Assim como a cultura, também o desporto deve ser compreendido como um instrumento de promoção, educação e desenvolvimento de valores éticos e culturais, no contexto das rápidas mudanças que o mundo experimenta. Aliando o desporto à cultura e à educação, promovemos os princípios universais que favorecem a criação de uma sociedade pacífica e preocupada em preservar a dignidade humana. Como refere a nossa Constituição, “todos têm direito à cultura física e ao desporto”. E clarifica: “incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e difusão da cultura física e do desporto”. Esta articulação é determinante no sucesso do desporto como ferramenta do aumento da qualidade de vida dos cidadãos. E é nessa medida que devemos estimular e apoiar a prática do desporto, desde os mais novos aos menos jovens, não só como meio de permitir uma cada vez mais saudável convivência entre todos, mas também como modo de conferir um elevado grau de imunidade para algumas doenças e de exercer efeitos extremamente benéficos noutras, contribuindo de forma decisiva para a melhoria das condições de saúde em geral.
A reconhecida valência educativa e cultural do desporto, e a sua importância na saúde e na vida social, impõe que se promova, de forma sustentada, o estímulo pela cultura física e pelas atividades desportivas como meio da valorização humana, abrindo caminho a uma vida mais saudável, em harmonia com o meio ambiente e em sociedade, através de esforços conjugados com a escola e o movimento associativo. Devemos fomentar a conceção de uma política desportiva integrada, nas mais diversas vertentes do desporto, disponibilizando as necessárias condições infraestruturais, técnicas e financeiras com vista a um maior incremento dos hábitos de participação da população na vida desportiva, promovendo-a de forma regular, continuada e com níveis de qualidade elevados, inserida num ambiente socialmente seguro e saudável. E para isso é preciso envidar esforços no sentido de inverter o declínio que se regista na prática do desporto nas escolas, com as indesejáveis consequências que daí resultam na saúde e na qualidade de vida dos alunos, concertando, com as instituições com responsabilidades no ensino, medidas que retomem um caminho tendente à prática do desporto na escola, em articulação com a disciplina de educação física.
Devemos acompanhar de forma sistemática e empenhada os clubes do concelho envolvidos nos quadros competitivos das mais diversas modalidades, de onde naturalmente sobressai o futebol, que pelas suas características de desporto de massas desperta mais paixões, procurando simultaneamente incentivar e estimular um maior investimento no desenvolvimento do desporto infantil e juvenil. Devemos, porém, dedicar atenção a todas as modalidades, apoiando e incentivando a sua prática, nomeadamente daquelas disciplinas que melhor espelham a expressão social e cultural única do desporto, onde se cruzam saúde, convívio, intercâmbio, superação, competitividade, persistência, espetáculo, formação, regras comuns, associativismo e outros atributos importantes e emergentes de qualquer sociedade multifuncional. Mas devemos também acarinhar e partilhar responsabilidades no desenvolvimento do desporto para deficientes, na convicção profunda de que, para além do desporto ser uma necessidade como meio de ocupação de tempos livres, de aumento dos níveis de integração social e de reabilitação, qualquer pessoa, seja qual for o seu grau de deficiência, pode praticar uma modalidade desportiva, inclusivamente de competição.
Devemos também empenhar-nos seriamente na implementação de uma rede de escolas de formação das mais diversas disciplinas desportivas, numa lógica de reforço do espírito do trabalho em equipa e em sociedade. A revitalização e democratização do desporto, no contexto da formação, passam inequivocamente pelo seu ajustamento às aspirações e forma de estar dos jovens dos nossos dias. As múltiplas ofertas de ocupação dos tempos livres à disposição dos jovens, algumas delas inconsequentes ou mesmo nefastas, comprometedoras de uma formação equilibrada, substantiva e significante, exigem novas metodologias e práticas de formação. Urge, portanto, modificar a forma como a competição é encarada no quadro da prática desportiva juvenil. O modelo prevalecente no desporto de crianças e jovens assenta no critério do sucesso, como elemento balizador da prestação competitiva, A ênfase colocada nos resultados distorce os propósitos do processo de treino e coloca a obrigatoriedade e a obsessão de vencer como a primeira e principal razão da existência do desporto. Devemos promover, por isso, uma prática desportiva qualificada, consubstanciada em atividades que vão ao encontro das motivações de todos os jovens e não apenas dos mais dotados. E isso exige uma renovação de mentalidades e de conceitos, onde a valência formativa assuma importância primordial e se reveja no entendimento de que é o desporto que está ao serviço das crianças e dos jovens, e não estes ao serviço do desporto.
E agora que são conhecidos quase todos os nomes dos candidatos à presidência da Câmara de Gaia (a identidade do candidato do PSD é um “segredo muito mal guardado”), dedico esta crónica a todos eles, na secreta esperança de que os seus programas de candidatura acolham o Desporto como tema prioritário, sobretudo agora que o concelho irá ostentar orgulhosamente, em conjunto com o Porto, o título de Capital Mundial do Desporto.