O POLICIÁRIO ESTÁ MAIS POBRE: VERBATIM DEIXOU-NOS!

A notícia chegou-nos através de amigos comuns, seus parceiros na Tertúlia Policiária da Liberdade: “O Nove morreu!” (havia mudado há algum tempo o seu pseudónimo para Verbatim, mas ficou sempre Nove para os confrades mais próximos). Foi como se tivéssemos levado um murro no estomago! Tínhamos conversado com ele duas semanas antes, quando tivera alta do hospital onde viria a falecer. E pareceu-nos muito esperançado em conseguir vencer este novo combate contra mais um ataque da maldita doença que o atormentava há vários anos.

Estava muito frágil, mas animado por uma tal força interior que nos convenceu de que sairia vitorioso de mais este terrível desafio. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. O Nove deixou-nos! Esteve connosco desde a primeira edição da nossa secção e partiu após deixar à apreciação dos nossos leitores o seu último enigma, que passamos a transcrever. Fica dentro de nós a saudade!

 

TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”

Prova nº. 4
“Contas Desajustadas”, de Verbatim

Afonso Sena enquadrou o caso: “Sr. Inspetor, o Carlos Guimarota, o João Liberto e eu planeámos esta viagem a Nova Iorque com todo o cuidado. Combinámos as coisas de modo a que o grosso dos gastos acabasse distribuído de maneira igual pelos três a fim de pouparmos algum dinheiro. Estivemos cinco dias exatos em Nova Iorque.

No entanto, pouco antes da partida, confrontei-me com uma dificuldade financeira e pedi, ao João e ao Carlos, um adiamento da minha contribuição para as despesas comuns. Eles concordaram logo. Quando regressámos, uma vez feitas as contas em euros, verificámos que o bolo dos gastos comuns atingira 6000 euros, para os quais o João dera 3600 e o Carlos 2400. É como se cada dia em Nova Iorque nos tivesse custado 1200 euros, tendo o João pago 3 dias e o Carlos 2 dias.

Uma semana depois do regresso, apressei-me a ressarcir o João e o Carlos do dinheiro adiantado. As contas eram bem simples. Cabia-me entregar, aos meus amigos, um terço dos 6000 euros gastos, ou seja 2000 euros. Havia só que dividir 2000 por 5 partes para dar 3 partes ao João e 2 ao Carlos, a fim de saldar as contas de acordo com as contribuições de cada um deles para o bolo comum. Depois de lhes falar no assunto, transferi 1200 euros para o João Liberto e 800 para o Carlos Guimarota.

Corria tudo bem até que, há uma semana, apareceu o João no ginásio a dizer que o Carlos só tinha que receber 400 euros, enquanto ele tinha direito a 1600. Achámos que estava a brincar. Ele, porém, insistiu, com ar sério. O Carlos, visto estarem ali pessoas conhecidas, limitou-se a dizer-lhe para ir dar uma volta. Eu, pelo meu lado, pedi também ao João para não se armar em tolo. Ele, porém, não desarmou, acabando o Carlos encostado ao João aos gritos, a dizer que não admitia que se pensasse que ele pudesse querer ficar com o dinheiro de alguém, acrescentando que se havia ali um gatuno só poderia ser ele João. Foi quando este escorregou e caiu estatelado no pavimento de mosaicos. Sei que está com um traumatismo craniano mas, felizmente, sem correr perigo de vida. Quando puder falar connosco talvez consiga explicar por que motivo nos quis irritar. Há umas outras contas, relativas a namoradas, que eles jamais acertaram, Terá sido por causa disso que o Liberto veio com esta provocação sem pés nem cabeça? Não sei.”
Carlos Guimarota confirmou o depoimento de Afonso Sena, listando ainda visitas feitas em Nova Iorque e até em Washington, onde foram no terceiro dia. Mostrou comprovativos das diversas despesas. Anotou que em Washington avistaram uma antiga namorada dos dois, inserida num grupo brasileiro. Confessou que “De facto, perdi a cabeça com a estúpida brincadeira do João, mas não o empurrei. Estava disposto a dar-lhe uma cabeçada, mas nada mais do que isso. Não lhe desejo mal algum, mas exijo que retire as insinuações de que quis ficar indevidamente com o dinheiro dele”.

O Inspetor estagiário Timóteo Silva obteve as declarações anteriores na sequência de uma queixa, apresentada pela família de João Liberto, contra Carlos Guimarota, acusando este de ter agredido e difamado aquele seu familiar.
Entretanto, João Liberto recuperou, não desmentiu os depoimentos dos amigos, afirmou ter-se sentido ameaçado, para além de difamado, mas não propriamente agredido. Explicou também as contas que fez.

A partir do que ouviu, o Inspetor estagiário concluiu que este caso talvez pudesse ser resolvido através de uma conciliação. Falou com o chefe, o velho Flávio Alves, que concordou com a proposta do seu subordinado.
Timóteo Silva saiu-se muito bem da sua incumbência conciliatória. Flávio Alves comentou o feliz acontecimento com o seguinte comentário: “Eles não voltarão a ser amigos como dantes mas, pelo menos, não farão guerra entre si”.

 

DESAFIO AO LEITOR

Diga, caro leitor, como se explicaria na reunião de conciliação para fazer cair a queixa apresentada assim como para obter a compreensão e a paz entre Afonso Sena, João Liberto e Carlos Guimarota.

Como sempre, aconselha-se atenções redobradas na decifração do desafio proposto, com ansiedade nula e renovadas leituras… O stresse e a pressa não são boa companhia na hora de deitar “mãos à obra”.

Este conselho é naturalmente extensivo aos leitores que ainda não se decidiram a participar nas nossas competições, mas que não se escusam a tentar a decifração dos enigmas a concurso, fazendo-o apenas mentalmente ou através da elaboração de soluções escritas, que depois comparam com o veredito dos seus autores. A estes últimos, fica aqui uma chamada de atenção: o facto de o torneio já se encontrar numa fase avançada não os inibe de apresentar propostas de solução a qualquer momento! E que tal aproveitar este enigma de Verbatim, que agora se publica, para submeter à apreciação do orientador da secção os seus dotes “detectivescos”? Vamos a isso?!…

As soluções devem ser enviadas para o orientador da secção, até dia 18 de novembro, através dos meios habituais, com a indicação da pontuação atribuída ao enigma proposto pelo confrade Verbatim (entre 5 a 10 pontos, em função da sua originalidade, qualidade e grau de dificuldade).