António Fonseca esteve à frente dos destinos da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, entre 2013 e 2021, tendo liderado, simultaneamente, a Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, cargo que desempenha até à atualidade. Assumindo-se como sendo um homem que vive a cidade intensamente, o ex-autarca não escondeu, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, a possibilidade de se voltar a candidatar à Junta de Freguesia de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, com o intuito de unir e envolver as pessoas, engrandecendo e dinamizando o território.
Para quem não o conhece, quem é o António Fonseca?
É um cidadão como outro qualquer, um homem que gosta da cidade, de conviver e de se divertir. Sobretudo, é um indivíduo com carga positiva e evita estar à volta de pessoas que tenham uma carga negativa. Eu acho que é importante nós vivermos intensamente. Eu sou um indivíduo do mundo urbano, que gosta das cidades vivas, das mais diversas comunidades e de ler também. Eu acho que se as cidades querem evoluir, também têm de apoiar as comunidades que estão cá por bem e cumprem os nossos regulamentos e dei provas disso quando estive na Junta de Freguesia e apoiei algumas comunidades que, neste momento, estão na cidade, quer no Porto, quer em Gaia.
Depois de ter presidido a União de Freguesias do Centro Histórico do Porto durante dois mandatos, lidera, atualmente, a Associação de Bares da Zona Histórica do Porto. O que o levou a não se recandidatar e a aceitar este desafio?
A Associação de Bares da Zona Histórica do Porto é composta por inúmeros elementos não só da Invicta, mas também de Vila Nova de Gaia. Portanto, manteve-se o nome, mas a dinâmica da cidade é diferente. Relativamente à questão política, eu fui autarca durante 12 anos, nomeadamente, secretário da Junta de Freguesia de São Nicolau durante quatro anos e, depois, fui desafiado a ser candidato ao Centro Histórico do Porto, ou seja, eu fui o primeiro presidente de Junta desta agregação de seis freguesias e algumas delas com quintais e barreiras incríveis, o que não foi fácil de gerir, considerando que uma freguesia herdou, por exemplo, a sede da Junta em hasta pública, com dívidas de mais de um milhão de euros à Caixa Geral de Aposentações. Por isso, para mim, foi muito importante ter contribuído não só para resolver o problema da dívida, mas também a agregação num espaço único, onde fizemos com que as populações se aliassem. A agregação das freguesias é importante em termos de escala, pois quanto mais elevada for a nossa escala, mais capacidade temos de intervenção, reivindicação e o respeito do poder central, pois, infelizmente, é assim que os governantes veem. Na ocasião, eu aceitei o desafio, mas, em 2017, era para não ter aceitado a recandidatura, porque, em termos empresariais, eu tinha um universo de possibilidades de ganhar dinheiro porque, contrariamente ao que se pensa, quem vier honestamente para uma Junta de Freguesia não ganha dinheiro, não sei com é que alguns conseguiram ganhar. A questão que se coloca aqui é a seguinte: eu aceitei voltar a ser candidato porque achei que devia concluir o processo da dívida, que contribuiu para a abertura da Esquadra de Cedofeita, porque acabamos por conseguir colocar o edifício que estava em hasta pública ao serviço da segurança e sendo o edifício da Junta e não vendido, isso foi bom. Normalmente, no segundo mandato é que se vai consolidar se de facto o presidente prestou ou não um bom trabalho. Para mim, o terceiro mandato, normalmente, costuma ser um passeio e o que eu verifiquei é que para o presidente da Câmara do Porto, curiosamente, não foi um passeio, porque não só perdeu votos em todas as Juntas de Freguesia, como também na própria votação local. Eu não aceitei candidatar-me ao terceiro mandato, nem estaria interessado em continuar na Junta de Freguesia com um presidente de Câmara que não passa as competências para as Juntas de Freguesia. Quando temos uma Câmara que quer controlar tudo, como eu não sou “yes man”, nem um bajulador, sabia que não era a altura para me recandidatar novamente e a prova é que o indivíduo que se candidatou à minha freguesia teve menos 11% do que eu.
Voltar a candidatar-se à União de Freguesias do Centro Histórico do Porto é uma possibilidade?
Como ando no terreno todos os dias, obviamente todos os cenários são possíveis para 2025, porque vão partir todos do zero e eu não perdi nenhuma candidatura. Portanto, se a conjuntura, na altura, for nesse sentido eu poderei, eventualmente, equacionar o regresso à Junta de Freguesia.
