É hoje conhecido o último enigma do nosso torneio de decifração, quando falta ainda conhecer as pontuações alcançadas pelos concorrentes na penúltima prova. Se não existirem surpresas de maior, a grande vitória no torneio “Solução à Vista!” será discutida entre Detetive Jeremias e Búfalos Associados, que têm travado uma verdadeira luta de titãs, alternando na liderança da classificação desde a primeira prova. No que respeita ao concurso de produção de enigmas policiais “Mãos à Escrita”, disputado pelos nove enigmas publicados até ao momento (recordamos que o enigma de hoje é publicado extraconcurso), o original de Daniel Falcão (“Crime Leaks”) é o que se encontra em melhor posição para o conquistar o troféu Pedro Paulo Faria, que premeia o grande vencedor, faltando ainda saber as pontuações que os nossos “detetives” atribuem aos enigmas “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” de Bernie Leceiro e “Um Pedido de Ajuda” de Detetive Jeremias, os únicos que ainda podem destronar o atual líder.
TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Prova nº. 10
“Smaluco e a Matança numa Terra em Festa”, de Inspetor Boavida
Era domingo de páscoa e dia das mentiras, mas a notícia era verdadeira. Natália Vaz, a namorada de Smaluco, seria libertada na manhã do dia seguinte, cumpridos que foram mais de dois terços da pena a que foi condenada. Quando abandonou o Estabelecimento Penal de Tires, ela vivia um misto de sensações contraditórias. A felicidade pela liberdade alcançada era contrariada pelo conhecimento de um crime que fora conjeturado na cadeia e que se sentia impotente para impedir ou provar. O velho detetive, o seu mais que tudo, percebeu que algo não estava bem e questionou-a. Natália não lhe escondeu nada. Durante boa parte do tempo em que esteve presa, ela fez serviço na biblioteca da prisão e foi lá que teve conhecimento, há poucas semanas, da preparação de um crime encomendado por alguém de fora do espaço prisional a duas perigosas criminosas que concluíram as respetivas penas e em breve serão libertadas.
Caída no chão da biblioteca, junto a uma zona da estante dedicada a livros de turismo nacional, estava uma folha de papel que continha apenas estas datas: 5, 6 e 9 de junho; 7 e 8 de julho; 4 e 6 de agosto; e 4, 5 e 7 de setembro. Natália acabara de memorizar as datas, quando Sofia “Espertinha” entrou apressada e procurou a folha que deixara esquecida na biblioteca. Deitou um olhar desconfiado a Natália, a quem disse que era melhor ficar caladinha, pegou no papel e saiu da mesma forma ágil como havia entrado. A amada de Smaluco, que não é pessoa de se deixar atemorizar por nada deste mundo, arranjou depois maneira de se aproximar da “Espertinha” quando esta estava no pátio de recreio em sussurros com Manuela “Sabichona”, a tempo de ouvir a primeira dizer: Decora as datas e desfaz-te do papel. Amanhã vem cá a Madama e ficaremos a saber em qual desses dias executamos a matança e em que terra em festa junto ao mar.
No dia seguinte, Natália Vaz conseguiu ter acesso à sala de visitas e viu uma “socialite” que é notícia frequente nas páginas das revistas cor-de-rosa à conversa com Sofia e depois com a “Sabichona”, em separado, e percebeu que “Espertinha” ficou apenas a saber o mês da matança e “Sabichona” o dia. Posicionou-se depois estrategicamente num discreto recanto da biblioteca, onde as duas criminosas tinham por hábito conversar longe das vistas da maioria das presidiárias, embora de forma muito cautelosa porque temiam que a leitura labial as denunciasse no sistema de videovigilância. E ouviu mais ou menos isto: Sofia disse que não sabia em que dia ia ter lugar a matança, mas tinha a certeza absoluta que Manuela também não sabia. Ao que esta respondeu: Eu também não sabia, mas agora sei. E Sofia ripostou: Agora que dizes isso, também eu sei em que dia vamos executar a coisa. E digo mais. Já sei em que terra.
Perante estes indícios de que se preparava um crime, Smaluco prontificou-se de imediato a investigar o caso, em colaboração com um antigo camarada da PJ, mas Natália impôs-se e impediu-o de o fazer. O velho detetive ainda insistiu, dizendo que resolveria o problema em minutos, depois de uma breve conversinha musculada com a madame “socialite” e de um apertão convincente às duas perigosas criminosas. Mas de nada valeu a insistência, porque a sua amada mostrou-se irredutível. Segundo ela, aquela estratégia apenas servia para alertar mandante e criminosas, que negariam tudo e abortariam a projetada matança, saindo ilibadas da eventual acusação uma vez que não havia provas de que estivessem a preparar qualquer atentado. Por outro lado, como não se sabia quem era, ou quem eram, o alvo daquelas mulheres, o crime seria cometido noutra data sem que houvesse alguma coisa que pudesse ligá-las a esse acontecimento.
Amuado, Smaluco sentou-se na sua poltrona preferida a bebericar um uísque quase tão velho quanto ele, resmungando palavrões impercetíveis, enquanto Natália Vaz circulava impaciente por toda a casa perdida nos seus pensamentos. Até que, de súbito, ela fez ecoar um grito que se terá ouvido em todo o quarteirão da rua em que o casal tem morada: Eureka! Já sei em que data e em que terra o crime vai ser cometido. Agora é só esperar pelo dia, seguir a Sofia “Espertinha” e a Manuela “Sabichona” e apanhá-las em flagrante. Assim ninguém morrerá e elas e a madame mandante não escaparão de certeza à prisão. Dito isto, voltou-se para o seu velho companheiro e ordenou: Vá, anda daí comigo. Vamos já participar o caso à PJ. E o detetive Smaluco lá foi, atónito e submisso, atrás de Natália, sem fazer a mínima ideia de como é que ela sabe o que diz saber. Mas não é só ela. Os leitores também sabem o que Natália sabe, não é verdade?!
DESAFIO AO LEITOR
Será que o leitor sabe mesmo em que data e em que terra o crime vai ser cometido? Em caso afirmativo, desenvolva essa teoria, sustentando-a com os factos disponíveis. E envie depois o respetivo relatório, até ao próximo dia 29 de abril, através dos seguintes meios:
– por correio postal, para AUDIÊNCIA GP / O Desafio dos Enigmas, rua do Mourato, 70-A – 9600-224 Ribeira Seca RG – São Miguel – Açores;
– por correio eletrónico, para salvadorpereirasantos@hotmail.com.
E, já sabe, não se esqueça de identificar a solução enviada com o seu nome (ou com o pseudónimo adotado), nem de remeter juntamente a pontuação atribuída ao enigma “Um Pedido de Ajuda “, de Detetive Jeremias, para efeitos de classificação no concurso “Mãos à Escrita!”.
“UM CASO POLICIAL EM GAIA”
Em nota de rodapé, recordamos que os contos destinados ao concurso “Um Caso Policial em Gaia” podem ser enviados a qualquer momento, até final de maio próximo, para o orientador da secção, através do email acima referido. Os originais terão de ter entre 5.000 a 10.000 carateres.