertia para a Liga Portuguesa Contra o Cancro) unimos Seixezelo a Pedroso. Neste momento, se me perguntar o que é que a população sente sobre a união das freguesias, muito honestamente acho que o sentimento é saudável. Seixezelo ganhou imenso: teve uma casa mortuária, um polidesportivo, tem o Festival da Cereja…

 E Pedroso perdeu?

 Não. Logicamente que as freguesias mais pequenas ganham mais com a agregação que as grandes. Pedroso tem um orçamento de um milhão, Seixezelo de 100.000. Quem ganhou mais foi Seixezelo, na minha ótica, mas também ganhou mais porque tem um executivo que não olha para os votos, mas sim para o território num só.

 Falou numa caminhada solidária. Isto significa que as pessoas de Pedroso e Seixezelo estão solidárias umas com as outras e querem caminhar em conjunto?

 A caminhada foi feita com o intuito de ligar as duas freguesias. Se houvesse uma sondagem ou referendo, num aspeto sentimental as pessoas poderiam pensar em voltar a estarem desagregadas, mas no aspeto racional é muito relevante o ganho que Seixezelo teve com a agregação.

Justifica-se numa freguesia com esta população (21.000 habitantes), os executivos estarem a tempo inteiro na Junta de Freguesia, dada a grande obra que há para desenvolver?

Lembro-me que nos quatro anos enquanto deputado, quando a Junta de Freguesia tinha outro presidente, eu era crítico ao facto de ser-se presidente a tempo inteiro. Mantenho essa crítica, mas mantenho-a numa vertente do que se fazia na freguesia na altura. Para ter meia dúzia de pessoas a cortar ervas na rua, não é preciso ser-se presidente tempo inteiro. Agora com a quantidade de projetos que a freguesia tem, como a Academia Sénior e “Um bebé, um futuro”, projetos pesados, que obrigam a pensar e a estar-se atento, justifica-se claramente um presidente a tempo inteiro. Se esta Junta caminhar para aquilo que era, um presidente nem precisa estar a meio tempo.

Falou no projeto “Um bebé, um futuro”. Isto é um ‘slogan’, uma necessidade ou uma certeza?

É uma certeza. Avançámos com este projeto o ano passado. Neste momento já temos cerca de 80 bebés. Estamos a falar de um processo bastante integrado: temos como parceiros farmácias (que também são nossas parceiras no apoio solidário), oferecemos um kit a todas as mães (fraldas, géis, muda-fraldas…) antes do bebé nascer e oferecemos um voucher para se fazer uma chupeta personalizada com o nome do bebé.

Mas isso é simbólico.

É simbólico mas tem um custo para a freguesia. Acho que o mais importante também é o cartão de bebé, em que há descontos numa rede de parceiros que temos na freguesia e queremos reforçar essa rede de parceiros, quer seja ótica, farmácia, lojas de roupa… é um conjunto de ofertas em que têm 10% de desconto.

Uma particularidade importante na sua União de Freguesias é o ensino. As escolas têm um ensino de excelência um padrão muito elevado na qualidade da educação prestada. Qual é o segredo?

O segredo é o trabalho diário e a paixão que se coloca no dia-a-dia. No nosso caso temos a sorte de ter a Escola Secundária dos Carvalhos com uma enorme dimensão, também temos o Colégio Internato dos Carvalhos e o Colégio Internato do Claret. Somos uma freguesia de referência a nível do ensino. O Colégio dos Carvalhos é-o numa vertente mais de ‘ranking’, o que se percebe porque há uma pré-seleção dos alunos que lá são admitidos, na Escola Secundária dos Carvalhos dão muita importância à vertente solidária. Esse movimento tem ganho um conjunto de prémios ao longo dos anos, sejam prémios de solidariedade ou a ver com questões ambientais. É um orgulho tremendo presidir a uma freguesia onde há esta qualidade de ensino.

Essa quantidade de prémios da Escola Secundária dos Carvalhos, se calhar não é indiferente à cumplicidade que existe entre o Presidente da Junta e o Diretor do agrupamento, o Engenheiro Domingos Oliveira.

Desde que estou na Junta de Freguesia que tento unir pontes e a ligação que tenho com o Engenheiro é de há muitos anos, pois foi meu professor. É uma pessoa de trabalho, uma pessoa dinâmica, e alguém que não residindo na freguesia, vive a escola dos Carvalhos como se fosse parte sua. Tem sido muito fácil trabalhar com ele, está sempre presente nas atividades da freguesia.

Mas essa cumplicidade existente entre ambos resulta nos resultados que estão a ser obtidos neste momento?

