OS FUSÍADAS DA AMÉRICA DO NORTE (9)

A 14 de Outubro do ano 2000 realizou-se em Montreal o segundo convívio dos ribeiragrandenses, no qual os Amigos da Ribeira Grande dos Estados Unidos fizeram questão de estar presentes.

   Para tal, deslocou-se um autocarro de New Bedford àquela cidade canadiana, da província de Quebeque, o qual passou por Fall River e East Providence para receber mais passageiros, que acabaram por dar uma conta superior a cinquenta pessoas.

   Apostando maior número de confraternizantes, a comissão presidida por Duarte Farias resolveu fazer a festa num espaço maior. Assim, na tarde daquele sábado, às 18:00h, houve missa na igreja St. Enfant Jesus, e seguiu-se o banquete no salão paroquial, situado na cave do mesmo templo em que a missa fora celebrada.

   Em cartaz de anúncio da festa, disperso pelas casas comerciais portuguesas de Montreal, podia ler-se a lista dos convidados de honra, que temos a certeza que convidado de honra seria somente o Dr. António Crispim da Ponte, e que os outros seriam convidados especiais, seguindo-lhe esta ordem:

   Filomeno Gouveia, vice-presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande; Álvaro Feijó, presidente da Casa do Povo da Ribeirinha; e representantes de diversas juntas de freguesia do concelho da Ribeira Grande.

   Além disso, foi mencionada a presença de três velhas glórias do futebol ribeiragrandense: Manuel Pedro, de Brampton; Jorge Rita, de Toronto; e Henrique Maré, dos Estados Unidos.

   Ainda segundo o mesmo cartaz, O cantor Jorge Silva e o fadista Dinis Paiva, ambos “vindos expressamente dos E.U.A.”, abrilhantariam a festa.

   Apraz-nos acrescentar que só metade destas personalidades foi vista no decorrer do evento.

   Quais foram os motivos da falta de comparência dos outros?

   Quem sabe, sabe. Quem não sabe, soubesse!

   Mas chegando ao ponto de resumir e concluir: apesar de certas deficiências, a festa canadiana foi um sucesso, e prometeu continuação para os próximos anos.

   Na semana seguinte, foi a vez da Nova Inglaterra.

   Do Canadá, ainda de Montreal, também veio uma camioneta com cerca de quarenta e tal pessoas, sendo a nossa festa, em Massachusetts, realizada no local habitual (restaurante White’s of Westport), no domingo, 22 de Outubro.

   Este oitavo convívio ficou marcado por uma diferença dos outros. É que, durante o ano da sua preparação a organização sofreu um abalo, e quase chegou ao ponto de não ser realizado.

   Desentendimentos. Quem não os tem? Coisas que acontecem em todas as associações e outros ajuntamentos.

   Mas graças à força de vontade de certas pessoas, arregaçou-se as mangas e alguns dos seus ex-presidentes orientaram a situação, e fizeram com que este oitavo convívio tivesse o mesmo sucesso de todos os outros até ali realizados.

   Portanto, este foi o ano em que os Amigos da Ribeira Grande não tiveram presidente – o que não fez falta nenhuma.

   Embora os movimentos da organização fossem mais difíceis de controlar, a boa-vontade foi o trunfo da vitória. Pois, quando há vontade tudo se faz, e bem-feito.

   A pouco tempo do grande encontro a imprensa lusófona da Nova Inglaterra divulgou a realização do evento, e pelas cidades que têm mais habitantes oriundos da Ribeira Grande e do seu concelho correu o cartaz de anúncio, que destacava os seguintes convidados:

   Sr. Joaquim da Costa Leite, fundador da Lacto Açoreana; Engenheiro Manuel António Cansado, presidente do grupo SATA; Engenheiro Armindo Moreira da Silva, e Fernando Maré, gerente do Montepio Geral, da Ribeira Grande. Entretenimento ao cargo do conjunto musical Ases do Ritmo, composto por membros oriundos da Ribeira Grande.

   Recorde-se que Joaquim da Costa Leite havia sido nomeado como convidado de honra no ano anterior. Mas por motivo de força maior, neste caso um problema de saúde inesperado, teve de cancelar a viagem aos Estados Unidos em 1999.

   Na edição de 25 de Outubro daquele ano, O Jornal, na reportagem da festa, assinada por Manuel Estrela, pode ler-se o seguinte:

   “Realizou-se domingo, no White’s of Westport, o Oitavo Convívio dos Naturais e Amigos do Concelho da Ribeira Grande, que reuniu cerca de 500 pessoas, apesar de ser organizado à pressa, mas que marcou e suplantou o que se imaginava. (…)

   O convívio teve como mestre de cerimónias o conhecido ‘showman’ Dinis Paiva e quanto a cerimónias, estas foram rápidas, resumindo-se a uma pequena apresentação do ribeiragrandense por opção e pelo coração, senhor Costa Leite, fundador da Lacto Açoriana e mais recentemente da Lacto Ibérica.

   O convidado de honra manifestou a sua alegria por estar no meio de tantos amigos, conhecidos e antigos colaboradores.

