Em visita à Ribeira Grande, Bruno de Carvalho, em conversa com o AUDIÊNCIA, falou sobre a receção nos Açores, a imagem que as pessoas têm de si, o carinho dos sportinguistas e os momentos difíceis.
Como se sente um leão nos Açores?
Já não é a primeira vez. Sempre fui recebido de uma forma muito calorosa. Sempre disse que trazia os Açores no coração. Aquela minha visita à Ilha Terceira com cerca de 700 pessoas e, agora, esta receção com cerca de 200 pessoas. Todo o carinho e todo este amor que nós podemos ver aqui até neste espaço, que facilmente podia ser considerado mais um pólo museológico do Sporting. O Sporting é o único clube do mundo com dois pólos e ficaria com três, porque isto tem grandeza e dignidade para tal. É sempre para mim um prazer e uma honra poder estar aqui no local onde se vive o Sporting. E, nos Açores vive-se Sporting.
No termo de mais uma visita, e esta visita de certa maneira um pouco mais especial, porque muita gente anunciou o fim do mundo com a visita do Bruno de Carvalho e, afinal, foi só paz e amor…
Foi tudo muito bom. Acho que as pessoas fazem muitos dramas onde não existem para tentar amedrontar as pessoas, para tentar desmobilizar as pessoas. Mas, não desmobilizam as pessoas, não as amedrontam. Nós fizemos um número de 7 500 associados já contactados. 5 mil via eventos e 2 500 via plataformas, como o Whatsapp, o Instagram, o Facebook e o Twitter. Não estou a falar dos gostos ou não gostos, estou a falar de perguntas, respostas e interações. Tenho a certeza que todas as outras candidaturas juntas não têm este número. A verdade é que somos leais ao Sporting e aqueles que estão connosco também o são.
Senti-o emocionado no jantar. Se mais não levar, leva a gratidão dos fiéis, dos verdadeiros sportinguistas…
Sim. Fiquei feliz ao perceber que o trabalho é reconhecido. Perceber que há muitos e muitos milhares de sportinguistas que querem que este trabalho continue, que reconhecem o trabalho, que reconhecem que estamos no melhor ano desportivo de sempre do Sporting, quer a nível nacional, quer a nível internacional. Um ano que tem de ser continuado e para ser continuado nós precisamos de um farol. Precisamos de um líder que o consiga fazer, que tenha conhecimento, que tenha errado porque é a partir do erro e do insucesso que se cresce e que se aprende. Não se aprende com o sucesso. O sucesso quanto muito festeja-se. Percebi pelos sportinguistas que não queriam ver o projeto parado e queriam continuar exatamente com o projeto, tendo as melhorias que quer a idade, quer os acontecimentos destes últimos 4 anos, nos vão dando, porque a sabedoria é isso. É passarmos pelas situações e sabermos analisá-las.
Os Açores são carenciados na área desportiva, nomeadamente, no contacto com o continente porque são ilhas insulares. Não vê como possível, no futuro, poder dar mais as mãos às ilhas portuguesas, e conseguir que o desenvolvimento desportivo também passe pelo Sporting?
Nós, neste momento, temos uma coisa muito boa que é o Santa Clara ter voltado à primeira divisão e, com isso, temos as ilhas representadas na primeira divisão. Isso é muito importante. Da última vez que cá vim, prometi que o Sporting viria cá e veio com o Sporting B. Acho que temos que continuar este trabalho porque uma das coisa que nós gostamos é de ser o Sporting o Clube de Portugal e o clube de Portugal inclui, logicamente, os Açores e a Madeira. E, por algum motivo, quis vir homenagear estes sportinguistas com a presença de alguém que teve 24 horas sobre 24h, nos últimos 5 anos e meio, e que isso lhe dá o 6º lugar no ranking de presidente com mais tempo efetivo no Sporting. Por isso, acho que podemos continuar a fazer mais coisas. Os Açores eram um povo fechado, em termos de TAP e SATA, e, neste momento, os Açores são abertos devido aos voos low-cost pois consegue-se fazer muito mais coisas facilmente e, de certeza, que vamos poder aproveitar no futuro essas facilidades para contribuir mais e ajudar a desenvolver o desporto.
