“O AMOR-PRÓPRIO É A CHAVE DESTA HISTÓRIA”

Inês Rodrigues tem 21 anos, é de Ponte da Barca e acabou de lançar o seu primeiro romance: “Uma chance ao destino”. Em entrevista ao Jornal AUDIÊNCIA, a jovem escritora contou que gosta de escrever desde sempre e que a pandemia lhe deu o empurrão necessário para este livro, que foi também a oportunidade de libertar os sentimentos da morte de um familiar, que aconteceu ainda na fase de infância da autora, mas que a marcou, e marca, até aos dias de hoje.

“Uma chance ao destino” é um romance, mas que fala sobretudo de amor próprio. Inês considera este um dos primeiros grandes projetos da sua vida, uma vez que pela sua idade tenra, muitos outros projetos e sonhos fazem parte dos seus horizontes, sendo que a escrita estará sempre lá, garante ela.

 

 

 

Em primeiro lugar, e para uma contextualização, fala-nos um pouco do teu percurso até aqui.

Sou natural de Ponte da Barca, tenho 21 anos e frequento o curso de solicitadoria no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. Durante a pandemia tirei o curso online “Comunicar sem medo” onde a mentora foi a apresentadora Teresa Guilherme.

Um dos meus hobbies preferidos é ler, adoro ler. Cada livro, cada autor, cada palavra do livro ensina-nos muito. Eu própria fui a minha professora no que diz respeito à escrita e para aprender temos de ler muito.

 

Com que idade nasceu pela escrita e de que forma o foste alimentando nos últimos anos?

O gosto pela escrita vem desde sempre, já desde muito novinha que escrevo os meus textos, mas só agora decidi tirar, entre aspas, da gaveta esse sonho e tentar alcançá-lo de uma forma positiva. Acredito que vem do potencial de cada um e diante disso encontrei meios para a prática da escrita ser completamente prazerosa para mim, apontando claro, a lucidez como um caminho a ser explorado para alcançar o objetivo. Fui aprendendo que é extremamente necessário escrever o mais possível como se falasse. Tenho ideia que nós jovens devemos cada vez mais expor as nossas ideias e opiniões, no meu caso realço claramente, a importância do amor próprio no livro. Acredito que o que é escrito não se perde e por isso torna-se mais fácil fazer os outros ouvir. Em relação à simpatia pela escrita sobre o amor, é porque acredito, e quero muito continuar a acreditar, que é o amor que nos mantém vivos e que nos move, seja ele de que natureza for. Neste livro existem frases que realmente martelam a mente de tão cheias que são, por isso é que para mim escrever é mágico, conseguir chegar a alguém, chegar à outra pessoa, servir de exemplo (ainda que seja fictício) é maravilhoso. Desde muito nova que ambiciono lançar um livro meu, dizem que os sonhos comandam a vida desde então deixei de ser eu a decidir, mas sim esses sonhos. A razão pela qual a escrevi passa mesmo pelo facto de ser apaixonada pelas palavras. Acho que elas têm um poder inferior aos gestos, mas não deixam de ter uma enorme importância. Sempre achei que ao escrever sentimos com mais verdade e acredito que do outro lado, os leitores, soletram cada letra e devagarinho vai entrando na cabeça.

“Uma chance ao destino” será o primeiro de muitos projetos de vida e tal como o livro descreve a Maria decidiu renascer do passado e acho que todos nós devemos renascer do mesmo, não nos amarrarmos tanto ao que já foi, isso não nos acrescenta nada, só nos magoa, só faz com que juntemos nó por nó para que assim consigamos sobreviver e não é isso o especulado. Durante o processo de elaboração do livro cresci muito, a mulher que sou hoje já não é aquela menina que escreveu a primeira palavra no livro. Acho que à maneira que ia escrevendo, ia-me apercebendo da importância do amor, a importância de ter as pessoas certas ao nosso lado. A grande lição que eu tiro deste livro é: prefiro ter a carteira cheia de amor do que cheia de dinheiro. Prefiro ser do que ter. Vencer na vida é claramente ter o coração cheio de amor e paz.

 

De onde surgiu a inspiração para o livro “Uma chance ao destino”?

O livro “Uma chance ao Destino” não relata nada pessoal, apenas se relaciona com o amuleto da sorte da personagem principal ser o mesmo que o meu. Relata a história de uma mulher que como muitas outras, e sim posso dizer que a inspiração vem do que oiço de outras mulheres, aceitou uma mão cheia de nada a troco do seu coração quando subitamente aprende que o amor-próprio tem de prevalecer.

Com o início da pandemia e o recolhimento a que todos nós fomos sujeitos, a escrita acabou por ser o meu escape. Acabei por verter os meus sentimentos nas palavras e a história surgiu, como e se estivesse à espera de brotar, muito naturalmente e com algum despojamento. Mas, sendo eu muito realista, acredito que escrevi com a lucidez que me é natural, já com um objetivo traçado.

O amor-próprio é a chave desta história, algo que na minha geração acaba por estar abafado.

