No dia seguinte ao quarto convívio, à semelhança dos anos anteriores, reuniram-se em alegre camaradagem os membros da organização com os convidados dos Açores, em aspeto de ceia da despedida. Infelizmente, o número de convidados vindos da Ribeira Grande apresentou-se reduzido por preferências pessoais de alguns, supostamente a aproveitar mais tempo com seus familiares, antes da viagem de regresso.
Foi um jantar tipo bufete, composto por variedades confecionadas em casa, e transportadas à cave da Associação Académica de Fall River, onde o ajuntamento teve lugar.
Como em 1995 um tal de João Ferreira falou do encontro noturno deste tipo no semanário O Jornal, desta vez foi um membro da comissão que fez o mesmo, porque achou que era caso digno de registo.
Foi na edição número 1085, de 20 de novembro de 1996 que saiu o artigo intitulado de ‘Noite Ribeiragrandense’, no qual há uma ligeira comparação entre aqueles dois serões. Se o de 1995 durou entre o pôr e o nascer do sol, este, do ano seguinte, só atingiu a meia-noite.
“(…) houve o mesmo espírito, embora o contraste verificado: o do ano passado foi vivido com risos e gargalhadas, ao passo que, no deste ano, as lágrimas ornamentaram o rosto de cada indivíduo presente. O primeiro fez esquecer o dia-a-dia; o segundo, recordou tudo o que há de bom, e que se deixou entre a espuma branca do mar e o nevoeiro da serra.”
No decorrer da noite todos tiveram oportunidade de se exprimir, e todas as palavras mexeram com o coração dos outros. Até o ilustre visitante, Luís Carlos Faria, referiu que “vale a pena visitar os conterrâneos ausentes do torrão-natal, só pelo fato destas reuniões alimentarem o nosso patriotismo.”
Se houve naquela noite copos a mais, não sei. Mas a menos, afirmo ser impossível. Afinal, estamos a lidar com gente da Ribeira Grande. Ao sabor da alegria, bebemos para festejar; e se a tristeza bate, bebemos para aliviar a dor. Tristezas não pagam dívidas, e o álcool muito menos. Por isso, bebe-se, e não se paga nada. Belíssimo conselho, mas nem sempre funciona!
Porém, a estrela da noite foi o nosso amigo José Aguiar. O Zé Cebola, como é mais conhecido. Não sei se bebeu sem pagar, mas tenho a certeza que não pagou sem beber. Porque aproveitando a presença dos nossos conterrâneos residentes nos Açores, descarregou um camião de fuseiradas, lamentando num vale de lágrimas a forma como era tratado na sua própria terra quando lá ia de férias.
“Aquela terra é minha! Foi lá que eu aprendi a andar! Foi lá que eu estudei, e naquelas ruas brinquei. Foi lá que eu trabalhei, que me fiz homem, que fiquei sendo aquilo que sou!… Por isso, não admito que me chamem ‘mosca de verão’ quando lá vou, porque tenho tudo aquilo dentro de mim. A Ribeira Grande é minha, e será minha até morrer.”
Aos 23 de novembro de 1996 a comissão do “Convívio do Concelho da Ribeira Grande” reuniu-se em casa de Fernando Raposo, em Fall River, para apresentação de contas, e assim, dar início a um novo ano de trabalhos.
Contas apresentadas, dúvidas esclarecidas. O presidente cessante, Liberal Batista, passou a liderança do grupo para o seu vice-presidente, Fernando Raposo. Este, por sua vez, optou por haver mais democracia dentro da organização, começando por realizar uma eleição para os corpos diretivos daquele ano, ao contrário do que se vinha fazendo desde o início, em que o presidente, por si, nomeava a sua equipa. A juntar a isso, foi aceite a sugestão de que o vice-presidente eleito passaria a assumir a presidência do ano seguinte. Assim tem sido, até aos nossos dias.
Os votos deram estes resultados: Alfredo da Ponte, vice-presidente; José Aguiar, 1º secretário; Néli Faria, 2º secretário; Benjamim Calouro, 1º tesoureiro; Fernando L. Ponte, 2º tesoureiro.
Sob a presidência de Fernando Raposo, aos 26 de Janeiro de 1997, por ocasião da angariação de fundos para as vítimas das cheias nos Açores, ocorrida nos finais do ano anterior, os Amigos da Ribeira Grande-USA juntaram-se à causa e fizeram um donativo de $1000.00 (mil dólares). Afinal, as moscas de verão sempre foram boas e úteis em situações como estas.
Como resultado das inscrições de candidatos a bolsas de estudo no decorrer da quarta confraternização, no dia 2 de Março de 1997, em New Bedford, foram entregues duas bolsas de estudo de $1000.00 a dois estudantes universitários, num evento de jantar e dança que contou com a presença de cerca de duzentas pessoas no New Bedford Sports Club.
O semanário O Jornal, de 12 de março, divulga a notícia da pequena festa, em texto da nossa autoria, dizendo que este “jantar e baile” adicionou mais um à conta dos sucessos, não passando, como de previsto, de uma festa familiar.