Teve ainda tempo, apesar da viagem ter sido curta, para dar aso a outro tipo de atividades não só o desporto. Vi-o à cozinha com Rúben Pacheco Correia…
Sim, algo que não é nada do meu costume. Aquilo que eu sei fazer bem são ovos mexidos. Fizemos uma Sopa Verde. Foi engraçado. Foi uma conversa afiada, como ele chama o programa. E,a sopa acabou por ficar boa e era uma sopa saudável porque não levava nem batata nem nenhum desses condimentos pesados. Temos de dar-nos um bocadinho a conhecer às pessoas. As pessoas também não têm culpa daquilo que não conhecem e, por detrás, do presidente do Sporting está um homem que aceita esses desafios e que os encara com naturalidade e com o fairplay que temos que ter na vida. Podemos proporcionar um bocado de alegria e um bocado de entretenimento às pessoas porque é isso que levamos da vida. Abrir um bocadinho o nosso mundo não é mau.
Ao contrário do que vendem, parece-me que o Bruno de Carvalho não é um homem só, porque vi que o seu telefone não parava, por exemplo. Rodeou-se de muita vibração ao contrário do que se possa pensar não é um homem sisudo, é um homem que sabe partilhar…
Não está errado. Felizmente, não sou uma pessoa só. Sou uma pessoa que se rodeou de pessoas muito amigas, muito francas. Souberam estar nos bons e maus momentos e souberam-me conhecer e aproveitar aquilo que tenho de bom, porque se há coisa que eu não tenho é nada de arrogante. Antes pelo contrário, eu gosto de estar perto das pessoas, gosto de conviver com as pessoas e com isso fiz grandes amigos. Como deu para ver, eu tenho que andar sempre com os telemóveis no silêncio porque senão não consigo concentrar-me no resto que tenho para fazer. Umas das piores coisa que uma pessoa pode viver é a solidão. Mas, quando temos este feito aglutinador, esta tal coisa que se chama o carisma, no sentido de sermos um bom anfitrião, de sermos um bom amigo, de sermos um amigo fiel e leal, não deixamos de perder as pessoas. Claro que perdi bastantes mas eram as suficientes para não estar minimamente só.
Não acha que tinha mesmo que passar por este momento para poder separar o trigo do joio, já que é nos maus momentos, nos momentos mais difíceis que os verdadeiros amigos emergem…
Eu penso que sim. Eu acho que o Sporting não precisava de passar aquilo que está a passar. Acho que o trigo e o joio já estavam há muito definidos. Há momentos na vida em que a ruptura é necessária para chegarmos aí. Por isso, olhando para as coisas com resiliência e com vontade, com força, com coragem, é pensar que em cada dificuldade há sempre uma oportunidade. Esta é a oportunidade das pessoas me conhecerem um pouco e de lutar por princípios básicos que os meus pais e os meus avós lutaram que é a liberdade e a democracia. Dou muito mais valor a família e aos amigos que continuaram a apoiar-me. No Sporting também foi bom, não o passar por este momento. O Sporting é um conjunto de grupos que já se viu que há primeira oportunidade se esforçam ao máximo para tirar a estabilidade do clube. É importante que os sportinguistas entendam e parem de uma vez por todas e consigam um caminho sustentado como tem o Porto, há mais de 30 anos, e como tem o Benfica há 20 anos. Apesar dos problemas todos que os dois passaram e estão a passar com o Apito dourado e, agora, com o Polvo e com a Toupeira e os emails, mas, a verdade é que se mantém ali uma sustentabilidade a nível diretivo, na qual o Sporting devia de aprender com isso.
Eu sei que o seu coração está quase completamente preenchido pelo Sporting ,mas há um espaço para colocar os Açores?
Já havia. Eu não sou uma pessoa de dar elogio fácil mas eu continuo a dizer que aquela receção na Ilha Terceira, para mim, foi, em 5 anos e meio, das melhores receções que tive. Por isso, a partir daí, os Açores ficaram no meu coração. Também temos figuras que eu gosto que não me deixam esquecer os Açores como o Mário Lino e o Iúri Medeiros. Os Açores têm um lugar especial no meu coração.