Equacionando o regresso à liderança dos destinos da autarquia, quais serão os seus objetivos?
Obviamente que se essa situação for equacionada e tiver êxito, será no sentido de, com o novo presidente da Câmara, serem delegadas as competências devidas à autarquia e dar continuidade ao trabalho que foi desenvolvido, na maior parte das vezes, com muito sacrifício. Para ter uma ideia, 80% do orçamento era para salários e veja bem a dificuldade que tivemos para apoiar e criar dinâmicas para a população. Contudo, uma coisa é cerca, se eu equacionar o meu regresso, seja qual for o presidente da Câmara, a minha política e o meu programa são para a freguesia, porque não é por acaso quando, em 2017, apresentei a minha candidatura, ao meu lado estava o doutor Rui Moreira, presidente da Câmara, e eu expus o meu programa e alguns objetivos não foram cumpridos, porque as competências não passaram. Portanto, eu acho que mesmo no concelho do Porto, ou até no concelho de Gaia, as realidades são completamente diferentes, de freguesia para freguesia. Logo, obviamente que eu, como não perdi nenhuma candidatura e fiz um trabalho com muito sacrifício e, provavelmente, mais não se fez porque, de facto, não houve meios para o fazer e, neste momento, já começa a haver mais, a esta distância, poderei dizer que, como ando no terreno, todos os dias, muitas pessoas me interpelam para voltar para a Junta, mas, digo e repito, irei equacionar isso só em janeiro de 2025.
Podemos depreender que será um regresso como independente?
Eu, desde que sou autarca, isto é, desde 2009, aliás podia ter começado em 2005, eu é que não aceitei, foi pelo PSD, em São Nicolau, como independente e pelo Rui Moreira, como independente. Seja qual for a bandeira política, ou seja, o veículo que eu abrace, será sempre como independente do partido, até porque eu já estive num executivo do PS e o PS também já esteve num executivo meu. Portanto, eu acho que as bandeiras políticas poderão funcionar em linhas programáticas para a política nacional, mas em questões de política local, a bandeira tem de ficar na gaveta e os interesses da freguesia, da população e da cidade têm de estar em cima da mesa.
Relativamente à Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, quais são as suas perspetivas para o futuro?
Eu fui reeleito até 2025, obviamente que se eu equacionar recandidatar-me à Junta de Freguesia será o meu último mandato na associação e tenho elementos na direção que podem dar continuidade, porque esta instituição tem a particularidade de ter sido a primeira, a nível nacional, que conseguiu colocar videovigilância numa cidade e resolver problemas de segurança, curiosamente, em diálogo direto com o Governo, ao nível de ministros e secretários de Estado. Portanto, a nível de apoios sociais, também é uma associação que criou dinâmicas, nomeadamente, a iniciativa sobre a venda ambulante chamada “Artesanatos & Afins” e esse evento contribuiu para que resolvêssemos o problema de inúmeras famílias, que já criaram as suas próprias lojas, pois além de funcionar em termos de compensação monetária, funcionou como terapia para muitas famílias quer do Porto, quer de Gaia. Portanto, eu acho que nós temos uma componente social, para além dos interesses, através das leis, relativamente ao que diz respeito à segurança dos estabelecimentos de restauração e de animação. É importante não esquecer que nós temos os cafés históricos connosco, alguns restaurantes e operadores turísticos, que até fazem parte dos corpos gerentes, porque a associação tem como objetivo a promoção de uma cidade e nessa cidade Gaia está incluída, não é só o Porto.
A pensar no futuro, quais são os seus maiores sonhos e ambições?
Eu acho que nunca tive sonhos, aliás a única coisa que eu sonhava ser era ator, nunca fui e agora é tarde. Eu acho que estamos numa fase da idade que é um dia de cada vez.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?
O ser humano tem defeitos, como é natural. Eu acho que vivemos num mundo onde se verifica que, de vez em quando, aparecem questões que são levantadas que nem sempre fazem sentido. Eu sou um homem liberto de qualquer tipo de preconceito e as cidades têm de ser libertas de preconceitos. Para mim, não há problema de cor, nem de género, pois cada um é como é e tem de ser respeitado como tal e se assim for vivemos todos bem.