Neste meu primeiro livro, porque acredito que este é apenas o início do trilho, lavei a minha alma. Acabei por me despojar da morte do meu tio, que faleceu quando eu ainda era criança e não estava preparada para a frieza da morte, principalmente de um ser que eu admirava, que era o sinónimo de ser boa pessoa. Morreu de uma doença que se revelou fatal e, com a criação deste livro e desta personagem, acabei por libertar todos os sentimentos, toda a angústia que ficou a obstruir o meu ser. Por essa mesma razão este livro é dele e para ele. Há pessoas que nunca vão embora da nossa vida mesmo que já tenham ido.

 

O que pode esperar o leitor do teu primeiro romance?

“Uma chance ao Destino”, relata a história de uma mulher e do seu destino, as reviravoltas da vida e o que aprendemos com ela.

O leitor neste livro pode esperar verdade. Apesar de esta história não ser pessoal, relata a história verídica de muitas mulheres e homens na nossa sociedade, refiro-me claramente à falta de amor-próprio. Se uma pessoa não se amar, dificilmente o outro conseguirá fazê-lo por ela, ou seja, por vezes aceitamos pouco com o medo de não termos nada pela razão óbvia… nem nós sabemos o quanto valemos quando o amor pelo outro se sobrepõe ao próprio.

Não espero passar uma mensagem, mas sim várias com este livro. Fiz questão de em cada capítulo, pelo menos, conseguir transmitir uma mensagem clara e objetiva ao leitor.

Posso é dizer que o amor-próprio é a chave desta história, algo que na minha geração acaba por estar abafado, como já referi.

 

Antes do “Uma chance ao destino”, existiram outros rascunhos iniciados que acabaram por não ter continuidade?

Não existiram, existem rascunhos iniciados que ainda não tiveram oportunidade de continuar, mas que eu acredito que conseguirei fazer uma história para esses rascunhos que neste momento estão em intermitência.

 

Como jovem escritora que és, acabaste da publicar o teu primeiro romance, quais foram as maiores dificuldades com que te cruzaste até veres o teu livro ganhar forma?

Tive de aprender a lidar com a ansiedade e a espera, esta foi sem dúvida a maior dificuldade pessoal. A ansiedade porque queria que não falhasse nada e que rapidamente estivesse à venda para puder receber o feedback dos outros em relação ao meu primeiro trabalho na escrita e, ao mesmo tempo, tive de aprender a esperar, a respeitar também o tempo do outro, nomeadamente daqueles que trabalharam comigo durante este processo, que para quem não sabe, é muito longo.

Sublinho também que tive de derrubar algumas barreiras pelo facto de ser jovem. Uma jovem de 21 anos a lançar um livro foi novo para muitos editores e o medo deles era investir em alguém que não valesse a pena. Tive várias propostas, mas sendo eu uma pessoa ainda anónima eles pediam preços sempre muito altos, por medo.

Aponto ainda a falta de interesse pelos jovens talentos, refiro-me ao facto de muitas editoras me perguntarem se eu tinha algum antecedente escritor pelo tal medo de investir em novatos.

 

Já há novos projetos e/ou livros em andamento?

Continuar a escrever é uma certeza que eu posso assegurar, adoro escrever e não fazia sentido nenhum deixar de o fazer só porque já lancei um, independentemente se este primeiro trabalho na área tiver um resultado positivo ou negativo.

Posso dizer que já tenho uma vaga ideia de como será o segundo, mas ainda com “muitas pontas soltas”. Atualmente quero viver este momento e não quero muito pensar já no próximo. Gosto de disfrutar cada vitoria da minha vida e para mim chegar a esta fase já é uma grande vitória.

 

Alguma temática específica sobre a qual gostasses de escrever um dia?

Sempre tive uma grande simpatia pelos livros de romance, neste momento gosto e quero continuar a escrever sobre o amor, porque tal como eu já referi acredito que o amor é a base de tudo.

Se um dia eu tiver de mudar de temática será sobre viagens, talvez.

 

Qual o teu maior sonho na área?

Pergunta difícil e que me faz pensar realmente muito, pois sou ainda muito nova e ainda são numerosos os meus sonhos.

Referente ao livro posso dizer que é conseguir dizer à Inês que ela tinha razão, que ela consegue se lutar e que pode continuar a acreditar sempre que é capaz, porque é.

Em relação aos outros quero muito encher de orgulho aqueles que sempre estiveram comigo e conseguir provar aos que à minha frente diziam que eu era capaz e nas costas ansiavam pelo meu insucesso que eu consegui singrar

 

Que conselho darias aos jovens, que amam a escrita, mas têm demasiado medo de seguir esta área da literatura?

Diria que o insucesso começa pelo medo e acaba pelo mesmo, ponham de lado o medo e vão de cabeça, acreditem que são capazes e não desistam ao primeiro “não” e à primeira critica. São eles que têm de acreditar que são capazes e mais ninguém. Se tiverem de lutar sozinhos, lutem …não deixem que ninguém, mas ninguém vos impeça de fazer aquilo que gostam e de serem felizes.