Esses prémios dizem claramente respeito ao Engenheiro Domingos, à equipa dele e à escola.

 A autarquia não põe nas suas prioridades a cooperação com a Escola Secundária dos Carvalhos?

 Põe. O que acontece é que esses prémios dizem respeito é à ação e orientação que o Engenheiro Domingos tem para o que quer que seja relativamente à escola dos Carvalhos. A Junta de Freguesia tem uma preocupação tremenda na parte obrigatória, como protocolos de higiene e limpeza, quer na parte não obrigatória. Nós fazemos um conjunto de atividades e colaborámos, quer seja com a Escola EB 2/3, quer seja na Secundária.

 Temos visto o Presidente carregado com sacos para distribuir pelas escolas. É um trabalho a que é obrigado ou é porque a autarquia acha que as escolas são credoras desse tipo de comportamento por parte da autarquia.

Isso é um projeto que nós temos, que é o “Pedroso e Seixezelo – regresso às aulas”. Começámos, numa fase inicial, a entregar um computador por sala às escolas do primeiro ciclo. Após cada escola ter dois computadores, entendemos, numa parceria com os diretores (quer com o Engenheiro Domingos, quer com o Professor Eduardo), de dar material escolar a cada aluno. Damos um kit a cada aluno do primeiro ciclo e um kit por sala no pré-escolar.

 Há famílias desprotegidas neste agregado populacional?

Sim. Há em Pedroso e Seixezelo como em todas as freguesias do país, infelizmente.

Há sem abrigos?

Sim, na zona dos Carvalhos.

O que é que a Junta tem pensado para lhes dar uma habitação condigna?

A parte da habitação social não é uma competência da Junta de Freguesia. Não podemos pensar num mundo perfeito porque infelizmente não existe.

Mas não usa a sua influência para ultrapassar estes problemas?

 Tenho por hábito pensar que nós podemos ir melhorando a nossa rua. Se cada um de nós melhorar a sua rua, conseguiríamos uma comunidade melhor, uma freguesia melhor e uma cidade melhor. O que fazemos é, efetivamente, dar uma lufada de ar fresco ao Gabinete de Ação Social, que nem havia antes de chegarmos. Temos um conjunto de resposta que damos quer seja a nível alimentar, de medicação ou para gestão correntes de um agregado familiar. Mas não temos casas para entregar…

Mas tem a Gaiurb… qual a disponibilidade que a Gaiurb tem para com o Presidente de Junta de Pedroso e Seixezelo?

Penso que será igual à dos outros presidentes de junta. Nós damos os alertas que vamos identificado através do Gabinete de Ação Social.

Quantifique. Pediu 10 casas e deram-lhe quantas?

Posso dizer que pedi três casas, desde que sou presidente, diretamente ao Presidente da Câmara, e as três foram concedidas.

 O que quer dizer que não confia na Gaiurb?

 O que quer dizer que quem manda na Gaiurb é o município e o meu elo de ligação com o município é o Presidente da Câmara.

“Hoje vive-se com confiança em Pedroso e Seixezelo”

Já falámos sobre o passado. Falando sobre o futuro, vai haver uma terceira candidatura?

 Ainda é cedo para se falar sobre isso. A meio do mandato anterior tive a necessidade de anunciar a minha recandidatura porque se falava na freguesia que eu apenas tinha ido para a Junta para que servisse de ‘trampolim’. Quem dizia isto era uma dúzia ou meia dúzia de ‘mentes brilhantes’ da freguesia. Concorri a convite do presidente da Câmara Municipal, o meu amigo Eduardo Vítor Rodrigues, vim com uma equipa jovem e com vontade de fazer uma terra melhor. O povo viu isso no dia-a-dia, viu que o Filipe que era antes de ser presidente é o mesmo Filipe de hoje e o mesmo Filipe que era passados quatro anos, quando me deu uma votação recorde na freguesia em 2017. Foi a melhor votação de sempre desde que há eleições democráticas em Pedroso e Seixezelo. Vim para a Junta por amor à terra e amor a uma causa. Não preciso de nenhum ‘trampolim’ nem de nenhum estatuto social. Preciso de fazer aquilo que gosto e neste momento gosto de ser presidente de junta. Por isso neste momento não penso numa recandidatura, penso sim em cumprir os compromissos que fui assumindo com a população de Pedroso e Seixezelo, e tornar a freguesia numa freguesia melhor.

O que é que o move? Porque é que gosta de ser presidente de junta?