Diz ainda o mesmo artigo que, “no decorrer da tarde, viveu-se na sala daquele clube um ambiente ribeiragrandense (a nível concelho) rico, saudável e altamente bairrista, que nestas ocasiões é indispensável e entendido.”
Ainda a destacar neste encontro, e segundo o mesmo jornal, “o grupo de senhoras da comissão organizadora esteve novamente embandeirado. Desta vez, com uma t-shirt branca, contendo no centro frontal a bandeira da Ribeira Grande e, por detrás, no canto superior esquerdo, o rosto da pátria insular.”
A comissão do quinto convívio, para além dos nomes que já foram mencionados, há a acrescentar os seguintes diretores: José M. Faria, Liberal Batista, João Pacheco, Hildeberto Pacheco, Alda Pacheco, Fátima da Ponte, Mariazinha Raposo, António Pacheco, Connie Pacheco, Almerinda Calouro, Luís Vieira, Helena Vieira, Salvador Couto, Hortência Couto, Maria Alves, Armando Alves, Marylu Ponte e Álvaro Pacheco. Pedimos desculpa pela possível omissão de alguém neste grupo, mas as pessoas aqui mencionadas são aquelas que participaram ativamente nas nossas reuniões e em outras atividades.
Realizada no domingo, 14 de Setembro de 1997, a quinta grande confraternização ribeiragrandense foi outro sucesso, a qual contou com pouco mais de seiscentas pessoas.
O convidado de honra foi o Dr. Ricardo José Moniz da Silva, naquela altura Secretário Regional da Habitação. Mas infelizmente não pôde estar presente porque os Açores estavam sofrendo uma crise de catástrofes naturais, iniciada em 1996 e prolongada até 1998, onde se insere a avalanche da Ribeira Quente, chuvas torrenciais, “bombas de água” e os terramotos nas ilhas Pico e Faial.
Aos dez de Setembro de 1997, portanto, quatro dias antes do convívio, uma grande tempestade assolou a ilha de São Miguel, causando uma morte e enormes prejuízos em casas e outros imóveis. Sendo o Dr. Ricardo Silva o Secretário Regional da Habitação, achou que não devia deixar o seu posto de trabalho na altura em que era mais necessitado. Em seu lugar esteve presente a sua esposa, a Dona Lurdes.
Por causa do Dr. Ricardo vieram também da Ribeira Grande os senhores Manuel da Silva, seu pai, mais conhecido por Manuel Correia, e o sr. Aurino Furtado Taxinha, seu tio.
Estes dois indivíduos, distintos moleiros da Ribeira Grande, foram as pessoas mais procuradas na sala e, praticamente as estrelas da festa. Eram pessoas que toda a gente na Ribeira Grande conhecia. Por isso, muitos fizeram questão de os cumprimentar, e trocar com eles uma ou duas palavras. A simplicidade e humildade passam por cima de todas as soberbas e sobrepõem-se a qualquer vulto aristocrático e a “majestades” fingidas ou inventadas.
Outras pessoas vieram da Ribeira Grande, tais como: Álvaro Feijó, como presidente da Casa do Povo da Ribeirinha; José Gabriel da Ponte Bicudo, e sua esposa, como comandante dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande; Laudalino Costa e sua esposa Néli, em representação da Junta de Freguesia da Conceição; Engenheiro Manuel António Cansado, naquela altura presidente do grupo SATA, com o qual fomos apanhados de surpresa, pois só nos foi confirmada a sua presença um ou dois dias antes, entre outros.
É de referir que recebemos também neste ano de 1997 a “Miss Paradise” do Paradise Nigth Club da Ribeira Grande, que funcionou durante alguns anos no antigo restaurante O Costa, situado à beira do Paraíso.
Nesta festa foram entregues três bolsas de estudo de quinhentos dólares, a três meninas que naquele ano ingressaram no ensino superior.
De referir que o valor das bolsas a partir deste ano baixou em relação aos anos anteriores, por causa de nova distribuição de dinheiro, entre o apoio aos estudantes e às causas de solidariedade. Também aqui se explica que a razão de oferecer três em vez de duas deveu-se ao facto de ter sido uma escolha difícil entre aquelas três candidatas, sendo as três em todos os pontos compatíveis com os regulamentos e requerimentos do nosso programa.
Localmente honrou-nos com a sua presença o “mayor” de Fall River, não se registando participação alguma por parte da Câmara Municipal da Ribeira Grande.
O mestre de cerimónias, como habitualmente foi o inconfundível Dinis Paiva, que só por si é um ativo “showman”, sempre contagiando boa disposição em todos os palcos que pisa.
Hoje ficamos por aqui, prometendo dar continuidade. Haja saúde!
Os Correias e Taxinhas,
Moleiros de profissão,
Fazem vida das farinhas,
Moendo de grão a grão.
Pessoas de cortesia,
Os donos destes moinhos
Num sorriso com bom-dia
Cumprimentam seus visinhos.