Terminou na passada sexta-feira em Almada, o Festival dos Capuchos que decorreu de 30 de Maio a 27 de Junho. Na sua quinta edição consecutiva, propôs com sucesso uma viagem artística “Entre Mundos”, onde estiveram presentes artistas de vários pontos do globo. Através da música, “o festival foi uma reflexão, sobre a interculturalidade e o diálogo entre diferentes tradições culturais, espirituais e temporais.”
Com epicentro no Convento dos Capuchos, o festival estendeu-se a outros espaços emblemáticos da cidade, como o Teatro Municipal Joaquim Benite, o Auditório Fernando Lopes-Graça e, pela primeira vez, o Parque da Paz, que recebeu um concerto sinfónico ao ar livre com a presença de mais de 5 mil pessoas e que teve entrada gratuita.
O Jornal Audiência esteve em exclusivo à conversa com Filipe Pinto Ribeiro, o director do festival.
Quais foram os grandes destaques do festival deste ano?
Em 2025 Festival dos Capuchos apresentou o tema “Entre Mundos” e propôs uma reflexão artística sobre a interculturalidade, a diversidade e o diálogo através da Música. Destaco, desde logo, a estreia em Portugal da Orquestra Sueca “Musica Vitae”, que abriu o Festival com dois concertos dirigidos e protagonizados pelo consagrado violinista austríaco Benjamin Schmid. O programa inaugural incluiu obras de Mozart e Tchaikovsky e no segundo concerto foi apresentado “Jazz Violin Concertos”. O espírito “entre mundos” continuou com o The Naghash Ensemble of Armenia, num programa que cruzou música sacra medieval arménia com influências contemporâneas, jazz e pós-minimalismo. Outro momento marcante foi o concerto “A História do Tango”, liderado pelo bandoneonista Marcelo Nisinman, discípulo directo de Astor Piazzolla, num tributo às raízes e à evolução do tango argentino. Na área da música contemporânea e do pensamento musical, o centenário de Pierre Boulez será assinalado por um recital do clarinetista francês Jérôme Comte. Por sua vez, o concerto “Noite Transfigurada” homenageou Daniel Barenboim com a presença de grandes solistas internacionais. No domínio da música antiga, o Festival apresentou dois concertos de forte dimensão histórica e poética. “A Música da Lírica Camoniana”, pelo Concerto Atlântico dirigido por Pedro Caldeira Cabral, assinalando os 500 anos do nascimento de Luís de Camões; já o premiado Ensemble Barroco Tra Noi apresentou “Telemann goes East”. A presença nacional fez-se sentir com nomes de referência como: a Orquestra Metropolitana de Lisboa, protagonista do concerto de encerramento no Parque da Paz; o DSCH – Schostakovich Ensemble, que interpretou Dvořák, Schubert e uma estreia absoluta do compositor Sérgio Azevedo; o Trio de jazz de João Barradas, que se apresentou em concerto no Auditório Fernando Lopes-Graça; e o quinteto 100 Caminhos, que fez a estreia de um novo formato de“concerto-passeio” pelo Convento dos Capuchos.
Com especial alegria, sublinho também a estreia da iniciativa Ópera para Crianças, com uma récita de “Bastien et Bastienne”, de Mozart, numa produção dirigida por António Wagner Diniz, destinada ao público do Pré-Escolar e do 1.º Ciclo. Outras actividades paralelas enriqueceram o Festival: os Prelúdios dos Capuchos, conversas pré-concerto moderadas por João Almeida; a Caminhada dos Capuchos na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica; a Visita Guiada ao Convento dos Capuchos; e as Masterclasses dos Capuchos, com destacados professores das Universidades de Salzburgo, Oslo e Lucerna. E, por último, como Festival dos Capuchos é também um espaço de pensamento, destaco as Conversas dos Capuchos, com curadoria de Carlos Vaz Marques, antecederam o Festival com três sessões dedicadas ao centenário de José Cardoso Pires, ao centenário da publicação de “O Processo”, de Franz Kafka, e a uma reflexão sobre o próprio tema do Festival.
Como comenta o festival do Capuchos de 2025?
O balanço é de enorme sucesso, com público entusiasta e vários concertos a receber excelentes críticas em órgãos de comunicação de referência internacional. A maioria de concertos teve lotações esgotadas e a adesão de público foi a mais alta de sempre, tendo ultrapassado os 8000 espetadores.
Quais as expectativas do festival para o ano de 2026?
Para 2026, pretendemos continuar o trajeto de excelência que projetámos para o Festival dos Capuchos desde que, em 2021, abraçámos o seu ressurgimento, após um longo silêncio de duas décadas. A esta exigência de qualidade, junta-se, por um lado, a preocupação do acesso democrático aos eventos do Festival – por meio de entradas a preços acessíveis, eventos de entrada gratuita, materiais de comunicação preparados com detalhe e notas de programa informativas de todos os concertos, conversas pré-concerto, etc – e, por outro, a continuidade dos relevantes projetos educativos do Festival, com destaque para a atividades Ópera para Crianças e Masterclasses. O Festival dos Capuchos é atualmente considerado um dos eventos culturais de maior destaque em Portugal e detém amplo prestígio no estrangeiro. Essa dimensão transmite-nos a responsabilidade de, ano após ano, apresentarmos uma programação de excelência, à escala nacional e internacional – e é com esse espírito e entusiasmo que já estamos a preparar a edição de 2026.