 Move-me a minha terra. Sou natural de Pedroso. A minha família tem muitas raízes na freguesia, muitas tradições e é bastante conhecida na freguesia. Nasci em Pedroso, vivo em Pedroso e espero um dia morrer em Pedroso. Via que a freguesia não estava a ir no rumo que deveria. Não quer dizer que hoje esteja no rumo certo, mas tenho a certeza que hoje está num rumo melhor. Move-me, claramente, o amor que tenho à minha terra.

 Sente que a população precisa de si para tornar a freguesia melhor?

 Acho que ninguém faz falta, e não digo isto de uma forma modesta ou humilde. Acho que todos nós somos precisos momentaneamente no tempo em que estamos e no local onde estamos. Mediante as decisões que tomámos, acho que temos acertado. Sou uma pessoa muito coerente, durmo pouco, penso muito, não tomo uma decisão de ânimo leve, não digo uma coisa por dizer ou porque sei que vou agradar a uma pessoa… faço aquilo que a minha consciência diz para eu fazer, mediante o momento em que estamos a viver. Não acho que a freguesia ou a população precise de mim, acho é que ainda preciso estar neste cargo para deixar a freguesia ainda melhor.

Pedroso e Seixezelo de há seis anos, não é a mesma freguesia de agora.

 Claramente. Pedroso e Seixezelo mudou muito. Não conheço todas as freguesias de Gaia para poder afirmar que fomos a que mais mudou, mas conheço Pedroso e Seixezelo. Pedroso não tinha vida, não tinha movimento… cada coletividade vivia muito isolada, cada uma a trabalhar para si e cada uma com as costas voltadas para as outras. Hoje as pessoas interagem e respira-se bem na freguesia. Em outubro vamos fazer a primeira feira de emprego de Pedroso e Seixezelo. Um simples ‘e-mail’ que a Junta de Freguesia enviou a empresas (algumas com referência a nível nacional) para participarem, e disseram-nos logo que sim, que vão participar na nossa feira de emprego, que estarão lá com o seu ‘stand’ e as suas ofertas de emprego. Hoje vive-se com confiança em Pedroso e Seixezelo. Acho que as pessoas têm orgulho de dizer que são de lá. Pedroso mudou muito a nível de investimento e a nível de rede viária (aí com o imprescindível apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia), a nível de infraestruturas que eram prometidas há muitos anos, como a Casa Mortuária em Seixezelo, como a piscina que estava parada quando chegámos, como o polidesportivo em Seixezelo, como a Quinta do Padrão, como um conjunto de praças e espaços públicos que fomos criando e dinamizando, ou como um conjunto de outros projetos, quer seja a Academia Sénior, o Posto de Enfermagem, o projeto “Um bebé, um futuro”… temos hoje 12, 13 ou 14 projetos imateriais através dos quais se afirmam a freguesia, as coletividades e as pessoas.

Gosto muito de referir a Festa do Caneco, não por ter sido uma ideia minha ou da minha equipa, mas porque acho que é aquilo que simboliza bem a afirmação de uma freguesia: pegar numa semana cultural, que não havia em Pedroso, e fazer seis dias de um momento de união das coletividades, em que também há um cartaz musical. Acima de tudo, como se viu no ano passado, o cartaz pouco interessa. Acho que o mais importante para o sucesso deste evento é conseguirmos pôr ali 20 ou 25 coletividades. Isso mostra a vida com que a freguesia está. Ao contrário do que outros dizem, que a festa foi para promover o presidente… para promover o presidente não faria uma festa, porque aquilo dá muito trabalho. Estou lá do início ao fim e faço-o com muito gosto. Passo por todas as barracas todos os dias para perguntar como estão, e ver o sorriso das pessoas por estarem num grande evento, como também ver os ganhos financeiros que isso traz para a própria instituição. Também dá gozo visitar algumas instituições e ouvir da boca dos presidentes e das direções que se não fosse a Festa do Caneco não teriam feito arranjos na sede ou pintado aquela parede… Hoje em dia as coletividades vivem com muitas dificuldades e muitas vezes estas festas que se promovem também fazem com que haja estes ganhos.

Está de consciência tranquila apesar do que dizem?

Muito tranquila. Durmo pouco, mas durmo bem.

Já disse que o Centro de Saúde é um dos objetivos. Que mais objetivos é que este executivo tem?