   A participação das juntas de freguesia resumiu-se naquele ano somente à pessoa de Gilberto Canejo, que representou a freguesia da Conceição. Por lapso, ou descuido, ou não sei o que lhe diga, Manuel Estrela identificou-o como “presidente da Assembleia Municipal da Conceição”. Para apontar dedos, não falta gente. Já se sabe!

   Uma carta escrita na Ribeira Grande aos aos 22 de setembro chegou às mãos da pessoa responsável pela correspondência dos Amigos da Ribeira Grande cerca de duas semanas depois. Trazia estas palavras, do presidente da Junta de Freguesia da Matriz:

   “Exmo. Sr. (…) Em resposta à vossa carta datada a 10 de Setembro corrente, venho pela presente comunicar que terei o prazer em participar no oitavo Convívio dos Naturais do Concelho da Ribeira Grande, a realizar em 22 de Outubro próximo.

   Esperávamos esta ilustre pessoa, mas ninguém viu na festa o sr. Albano Melo Garcia.

   Será que o avião que o transportou aos Estados Unidos fez algum desvio? Tudo é possível…

   Estava previsto fazer parte do convívio o engenheiro Manuel António Cansado, presidente do grupo SATA. Mas devido a contratempos de última hora não lhe foi possível deslocar-se à Nova Inglaterra, pelo que Nuno Puim, representante da SATA nos Estados Unidos, marcou presença em seu lugar.

   Também esteve connosco, novamente, o Engenheiro Armindo Moreira da Silva, que trouxe consigo alguns exemplares do seu novo livro.

   Infelizmente a quantidade que veio dos Açores não foi suficiente para a procura. Se não nos falha a memória, o livro intitulava-se “Ribeira Grande de Ontem até Hoje.”

   Fernando Maré, do Montepio Geral também nos honrou com a sua visita. Em conversa de mesa com Dinis Paiva, este antigo “rei das cavalhadas” falava sobre aquele festival que é o maior cartaz turístico dos Açores, dizendo:

   “As cavalhadas vão de vento em popa… O número de participantes já é superior a cem cavaleiros, na sua maioria jovens, o que significa que vai haver continuidade a essa tradição”, disse Fernando Maré, pelo que o repórter do O Jornal anotou esta, e a conversa seguinte, que veio a propósito da inauguração do Teatro restaurado – aquela obra que era a “menina do olhos” do Sr. Presidente, Monsieur Antoine Pierre de la Côte du Nord.

   De fato, foi uma falha não ter convidado para as cerimónias nenhum artista da diáspora. “Maré, no entanto, referiu que as cerimónias ainda não terminaram, pois terão a duração de um ano…

   Claro, o sistema não falhava. Era assim: primeiro o branco, depois o preto; o preto para aqui, o branco para acolá. O preto ri assim: “hahahahah”; e assim sucessivamente.

   O convidado de honra, que se fez acompanhar pela esposa, no uso da palavra disse que se considerava tão ribeiragrandense como qualquer um presente naquela sala. Porque para além da Câmara Municipal o ter distinguido como cidadão honorário do concelho, dois terços da sua vida estavam a ser passados na Ribeira Grande, onde chegou há 52 anos para iniciar a Lacto Açoreana, de que foi fundador.  Costa Leite concluiu a sua afirmação com estas palavras:

   “Era jovem quando cheguei, hoje sou um velho, mas tenho a grata satisfação do dever cumprido no desenvolvimento que participei, não só do concelho da Ribeira Grande, como na ilha de São Miguel”.

   O Dr. Manuel Luciano da Silva fez questão de vir à nossa festa para cumprimentar o seu conterrâneo, sr. Costa Leite. Eram ambos naturais da aldeia de Cavião, Concelho de Vale de Cambra.

   Para o leitor mais descuidado, lembramos que o Dr. Manuel Luciano da Silva (1926-2012), sendo um dos maiores defensores da portugalidade por estas paragens da nossa diáspora, deixou imensas marcas na costa leste dos Estados Unidos, e não só. Infelizmente, para muita gente, foi um descanso vê-lo partir para a eternidade. Porquê? Porque dizia a verdade e nunca teve papas na língua, nem medo de ninguém.

   Já a terminar esta narração do fuso encontro do ano dois mil, resta-nos acrescentar que nestes ajuntamentos há sempre alguém que quando não pode estar presente em corpo, está em espírito. Como é o caso de Álvaro Feijó, naquela altura presidente da Casa do Povo da Ribeirinha.

   O Sr. Álvaro já havia participado em vários encontros de ribeiragrandenses na América do Norte, mas neste ano de 2000 não lhe foi possível estar presente em corpo na oitava confraternização.

   Na troca de correspondência com a comissão organizadora do evento, lamentando a sua ausência, elogiou todos os esforços da organização em pôr de pé mais uma festa de grande calibre. E em folha separada, conhecendo de antemão com quem lidava na troca de cartas, escreveu a seguinte mensagem:

   “Vai um cumprimento especial para o Grande Amigo Alfredo da Ponte:

 

P’la ponte vai o Alfredo

Admirando a Ribeira;

E daí aponta o dedo,

Dizendo à sua maneira:

 

-Grande Ribeira a marar,

És berço que nos pertences.

Banha-te agua, terra e mar.

És dos Ribeiragrandenses.”

   Por hoje é Tudo. Por favor, sejam felizes.

   Haja saúde!