A nível de infraestruturas temos três ou quatro projetos importantes. Obviamente que o Centro de Saúde é o principal. Isso está comunicado à Câmara Municipal e o próprio Presidente afirmou publicamente esse compromisso de fazer as novas instalações do Centro de Saúde dos Carvalhos.Temos também a requalificação integral da EB 2/3 Padre António Luís Moreira. Está numa fase em que os técnicos da Câmara Municipal estão a fazer o levantamento das instalações atuais para ver que movimentos serão necessários. Também temos o quartel da GNR. Efetivamente as condições estão a roçar o miserável e por isso também é necessária intervenção. Já há um acordo assinado entre a Câmara Municipal de Gaia e o Ministério da Administração Interna para esse investimento (que será superior a 800 mil euros). Outro objetivo que não está tão avançado mas que é um sonho (e o sonho comanda a vida), é um pavilhão, que julgo ser importante para a vila. Temos um conjunto de coletividades desportivas que não têm onde treinar ou onde jogar… Acredito que com um pavilhão desportivo que tivesse várias funções, pudéssemos também ter um conjunto de outras dinâmicas.

É preciso apoiar a cultura e o desporto.

Muito. Já demos, desde que sou presidente, quase 300 mil euros de apoio às coletividades. O ano passado não pudemos dar por causa de uma decisão judicial da CIVOPAL que remete a 2009, ou seja, da qual o anterior executivo é responsável. Tivemos de fazer um acordo de pagamento: num ano tivemos que pagar 400 mil euros, e isso fez com que não fosse possível dar o apoio regular anual que damos às coletividades. Assinámos recentemente protocolos com todas as instituições desportivas na ordem dos 11 mil euros, já assinámos com os ranchos e falta agora a parte social. Em média chegamos a dar até 60 mil euros de apoio às coletividades por ano.

Palavras e pensamentos

 Ao chegar ao fim a conversa com Filipe Lopes, o AUDIÊNCIA desafiou o Presidente da Junta de Freguesia de Pedroso e Seixezelo a partilhar com os leitores os seus pensamentos sobre algumas palavras.

Hortênsia

É uma palavra que me diz muito porque é o nome da minha mãe. É uma pessoa que muito admiro, por quem tenho um grande amor e a quem muito estimo. Neste caso em particular, estando nos Açores, ainda mais significado tem porque aqui não faltam hortênsias, apesar de não haver nenhuma como a que mora em Pedroso.

PS/Gaia

PS/Gaia é a minha casa. É onde me sinto bem, onde faço parte do Secretariado Concelhio, é onde os resultados das últimas eleições mostram o bom desempenho que tem sido realizado.

Eduardo Vítor Rodrigues

Uma referência. Apesar de já o conhecer antes da política, é uma pessoa que enquanto presidente de Câmara conseguiu mostrar que não temos que mudar para exercer certos cargos. Ele continua a ser a mesma pessoa, com as mesmas convicções. É um político fora do comum, em que me revejo muito e em que aprendo muito. Tem a sua marca muito pessoal (eu também tenho a minha). É uma pessoa que eu admiro muito e que só não irá muito longe na política em Portugal se não quiser.

 Sport Lisboa e Benfica

 É o maior clube português e do mundo! É um clube do qual eu gosto, do qual sou sócio e pelo qual sofro muito durante os 90 minutos.

Ribeira Seca

Ribeira Seca é uma freguesia que começou a dizer muito a Pedroso e Seixezelo quando cá estivemos pela primeira vez. Estou certo que daqui a uns anos irei falar ainda de uma forma mais apaixonada.

Elefante Branco

Elefante Branco faz-me lembrar uma obra que foi feita em Pedroso e Seixezelo em 2003, que foi o complexo desportivo de Pedroso. Foi uma obra mal concebida, mal pensada e mal executada.

Feira dos Carvalhos

Feira dos Carvalhos já é uma realidade. É importante que se olhe para a Feira dos Carvalhos como algum necessário: perceber a importância histórica que teve, mas perceber que como tem funcionado até aqui, está desajustada às necessidades de uma nova comunidade, país e nova era. Espero que em breve seja um território onde possamos fazer um conjunto de ações.

Carvalhos

É um lugar da freguesia de Pedroso e Seixezelo. Costumo dizer que dou a mesma importância a todos os lugares da freguesia, mas Carvalhos é o lugar mais conhecido da freguesia, onde o comércio é o ponto forte. Da minha ótica, os próprios carvalhenses não se têm empenhado no local. As pessoas têm que pensar que a política pode ajudar a desenvolver uma terra, mas quem desenvolve a terra são as pessoas, as empresas e as instituições. Quem está à espera que a Junta de Freguesia vá resolver o problema dos Carvalhos ou de Santa Maria… não irá resolver. Poderá resolver o problema da rua dos Carvalhos ou da rua de Santa Maria, mas nunca irá resolver o segredo do sucesso no negócio, isso terá de ser os empresários, mas temos um conjunto de propostas que iremos fazer ao longo do tempo.